Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens

09 dezembro, 2010

novos modos de contar


Um vídeo leve e muito curioso que a Mónica do blog cem mil planos enviou por e-mail.
É para ver até ao fim!

É
que
realmente

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

29 novembro, 2010

parabéns oficiais






Freilicher, Jane
white orchids
(2005)




O blog das palavras claras, generosas e diárias faz hoje 6 anos. Muitos parabéns.
Faz muito bem ir lá ler.

17 março, 2010

palavras maduras (2)

.




Muths, J.
the meaning of green
(2008)








ROMANCE SONÁMBOLO

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.

--Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los puertos de Cabra.
--Si yo pudiera, mocito,
este trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
--Compadre, quiero morir,
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No ves la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
--Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
--Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas,
¡dejadme subir!, dejadme
hasta las verdes barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

Ya suben los dos compadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal
herían la madrugada.

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
--¡Compadre! ¿Dónde está, dime?
¿Dónde está tu niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara,
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.

Frederico Garcia Lorca


Patxi Andion, verde (homenagem a Frederico Garcia Lorca)

[aqui outro conjunto verde de palavras maduras]

[E boa sorte para o Sportém (SCP) que amanhã, quinta-feira, recebe o Atlético de Madrid, às 20.05h para um jogo da Liga Europa, a transmitir pela SIC, (está corrigido, Lino]

01 dezembro, 2009

início de dezembro, (quase) fim de outono e algum frio pelo meio (finalmente)






Cherry, H.
december
(1959)











UM DIA NÃO MUITO LONGE
NÃO MUITO PERTO

Às vezes sabes sinto-me farto
por tudo isto ser sempre assim

Um dia não muito longe não muito perto
um dia muito normal um dia quotidiano
um dia não é que eu pareça lá muito hirto
entrarás no quarto e chamarás por mim
e digo-te já que tenho pena de não responder
de não sair do meu ar vagamente absorto
farei um esforço parece mas nada a fazer
hás-de dizer que pareço morto
que disparate dizias tu que houve um surto
não sabes de quê não muito perto
e eu sem nada para te dizer
um pouco farto não muito hirto e vagamente absorto
não muito perto desse tal surto
queres tu ver que hei-de estar morto?

Ruy Belo, um dia não muito longe não muito perto
{outono, [homem de palavra(s)], todos os poemas,
Assírio e Alvim, 223}


Erik Satie, pièces froides - danses de travers, nº3

16 julho, 2009

a cal mar






Franco, R.
tranquil
(s/data)







O RIGOR

O rigor do verão quase
extinguiu os pequenos
oásis do coração:
nenhum
de nós conseguiu dobrar
o lume, acariciar
o tigre, desviar a sombra
dos lábios - arder
era afinal a nossa vocação.

Eugénio de Andrade, rente ao dizer, 36

12 maio, 2009

nem mais ...






Botelho, Inês
untitled
(2003-2004)









O AMIGO

Não voltará - o que dele me ficou
é como no inverno entre cortinas
de chuva um tímido fio de sol:
ilumina mas não aquece as mãos.

Eugénio de Andrade, pequeno formato (edição fora de mercado, 55)


J. Massenet, meditation (ópera Thais) Itzhak Perlman (violino)

[esmerei-me na musica... ora escutem]

17 abril, 2009

casa de chá & palavras







Dias, J.
Casa de Chá da Boa Nova
de Álvaro Siza Vieira
(foto daqui)*

CASA DE ÁLVARO SIZA NA BOA NOVA

A musical ordem do espaço,
a manifesta verdade da pedra,
a concreta beleza
do chão subindo os últimos degraus,
a luminosa contensão da cal,
o muro compacto
e certo
contra toda a ostentação,
e refreada
e contínua e serena linha
abraçando o ritmo do ar,
a branca arquitectura
e nua
até aos ossos.
Por onde entrava o mar.

Eugénio de Andrade, homenagens e outros epitáfios, 55


D. Shostakovich - tahiti trot (tea for two)

* Ver melhor a Casa de Chá aqui.

