Gentem, antes de tudo, a saga:
Cacei este aqui por livrarias infinitas, sebos sebosos mil, possíveis amigos que nunca emprestam livros... e não encontrei. Por fim, desisti e acabei encomendando naquele lugar abençoado, né, que no final nem existe: no estante virtual.
Eis que estava eu pela Paulista, correndo pra chegar na hora de um certo curso, e ao parar numa banca de jornal pra trocar um dim dim, o que vejo?
O quê? O quê? O queeeeeeê?
Quarenta e cinco exemplares do tal do livro. Versão pocket e baratinha. Fala sério. Então tá né, problema resolvido. Bora ler - e cancelar a encomenda virtual.
Interessante como é uma estória sombria... Desde o princípio um dos protagonistas carrega uma aura de dor e responsabilidade que só vai contaminando outros personagens e ambientes. Uma novelinha muito bem amarrada, isso sim, e com pouca cara de dona Agatha.
Uma das características mais marcantes da autora (para esta que vos escreve) é a capacidade de descrever crimes hediondos de um jeito que não pesa na consciência. É mais um quebra cabeça do que uma lição de moral, sabe?
Nesse aqui ela foge disso. Aliás, somos convidados o tempo inteiro à refletir sobre culpa e inocência; sobre o poder da justiça tardia em detrimento do silêncio.
Uma mulher trilhardária, cheia de amor pra dar e estéril, começa a adotar crianças pra aplacar esse vazio existencial (que pra mim é fome). E lá vai a dona doida sufocando os filhos e esquecendo do marido... até que a dita cuja é descoberta assassinada.
Todas as provas apontam para o filho ovelha negra. Ele é preso, julgado, condenado e morre na prisão. Alguns anos depois aparece um homem que corrobora o álibi do moleque, que é então absolvido in memorian.
Ao mesmo tempo em que se alivia a família de ter um integrante assassino... cria-se a tensão de se "saber" que um deles é o real culpado pelo crime (por dois agora, já que além do assassinato da matriarca, um inocente morreu na prisão). É minha gente... e aqui não tem Miss Marple ou Poirot para salvar o dia. É um investigando o outro, veladamente ou abertamente, até que a situação fique insuportável.
No final a coisa toda é muito simples - e essa é a maestria de dona Agatha. Ela faz a gente pirar o cabeção nas soluções mais dramáticas ever... pra nada.
Quanto vale a inocência?
Punição para a inocência
Agatha Christie
L&PM Pocket
270 páginasNota: 9/ 10