"Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...e nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores...mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos !" - Vinicius de Moraes



domingo, 28 de setembro de 2014

Da vida que nasce, da vida que cresce, da vida que surge

A vida é isso de todo dia. Um ir e vir desenfreado, um pouco do que vai sempre inacabado na alma. A vida é esse ininterrupto sonho desse vasto mundo, que nos adormece e acorda, que nos alimenta e engana, que nos distrai e constrói. Mas caso não tenha se dado conta, a vida também é muito mais... O fato é que jamais paramos para pensar e mensurar todas as coisas, todos os entremeios, todos os pontos e conexões dos atos diários, sempre minimamente intrincados... E vamos vivendo. 



Vamos vivendo por vezes num turbilhão de emoções, uma tormenta de alma, um abrupto abismo desconhecido em que nos afundamos, a cada dia um tanto mais... Mas por vezes e quase que sintomaticamente, vamos vivendo o caminhar dos dias com uma fome avassaladora, de tantas e quantas vezes sem que sequer saibamos do quê realmente... Vamos vivendo e crescendo, vamos causando, nascendo e morrendo um pouco mais todo dia... 


Mas por outro lado a vida tem isso de bom, de nos deixar escolher àquilo que vamos decidir renunciar. Podemos renunciar ao que nos faz mal, ao que não mais significa. Podemos renunciar ao movimento antigo, tomando rumo novo no caminho. Podemos renunciar à própria sorte ao fazermos uma péssima escolha, ou, ao contrário, podemos nos arriscar e ter um ganho imensamente maior do que aquele que apenas calculávamos timidamente e o quanto é bom quando isso acontece só cabe na prática. 


Mas eis que, por vezes, nos embrenhamos numa vida em teoria e ela nunca sai do papel. Tadinha ! Assim resseca o caminho. O ideal da vida é o discurso e a prática, o sonho e o verbo, a fome e a vontade de comer e isso cabe somente a nós. Desenhar o destino é tão prático quanto colocar linha na agulha, um pouquinho de persistência e um bocadinho de teimosia, e a gente acaba por conseguir. Sair da teoria e enfrentar a prática é o momento dessa vida que surge, dessa vida que nos toma todos os dias o nosso maior tempo. E que bom quando dentro dessa temática ela nos traz e propõe apenas a felicidade. É tudo possível ! Pense nisso... 

sábado, 6 de setembro de 2014

A todos os outros

A todos os outros, minha consideração, meu afeto, minha reverência. A todos que não visitei, que não li, mas que admiro, que desejo, que me encantam, que me seduzem. A todos os outros a quem nunca senti, mas entendo, ouço e respeito. A todos os outros, que sempre me enfeitam, de uma forma ou de outra, porque habitam meus pensamentos, ainda que sequer saibam. Meu afeto é sincero a todos os outros, assim como minha hóstia de amor, meu cálice de paixão nunca confessada, ardida em silêncio. 


A todos os outros faço hoje o dia e agradeço. Agradeço por me fazerem parte, ainda que o todo seja incompleto, não sabido, inacabado, não visto e sequer comentado. Há uma atmosfera que envolve a todos os outros. Uma atmosfera real, de saudade, de medo, de vontade, de curiosidade, de intensidade em saber. E todos os outros jamais imaginam o que haveria de ser, caso eles viessem a ser, de verdade. Mas, diga-se a verdade: a vida é sempre doce pela existência de todos os outros. 


E todos os outros são, também, importantes, por fazerem parte do povoado imaginário. É através deles que se fortalece o instinto e a razão. É através do que não se cumpre que se projetam novos sonhos, outros desejos e novas esperanças. Afinal, nem todos os outros seriam um ideal, seriam perfeitos e, portanto, melhor que inspirem a ser. A todos os outros sonhos, a todos os outros desejos, a todos os outros ensejos, que se façam presente. Hoje e sempre. Por serem parte da minha realidade, ainda que de imaginação. Que enfeita e encanta. Que é necessária. Que é existente. Que é permanente. 