02 abril, 2009

en()traves(s)ias





Longmore, N.
the gate
(2006)







ATRAVESSAR O MINUTO

Atravessei a vida
sem parar um minuto
atravessei o minuto
sem saber a vida

Agora, que já nem sei de uma
nem de outra
sei apenas que atravessei algures
e sem dar por isso

Agostinho Santos, cadernos do silêncio, 23

[eu cumpro com a minha parte da tradição (poeminha e quadrinho ... a musiquinha não pode ser porque não sei que raio fiz aqui no "portátel" que, para tudo o que mexa, me pede umas coisas que eu nem sei o que são e muito menos imagino como instalar...) mas, as meninas e os meninos, não se esqueçam de ir votar na mentirinha aí em baixo! Se virem que tal, votem como anónimos, ora essa! a bem dizer o voto é secreto...]

13 março, 2009

acerca de joelhos *

.




Bolster, R.
the clammer








OS JOELHOS

Considerai os joelhos com doçura
vereis a noite arder mas não queimar
a boca onde beijo a beijo foi acesa.

Eugénio de Andrade, obscuro domínio, 32

* Desculpem se "estrago" o poema.

07 março, 2009

se ...



Hicks, R.
if not now whenever
(2006)


[Li esta notícia n ' O Público e lembrei-me deste poema. Às vezes faço cada associação à la minute...]
IF
If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;
If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;
If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";
If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!

R. Kipling

agora traduzido (daqui)

Se
Se consegues manter a calma quando à tua volta
Todos a perdem e te culpam por isso,
Se consegues manter a confiança em ti próprio quando todos duvidam de ti,
Mas fores capaz de aceitar também as suas dúvidas;
Se consegues esperar sem te cansares com a espera,
Ou, sendo caluniado, não devolveres as calúnias;
Ou, sendo odiado, não cederes ao ódio,
E, mesmo assim, não pareceres paternalista nem presunçoso:

Se consegues sonhar – e não ficares dependente dos teus sonhos;
Se consegues pensar – e não transformares os teus pensamentos nas tuas certezas;
Se consegues defrontar-te com o Triunfo e a Derrota
E tratar do mesmo modo esses dois impostores;
Se consegues suportar ouvir a verdade do que disseste,
Transformada, por gente desonesta, em armadilha para enganar os tolos,
Ou ver destruídas as coisas por que lutaste toda a vida,
E, mantendo-te fiel a ti próprio, reconstruí-las com ferramentas já gastas:

Se és capaz de arriscar tudo o que conseguiste
Numa única jogada de cara ou coroa,
E, perdendo, recomeçar tudo do princípio,
Sem lamentar o que perdeste;
Se consegues obrigar o teu coração e os teus nervos
A ter força para aguentar mesmo quando já estão exaustos,
E continuares, quando em ti nada mais resta
Que a Vontade que lhes diz: “ Resistam!”

Se consegues falar a multidões sem te corromperes,
Ou conviveres com reis sem perder a naturalidade,
Se consegues nunca te sentir ofendido
Seja por inimigos, seja por amigos queridos;
Se todos podem contar contigo, mas sem que os substituas;
Se consegues preencher cada implacável minuto
Com sessenta segundos que valham a pena ser vividos,
É tua a Terra e tudo o que nela existe,
E – o que é ainda mais – então, meu filho,
Serás um Homem.

R. Kipling

[adenda... vejam só a coincidência aqui]

14 janeiro, 2009

dia de poesia (data de formas coloridas)

 



Heron, P.
14, January, 1973
(1973)








 TEMPO DE POESIA

Todo o tempo é de poesia.

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.

Todo o tempo é de poesia.

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia.

António Gedeão, movimento perpétuo (obra completa, 103-104)

16 novembro, 2006

soneto de fidelidade

....................................................
...É sempre bom relembrar...
...................................................

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Morais

15 novembro, 2006

poema para um amigo

.......
Oiço, como se o cheiro
De flores me acordasse...
É música - um canteiro
De influência e disfarce.

Impalpável lembrança,
Sorriso de ninguém,
Com aquela esperança
Que nem esperança tem...

Que importa, se sentir
É não se conhecer?
Oiço, e sinto sorrir
O que em mim nada quer.

Fernando Pessoa

12 novembro, 2006

o olhar

O Olhar

Eu sentia os seus olhos beber os meus;
longamente bebiam, bebiam;
bebiam
até não me restar nas órbitas nenhuma
luz, nenhuma água,
nem sequer o sinal de neles ter chovido
naquele inverno.

Eugénio de Andrade (Rente ao Dizer)

Lembrar a poesia de Eugénio de Andrade num tempo em que o Director da Fundação com o seu nome se vê obrigado a não aceitar o "subsídio" da Câmara do Porto, por tão indigno....