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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 19












O vendedor de histórias é do mundo, é de todos, é de uma legião de famintos e sedentos de palavras. De longe espero a coragem me impulsionar para me aproximar. Leio e releio trechos de um todo infindo, preciso alimentar-me de emoção, de beleza, para criar novos mundos, mentais, reais. O mundo lá fora muda de cor, é a transição do dia para a noite. Aprecio o sol a se despedir. Despedidas, muitas e muitas vezes, deixam um ar de melancolia no ar. É preciso viver a emoção que acelera os pés, então, sigo por outras ruas.  Ruas onde há pessoas, feira, burburinho, paralelepípedos no calçamento, histórias nos prédios, um trilho de trem. Uma forma de fugir para o encontro com a realidade. E sentir cheiro de gente.





domingo, 20 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 18









Andei, andei, pelas ruas de paralelepípedos, observando os prédios antigos. Precisava esquecer a tristeza. Precisa lembrar dos sonhos. Precisava então caminhar, entre ruas com muitas histórias e belezas. Encontrei um soldado fazendo algo errado. Encontrei uma mendiga e seus cachorros, Madona Priscila bebia. Comeu um cachorro quente com refrigerante. Leonardo de Capri, um dos seus cachorros, eram três, estava com muita pulga, fazia dó. Madona também me dava dó, mas ela não reclama da vida, anda pelas ruas de paralelepípedos o ano todo, com seus cachorros e tomando cachaça. Andei, andei procurando esquecer. Procurando viver. Corri atrás da atriz e cantora dinamarquesa, ela se assustou ao ser abordada. Elogiei o seu show do dia anterior. Ela se foi, eu queria ter ido com ela, atravessar a ponte, ir para a outra ilha. Para onde ela ia sozinha, num domingo pela manhã, ruas tranquilas e desertas? Fiquei preocupada. Ela me disse, último dia meu aqui. E se foi. Não fui com ela. Continuei andando, o sino tocou, aceitei o convite dele, do sino, e entrei na igreja, a missa ia começar. Fiquei em dúvida entre ficar ali, assistir a missa, ouvir a homília, ou continuar andando, andando. Fiquei, e ficar era lembrar. Queria pedir perdão, até tentei, mas como posso pedir perdão por algo que não vou esquecer? Que me faz bem lembrar. O pecado não é lembrar, o pecado é a forma de pensar da imaginação. Saí da missa e fora dela, muito além das ruas de paralelepípedos encontrei aquele das histórias, e só assim a alma aquietou-se.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 17







Me entrego à poesia, dele, do outro, de mais algum, como uma forma de fugir do dia, de suportar os momentos. É um caminhar constante. Me ausento da realidade e entro na beleza da poesia, é um mergulho nas lágrimas, na tentativa de ver o sol da alma brilhar. Dias rotineiros, massantes, voltas das mesmas voltas. O ano corre, me arrasto, quero só poesia. Abro portas para alcançar a poesia. A poesia torna os dias mais leves. Me dá ânimo para acordar, para continuar, para dormir. A poesia faz um ciclo em mim. Um ciclo de esperança e de expectativa. Acordo e penso, terei poesia hoje? Espero ansiosa. A poesia quando vem, me abraça com muito carinho. Me sinto mais leve. Foi a poesia que atravessou o dia, penetrou o olhar, me inundou de beleza. Brinco de e com a poesia. Esta sensação boa, é a sensação de ser criança brincando de academia (amarelinha) no sol. Os pulos numa perna só para brincar. O sangue a correr nas veias, o coração a palpitar, é a brincadeira de poesia. A dele, a do outro, a de mais algum.


sábado, 5 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 16








O barco esta lá, voltou. Por quê? O barco faz parte de uma outra travessia, de uma outra viagem, e por que retornou? Não terei a resposta. Talvez nem tenha explicação. Eu é que tenho perguntas. Achei o semblante dele cansado, triste, preocupado. Eu achei. Talvez também não seja, apenas seja uma impressão errônea minha.  Ele terá pela frente um grande mar para navegar, uma travessia que não será fácil, mas que é preciso viajar, ir adiante. Ventos, trovoadas, ondas altas, um percurso longo, um barco pequeno. Muitos desafios para um bom comandante. Durante a travessia do mar revolto, talvez ele precise mergulhar profundamente para  retornar com  pérolas.  

