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sábado, agosto 19, 2006

Parecem putos...

Uma operação de comandos em território libanês (ver aqui) e o rapto de mais um membro do governo palestiniano, militante do Hamas que seja. São estas as duas últimas acções de Isreal em nome da paz e segurança no Médio Oriente e, tal como tantas outras antes delas, são tão irresponsáveis, insensatas e cheias de desdém pela diplomacia e lei internacional como as acções dos grupos terroristas. Que Israel tem o direito de se defender é certo e não o nego, mas isso não é uma carta branca para agir como bem entende ao estilo de eu quero, posso e mando: de um Estado de Direito e internacionalmente reconhecido espera-se mais responsabilidade, mesmo agressividade cega e uma dose muito, mas muito maior de bom senso.

O que seria da Irlanda do Norte se o IRA raptasse soldados ingleses e o governo britânico respondesse com bombardeamentos de Belfast ou da vizinha Irlanda e decidisse, qual criança em jogada de olho por olho, raptar os membros do Sinn Féin que fazem parte do governo norte irlandês...

quinta-feira, agosto 17, 2006

Combinado, mas sem bom resultado

Segundo a investigação de um jornalista norte-americano, Israel confidenciou os seus planos de ataque ao Hezbollah antes de 12 Julho, data em que foram raptados os dois soldados israelitas. Surpreendidos? Nem por isso, ou não tivesse sido este um conflito que dá bastantes ares de ter sido preparado. Senão vejamos.

Israel saiu do sul do Líbano há seis anos, setenta e dois meses que o grupo xiita usou para se armar e preparar o terreno. O Hezbollah não acordou de um dia para o outro com um vasto arsenal nas suas mãos, mas recebeu-o ao longo de vários anos, um período de tempo durante o qual pouco ou nada se ouviu da parte de Israel ou dos Estado Unidos: não se bateu com a mão na mesa no Conselho de Segurança, não se insistiu até à exaustão para que se pusesse no terreno a força multinacional que está neste momento a preparar-se, nem se puxou todos os cordelinhos diplomáticos e mais alguns para que o Hezbollah fosse desarmado. Pelo contrário, a coisa processou-se mais ou menos com a conivência de todos. A guerra que estalou há cerca de um mês e terá, espera-se, chegado agora ao fim, não começou do nada com o rapto de dois soldados, mas foi o resultado de um processo de seis anos a que Israel assistiu para agora, com uma aparência de autoridade moral, dar o último toque e desencadear o ataque, argumentando que o Hezbollah está armado até aos dentes... Está assim há anos, não o ficou subitamente quando os soldados foram raptados, e não se percebe porque é que só agora é que os israelitas reagiram.

E como se isso não bastasse, reagiram da pior maneira possível: com um conflito armado contra o Líbano. Ou seja, voltaram a dar ao movimento xiita a sua razão de ser, aquilo que aos olhos da população libanesa justifica a sua existência enquanto grupo armado: a luta contra a ocupação israelita. O Hezbollah vive de mártires, glorifica os que morrem pela sua causa, alimenta-se dessa cultura de martírio e nunca, mas nunca se acaba com um movimento desses com uma resposta militar que apenas vai nutri-lo e dar-lhe mais força. Aliás, basta recordar como até entre grupos religiosos diferentes os guerrilheiros xiitas tornaram-se mais populares, tudo graças aos bombardeamentos israelitas de cidades e aldeias libanesas. O fim do Hezbollah enquanto movimento armado só virá diplomaticamente, quando se lhe esgotar o argumento bélico, quando deixar de ter vitimas árabes a quem acudir e quando o Estado libanês for forte o suficiente para não permitir a existência de estruturas paralelas. E nem nisso a intervenção israelita ajudou, já que pode ter alterado o delicado equilíbrio de poderes no Líbano, com a balança a pender fortemente para os xiitas e, consequentemente, com a possibilidade de se vir a criar mais um país alinhado com o Irão. Pior a emenda...

Sim, o Hezbollah é um grupo armado que atinge indiscriminadamente áreas civis, sim, é um movimento que devia ser desarmado e sim, os países que o têm apoiado devem responder por isso. Mas Israel, por outro lado, é um Estado de Direito, uma democracia, um país soberano com lugar nas Nações Unidas e reconhecido internacionalmente e devia, por isso mesmo, agir com sobriedade e sentido de responsabilidade. Isto é, se de um movimento terrorista eu não espero respeito pela lei internacional ou bom senso natural, já de um país soberano e democrático é justo esperar que ele não reaja a provocações exteriores com a mesma insensatez e agressividade daqueles que o atacam, ao estilo de eu quero, posso e mando. Porque quando assim não é, então bem que se pode argumentar que ao terrorismo do Hezbollah, Israel está apenas a responder com terrorismo de Estado, independemente de ser em legitima defesa ou não.