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7.10.09
17.7.09
dos antípodas...
a
Como funcionaria a censura na era da Internet? Da Austrália, uma antevisão da reacção em cadeia que ocorre quando se aplica uma ideia medieval a mundo de comunicação global em rede.
O protector Governo australiano suprimiu oficialmente 1370 sites da Internet. Elaborou uma lista negra, à semelhança do index de livros banidos da Idade Média. Actualmente, é um projecto piloto ao qual podem submeter-se voluntariamente os fornecedores de serviços da Internet. Mas se for considerado bem sucedido e vier a ser lei, qualquer pessoa que visite um dos sites arrolados poderá ser multada em 11.000 dólares por dia. O que significa considerar-se crime não apenas a produção de conteúdos de um site, mas a mera reprodução do seu endereço.
Não se trata apenas de suprimir livros. É como suprimir livros e suprimir a menção dos títulos dos livros suprimidos. É muita supressão.
Há, no entanto, um lado traiçoeiro: o Governo nem sequer diz quais são esses 1370 sites banidos. É segredo. Portanto, existem 1370 sites que podem implicar processo criminal contra qualquer indivíduo na Austrália, mas ninguém saberá quais são até os ter visitado. Isto saiu de 'Alice no País das Maravilhas'. A lógica retorcida funciona desta forma: se divulgassem a lista, as autoridades australianas estariam não só, elas próprias, a violar a lei, como a servir de veículo publicitário. Dos milhões de páginas em toda a Internet, 1370 seriam alvo de especial atenção, convidando qualquer curioso a espreitá-las.
Claro que as pessoas que elaboram o documento conhecem o seu conteúdo, mas aparentemente é gente de confiança que não sucumbirá à tentação de visitar os sites. E a dita lista foi então enviada a um grupo seleccionado de empresas prestadoras de serviços de Internet na Austrália para um primeiro ensaio. Mas a coisa não correu lá muito bem. Houve uma fuga de informação e foi divulgada à WikiLeaks, o site especializado na publicação de documentos confidenciais, causando especial embaraço aos projectos do Governo.
Aqui, o processo torna-se ainda mais bizarro. A WikiLeaks publicou integralmente a lista negra numa das suas páginas. Donde, essa página foi também acrescentada. É a 1371ª.
Escusado será dizer, não resisti à tentação de passar os olhos pelos nomes dos sites banidos. A maioria é pornografia, e alguns têm mesmo nomes que sugerem pornografia infantil, o que é crime. Mas é para isso que temos os tribunais. A lista australiana não foi elaborada por um tribunal; não houve audiência onde se provasse que esses sites são criminosos. Um grupo de activistas de direitos humanos coscuvilheiros elaborou-a, simplesmente. (...)
Muitos dos sites banidos podem ser ofensivos, mas não ilegais. E alguns são perfeitamente inócuos. Por alguma secreta razão, o site www.vanbokhorst.nl faz parte do rol. Se não estiver na Austrália, esteja à vontade para clicar. O meu holandês é fraco, mas parece ser de uma empresa de fretes rodoviários naquele país.
Como é que Van Bokhorst foi parar à lista negra na Austrália? Ninguém sabe, porque todo o processo decorreu em segredo, mesmo do próprio Van Bokhorst. É muito pouco provável que tenha clientes australianos. Mas essa nem sequer é a questão. Alguém anda a tomar decisões clandestinas acerca do que os australianos podem ou não podem ver.
Vi o mesmo tipo de censura noutros países - e não só nos que se assemelham à China comunista. A Tailândia implementou um processo similar, sob o pretexto de proteger os cidadãos da pornografia infantil. Mas - surpresa! - em poucos meses foram acrescentados novos sites, incluindo 1200 banidos por criticarem a família real tailandesa. Ter uma lista secreta nas mãos de um governo é ter este tipo de abuso político praticamente garantido.
A lista do teste australiano está cheia de items questionáveis, para além de empresas de fretes holandesas. Centenas de sites de poker são banidos. Ao contrário da pornografia infantil, o poker não é um crime. Pode ser um vício, mas como lidar com isso exige um debate político. A lista negra australiana encerra essa discussão com a força.
Há também um site sobre políticas de aborto. Poderão provavelmente calcular que lado do debate é alvo de bloqueio, mas qualquer que seja, é uma censura abominável.