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 15




Mais um novo dia. Todos os dias são novos, não é? No quarto escuro penso estar nublado o tempo. Levanto, abro a cortina e a janela, o vento e sol entram pelo quarto, abraço o dia. Os pássaros cantam. Procuro o vendedor de histórias para me dar ânimo. Uma relação talvez tosca da minha parte, uma relação de beber da fonte do conhecimento, para me dar mais ânimo, só o sol, o vento e os pássaros não me são suficientes para dar asas à imaginação. Abro outras cortinas e outras janelas, e abraço um outro mundo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 14






A pesada porta da matriz está aberta.  São muitos os fiéis. O ambiente está iluminado de vidas. O padre sobe ao altar, compenetrado. Isto é, me parece compenetrado. Durante a missa observo que seus olhos se tornam inquietos, e que sua testa franze várias vezes. O que pensa? Suponho que algo lhe passa na mente, e que este algo não tem relação com o que vai ser dito na missa. Suposições me desviam. Ao terminar a missa está muito suado. Não me parece um suor normal, não fazia calor, será que é muito esforço rezar uma missa? Ele sai apressado. Teria sua pressa alguma relação com a testa franzida? Nunca saberei. Perguntas. Tantas perguntas sem respostas. Os paroquianos querem lhe pedir algo, agradecer, abraçar, contar algum fato, e isto vai dificultando o ritmo da sua pressa, é preciso desacelerar os passos. Ele mostra-se inquieto, apesar de ser cordial. Ele sai pela lateral da igreja. 





quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 13






O sino da matriz toca. Ainda está escuro, é inverno. As luzes do castelo estão acesas, as ruas estão desertas. Tem nevoeiro na cidade, faz frio. O rio segue tranquilo, de tão tranquilo, parece que está parado. As luzes refletem em seu leito. Muitos ainda dormem, estou caminhando, refletindo, fotografando. Estar só me dá poderes, que só o ar de liberdade me dá. O poder de ir e vir, de voltar, de ficar em pé, de acocorar, poder de olhar sem interferência, poder de não ouvir as vozes, bastam as minhas, que falam demais. Nem todas minhas, confesso, tem vozes dos que passaram na minha vida. Em alguns momentos tenho receio de estar só por ruelas que não conheço, numa cidade que não sei dos perigos, medo até de me perder. Mas tudo isto também me motiva e me enche de prazer. Paradoxos de mim mesma. As luzes artificiais se apagam, surge os primeiros raios da luz natural, escuto passos, não estou mais só. É hora de retornar e tomar o café da manhã. 



terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Vendedor de histórias - 12






Uma situação nos leva a lembrar de outra. Seja um aroma, uma imagem, uma música, uma história. Assim foi comigo. Naquele dia, mais uma vez o fato se repetia, uma história que ele contava me lembrou algo que já senti, e registrei com palavras. As dores da alma e as dores do corpo. Era o ano de 2009 e eu sentia dores no abdômen, a dor do corpo dói. Tomo remédio, diminui, não passa totalmente. Penso que ela testa o meu limite para a dor. Uma simples dor física me remete a outras dores. A outras situações. A dor ganhou uma importância e significados que não eram só dela. Outras dores e fragilidades fizeram a dor doer mais. Para a dor da alma não tem um remédio pronto, temos que ser pharmacêuticos. Aqueles que ainda constroem seu próprio remédio. Usar phórmulas antigas, junto com a modernidade para amenizar a dor e/ou curá-la. Ser um alquimista de nós mesmo, usando porções próprias e dos outros para nos modificarmos. 




segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O vendedor de histórias - 11










Vi o vendedor de histórias sorrindo. Bonito sorriso. Já disse, observo sempre de longe. E de longe ele parece ser um pastor cuidando das ovelhas. Ele está sempre muito ocupado, com suas histórias para contar, com suas ideias e distribuindo pensamentos. E também com as histórias que tem de ouvir. Ouvir, ouvir é tão difícil. Requer tempo. Tempo, este do relógio, e tempo interno. Nem todas as mentes estão preparadas para receberem o que escutam e leem, outras não entendem. Nem todos os corações sentem. O meu coração carece de sentir. Entender, que é coisa da mente, eu  também não entendo muito bem. Mas  gosto de sentir, e brincar de escrever o que sinto. De viver também. Admiro o manejo que ele tem com as palavras, ele constrói belas paisagens com as palavras. Uma paisagem de campo de trigo com ovelhas.  Me transporto. 


domingo, 30 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 10








Quantas marcas tem o vendedor de histórias? Assim feito uma árvore com suas marcas, deve ser ele também. Marcas do viver. Tenho as minhas. Também tenho raízes. Ele tem as deles, enraizadas nas experiências. O vendedor de histórias a cada dia traz para o vilarejo novas histórias. As histórias seguem um ritmo muito próprio dele. É possível sentir a sua alma, ou, talvez, das almas que ele consegue ouvir. Ele é um bom ouvidor de almas. Observo as árvores na alameda próxima ao rio, olho as marcas. Lembro das marcas da vida. O ser humano e as árvores sofrem influências das estações, do tempo, de outros seres humanos. A vida é cíclica. Árvore é vida. As histórias deste intrigante vendedor de histórias me trazem vida. Uma seiva diferente para o meu caminhar.


sábado, 29 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 9








Passo horas observando o vendedor. De que me serve? Para inventar histórias, só para isto. Ele escreve algo, sempre escreve. Tenho histórias para contar, mas não sei tecer tão bem quanto o artesão de fios de histórias. Gosto mesmo é de me perder entre as ruelas quando o sigo, escutando a voz dele, que ora é melodiosa, ora é chorosa, ora saudosa...Sigo cantarolando a minha admiração. Saltitando as minhas lembranças. Volto a ser criança. E me perdi....

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 8









Lá vem ele, lá vem ele, grita uma criança que brinca. Escuto a voz do meu artesão preferido. Na cidade velha, cheias de ruelas e casarios, ele solta a voz. Hoje ele seguiu para o cais. Ele adora sentar no cais e olhar os barcos. Os ancorados, os que chegam, os que partem. O cais, a vida. Barcos é uma fonte de inspiração, para quem sabe traduzir os seus movimentos em vida. E ele sabe. Não é só entre as ruelas da cidade que me perco, me perco também olhando os barcos. Meu pensamento se vai, se vai, se vai.....e eu me perco. Ancoro o pensamento em algum lugar distante, bem distante. Bem dentro do meu cais.



quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 7










Buscamos a fonte andando entre as ruelas. Eu e os outros compradores estamos perdidos. Isto também faz parte da história. O vendedor de histórias, antes de vir às ruas, sabe que nos perderemos.  Ele confecciona as histórias com vários fios. Os melhores fios, os de ouro, ele consegue entrelaçar com os fios de prata, os de bronze, os de lata, e até os velhos fios enferrujados, aqueles que ferem os seus dedos. Nestes dias, que os dedos estão feridos, a sua voz é diferente. Escuto ao longe o chiado dos chinelos pisando os paralelepípedos, nestes dias a voz é doída, me corta a alma. Choro, sem ser vista. Nestes dias compro a história, abraço com carinho as lágrimas, elas são amigas, elas me falam de outras histórias.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 6








Um outro dia. O vendedor grita mais uma vez o seu produto. Acordo, faz sol. Preciso urgente comprar alguma história. Aquela história vendida pelo artesão de histórias. Não qualquer história. É preciso ter aquela voz. Aquela voz que segue por ruelas vendendo o seu produto. Produtos que foram tecidos com alma.  As ruelas me fazem ficar perdida pelo centro da cidade. Olho o céu azul. Me encanto, me perco. Muitas são as ruelas na vida na qual nos perdemos. As ruelas vão dar na fonte da praça. Mas os compradores se perdem ao seguirem o vendedor, se distraem com outras belezas, eu também me perco, repito. Mas a fonte está na praça, a fonte jorra. Sigo...

