Ano Novo

 

 

 O jogo

 

Jogo isolado
Num jogo bem sozinho
O tempo que foi dado
Já era  no finzinho

As regras ocultas
O campo escondido
Sem uma consulta
No que lhe é dito

Só resta jogar
Sem nunca perder
E se empatar
Vais ter de ceder

É um jogo estranho
Que não quero jogar
Eu sempre apanho
Por nunca ganhar

Mas sigo jogando
Não tem como fugir
Eu sempre apanhando
E você a sorrir.

 

 Parto

Vou pro meu quarto
Dormir chorando
Fazer este parto
Que está me matando

Extrair este feto
Que não para de crescer
Tentar o que é certo
Sem ter de perder

Um fórceps usar
Com total violência
Tentar abafar
A maldita carência

Me encolher em um canto
Parar o sangramento
Nem que para tanto
Esteja morrendo

Não tenho sossego
Por tudo que guardo
Foi só um tropeço
E um belo de um fardo.

 

 

 

 

 

 

Palavras ditas

 

Que bom quando a gente
Toma posse do que está no ar
A gente fica diferente
Passa a mais se gostar

Pensa que é o centro
Daquilo que ali leu
Se coloca ali dentro
E tudo a volta esqueceu

"É para mim
Estas palavras não ditas
É sim
E vieram amarradas com fita"

Não quero nem saber
Se alguém também se coloca
Como a dona do poder
Ou a quem a palavra toca

Tomo posse e é meu
E ninguém as vai tirar
Se você não percebeu
O melhor é aceitar.

 

Bom dia

 

Bom dia amor
Como é bom estar ao seu lado
É como se fosse uma flor
E todo seu perfume exalado

É de uma felicidade
Poder acordar e logo te ver
Nós somos uma unidade
Que ninguém vai dissolver

O dia que tentarem
Um do outro separar
Vão perder a coragem
De tanto que irão tentar

Assim que nos unimos
Uma forte cola prendeu
Nunca mais nós fingimos
O coração aprendeu

O que é o amor verdadeiro
O que é uma entrega total
Vivemos neste braseiro
Deixamos de ser mortal.


 

 

 

 Luz

 

Fui um brilho
Uma luz no espaço
Suportado por fio
Que não era nem de aço

Era frágil este chão
E cedeu rapidamente
Tentei segurar uma mão
Mas não tinha esta gente

A queda foi grande
Me jogou na escuridão
Obedecer ao que me tange
É plantar um novo não

Vou atrás de meu brilho
Leve o tempo que custar
Este novo desafio
Só vai me fazer aumentar

Quero ser de novo luz
Que me sirva de um guia
Quero ser a que conduz
Sendo boa companhia.

 

 

 A espreita

O amor fica a espreita
Esperando eu passar
Só para ver como rejeita
Meu sorriso, meu olhar

Ele é triste e cruel
Machucando quem lhe gosta
Este não é o seu papel
Vou fazer uma proposta

Me deixe viver de novo
O que um dia aconteceu
Eu prometo não me movo
Acorde o que só adormeceu

Fujamos das armadilhas
Que estão pelo caminho
Vamos deixar de ser ilhas
E não mais viver sozinho

Vamos levar o amor
A esquecer a maldade
Vamos lhe dar o valor
E conhecer a felicidade.

 

 

 Navegante

 

Me deixei levar
Por um mar de pensamento
O que fez eternizar
O momento em um momento

Vi nascer uma flor
Que ninguém a recolheu
Estava repleta de dor
Por isto logo morreu

Oh flor divina
Nascida em um coração seco
Tinha a aparência de menina
Me deixou perdido num beco

Já vi a idade chegar
As rugas são testemunhas
Vi o corpo cansar
Mais rápido do que se supunha

Solitário navego
Como pescador em alto mar
Buscando aquilo que quero
Sem nunca alcançar.

 

Por trás

 

Por trás do sorriso
Carrego uma dor
Por isto ou aquilo
Seja lá por que for

Se engana quem pensa
Que o riso é amor
Só mesmo uma crença
Para não se expor

Na face o riso
A todos iludindo
Por dentro um aviso
O amor já foi findo

Eu só me iludo
Com aquilo que sinto
Coloco um escudo
Naquilo que minto

E sigo sorrindo
Andando na rua
Já vou me mentindo
Sonhando com a lua.

 

 

 Transplante

 

Troque meu coração
Este aqui já não presta
Fica buscando emoção
Naquilo que já não resta

Fica preso no passado
Não olha para frente
Olha o futuro de lado
Se esconde do presente

É teimoso como só
Por mais que lhe mostre a verdade
Vai se enchendo de pó
Procurando a outra metade

Meu coração não tem jeito
De tanto que foi costurado
Mas é o que tenho no peito
Mesmo que ele tenha errado

Troque meu coração
Se possível pelo mesmo
É ele que me tira do chão
E me faz voar a esmo.

 

 

Nem me lembro

Nem me lembro mais
Como é te esquecer
Deixar você para trás
É um pouco de mim morrer

Nem sei mais qual foi o dia
Que tentei a última vez
Eu as poucos me mentia
Que esqueci talvez

Tudo era um engano
E você só em mim crescia
Era um teatro com pano
Que a cena não abria

Eu era protagonista
E também era platéia
De viver como artista
Eu é que tive a idéia

Desisti então
De tirar o que não sai
Vai ficar no coração
Sem mais nenhum uai.

 

 

Natal

 

 

 Tangram

 

Eu continuo te querendo
Mesmo que você não me queira
No amor eu vou crendo
Mesmo que pareça cegueira

Você pode até não querer
Olhar o que passou
Estas marcas eu vou ter
Pelo tempo que ficou

São marcas de saudades
E de muitas esperanças
São marcas sem idade
Quase todas são crianças

Não machucam
Só resangram
Não se curam
Parece tangram

Neste querer solitário
Mais um mundo é refeito
É um mundo imaginário
Mas um mundo sem defeito.

 

 

 

 

 Tem horas

 

Tem horas
Me pego pensando
A vida lá fora
Continua voando

Não dá para parar
E tentar entender
Ela vai te arrastar
Você tem de correr

As coisas perdendo
E outras chegando
Você só vai vendo
E segue chorando

Tem de parar
Frear este mundo
Senão não vai dar
Vamos todos pro fundo

Mudar este jeito
De correr para tudo
O que há no meu peito
Está quase como um mudo

Ainda tem tempo
De um novo pensar
Mudar o momento
Voltar a amar.