sábado, 4 de julho de 2015

Sebastião

A minha vizinha está outra vez aos gritos...percebo que está irritada...acontece com frequência mas hoje parece-me pior.
Fico inquieta...será que devo ir ver se precisa de ajuda?...e se ela me mandar meter na minha vida?...ai ai...
Timidamente abro a porta...a vizinha olha para mim com os olhos esbugalhados e os cabelos desgrenhados...(mas porque não fiquei eu em casa?)
Aproximei-me devagar...a vizinha desculpe...mas se houver alguma coisa em que a possa ajudar faça o favor de dizer...
Ai vizinha!...sabe lá o que me aconteceu...uma desgraça...É o meu Sebastião, não para em casa...não sei onde vai, o que vai fazer, com que vai...fico aqui nesta angústia. Veja lá que na semana passada estive dois dias sem saber dele...quase morri de desespero...não acredita?...(claro que acredito)...E hoje...já é noite e não aparece...o malandro...se o apanho nem sei o que lhe faço...vadio...depois de velho...
A vizinha começa a chorar e eu continuo sem saber o que fazer. Está desesperada e eu ali só a pensar que devia mas era ter ficado quieta na minha casa...como estão a fazer os outros vizinhos do piso. Sempre ouvi dizer que entre marido e mulher não se mete a colher...agora já é tarde para me arrepender.
Mas não podemos ficar ali a noite toda...a vizinha em prantos e eu a olhar para ela.
E ele não lhe atende o telemóvel não é verdade? perguntei.
Telemóvel?... a vizinha para de chorar...olha para mim com um esgar que é quase um sorriso...Telemóvel?...já não tem os olhos esbugalhados e os cabelos já não me parecem tão despenteados. Agora vejo que é bonita. Telemóvel?...volta a perguntar enquanto solta uma pequena gargalhada.
Vizinha... o Sebastião... é o meu gato.


Luzia Santos

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