Esta lista negra foi apresentada como uma forma de combater a pornografia infantil. Mas é terreno escorregadio: só vemos realmente o perigo quando já deslizamos na sua direcção.
A Comissão para os Direitos Humanos do Canadá pretende igualmente uma lista negra da Internet. Quer expandir cibertip.ca para englobar sites políticos, e não somente a pornografia infantil que visa actualmente.
Associamos livros a arder a julgamentos de bruxas e a Nazis, e não a burocratas de falinhas mansas. Mas queimar livros no século XXI não exige fósforos - apenas brio dos censores e um público sonolento.
Como funcionaria a censura na era da Internet? Da Austrália, uma antevisão da reacção em cadeia que ocorre quando se aplica uma ideia medieval a mundo de comunicação global em rede.
O protector Governo australiano suprimiu oficialmente 1370 sites da Internet. Elaborou uma lista negra, à semelhança do index de livros banidos da Idade Média. Actualmente, é um projecto piloto ao qual podem submeter-se voluntariamente os fornecedores de serviços da Internet. Mas se for considerado bem sucedido e vier a ser lei, qualquer pessoa que visite um dos sites arrolados poderá ser multada em 11.000 dólares por dia. O que significa considerar-se crime não apenas a produção de conteúdos de um site, mas a mera reprodução do seu endereço.
Não se trata apenas de suprimir livros. É como suprimir livros e suprimir a menção dos títulos dos livros suprimidos. É muita supressão.
Há, no entanto, um lado traiçoeiro: o Governo nem sequer diz quais são esses 1370 sites banidos. É segredo. Portanto, existem 1370 sites que podem implicar processo criminal contra qualquer indivíduo na Austrália, mas ninguém saberá quais são até os ter visitado. Isto saiu de 'Alice no País das Maravilhas'. A lógica retorcida funciona desta forma: se divulgassem a lista, as autoridades australianas estariam não só, elas próprias, a violar a lei, como a servir de veículo publicitário. Dos milhões de páginas em toda a Internet, 1370 seriam alvo de especial atenção, convidando qualquer curioso a espreitá-las.
Claro que as pessoas que elaboram o documento conhecem o seu conteúdo, mas aparentemente é gente de confiança que não sucumbirá à tentação de visitar os sites. E a dita lista foi então enviada a um grupo seleccionado de empresas prestadoras de serviços de Internet na Austrália para um primeiro ensaio. Mas a coisa não correu lá muito bem. Houve uma fuga de informação e foi divulgada à WikiLeaks, o site especializado na publicação de documentos confidenciais, causando especial embaraço aos projectos do Governo.
Aqui, o processo torna-se ainda mais bizarro. A WikiLeaks publicou integralmente a lista negra numa das suas páginas. Donde, essa página foi também acrescentada. É a 1371ª.
Escusado será dizer, não resisti à tentação de passar os olhos pelos nomes dos sites banidos. A maioria é pornografia, e alguns têm mesmo nomes que sugerem pornografia infantil, o que é crime. Mas é para isso que temos os tribunais. A lista australiana não foi elaborada por um tribunal; não houve audiência onde se provasse que esses sites são criminosos. Um grupo de activistas de direitos humanos coscuvilheiros elaborou-a, simplesmente. (...)
Muitos dos sites banidos podem ser ofensivos, mas não ilegais. E alguns são perfeitamente inócuos. Por alguma secreta razão, o site www.vanbokhorst.nl faz parte do rol. Se não estiver na Austrália, esteja à vontade para clicar. O meu holandês é fraco, mas parece ser de uma empresa de fretes rodoviários naquele país.
Como é que Van Bokhorst foi parar à lista negra na Austrália? Ninguém sabe, porque todo o processo decorreu em segredo, mesmo do próprio Van Bokhorst. É muito pouco provável que tenha clientes australianos. Mas essa nem sequer é a questão. Alguém anda a tomar decisões clandestinas acerca do que os australianos podem ou não podem ver.
Vi o mesmo tipo de censura noutros países - e não só nos que se assemelham à China comunista. A Tailândia implementou um processo similar, sob o pretexto de proteger os cidadãos da pornografia infantil. Mas - surpresa! - em poucos meses foram acrescentados novos sites, incluindo 1200 banidos por criticarem a família real tailandesa. Ter uma lista secreta nas mãos de um governo é ter este tipo de abuso político praticamente garantido.
