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08/03/16

quando a "mulher" tem um dia e ......

de Maria Teresa Horta

ELAS
Maria Teresa Horta

Elas
Iludem as escurezas
dos rostos a negrura das nódoas

do corpo
desatam os nós que lhes
atardam, atam e algemam
a alma e os pulsos
Conversam entre si
coisas de enredo
lançam Luz nos recantos
das vagas
Trocam receitas de venenos
murmuram palavras escusas
desejos inolvidáveis
‘Oh, que dureza ruim!
Ataduras e debruns
missanga de muita estrela
Cassiopeia, raízes
sangrantes
das próprias veias’
Elas
inventam a mata
na clareira assombrada
embrenhadas na vigília
Recriam, criam, dominam
Viram pombas, profetizas
com uma alvura de cera
pálidas rosas da China
‘Oh, tormenta amendoada
solidões desirmanadas
enquanto de madrugada
Cavam, enterram, devassam
pespontando com o riso
as dobras do calamento’
Elas
bradam, elas buscam
sibilas e amazonas
emudecem as camélias
e as roseiras nervosas
Feiticeiras ardilosas
filhas da harmonia
partilham as tempestades
Derrubam, suturam, fiam
‘Oh doçuras sigilosas
no aço do destempero
de incêndios e desesperos
Virados pelo avesso
a paixão e a razão
entre si tão divididas’
Elas
recusam, derrubam
dominam as próprias vidas
com a sua inteligência
Tornam-se donas do tempo
a semearem agruras
pelos meandros do vento.

Maria Teresa Horta, Março de 2016

25/03/13

ARREBATADA
foto daqui

Eu não quero a ternura
quero o fogo
a chama da loucura desatada

quero a febre dos sentidos
e o desejo
o tumulto da paixão arrebatada

Eu não quero só o olhar
quero o corpo
abismo de navalha que nos mata

quero o cume da avidez
e do delírio,
sequiosa faminta apaixonada

Eu não quero o deleite
do amor
quero tudo o que é voraz

Eu quero a lava

Maria Teresa Horta

02/04/12

Maria Teresa Horta

por Helena Vasconcelos [14.03.2012]
http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=302028

A luz incandescente de Maria Teresa Horta

Diante da sua nova antologia de poesia erótica, As Palavras do Corpo, Maria Teresa Horta recapitula uma vida inteira de risco e de exposição, de leitura e de escrita: “Para mim, escrever é voo e sobressalto, incêndio e desmesura”
Maria Teresa Horta, poeta, ficcionista, activista, feminista, é uma das mais importantes figuras da literatura portuguesa, conjugando na perfeição a luta feroz pelas causas que defende e o fulgor da escrita. Ao longo de uma vida apaixonante e apaixonada, Maria Teresa Horta conheceu o peso da ditadura e foi penalizada por ser mulher, livre e escritora. Com um vasto e diferenciado corpus literário que inclui poesia e prosa, a autora acaba de publicar uma antologia de poesia erótica intitulada As Palavras do Corpo (Dom Quixote), depois de ter ganho o Prémio D. Dinis - Casa de Mateus 2011 pelo romance histórico As Luzes de Leonor (Dom Quixote).

Fale-me da sua infância.

MTH
A minha infância foi arrebatada. Dividida entre a beleza da minha mãe e a inteligência do meu pai; entre o quarto da minha mãe e o escritório do meu pai. Protegida, defendida, compreendida por uma espantosa avó paterna que vivia connosco, a primeira mulher, aliás, que frequentou o liceu em Portugal. Sufragista, frequentava as reuniões feministas da histórica "casa-jardim", onde eu, menina pequena, ia com ela.

A minha infância foi a fundura do poço e o golpe de asa. O conhecimento do anjo e a queda. Uma espécie de história de fadas, com uma deslumbrante mãe abandonatória, um pai distante, gelado e inflexível, e uma madrasta como a da Branca de Neve, que me deu a comer várias maçãs envenenadas. A minha infância foi o começo exaltado e fulgurante da leitura e o início maravilhado do prazer da escrita; com o escritório do meu pai como paraíso proibido, onde me escondia, me perdia a olhar as lombadas dos livros nas prateleiras das estantes a que não chegava. Livros de que a minha avó me lia pedaços, a meu pedido, reclamando: "Mas não é leitura para a tua idade, não vais perceber nada..." E eu acabava sempre por lhe garantir no final: "Não interessa se não percebi, é tão bonito!"

Li, algures, que a Maria Teresa aprendeu a ler sozinha...

Digamos que sim, embora tivesse a ajuda da minha avó, que com uma imensa paciência sempre acedia quando lhe rogava para me ler esta ou aquela palavra, e repetir o nome de cada uma das letras que as compunham. Nessa altura as crianças só iam para a escola aos sete anos; ora, na altura em que isto aconteceu, eu deveria ter por volta dos quatro. Quando, pasmado, o mau pai se apercebeu de que melhor ou pior eu sabia ler, contratou uma professora para pôr ordem naquele meu saber bastante caótico e para me ensinar a escrever. Aí conheci outra das grandes paixões da minha vida: a escrita. E tudo mudou, tomou um rumo diferente e amotinado.       ------  (ler mais)
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