(by Cinthya)
Ontem uma amiga me ligou porque havia me convidado para um encontro da sua igreja e eu não fui. Visitei a igreja dela outro dia e foi legal, mas nada que me fizesse querer ficar e seguir à risca as suas “sagradas” leis, como é o desejo dela.
Ela disse que ficava triste ao me ver desistindo de Deus. Mas... Eu nunca disse que desisti de Deus. Apenas não me rotulo com essa ou aquela religião. Para mim o Deus é um só, a Força Movedora é única e livre de muitos mitos criados pelo homem. Não consigo ver Deus como um juiz severo que manda seus filhos ao fogo, sem pena, sem piedade, julgando-os e condenando-os por mais errados que sejam eles. Poxa, se eu que sou humana, não condenaria meu filho ao sofrimento eterno por um erro dele, imagina Deus que é soberano, onipotente, onipresente, onisciente e fonte inesgotável de amor. É difícil pra mim digerir isso.
Eu não consigo pactuar da idéia de que Deus vendo um pai de família que trabalha pra ganhar seu dinheirinho contado, sustenta uma casa de oito, nove, dez pessoas ainda pediria a ele que lhe desse dinheiro, que tirasse de sua casa e desse à igreja. Definitivamente, não. Não penso assim. Minha mãe paga dízimo, tem até carteirinha, eu respeito, mas não concordo. Melhor seria comprar uma cesta básica e levar para uma família mais necessitada. Acredito que assim se serviria muito mais a Deus. Dividiria com quem, de fato, precisa.
Eu vou a várias igrejas, sou visitante de muitas e me sinto bem ouvindo falar sobre o amor, sobre o perdão, sobre a vida... Mas não gosto da hipocrisia humana, não gosto das pessoas que manipulam a fé dos outros, não gosto que mintam usando as coisas sagradas da vida, não gosto que se aproveitem das dores das pessoas para sugá-las, não gosto que me olhem torto só porque eu não sou da mesma religião, ou de religião alguma.
Tanta gente defende bandeira dessa ou daquela religião, vivem enfiados na igreja e mesmo assim só sabem falar da vida alheia, desejam o mal, são invejosos... Tanta gente vive assim, nessa ilusão. Um dia perguntei para uma amiga muito religiosa: “Um homem prega a palavra de Deus numa igreja, leva a multidão de fiéis ao delírio, e ao sair da igreja se depara com uma prostitua e lhe diz horrores, a julga e maltrata. Outra pessoa nunca pisou numa igreja, mas vive a fazer o bem, a cuidar dos necessitados, do excluídos... Quem está mais perto de Deus” E ela respondeu: “Aquele que foi batizado, na igreja”.
Tenho muitos amigos, de muitas religiões, adoro todos eles porque respeito cada um e suas convicções. Ontem essa amiga achou que o “Inimigo” estaria se apossando de mim e por isso eu não queria ir para a igreja dela... Mas eu disse que vou na igreja dela (evangélica), como vou na da minha mãe (católica), na do meu pai (espírita) e em qualquer outra que pregue o bem. Só não queiram me prender lá. Porque para fazer o bem, para andar no bem, para amar o próximo, para construir felicidade, não preciso desses rótulos. Preciso de Deus no meu coração e pronto.
Para mim Deus é uma força criadora, movedora de tudo que somos. É o que nos sustenta, é a razão de ser de cada detalhe. Para mim Deus é a junção de seus filhos e ao mesmo tempo é cada um individualmente. Deus é algo que tenho aqui dentro e que me ampara quando penso que não tenho mais forças e ao mesmo tempo é algo externo capaz de mover um mundo para me ver feliz.
Céu e Inferno estão dentro de mim, eu escolho o que quero, para onde seguir. Eu escolho, pois Deus me fez livre. Porém, ainda que eu escolha viver no inferno, no erro, no sofrimento, ainda assim, tenho certeza de que esse Deus, meu Pai ficará dia após dia ao meu lado esticando a mão para alcançar a minha e me tirar do tormento, por que Ele me ama, infinitamente e ficará feliz no dia em que eu superar minhas grandes falhas.
Não é a religião que vai me conduzir ao "paraíso". É o que eu faço da minha vida, é o que eu faço pelo próximo, é que eu trago no meu coração... É isso que vai me trazer risos ou choro. E seria tão bom que as pessoas entendessem. Eu não preciso acreditar no que elas acreditam e nem por isso deixamos de servir ao mesmo Criador. A minha religião não é ostentada, ela é praticada no meu dia a dia, no meu respeito pelos outros, por mim mesma, na minha capacidade de amar e esforço para colorir um coração que esteja cinza.
A grande maioria dos ateus que conheço o são, não por não acreditarem em Deus, mas por não aceitarem o que os homens inventaram sobre Deus, em proveito próprio.
Assunto delicado esse, não?