A lista do teste australiano está cheia de items questionáveis, para além de empresas de fretes holandesas. Centenas de sites de poker são banidos. Ao contrário da pornografia infantil, o poker não é um crime. Pode ser um vício, mas como lidar com isso exige um debate político. A lista negra australiana encerra essa discussão com a força.
Há também um site sobre políticas de aborto. Poderão provavelmente calcular que lado do debate é alvo de bloqueio, mas qualquer que seja, é uma censura abominável.
Esta lista negra foi apresentada como uma forma de combater a pornografia infantil. Mas é terreno escorregadio: só vemos realmente o perigo quando já deslizamos na sua direcção.
A Comissão para os Direitos Humanos do Canadá pretende igualmente uma lista negra da Internet. Quer expandir cibertip.ca para englobar sites políticos, e não somente a pornografia infantil que visa actualmente.
Associamos livros a arder a julgamentos de bruxas e a Nazis, e não a burocratas de falinhas mansas. Mas queimar livros no século XXI não exige fósforos - apenas brio dos censores e um público sonolento.
«A censura na era da Internet», Ezra Levant, Canadian Lawyer Magazine
a17.3.08
back in business
a
Não trabalhava nestas coisas vai para mais de 15 anos. Confesso que me está a saber muito bem o regresso!
a
Não trabalhava nestas coisas vai para mais de 15 anos. Confesso que me está a saber muito bem o regresso!
a
16.3.08
do conhecimento à subversão
a

Quando eu andava na escola, era uma privilegiada: as vastas bibliotecas de uma família de professores em que toda a gente é amante de Belas-Artes, Humanidades e Literatura eram uma inesgotável fonte de ideias e também de material para o «corta e cola».
Sempre me pareceu um absurdo desperdiçar neurónios para chegar ao que outros tinham já investigado e concluído muito para além das minhas capacidades, uma pura perda de tempo.
Isto nunca quis dizer que não aprendesse: apresentar um trabalho significava também ser capaz de sustentá-lo, quer no caso de sermos interpelados oralmente, quer nas avaliações escritas subsequentes. Era antes aprender de outra maneira, que me ajudou a definir padrões de análise no que toca a reduzir as coisas à sua essência (& um docente que não consiga identificar um puro «corta e cola» não é um professor, é um nabo... mas isso é outra história.)
O conhecimento já não é um acumular de sabedoria. É ter muitos saberes ao dispor e ir explorando os pontos onde eles se tocam, interagem, evoluem em conjunto. No presente, os grandes avanços são multidisciplinares, é como que a metáfora de um regresso de ordem prática a uma ideia de ciência da Idade Clássica, mais abrangente.
Sobre a Wikipédia, traz o Le Monde uma análise interessante de Bertrand Le Gendre [Faut-il brûler Wikipédia?] que serve lindamente para estabelecer o paralelo com a sua congénere Wikileaks, o assunto que aqui interessa:
Imaginemos um mundo onde cada indivíduo, anonimamente, pode dar a conhecer os documentos que governos e grandes instituições e empresas gostam de manter secretos. Onde cada um pode contribuir com os seus conhecimentos e saberes específicos para a análise desses documentos (autenticidade, credibilidade, implicações, etc.) e torná-los acessíveis ao grande público.

Quero eu dizer: imaginemos um mundo em que todos temos a real possibilidade de saber exactamente o que está em jogo a cada vez que vamos às urnas botar os votos, a cada vez que concordamos com uma coisa ou nos erguemos em protesto.
Voltando à juventude, anos mais tarde gozei de um privilégio ainda mais raro: o de trabalhar numa Redacção estruturada, dirigida e maioritariamente constituída por muito bons jornalistas (os mais dos quais, mesmo entre os mais novos, não tinham passado pelos tais cursos superiores de Comunicação).
Claro que não podia durar muito: exigia bastante gente e não tenho dúvidas de que saía caro. Mas, durante uns dois anos, foi uma experiência de liberdade, debate e democracia na construção e tratamento da Informação tão empolgante quanto profícua: os resultados eram excelentes.
A vida levou outros rumos, mas deve ter-se completado um qualquer ciclo, porque de repente estou de volta às mesmas circunstâncias: um grupo de trabalho com características semelhantes, mas mais alargado geograficamente.
Em breve aparecerei associada ao tratamento de um documento num grupo de análise interno da Wikileaks - obviamente, não vou falar nele agora - e possivelmente outros se seguirão.
Não se trata de espírito de missão: é pura e simplesmente um grande gozo!
