Brás era um velho preto,
às vezes, um preto velho,
Vivia embriagado, o vigia
do edifício, no turno da noite
O seu salário, já mínimo,
De dor e de dar pena,
Ficava com o dono do bar,
Que, como um bom cristão,
Não deixava faltar bebida
E tomava mais uma lapada
Do chicote, no bucho sedento,
Ferrava um sono pesado,
Cavalgava em seu devaneio
Brás cantava toda noite
Montava a cambaleante bicicleta
Conduzida por um sonho alheio
Ria e contava piada,
Chorava a morte da mãe,
Que perdeu quando era menino
E velho Brás dançava
Gargalhava com a boca banguela,
Falava de um tempo perdido
Com domínio da norma culta
Do seu português tão ébrio,
De quem só conhece escrita
Do nome do próprio batismo
às vezes, um preto velho,
Vivia embriagado, o vigia
do edifício, no turno da noite
O seu salário, já mínimo,
De dor e de dar pena,
Ficava com o dono do bar,
Que, como um bom cristão,
Não deixava faltar bebida
E tomava mais uma lapada
Do chicote, no bucho sedento,
Ferrava um sono pesado,
Cavalgava em seu devaneio
Brás cantava toda noite
Montava a cambaleante bicicleta
Conduzida por um sonho alheio
Ria e contava piada,
Chorava a morte da mãe,
Que perdeu quando era menino
E velho Brás dançava
Gargalhava com a boca banguela,
Falava de um tempo perdido
Com domínio da norma culta
Do seu português tão ébrio,
De quem só conhece escrita
Do nome do próprio batismo
O velho, às vezes, chorava
E ria com mesma frequência!
Chorava a demência da filha,
Mas sorria, o vazado sorriso,
Alegre por horas inteiras
E eu que era menino,
Judiava do pobre Brás,
Fingia ser o espírito
Da falecida mãezinha,
Fazia o velho cair,
Roubava a cana-companheira
E ria com mesma frequência!
Chorava a demência da filha,
Mas sorria, o vazado sorriso,
Alegre por horas inteiras
E eu que era menino,
Judiava do pobre Brás,
Fingia ser o espírito
Da falecida mãezinha,
Fazia o velho cair,
Roubava a cana-companheira
E toda a pirralhada
Ria do preto velho
Bastava ele chegar
Declamava a primeira toada,
Cantava a Iansã, orava a Frei Damião,
Amarrava as calças furadas
E ria com os olhos do cão
Ria do preto velho
Bastava ele chegar
Declamava a primeira toada,
Cantava a Iansã, orava a Frei Damião,
Amarrava as calças furadas
E ria com os olhos do cão
Um comentário:
Fascinante narrativa, parabéns!
Abraço.
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