(Cúpula em majólica da Igreja de Santa Maria delle Carmine)
Um aeroporto, como qualquer outro. Depois, um autocarro,
desses que em todas as cidades levam os turistas até ao centro da cidade. Após
45 minutos de viagem, chegamos à Estação Central dos comboios. Descemos, parece
que o nosso Hotel é ali perto. Vou cheia de expectativas barrocas, o Hotel
recuperou um velho palazzo do século XVIII, em pleno centro histórico.
Mas Palermo é um sítio estranho. À primeira vista, é uma cidade
de cores mediterrânicas, ocres, brancos manchados pelo uso e pelo sol, amarelos
desbotados. As janelas têm portadas de tabuinhas e as varandas estreitas são
suportadas por ferros exteriores, como prateleiras.
(As vielas do centro de Palermo)
A multietnicidade é evidente: negros, indianos, até
italianos! A sujidade e o desarranjo dos espaços públicos choca-nos e faz-nos
entrar em desacordo: pode comparar-se com Lisboa? A caminho do Hotel,
arrastamos as malas por ruelas estreitas, de prédios decrépitos, roupa nas
janelas, depósitos de água nas varandas, antenas parabólicas. Há miúdos a jogar
futebol com uma cebola crua e grupos de negros a tocas congas, tambores e garrafas.
De repente, parece que estamos em África. Mas ali, ao virar da esquina, há uma
igreja barroca e uma biblioteca construída com uma fachada de templo clássico.
(Música junto à Piazza Ballaró)
Depois de largarmos as malas no Hotel, que parece um oásis no
meio da confusão, saímos a pé, para sentirmos o ambiente de Palermo. Há vielas
estreitas, com mulheres a conversar à varanda. Há lojas de marca. Há um
trânsito desordenado, muitos carros com marcas de batidelas e revoadas de motas
que consideram que as regras de trânsito não se lhes aplicam! Passam sinais
vermelhos, não respeitam as passadeiras, transitam sem capacete, em contra-mão,
por vezes a falar ao telemóvel!
Começamos a habituar-nos à cidade. Os mercados de rua são
imperdíveis. O Mercato Ballaró é um mercado à moda antiga, cheio de bancas que
vendem um pouco de tudo, em especial produtos alimentares, e atravancam as ruas
estreitas à volta da Piazza Ballaró, que à noite se enche de jovens em bares
improvisados. Mas, durante o dia, são os legumes e as frutas que lhe dão cor,
intervalados com as bancas da carne ou dos caracóis. Os vendedores chamam os
clientes com pregões antigos, e falam entre si no dialeto siciliano, no que nos
parece um linguajar incompreensível.
(Banca de caracóis no Mercato Ballaró)
Por entre as casas pouco cuidadas, encontramos de vez em
quando uma autêntica jóia, como a Igreja da Santa Maria delle Carmine, com a
sua preciosa cúpula em majólica.
Mais à frente, no Mercato del Capo, compramos massas, tomates
secos e outros temperos, para mais tarde recordarmos os sabores sicilianos. O jovem
vendedor aconselha-nos: “Não deixem de visitar a Igreja de Nossa Senhora da
Conceição, ali na esquina!” Também é a padroeira de Portugal e, embora o
exterior não prometa, entramos e olhamos extasiados o esplendor dos mármores
barrocos.
(Interior da Igreja da Madonna della Concezione)
(Fotos de Teresa Diniz)