Faz hoje 50 anos que o homem chegou à lua.
Faz hoje 50 anos
que fiz a minha primeira noitada.
Faz hoje 50 anos que o mundo da tecnologia
chegou a minha casa porque, para poder ver a chegada do homem à lua, comprou-se
uma televisão.
Faz hoje 50 anos que a minha casa, até aí apenas ligada à vida
na aldeia, escancarou a janela e, mesmo implantada num caminho de terra e
pedras sem vestígio de alcatrão, lá bem na ponta da aldeia, abriu as portas ao
mundo.
Faz hoje 50 anos que a minha vida mudou para sempre… A tecnologia entrou em minha casa.
Passámos a noite acordados. Grande aventura e excitação para
uma miúda de treze anos que se deitava sempre às 21.30h, porque o liceu era a 30
km de casa e era preciso acordar cedo para lá chegar a horas. Estar acordada
até o homem pisar a lua, foi ser admitida no mundo dos adultos, foi ser
considerada crescida. E não dormi. Nem eu, nem a minha mãe nem uma das minhas
irmãs. Esperámos, resistentes e com a missão de acordar quem tivesse adormecido.
Era madrugada quando Neil Armstrong desceu da cápsula lunar, com o seu fato de astronauta e as suas botas gigantes. É disso que me lembro; disso, dos saltos gigantes que tanto invejei e que tanto me fizeram sonhar, disso e do facto de ser de madrugada em Portugal e de, na lua, ser de dia e haver luz, disso e também das lágrimas comovidas da minha mãe…
Era madrugada quando Neil Armstrong desceu da cápsula lunar, com o seu fato de astronauta e as suas botas gigantes. É disso que me lembro; disso, dos saltos gigantes que tanto invejei e que tanto me fizeram sonhar, disso e do facto de ser de madrugada em Portugal e de, na lua, ser de dia e haver luz, disso e também das lágrimas comovidas da minha mãe…
“Que é isso rapariga?”, perguntou o meu pai pouco habituado a lágrimas.
“É que o mundo hoje mudou para sempre. Nada mais será como antes”, respondeu a
minha mãe. Tinha toda a razão. A partir daí começou a estranheza. Os homens da aldeia, que
até aí, ao fim da tarde, na leitaria do Sr. António, conversavam prazenteiros e descontraídos em frente a uma caneca de café de cevada, passaram a discutir acirrados e ardorosos, divididos em
crentes e não crentes do grande feito do Homem: “Uma maravilha”, diziam uns.
“Coisa do demo”, diziam outros. E tudo na aldeia mudou. Desde esse dia, todos os animais nascidos na aldeia deixaram
de se chamar “catitas", "tarecos", "bobbys", "estrelas" ou "galhardos” para passarem a ser “Apolo
XI”, “sputnik”, “foguetão” "laika" ou “lua”, tudo para que aquela data não fosse esquecida. E as mulheres quando à segunda feira iam ao rio lavar a roupa, à força de comentarem as "modernices" e "sem vergonhices" dos tempos que corriam, descuravam a vigilância sobre nós o que nos permitia algumas aventuras proibidas. Tudo isto em pleno verão de 1969. Eram
tempos de mudança.
"É um pequeno passo para o homem, mas é um passo
gigante para a humanidade" comentou Neil Armstrong ao pisar o solo lunar.
Sem dúvida alguma uma verdade indiscutível!
A vida nunca mais foi como era antes...
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