Muito importante para todos os que lerem as postagens: por vezes estarei falando sério, postando opiniões próprias. Outras vezes estarei brincando com opiniões que poderiam ser minhas, mas não são. E por vezes postarei material totalmente fictício, frutos da imaginação e talvez um pouco influenciados pelas experiências acumuladas ao longo dos anos.
Distinguir o que é realidade e o que é ficção fica a cargo de cada um.
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sábado, 23 de março de 2019

BOTÕES

Se tem um amigo de quem eu muito gosto, é do Rafão. Por anos a fio convivemos cotidianamente, dividindo festas e aventuras. E foi assim, em uma das inúmeras festas organizadas pelo Ricardo, que o Rafão conquistou a Claudinha.

O casamento do Rafão com a Cláudia – Claudinha para os mais chegados – foi um evento daqueles dignos de nota de colunista brega nas colunas sociais dos jornais da província. Festão no salão nobre do clube mais aristocrata, com bebida e comida da melhor qualidade bancadas pela herança do avô, que o Seu Flávio, pai do Rafão, não se furtou em gastar ao ver que o filho havia arranjado uma bela noiva – que segundo Seu Flávio, era muito areia para o caminhãozinho do filho.

A festa em si merece uma história própria, em outro momento e outra noite – afinal, apenas o episódio em que o Julinho dera “perda total” e vomitara debaixo das mesas do jantar, ao ponto de necessitar ser carregado pelo Cenoura e pelo Beto para casa, depois de ser o par de dança da mãe do Rafão, já seria digna de um registro por si só. Por ora me limito a dizer que foi uma baita festa em que ninguém imaginava que Claudinha já estava grávida!

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

SEM CHUVA

Sempre fui nostálgico. Gosto de sentar, no escuro da noite, em meu sofá e vasculhar nos cantos ainda mais obscuros da mente memórias passadas, na vã tentativa de revivê-las, compreendê-las, exorcizá-las. Minha esposa costuma dizer que tenho "memória de elefante", já que certas coisas jamais esqueço, como acontecimentos,  diálogos, lugares, experiências (táteis, olfativas, auditivas) - ou, ao menos, relembro de forma muito mais hábil que os demais. Meus amigos próximos diriam que esta memória se justifica pelo tamanho da cabeça...

Fato é, nada obstante, que este gosto por reviver meu passado é muito marcante através, sobretudo, da música. Disto advém um certo prejuízo meu, pois ao ficar preso ao passado, não me abro ao novo. Tenho imensa dificuldade em apreciar novas bandas e novos gêneros, na medida em que volto para trás, atrás de bandas desfeitas, mortas, e sonoridades já esquecidas pelas massas. De certa forma, a música é uma excelente metáfora...

O ponto de toda esta introdução um tanto quanto maçante - e nem por isso menos honesta - é que, em mais uma noite com fones de ouvido e computador ao colo, coloquei para o YouTube tocar aleatoriamente músicas dos anos 90. (Lembre-se, quando eu digo músico, digo rock. E quando digo Rock, aceito também muitos de seus subgêneros). E, surpresa, Blind Melon entra na playlist.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

PROMESSA

Estou nostálgico, mas feliz. Não que interesse a alguém, mas hoje é uma data especial para mim. Muito especial. É meu aniversário de Promessa.

A cada ano, no dia 30 de novembro, me ponho a lembrar de quando, ainda criança, encarei o desafio de fazer algo que fora, de fato, uma escolha minha. Sim, pois alguns anos antes, eu próprio pedi, para surpresa de minha mãe, pra entrar em um grupo escoteiro.

Como eu disse, minha mãe ficou surpresa, em um primeiro momento, mas aceitou e incentivou, tão logo viu que eu não desistiria da ideia. Não era para menos. Tão logo fui alfabetizado, os primeiros livros que me foram comprados, para incentivar a leitura, eram os volumes da Biblioteca do Escoteiro Mirim.

Lembro-me, de forma cristalina, de escolher no encarte do Círculo do Livro - de onde minha mãe comprava os livros para toda a família - de escolher o volume quatro da coleção para ser o primeiro a ser comprado e lido. O motivo? Dizia, abaixo da ilustração sugestiva do personagem Peninha no espaço com roupa de astronauta e microfone, que eu aprenderia a fazer fogo sem fósforos.

