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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Pensamento...

(fotografia de António Soares)

O pensamento sinuoso, labiríntico,
Percorre a tranquilidade interior,
Penetra em todos os recantos,
Remexe os mais ínfimos pormenores
E agita...fere...dilacera...corrói...
Pensar e agir sem sintonia,
No silêncio, na solidão que me destrói...
O pensar a quebrar a harmonia,
A lembrar-me que é fugaz a felicidade,
Que é um sopro, uma ilusão, uma utopia,
Que é um enigma, um mistério, de verdade...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Pensar é destruir


O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de a não pensar. Viver a vida decorrentemente, exteriormente, como um gato ou um cão - assim fazem os homens gerais, e assim se deve viver a vida para que possa contar a satisfação do gato e do cão. Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é decompor. Se os homens soubessem meditar no mistério da vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam assustados, como os que se suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte.
Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'