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Teresa não tinha pressa. Sabia que o tempo não esperava porque não podia. Ela, sim.
Deitou-se num recanto florido,
aspirando com sofreguidão tranquila os perfumes exalados. Levantou cuidadosamente
a fímbria da túnica e procurou com o tacto o único objeto que trouxera consigo.
Não, não era uma caixa.
Colocou-a em cima de uma pedra lisa e
deixou-a receber os raios luminosos como carícias. Vagarosamente, as suas cores
acordaram, enrubesceram primeiro, faiscando finalmente. Teresa conhecia de cor
estas transmutações. Naquele dia, assomavam mais vivas e jubilosas que nunca. O único mistério das coisas é cada uma
conter todos os mistérios das outras.
Fora um longo percurso. Agora, sentia
que tudo não passara de um relâmpago. Como pudera pensar que eternidades a
separavam deste momento?
Voltou a aconchegar o objeto que
parecia uma caixa e levantou-se. Decidiu-se a iniciar a subida. Conseguia entender
a disposição de cada pedra, o lugar de cada erva, o significado de cada flor, o
alinhamento de cada grão de poeira. Tudo lhe surgia claro e evidente.
Lá em cima, fulgia de novo a pequena
luz mortiça. Sob o tecido sentiu um calor sereno.
Teresa não sabia quantos dias ou
meses demoraria a alcançar o longínquo brilho que a chamava sem chamar. Como num
sonho, entre um olhar benevolente sobre uma ave branca pousada num penedo e um
pestanejar prolongado de comprazimento, soube que chegara ao seu destino. Estava
no cume. Lá em baixo, pradarias de neblina estendiam-se sem fim. Pareceu-lhe
ver um vulto diáfano de mulher a dormir sob uma árvore, lá em baixo, muito
longe. A aparição não durara um milésimo de segundo.
À sua frente, uma pequena gruta. Ouviu
ruídos no seu interior, como passos titubeantes. Algo semelhante a um restolhar
por entre ramos secos. Sentiu um torpor apaziguador percorrer-lhe toda a pele e
abrasar-lhe os olhos.
Vindos da penumbra, dois pares de
olhos fixaram os seus, sem surpresa, e ambos se sentiram sugados por um vórtex
que os levou a um passado longínquo, às suas existências separadas…