Fogo sem fósforos!

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Portas

Leandro, ao fim de sua infância, adormeceu em um sono profundo. Imergiu na inconsciência e, assim, viveu por anos embebido por sonhos surreais, alheio à realidade e aos fatos que lhe rodeavam.

Durante este período, cresceu protegido por sua família, por seus pares. Até que, tão misteriosamente como quando tudo começou, o profundo sono chegou ao fim. Antes diminuta criança, agora gigante adulto, acordou.

Primeiro, um bocejo. Depois, o piscar do olhos. Adaptar-se à luz brilhante da tela do aparelho (televisão? computador?) era perturbador e inebriante a um só tempo. Novas tecnologias se desenvolveram, maravilhando o curioso recém desperto.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O Rei, O Dragão e o Escudeiro

Era uma vez um castelo.

Esse castelo tinha um rei, que com a ajuda de seus cavaleiros, protegia todas as pessoas do Reino.

Um dia, enquanto o Rei governava o Reino, sentado em seu trono, a Rainha estava a admirar a paisagem pela janela da torre do castelo. Foi então, de repente, que a Rainha deu um grito.

E o grito alertou a todos no castelo. Pois lá longe, nas montanhas vermelhas, um enorme e terrível dragão despertara de seu sono de fogo, e voava na direção do castelo, para destruir a tudo e a todos.

O Rei, então, para salvar o Reino e o castelo, ordenou que soassem as trompetas, e convocou a presença de todos os seus cavaleiros reais.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Dia Mais Feliz da Minha Vida

Se alguém me perguntasse qual foi, eu não teria a menor dificuldade em responder. O dia mais feliz da minha vida foi 18 de maio de 2011. O dia em que o meu filho, Henrique, nasceu. Nada, absolutamente nada, do que eu já vivi, antes ou depois, se compara com a emoção que me acometeu naquela quarta-feira. O dia todo foi vivido intensamente, muito além do que podíamos, minha esposa eu, antecipar.

O dia começou cedo. Acordamos ainda de madrugada com a Taísa sentido contrações e com a bolsa d'água estourando. O parto estava agendado no hospital para o sábado, dia 21 de março, então era óbvio que não tínhamos nos preparado. Adrenalina a mil, bolsa e mala arrumadas às pressas, saímos de casa, rumo à maternidade, às cinco da manhã.

A ruas vazias e as sinaleiras em amarelo piscante favoreciam o cenário de nervosismo. Em minutos chegamos ao hospital, ainda com a sensação de sonolência em todos ao nosso redor.

Caubói Ique Salva o Dia

Era uma vez, no velho oeste, um caubói muito bom. Ele usava chapéu todo o tempo, e vestia um colete de couro de vaca. O cinto, largo e pesado, combinava com as botas e esporas. Era o Caubói Ique, o mais valente, prestativo e amigo caubói a cavalgar nas pradarias. 
 
Ele gostava de montar seu cavalo de pelos cor de caramelo e galopar sem rumo, a procura de pessoas que precisassem de sua ajuda. Pois o Caubói Ique sempre estava prestes a ajudar, já que aprendeu com seu papai e sua mamãe que ajudar ao próximo era algo sem preço. Ao final de cada dia de cavalgada, o Caubói Ique gostava de fazer uma fogueira, bem quentinha, e esquentar a água em sua caneca, para uma bebida quente. Depois, deitava-se na relva e ficava a olhar as estrelas no céu, admirando-as, até adormecer e então dormir ao relento.

Uma bela manhã, o Caubói Ique acordou de susto. Ao longe, na direção de uma pequena cidade, ele podia ouvir uma voz gritando.