PS - no meu quintal não é nem vai ser um espaço de trabalho. Ainda assim, várias circunstâncias levaram-me a optar por instalar um registo de visitas, coisa que até há um mês não existia neste blog semiclandestino, no caso de ter que vir a rastrear alguma delas. À moda clássica (i. e., contados pelo número normal de dedos), terei cerca de uma dúzia de leitores assíduos, aos quais agradeço.
a
«Imaginemos um mundo onde cada indivíduo pode aceder gratuitamente à totalidade dos conhecimentos da Humanidade. É o que queremos fazer.»
(Jimmy Wales, co-fundador da Wikipédia, 2001)
Quando eu andava na escola, era uma privilegiada: as vastas bibliotecas de uma família de professores em que toda a gente é amante de Belas-Artes, Humanidades e Literatura eram uma inesgotável fonte de ideias e também de material para o «corta e cola».
Sempre me pareceu um absurdo desperdiçar neurónios para chegar ao que outros tinham já investigado e concluído muito para além das minhas capacidades, uma pura perda de tempo.
Isto nunca quis dizer que não aprendesse: apresentar um trabalho significava também ser capaz de sustentá-lo, quer no caso de sermos interpelados oralmente, quer nas avaliações escritas subsequentes. Era antes aprender de outra maneira, que me ajudou a definir padrões de análise no que toca a reduzir as coisas à sua essência (& um docente que não consiga identificar um puro «corta e cola» não é um professor, é um nabo... mas isso é outra história.)
O conhecimento já não é um acumular de sabedoria. É ter muitos saberes ao dispor e ir explorando os pontos onde eles se tocam, interagem, evoluem em conjunto. No presente, os grandes avanços são multidisciplinares, é como que a metáfora de um regresso de ordem prática a uma ideia de ciência da Idade Clássica, mais abrangente.
Sobre a Wikipédia, traz o Le Monde uma análise interessante de Bertrand Le Gendre [Faut-il brûler Wikipédia?] que serve lindamente para estabelecer o paralelo com a sua congénere Wikileaks, o assunto que aqui interessa:
Imaginemos um mundo onde cada indivíduo, anonimamente, pode dar a conhecer os documentos que governos e grandes instituições e empresas gostam de manter secretos. Onde cada um pode contribuir com os seus conhecimentos e saberes específicos para a análise desses documentos (autenticidade, credibilidade, implicações, etc.) e torná-los acessíveis ao grande público.

Quero eu dizer: imaginemos um mundo em que todos temos a real possibilidade de saber exactamente o que está em jogo a cada vez que vamos às urnas botar os votos, a cada vez que concordamos com uma coisa ou nos erguemos em protesto.
Voltando à juventude, anos mais tarde gozei de um privilégio ainda mais raro: o de trabalhar numa Redacção estruturada, dirigida e maioritariamente constituída por muito bons jornalistas (os mais dos quais, mesmo entre os mais novos, não tinham passado pelos tais cursos superiores de Comunicação).
Claro que não podia durar muito: exigia bastante gente e não tenho dúvidas de que saía caro. Mas, durante uns dois anos, foi uma experiência de liberdade, debate e democracia na construção e tratamento da Informação tão empolgante quanto profícua: os resultados eram excelentes.
A vida levou outros rumos, mas deve ter-se completado um qualquer ciclo, porque de repente estou de volta às mesmas circunstâncias: um grupo de trabalho com características semelhantes, mas mais alargado geograficamente.
Em breve aparecerei associada ao tratamento de um documento num grupo de análise interno da Wikileaks - obviamente, não vou falar nele agora - e possivelmente outros se seguirão.
Não se trata de espírito de missão: é pura e simplesmente um grande gozo!
PS - no meu quintal não é nem vai ser um espaço de trabalho. Ainda assim, várias circunstâncias levaram-me a optar por instalar um registo de visitas, coisa que até há um mês não existia neste blog semiclandestino, no caso de ter que vir a rastrear alguma delas. À moda clássica (i. e., contados pelo número normal de dedos), terei cerca de uma dúzia de leitores assíduos, aos quais agradeço.
a
15.3.08
!!...
a
Uma semana a analisar esquemas de altas transacções financeiras... o mundo é mesmo um poço de surpresas!
a
Uma semana a analisar esquemas de altas transacções financeiras... o mundo é mesmo um poço de surpresas!
a
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