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Mês de março, ouvimos falar muito a
respeito das mulheres. Há tanto a comentar, tanto a homenagear pela bravura que
demonstram em seu dia a dia.
Mulheres que curam com a grandeza do seu
coração, mulheres que são cativantes, pois ao seu redor não há tristezas, há
mulheres de todos os tipos e há as verdadeiras heroínas, as que ficam
invisíveis perante o grande bem que fazem à sociedade.
Entre tantas heroínas, Aracy Moebius de Carvalho
Guimarães Rosa, foi a escolhida para aqui, homenagear a todas as outras
mulheres, que como Aracy ainda continuam esquecidas.
Ela nasceu na cidade de Rio Negro, PR e
faleceu em São Paulo em 2011.
Aracy também
é conhecida por ter seu nome escrito no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu
do Holocausto, em Israel, por ter ajudado muitos judeus a entrarem ilegalmente
no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas. A homenagem foi prestada em 8 de
julho de 1982, ela é conhecida como “O Anjo de Hamburgo”.
Prestou
serviços no Itamaraty, foi uma poliglota brasileira, foi a segunda esposa do
escritor Guimarães Rosa.
Aracy, ainda
criança foi morar, em São Paulo com os pais. Casou-se em 1930 com o alemão
Johan von Tess, teve um filho com ele. Separada
foi morar na Alemanha com a mãe e
irmã. Por falar quatro línguas (português, inglês, francês e alemão), conseguiu
uma nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde passou a ser chefe da
Secção de Passaportes.
No ano de
1938, entrou em vigor, no Brasil, a Circular Secreta 1.127, que restringia a
entrada de judeus no país. Aracy ignorou a circular e continuou preparando
vistos para judeus, permitindo sua entrada no Brasil. Como despachava com o
cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para
obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra
J, que identificava quem era judeu. Nessa época, João Guimarães Rosa era cônsul
adjunto. Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy
intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte.
A heroína permaneceu
na Alemanha até 1942, o retorno ao Brasil foi tumultuado, pois ficaram quatro
meses sob custódia do governo alemão, e foram trocados por diplomatas alemães.
A famosa
obra "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa (1956), foi
dedicado a ela.
Foi companheira de Guimarães por trinta
anos, era sua leitora fiel participando de suas decisões, era uma mulher que
enfrentava tudo quando percebia as injustiças.
Perguntaram-lhe certa vez, por que se
arriscara ajudando aos judeus, ela respondeu:- “ Porque era justo.”
“Nunca tive
medo, quem tinha medo era o Joãozinho. Ele dizia que eu exagerava, que estava
pondo em risco a mim e a toda a família, mas não se metia muito e me deixava ir
fazendo.” “O Guima tinha um papel fundamental. Era ele que assinava os
passaportes.”
Ela sempre o
chamava carinhosamente de Guima.
Pelo seu trabalho em Hamburgo, em 1982 Aracy
foi incluída entre os quase 22 mil nomes
que estão no Jardim dos Justos, no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Homenagem
e um reconhecimento que o Estado de Israel presta aos “góim” (não judeus) que ajudaram judeus a escapar do genocídio.
Entre os mais famosos estão o empresário alemão Oskar Schindler - que inspirou
o filme A lista de Schindler, de Steven Spielberg - e o diplomata sueco Raoul
Wallenberg. Apenas outro brasileiro, o embaixador Luiz de Souza Dantas
(1876-1954), recebeu a mesma honraria, em 2003. "Discreta, sem jamais ter
caído na tentação de se promover por ter sido quem foi, Aracy pagou o preço do
esquecimento", diz o historiador e escritor René Daniel Decol.
Aracy ficou
viúva no ano de 1967 e não se casou novamente. Sofria de Mal de Alzheimer,
faleceu em 3 de março de 2011, na cidade de São Paulo/SP, aos 102 anos.
Através de
Aracy, nossa homenagem a todas as mulheres!