- Socorro, socorro, alguém nos ajude.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Nos Bancos do Pérola

Escrever é um exercício de paciência. A necessidade de transpor em texto, ao ritmo das dedilhadas no teclado, as palavras que constroem a coesão da trama requer, mais que qualquer coisa, a capacidade de se por de lado a ânsia de contar atabalhoadamente ideias que surgem em velocidade urgente. Pensando em como é o ritmo de vida levado em dias de hoje, de hiperconectividade e imediata exigência de resposta à toda e qualquer comunicação, a realidade que experimentei em minha infância, nos infames anos oitenta, demonstra que, hoje, paciência é algo raro e que necessita – e muito – ser exercitado por mais pessoas

Ainda criança – cinco anos, provavelmente – estava eu na praia de Atlântida passando o veraneio com meus avós. Meus pais, ainda casados na época, deixavam-me com os pais de minha mãe para aproveitar o litoral sempre que por alguma razão, como trabalho, precisavam retornar a Porto Alegre. E eu, na praia com o vô e a vó, experimentava a mesma rotina, diariamente.

Não havia videogame na praia. E o fliperama só abria depois das quatorze horas. Portanto, era necessário ocupar o dia de uma criança, criada na cidade, de uma forma mais vagarosa. Confesso que não faço ideia de que horas acordávamos pela manhã. Lembro apenas que minha Vó – ou minha mãe, quando ela estava na praia junto – não tinha qualquer remorso em abrir a janela de inopino, permitindo que os raios do sol transbordassem quarto adentro. Ainda na cama, eu apertava os olhos, cerrados do sono leve da manhã, na vã esperança de continuar dormindo mais um pouco.

Era hora de nos arrumarmos para ir à beira da praia.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Prazer em Escrever

Tudo junto: Henrique, trabalho, escrever...

Eu lembro quando comecei a escrever meu primeiro texto para este blog. Era dezembro, o calor do verão já havia chegado, mesmo sendo ainda oficialmente primavera. Deitado na minha cama de solteiro, porta do quarto fechada para otimizar o desempenho do ar-condicionado, eu encarava a tela do meu laptop (nunca gostei de usar a palavra notebook) enquanto o calor do pequeno computador, assim como agora, esquentava minha barriga.

Eu havia acabado de ver algum episódio de Battlestar Galactica e, como era muito comum àquela época, não conseguia dormir. Havia uma voz presa dentro de mim que precisava sair. Eu precisava dar vazão à minha inconformidade, aos meus anseios, a seja lá o que fosse, sob pena de, literalmente, sofrer fisicamente os efeitos de mais uma noite reprimindo a urgência que brotava na boca do estômago.

Havia pouco que eu superara um quadro de depressão – sim, hoje eu posso admitir ter sofrido da doença, mesmo que ainda não goste muito de falar a respeito. Reprimir aquela voz que brotava, com força cada vez maior não era de meu interesse. Logo peguei meu velho (que ainda era novo) laptop e, afinal, usei-o para algo que não jogos ou filmes.

Escrever seria minha terapia. O escape das minhas decepções cotidianas em busca de um sonho infantil. Quiçá, da sanidade.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Palavras da Salvação



Sentado na sacada de seu apartamento, com a cerveja gelada na mão, Jorge olha para longe, perdido em seus pensamentos. Enquanto a família dorme, entre um gole e outro Jorge permite que sua mente volte no tempo. Talvez por efeito do álcool, talvez pela nostalgia de embriagar-se sozinho, lhe voltam lembranças que considerava a muito esquecidas. Lembranças que não sabe precisar, exatamente, se gostaria de reviver em uma noite úmida de verão.

Sem poder lutar com a memória, que insiste em trazer eventos do seu passado para serem rememorados, Jorge recosta-se na cadeira, preguiçosamente. Serve-se novamente da cerveja, sorve um longo gole e expira demoradamente, em busca do relaxamento.

Com os olhos sem olhar para nada em especial, passa a remoer sua passagem da infância para a adolescência. Aquela fase difícil para todos os jovens, ainda no primeiro grau, que começam a sentir os efeitos da puberdade. Pois a mente de Jorge vagou no tempo até reencontrar o seu primeiro amor. Amor? Poder-se-ia dizer que sim, se bem que o conceito de amor em idade tão efêmera – 11, 12, 13 anos – definitivamente não é o mesmo da idade adulta.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi.