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 5







Dia de Natal, acordo mais tarde. Observo pela janela, está tudo calmo. Por onde anda o vendedor de histórias? Será que hoje ele vai vender histórias? Coincidentemente  escuto a voz dele, ele se aproxima, e passa no momento que estou na janela a espera dele. Sorrio, isto me agrada. Ele não me vê. Ele não sabe o quanto me agrada suas histórias, suas vozes nas histórias, nas ruelas. Sigo. Hoje tem poucas pessoas nas ruas, algumas ainda dormem cansadas da noite passada, outras se preparam para almoçar com a família. O vendedor expõe o seu produto, as histórias, e eu me aproximo para saber o conteúdo desta nova história.


Vendedor de histórias - 4





O labirinto das ruelas lembra-me o labirinto da mente. São tantas ruelas, são tantas pessoas que passam, são lembranças indo e vindo. O artesão de histórias sabe disso melhor do que qualquer comprador de histórias. Os compradores são desatentos, ora não escutam o vendedor passar, ora não percebem o material que teceu a história. Compradores de histórias são compradores de ilusão. São compradores de emoção. E emoção é um fio que prende. Mas é também um fio que pode enroscar, enforcar. É um fio que nos leva por caminhos dúbios.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 3






Ah, tem dias que parece que o artesão-vendedor encheu demais o seu balaio de histórias. Carrega um peso extra. Um peso de uma saudade que grita junto com ele entre as ruelas. Nestes dias o vento fica mais pesado, os ruídos dos passos são mais barulhentos, e sua voz, ah, sua voz, me chega feito um choro de um menino sentindo a falta do colo da mãe. Olho de longe, que de perto é. Ele não me vê. Se vê, faz que não. Sigo, vou com ele, ouvindo a sua voz, que para mim me chega como se naquele dia a saudade é uma névoa nas ruelas.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Vendedor de histórias - 2






Um novo dia. Chegou a primavera, as ruelas estão floridas. Que alegria olhar o vendedor de histórias seguindo por entre histórias e flores. Ele consegue florir o dia. Amanheço e durmo na expectativa da sua voz.  A voz exala perfume de rosas por onde passa. E se um espinho atinge a alma, os olhos sangram, faz parte da história. Rosas têm espinhos. As histórias tem emoção.  Posso não compreender todos os entrelaces das mesmas, o artesão que as fazem é um excelente artesão de memórias.

Vendedor de histórias - 1




Ele vai pelas ruelas vendendo histórias. Grita alto o produto que leva, acordo cedo para escutá-lo. Ele segue, eu sigo. Não tenho dinheiro para comprar tudo que vende. Sigo para acompanhar outros compradores, o que eles escolherão? Ele segue por ruas estreitas, escuras, feitas de paralelepípedos, em alguns momentos fala baixo o que vende. E eu me perco por entre as ruelas, de prédios altos e antigos. Ali tem histórias, muitas histórias entrelaçadas. Tem vida. Tem vidas. Ele tem um prazer indescritível em preparar histórias para serem vendidas. Os compradores por vezes se tornam escassos. Mas o artesão continua a sua arte.  Mesmo que passe uns dias sem vir às ruas vender o seu produto. Nestes dias de ausência da sua voz gritando pelas ruelas, acordo cedo, abro a janela da minha velha casa de pedra, olho para a rua ansiosa,  a espera do vendedor de histórias. Talvez ele tenha ido por outro sítio, por outras ruelas.