Corações à mesa
Chegou à Mesa do Bairro e o Luís estava à porta
à sua espera com um sorriso rasgado. Cumprimentou-a com um beijo. Mariana
sentiu o seu perfume fresco e amadeirado que lhe trouxe à memória só coisas
boas. Sentiu-se feliz. Que estranho! Sim, era essa a palavra: feliz.
Rapidamente boicotou o pensamento.
Mas este rapaz está
sempre de bem com a vida? Está sempre assim: sorridente, pontual, bem cheiroso? Alguém aguentará isto?
Começamos mal este jantar, pensou.
Quando falaram ao
telefone, umas semanas atrás Mariana manteve-se reservada e desconfiada. Nem
queria atender o telefone. Um encontro agora, ainda com a relação com o Tiago,
terminada é certo, mas tão fresca, não era bom para ela. O ideal era manter-se
sozinha, refletir bem na vida, acalmar o coração e passar mais tempo consigo
própria, sem conciliar agendas e sem fazer cedências. Tempo para redescobertas.
Mas o Luís desarmou-a convidando-a para jantar, e, pensando bem, conhecia o
Luís há anos, amigo do irmão ainda para mais. Não era encontro nenhum. Era
simplesmente um jantar.
A escolha do
restaurante foi do Luís e uma agradável surpresa! Localizado perto do Campo
Pequeno e atrás da Culturget (Caixa Geral de Depósitos) num bairro de pequenas
vivendas que se estende até à Praça de Londres, oferece comida regional com um
toque de contemporaneidade numa ementa criada em colaboração com o Chef Luís Baena.
A entrada faz-se pela garrafeira do restaurante, no piso térreo com uma ampla
seleção de vinhos (mais de 70 referências) que se podem escolher para acompanhar
a refeição antes de subir ao primeiro andar, e, se houver bom tempo, ao terraço
ao ar livre.
- Vamos? A nossa
mesa deve estar pronta.
Mariana estava distraída,
observando alguns rótulos na garrafeira e pensou que deveria ter trazido outra
roupa, afinal. Estava muito casual.
Mas depois uma voz interior relembrou-a que não era um encontro, mas um simples
jantar e por isso estava muito bem assim. Esperava descobrir todos os defeitos
do Luís rapidamente e acabar cedo o jantar.
O espaço do
restaurante, no primeiro andar era muito acolhedor com mesas redondas que
promovem sempre mais o convívio, uma parede de madeira com relevos e parte da
cozinha à vista dos comensais.
- Mariana, tenho
algumas sugestões para fazer de entrada. Ora vê lá se concordas.
Começaram por pedir
então peixinhos da horta (4,00€) e croquetes de vitela (4,00€). De couvert foi
servido um saquinho de pano com três variedade de pão, húmus, manteiga de ervas,
azeite e azeitonas temperadas (1,75€). Mariana pediu um prato delicioso
experimentando o Mil Folhas de bacalhau com grão ao sabor da Meia Desfeita (12,00€)
e o Luís optou por um bife da vazia com molho à Marrare que acompanhou com
batatas aos palitos grossos (14€). O serviço revelou-se sempre atento e discreto.
Apesar do restaurante encher, nunca se tornou demasiado barulhento.
Falaram o jantar
todo. Não houve afinal silêncios constrangedores, nem vontade de apressar o
jantar. Relembraram alguns episódios de quando eram pequenos e algumas
peripécias em férias no Algarve com as famílias. Falaram de expectativas de
futuro, de notícias de atualidade e de viagens se o tempo e o dinheiro não
fossem obstáculo. Mariana nem se lembrava da última vez que se tinha rido tanto!
Sem pressas, sem horários, sem filtros. Sentia-se tão bem ali a viver aquele
momento. Com o Luís. Mais tarde a conversa avançou para o tema relações. O Luís
quis saber se estava bem e reforçar que poderia contar com ele. Ele próprio
também tinha terminado uma relação recentemente, de menos tempo, mas não menos
intensa. Não quiseram saber pormenores. O aqui e o agora importava mais.
- Sabes Luís, li uma
frase que dizia mais ou menos isto: mais importante que a companhia para a
sexta-feira à noite é a companhia para todo o dia de sábado. E é cada vez mais o
que sinto.
- Mariana, não poderia
concordar mais. É sinal de que estamos mais maduros? Talvez. Mas o que é certo
é que não podemos fazer exatamente as mesmas coisas e esperar resultados diferentes.
E aplica-se também às pessoas com quem nos relacionamos. Parece-me muito
simples. A ti não?
Não podia deixar de concordar,
mas ao ouvir as palavras da boca do Luís pareceu-lhe que ele via tudo muito
claro, tudo era muito simples, e, na vida, nada era a preto e branco.
- Vamos para as
sobremesas? Tens coragem?
Dividiram duas
sobremesas: torta de laranja, novidade na carta, (4,50€) muito suave com um
sabor forte a laranja que desenjoava do jantar e a versão da casa de pastel de
nata com gelado de canela que foi uma opção mais doce que não desiludiu
(3,00€).
Terminaram com dois
cafés e com o Luís a insistir para oferecer
o jantar.
Que jantar
maravilhoso! Mariana não pode deixar de sorrir.
Há dias atrás não
queria combinar nada, há horas atrás estava relutante em vir ao jantar e
desejou que terminasse rápido. Mas não controlamos tudo. As palavras seguintes saíram
da sua boca disparadas como flechas, firmes e seguras. Já não podia voltar a
engoli-las:
- Vamos repetir?
Para a semana vamos marcar alguma coisa?
- Por mim sim. Próximo
fim-de-semana estás por Lisboa? Há um miradouro que gosto muito e se quiseres podemos
lá ir.
Olhou-o nos olhos e
quis parar o tempo.
Mariana
Reis
Mesa do Bairro
Comida
regional portuguesa
R. Reis
Gomes, 10 | São João de Deus | 961 459 220
25€
por pessoa aproximadamente
De
segunda a sábado das 12:30 às 15:00 e das 19:30 à 00:00
Domingos
apenas para almoços
Reserva
recomendada
Aceita
cartões
"Que o amor de olhos
vendados encontre o caminho para a sua vontade."
William Shakespeare
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