Eu já havia tido experiências anteriores, levado por meu pai. Mas por ser muito novo, lembro apenas de fragmentos. E as memórias são confusas. Não lembro de muito, apenas de algumas emoções. Evidente que meu, orgulhoso de si, gosta de contar-me as histórias. Mas as memórias, na realidade, são dele, não minhas. Por isso, minha primeira vez, mesmo, oficial, considero aquela da qual tenho memórias completas, na qual pude de fato participar.

Era verão. Dia de calor, como é comum em Porto Alegre. Eu era guri, e quem me levou foi meu padrinho. Junto, estavam os dois filhos guris e o sobrinho dele. Nós quatro tínhamos aproximadamente a mesma idade, o que fazia de nós quatro excitados neófitos.

Saímos cedo, logo depois do almoço. Não faço ideia do quanto meu padrinho gastou. Apenas sei que ele pagou por tudo. Passeio no museu, presentinho na loja oficial, ingressos, refrigerantes...

Era minha primeira vez assistindo o Grêmio no Olímpico.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nascido em 4 de Julho


Hoje é aniversário do meu Vô Aldo.

Meu querido e amado Vô Aldo.

Em toda minha vida, conheci poucas pessoas que possuam uma vida rica em histórias – dramáticas, divertidas ou pitorescas. Talvez tenha sido esta vivência, doce e amarga, que tenha feito do seu coração algo grandioso. Ao menos para mim.

Nossa relação era muito mais que apenas avô e neto. Éramos amigos. Eu sou o Campeão do Vô! Ele, meu Herói... 

domingo, 13 de maio de 2012

Festa no Apê e as Gurias de Erechim


Houve um tempo que todos os dias eram de festa.

Era verão, evidentemente. Mais especificamente, o último verão antes de terminarmos a faculdade. Naquele ano, os pais do Beto – primo do Cebola, que passou a integrar nossa turma nos churrascos e campeonatos de videogame – decidiram não passar férias no litoral. Segundo o Beto, eles teriam comprado um chalé na Serra, ou algo do tipo. Melhor para nós. O antigo apê dos pais do Beto, localizado bem no centrinho da praia, no meio do agito, em cima da sorveteria, era só festa. Todos os dias – pelo menos, todos os dias possíveis.

Empolgados com a perspectiva de um matadouro em local nobre, combinamos todos – Julinho, Ricardo, Rafão, Cebola, Beto e eu – de tirar férias no mês de fevereiro. Emendaríamos com o Carnaval, o gran finale da maratona de agito. O apê era pequeno – um quarto sala antigo, com cozinha – mas era mais que suficiente para nossas ambições.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A Verdade

Debaixo dos litros de água quente que se despejavam do chuveiro elétrico, Cléber tentava, em vão, livrar-se daquela sensação desagradável. Desde sempre era tido por todos seus amigos e conhecidos e familiares como um exemplo de marido fiel e respeitoso. Ele mesmo sentia-se assim. Casara-se ainda quando jovem com sua alma gêmea, sua metade da laranja. Eram felizes e um casal exemplar. Jamais pensara em cometer qualquer ato que pudesse, ainda que remotamente, ser considerado uma traição. Mas tudo isso mudara. Ali, embaixo do chuveiro, Cléber revivia cada segundo daquela tarde quente. E a cada memória, sentia-se sujo, imundo, adúltero.

Ainda lutava para compreender como tudo acontecera. Foi tudo muito rápido. Cléber estava dirigindo seu carro, um confortável e elegante sedan nacional, quando viu na calçada, em frente ao banco, uma garota irresistivelmente linda. Caminhava a passos decididos, firmes, com um rebolado que Cléber pensara não existir nesse mundo. Os cabelos volumosos e negros contrastavam contra pele alva e lisa, imaculadamente perfeita. O vestido curto de verão, simples porém sensual, exibia pernas e ombros. Encimada em sapatos de salto alto, Cléber não conseguiu desviar o olhar. O mais impressionante é que nunca sentira-se atraído por mulheres mais jovens. Mas aquela ninfeta era impossível de resistir.

