O PM deu uma entrevista na SIC. Desenganaram-se aqueles que esperavam uma oportunidade para perceberem quais seriam as medidas no concreto do Governo para combater a recessão. (Custou-lhe até admitir mas, perante evidências, lá disse, timidamente, que tudo apontava para que Portugal entrasse em recessão).
A única novidade aparentou ser a informação de que o Partido Socialista desejava ter maioria absoluta nas eleições de 2009, porque quase tudo o resto se resumiu, no meu ponto de vista, a chavões, frases feitas e inventários de três para quatro anos de governo cheios de reformas "brilhantes".
Mas, será que numa entrevista se esperava que fosse dito algo de relevante para todos nós? Recordo que Portugal não tem tradição neste tipo de diálogo entre jornalistas e entrevistados, nem este PM o faria se assim fosse. A menos que fosse obrigado por todos nós, e por jornalistas convictos que informar não é negociar perguntas prévias mas sim obrigar a respostas claras e objectivas.
Este PM sabe muitíssimo bem que em Portugal ainda subsiste olhar-se para um político e aliar a liderança a características individuais que apresentam ou melhor dizendo, representam. Olham-se com os atributos "imaginados/projectados" apenas nas aparências. Somos a favor/contra, defendemos/atacamos, quase sempre de forma irracional. Muitas vezes basta só a pertença ao partido para... Este comportamento revela uma dimensão afectiva e que se estende ao poder.
Vive-se essa pertença como um acto de amor, embora seja ilusório, porém revela essa dimensão afectiva. Cada membro apoiante está convencido que é amado pelo líder, essa figura idealizada, com o qual se identificam e sentem até que ele possuiu características semelhantes às suas.
Desta ilusão vive o sr. Sousa e todos os outros políticos. Dela depende também o voto e consequentemente a manutenção no poder e a sobrevivência política. Não interessa tanto o que defende e como, isto é, a forma e o conteúdo do exercício da governação.
Entrevistas são tão somente momentos de aglutinação tanto quanto o são os contactos com o aparelho partidário ou com a população.
As entrevistas individuais permitem a transmissão alargada de um conjunto de argumentos com aparentes soluções, de forma a reforçar a motivação daqueles que já acreditavam na bondade das mesmas para a resolução dos velhos problemas. Os contactos com a população através dos beijinhos, promessas e a aparente compreensão do problema individual, reforçam essa identificação ao líder e a dimensão afectiva da liderança e do poder.
Mas, nem os problemas socais e estruturais da sociedade são resolvidos individualmente nem os velhos problemas estão efectivamente sanados.
Tudo isto porque aquele líder que se apresenta como o mais simpático é também, o que faz troca de benefícios, promove a troca de favores sendo considerado por todos como o que dispõe de mais influência. Ao deter o poder tem como inerência o direito de se servir do aparelho de Estado. Como tal ele tece assim um jogo de forças, de mil pequenos controlos, materializados nas nomeações, subsídios, favorecimentos, apoios e tantos etc que poderemos identificar. Mas, não é de certeza aquele que se encontra melhor preparado para o exercício da função.
O sr. José Sócrates sabe muito bem tudo isto e sabe, muito bem, manipular, controlar e aproveitar as oportunidades que cria. Mais, até sabe que na oposição ninguém domina tão bem quanto ele estas minudências comunicacionais.
Estamos em recessão... pois estamos...! Queriam equacionar soluções?
Esperem até à próxima campanha eleitoral. O Nirvana será prometido em bandeja de prata. Não é isso que fazem desde há 30 anos a esta parte?