a Alcanhões, a minha terra
Nasci guardado por um dragão antigo.
Pedi-lhe que me ensinasse a extrair
todas as profecias do futuro.
E ele falou-me da seiva e das raízes,
legado das oliveiras que herdei,
e de como o azeite nunca cessou nas candeias
ardendo no altar da minha casa.
Perguntei-lhe se me cresceriam asas
para seguir o curso dos rios
e segurar a eternidade das estrelas.
Mas não podendo voar
nem cuspir o fogo que me ardia no peito
bebi da água de todas as fontes
para tocar a mesma luz que há nos astros.
Samuel Pimenta
In: Ascensão da água. Fafe: Labirinto, 2020, p. 42