Sem saber de onde veio o impulso, parou o carro ao lado da moça. Ele a admirara apenas de costas, mas mesmo assim estava decidido: precisa tomar uma atitude. Que atitude? Cléber jamais fora o tipo conquistador. Seu casamento mesmo não foi iniciativa sua, precisou ser conquistado, galanteado. Cléber, no fundo de sua mente, percebia o ridículo da situação. Não sabia sequer o que dizer a uma garota.

sábado, 19 de novembro de 2011

O Fator Panda

Seja você um evolucionista-darwiniano ou um criacionista religioso, é inegável que o  ser humano, sob todas as óticas, é um prodígio. Afinal, em um ambiente rico e diversamente variado, o homem – aqui usando-se o termo como espécie humana, sem sexismos – é o ser vivo com o maior sucesso dentre todos. Não por acaso se anunciou, recentemente, o nascimento do humano número 7 bilhões aqui no Rio Grande do Sul (ou assim falou a Zero Hora...).

Na verdade, o sucesso da raça humana impressiona. Afinal, como se poderia imaginar que uma raça que produz filhotes absolutamente inúteis poderia perseverar a ponto de dominar o planeta? Não se engane o leitor: bebês humanos são a expressão da inutilidade.

Pense bem: um bebê, após nascer com vida, torna-se dependente de sua mãe – e do grupo familiar, que precisa proteger e dar suporte à mãe – para tudo, especialmente para alimentar-se. Isso sem adentrar no mérito de que nos primeiros MESES – não semanas, não dias, mas meses – de vida, a criança dependerá exclusivamente do leite materno. Somente após conseguirá alimentar-se de outros alimentos sólidos – e ainda assim sem desmamar completamente. Em tempos atuais, de internet banda larga e calças de tactel, fica fácil conceber e conviver com a fragilidades de um recém-nascido. Mas imagine a 2 mil anos atrás? Ou a 15 mil anos atrás, quando o homem vivia em cavernas, ainda aprendia a dominar o fogo e fugia de animais de dentes afiados ávidos por carne de, bem, deu pra entender...

Como que o ser humano conseguiu perseverar a ponto de chegar a 7 bilhões de indivíduos quando a simples sobrevivência de uma criança é tão complicada? Como explicar que toda uma estrutura social se formasse ao redor do núcleo familiar apenas para proteger um indivíduo indefeso que passará 9 meses mamando no peito da mãe, demorará um ano para começar a andar e atingirá a maturidade física apenas aos 15 anos? O que fez com que o homem das cavernas – ou mais longe ainda, o elo perdido do homem-primata – não abandonasse a sua cria recém-nascida, tão trabalhosa e, de novo, inútil?

Graças ao Fator Panda.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os Ipês da Beira da Estrada

Certas coisas não são como nos filmes.

A viagem de Carlos estava marcada há mais de semana, mas mesmo assim ela não parecia real. Passara os últimos dias debatendo com seus colegas de trabalho sobre a real necessidade de fazer os mais de quatrocentos quilômetros – oitocentos, ida e volta – que separam a capital da fronteira oeste apenas para conferir documentos de um processo. Todos, sem exceção, lhe diziam:

- É um processo importante, de nosso mais importante cliente. É necessário ir.

Vencido, porém não convencido, Carlos ainda não desejava encarar a estrada. Muito embora rodasse mais de mil quilômetros todos os meses a trabalho, aquela viagem não lhe parecia certa. Havia algo no fundo de sua mente que lhe dizia “fica em casa com teu filho, é melhor”. Mudou de tática. Novamente abordou seus colegas e seus superiores. Talvez outra pessoa pudesse ir até lá ver o tal processo. Não haviam contratado um cara novo justamente para que Carlos ficasse mais tempo dentro do escritório, cuidando de assuntos mais importante?

- Mas este processo na fronteira é muito importante – diziam os colegas de Carlos. - Tu és quem mais tem experiência sobre este assunto. Tu és a melhor indicação para ir até lá e ver estes documentos.

E assim, sentindo-se derrotado, Carlos foi dormir na véspera. O coração pesado, o carro abastecido.

domingo, 4 de setembro de 2011

Guerra dos Sexos


 Liberdade sexual. Essa foi a verdadeira revolução da segunda metade do século XX. Foi a partir da mudança de dogmas quanto à sexualidade humana que homens e mulheres – sobretudo as mulheres – passaram a ter o comportamento que diferencia a sociedade atual daquela de apenas cinquenta anos atrás.

