Este trabalho fará parte de um livro, a cargo da Editora Chiado, cuja previsão de lançamento será no 1º semestre do próximo ano, em breve darei mais informações sobre este assunto.
1. Uma janela, um passado
2. O olhar capta, a mente viaja
3. Por esse mar fora
4. Guiados pelo Infante
5. Partir é preciso
6. Heróis lendários
7. Madrinha enigmática de Portugal
8. Basta de Cruzes de madeira!
9. Padrões de pedra
10. Bartolomeu Dias
MEMÓRIA DESCRITIVA
REDESCOBRIR O SAL
Uma janela, um passado revisitado, recontado no verbo presente. Porque não? O olhar capta, a mente viaja. Que beleza pode existir em estátuas cinzentas para além dos pormenores do escultor? Empoleiradas no alto de um monumento não há ninguém que as chore. E a pedra encerra histórias tão imperecíveis como lendas que alastram pelos séculos. Tantas terão permanecido por contar…
Lusitanos de espírito aventureiro na audácia de transpor o imenso risco da expansão por esse mar fora, seguem na proa da Caravela guiados pelo Infante D. Henrique. Partir é preciso, partir e regressar de uma epopeia, palmilhar cantos inéditos, descobrir mundos novos com riquezas que as águas do mar separam de Portugal. Mal sonham que se tornarão heróis lendários.
A terra fica para trás, o porto é o areal estendido ao sol povoado de mulheres assistindo à partida das caravelas em pranto de lágrimas, desconhecendo o destino dos entes queridos no mar. O rosto da madrinha enigmática de Portugal que gerou os príncipes génios das Descobertas é o rosto das mães, das mulheres, das amadas em angústia que unem as mãos em oração pela protecção dos marinheiros.
- Basta de cruzes de madeira! - Diogo Cão navega pela costa de África com os padrões de pedra, a cruz no topo cravada no selo real marcará a presença portuguesa nas terras recém-descobertas. Entretanto, o rei chama o seu melhor escudeiro: Bartolomeu Dias tem de percorrer a costa africana traçando uma nova rota, a do tão sonhado Oriente. Com toda a coragem na veia, enfrenta mares furiosos e soberbos, converte as temidas Tormentas em Esperança num regresso em glória. No bolso, transporta a carta com uma rota traçada, afinal dois oceanos unem entre si a porta aberta para a Índia.
O mestre da Ordem de Santiago iria percorrer a rota triunfante. De trajes militares, Estêvão da Gama sonha comandar a armada para a Índia quando sente a inevitabilidade da doença e da morte: - Vasco! Não largues o rumo! - Pede o pai moribundo. Vasco da Gama aperta a espada na promessa de continuar o caminho marítimo aberto por Bartolomeu. Urge enviar emissários para preparar o caminho, recolher informações, experientes em técnicas de navegação e cosmógrafos que num olhar para o céu saibam seguir as estrelas.
Após um ano de viagem lutando contra forças de marés e tempestades desembarca no império do destino de corpo e alma. Um sonho não permanecera no ar, fora conquistado. Calaram-se as vozes dos mares intransponíveis, a tenacidade sobrepôs-se à tragédia. Amaram-se os céus, uniram-se os homens.
O império oriental português, reino das especiarias, fundeava-se sob o governo de um Afonso, o de Albuquerque – em Goa e Malaca encontram-se os pontos mais valiosos para o comércio, abramos as portas ao Oriente!
Paira um vazio nas terras conquistadas. Um sentimento de ausência. Os povos de religião estranha desconhecem a doutrina cristã. O Papa recebe o pedido de cedência de missionários para o Oriente.
- Há tanto para fazer. Para onde queres que vá, Senhor? – É a prece constante do jovem Francisco Xavier da Companhia dos Jesuítas. O vento ouve o apelo, embarcando-o destino a Goa. Nove anos de evangelização marcam a sua vida no meio dos nativos, desentranha mentes de infinita pluralidade aprendendo delas a língua, ensina grupos, etnias e culturas na sua diversidade. Um descobridor de povos. O breviário, o crucifixo e o espírito com imenso desejo de converter são as suas armas.
Um mercador aventureiro em expedição pelo Oriente desembarca junto aos portugueses. Fernão Mendes Pinto infiltra-se no meio dos Jesuítas e, tal peregrino, segue os passos de Francisco Xavier narrando o trabalho do jovem evangelizador na “Peregrinação” num estilo inconfundível, tão fantástico que leva a duvidar da sua veracidade. E algures, a pena do escritor João de Barros labuta com afinco desde as partidas às lágrimas, dos prantos nas caravelas aos gritos de triunfo nas chegadas. Gravadas a sangue e fogo nas sublimes “Décadas da Ásia”.
Um homem magro de rosto saliente caminha junto à armada de Pedro Alvares Cabral prestes a partir para o Oriente. Possuído do imenso desejo de embarcar, tornar-se pioneiro da grande aventura pelas rotas marítimas, toma a estrada para a belíssima obra dos Lusíadas cantando o peito ilustre lusitano numa sensibilidade própria, crua, sofrida e esperançosa adivinhando a glória dos navegadores. Camões encontra em Goa a inspiração para se tornar poeta da Humanidade: – cantando espalharei por toda a parte – é a expressão do sentir da alma retratando quase sem fôlego a epopeia dos lusitanos nas terras e nos mares.
E porque já não existem Índias por descobrir, a espada repousa na pedra, os guerreiros de outrora permanecem de olhos postos no horizonte eternamente conquistadores e conquistados numa História que resiste aos séculos.
Importa nem que seja numa réstia de sonho, chegar lá, aos lugares que contam, sentir na pele os mesmos salpicos de mar, mesclar os suores e os prantos e da esperança nascida, redescobrir o sal.
P.S. - A edição de 2008 do Prémio Novo Talento Fnac Fotografia recebeu 176 candidaturas.
Reunido durante os meses de Setembro e Outubro, o júri constituído por Fátima Marques Pereira (professora), António Pedro Ferreira (fotojornalista), António Júlio Duarte (fotógrafo, membro do colectivo kameraphoto), Sérgio B. Gomes (editor do Público Online e autor do Blog Arte Photographica) e Miguel von Hafe Pérez (crítico de arte e comissário de exposições), atribuiu o Prémio a Hugo Rodrigues Cunha, pela sua proposta UM PONTO EXACTO PARA VER.
Os portfólios “A & J” de José Carlos Duarte e “10 Retratos, 10 Esculturas” de Alexandre Delmar foram distinguidos com uma Menção Especial.
Como o meu trabalho não foi um dos premiados a Fnac deu-me autorização para o poder expor seja no blogue seja na edição do livro ou numa exposição que venha a fazer.