Isso, todavia, não evitou que a namorada de Jáder, Rafaela, continuasse presa a alguns pudores.

Jáder a Rafaela estavam namorando há cinco anos, já. Sempre foram cuidadosos – jamais tiveram outros parceiros depois do início de seu relacionamento e usavam sempre camisinha. Mas com o tempo, Jáder começou a cansar.

domingo, 31 de julho de 2011

A Lenda do Dragão-de-Quatro-Cabeças

 Era uma vez, em um reino há muito tempo atrás, um feiticeiro muito, muito poderoso. Seus poderes mágicos e sua sabedoria eram os maiores de todo o reino. Este Feiticeiro era o melhor amigo do Rei e por isso era seu conselheiro. Juntos eles cuidavam do bem estar de seus súditos.

Um belo dia, o Rei recebeu um mensageiro que trouxe um terrível notícia. Um dragão, enfurecido e descontrolado, estava a atacar o interior de seu país. O Rei mandou chamar seu velho amigo e lhe disse:

- Velho amigo Feiticeiro, preciso de sua mágica. Você deve conter este dragão.

- Certamente, meu amigo e meu Rei – respondeu o Feiticeiro, sem nenhum medo em sua voz. Mas esse dragão não é um dragão qualquer. Esse dragão é o amaldiçoado Dragão-de-Quatro-Cabeças, para sempre amaldiçoado com uma fome interminável. Suas quatro cabeças cospem fogo pela boca. Seus dentes são afiadíssimos. E suas línguas possuem venenos capazes de matar um homem. Eu sou muito velho para enfrentar o perigo sozinho. Para derrotar o Dragão-de-Quatro-Cabeças eu precisarei da ajuda de outros três corajosos e valorosos companheiros.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pais, Filhos, Barbas e Futebol

Os momentos entre pai e filho são marcantes. Isso porque, diferentemente da relação entre a mãe e sua prole, o pai moderno volta ao trabalho apenas 3 dias depois do nascimento. O contato com o filho fica restrito, portanto, ao início da manhã e à noite. O coração, a cada despedia, dói. Dói demais... Pela manhã a criança pede pela mãe, para mamar. À noite, dorme. Sobra então trocar as fraldas na madrugada, mas aí a trabalhar no dia seguinte...

Foi pensando nesses poucos momentos para curtir o meu filho que cheguei em casa. Eram quase oito horas da noite. Para os antigos, hora da janta e da novela. Para mim, hora de pegar meu guri no colo. Cheguei desesperado por um banho e uma muda limpa de roupa, afinal passara o dia na rua e estava sujo. Longe de mim emporcalhar ou contaminar com algum germe o piá. E, após um beijo na testa, me fui para o chuveiro.

De roupa limpa (OK, pijama), fui tomado por uma estranha compulsão. Eu tinha que fazer a barba. Simplesmente precisava. Foi como se estivesse a ouvir meu pai contar aquela mesma história pela nonagésima vez.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Artêmia é que era mulher de verdade

Artêmia foi uma mulher especial. De fibra. Muito antes de feministas queimarem sutiãs em praça pública em 1968 (o que parece que não foi bem assim que aconteceu, mas isso é outra história), Artêmia Vasconcellos foi uma mulher moderna, a frente de seu tempo. Um modelo para gerações por vir.

Nascida em Alegrete no distante século XX, em 05 de dezembro de 1921, filha de Martimiano Vasconcellos e Izoletina Barros Vasconcellos, Artêmia atravessou uma difícil infância. Filha mais nova do casal, é dito que sua mãe nunca se recuperou de uma grave crise de puerpério, fruto de duas gestações consecutivas. Neysa Maria, a irmã mais velha, nasceu em janeiro de 1921, apenas onze meses antes. Ainda cedo, com apenas cinco anos, perdeu os pais. Órfãs, as irmãs Artêmia e Neysa Maria foram enviadas pela família para o internato de freiras do Colégio Sant’Ana, em Uruguaiana,  onde passaram a infância e adolescência.