Que a todos os outros, nunca falte tempo e nem espaço. Que eles saibam hoje, aqui e agora, da sua importância, da sua relevância e da sua excelência. Não são menos. São sempre mais. Ainda que não estejam, ainda que não surjam, ainda que não movimentem, ainda que não saibam, ainda que não reconheçam. Ainda que apenas sejam eles todos os outros. Nunca serão menos. 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ao meu encontro

A fase é complexa. Quando vamos de encontro a nós mesmos. E nos olhamos mais profundamente. Parei de frente, me olhei, me vi e encontrei a mim mesma, com resquícios de pó em pensamentos que já não condizem e com desejos ultrapassados e interesses renovados, batendo bem ali, na porta da esquina. O ontem já não vale mais e nem aquelas pessoas que ali estavam ao meu lado, hoje estão. O ontem é traço apagado. O ontem é noite adormecida. O ontem não sou mais eu. 


Então abro a janela dos meus olhos e me vejo no hoje, a desenhar um amanhã todo colorido. Eu abro e inspiro o novo ar, olho o céu, com suas nuances azuis, que me iluminam e refletem a minha paz. Os paradoxos de ontem foram abandonados e o hoje é o presente a ser desembrulhado. O fardo do ontem foi deixado no meio da estrada, ali à margem, abandonado pra seguir a viagem de hoje. E ele aqui, nessa estrada, não cabe mais. Então, esticamos o dedo e fazemos o sinal característico da carona, para o próximo carro que seguirá e nos ajudará a trilhar o nosso caminho do destino. 


E eis que me encontro. Sem representações, sem procuração de terceiros. Me encontro a frente de mim mesma. Sacudo o pó da estrada. Bato a areia dos sapatos e lustro com a flanela para que brilhem os meus passos. Adiante está o futuro. Que também veio ao meu encontro. E hoje bate, feliz, em minha porta, a me acordar de todo e qualquer pesadelo restante. O futuro novo em folha veio de encontro ao meu presente e pede passagem e pede que novas teorias sejam calculadas e pede que haja mais amor e mais estrada, mais destino livre, menos rédeas, mais alma solta e vida leve. E que caminhe ao meu lado quem souber sorrir e amar, somente. 


De hoje em diante, ao meu encontro, quero todas as coisas novas: os sonhos, os desejos, os gostos, as pessoas, os caminhos, os hábitos. Quero ir de encontro ao que nunca busquei e ao que nunca tive. Quero ir de encontro e estar repleta do mar inteiro, do céu de brigadeiro, das nuvens todas. Quero, ao meu encontro, o desejo, o ensejo, a loucura, o anseio. Quero, ao meu encontro, a face nova, a fase alegre, a vida inteira, o amor de toda sorte e verdade. Quero, ao meu encontro, nada menos que a felicidade. Bem de frente, refletida no espelho, sorrindo pra mim ! 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

E porquê eu escrevo...

Escrever é parte de mim. Assim como ler. Escrever é a minha respiração voltada para o mundo ao meu redor. Me escrevo e me descrevo a partir daquilo que as palavras transmitem. Quando o dia não tem sol ou se plantam nuvens em meu coração, escrevo para melhorar. Quando a vida está complexa correndo ao lado e nem eu mesma faço qualquer sentido, escrevo para ter noção de mundo, escrevo para observar e contemplar, escrevo para entender e organizar toda a série de sentidos que se movimenta aqui dentro. 


O exercício frutífero dessa escrita que brota faz com que meu olhar seja condensado no entendimento e na espera. Porque tudo o que passa ao meu filtro do crivo da escrita, sempre melhora. Melhora porque muda. Muda no sentido de emudecer, porque escrever, te obriga a pensar no que é dito, te obriga a organizar o parágrafo, te obriga a fazer com que quem está lendo entenda o seu ponto de vista. Te obriga a refazer, riscar ou realinhar o que tinha sido dito, justamente para que seja entendido. 


Então, é a partir desse exercício, de entrega e de escrita, que a vida melhora. Melhora porque muda, daí no sentido de mudar e não ser mais só um ingrediente do meu interior: é o meu lado de dentro colocado para o lado de fora, para que o outro veja. Escrever é se relacionar didaticamente com o outro e é compartilhar uma vida, ainda que dela, se entenda pouco. Escrever é um ato de solidariedade, quando você parte do princípio de descrever e imaginar aquilo que está contando para o outro e se multipliquem as ideias de ambos. O seu mundo interior se choca com o mundo de vários mundos e um universo se cria. Nasce uma imensidão de sentidos de uma mesma coisa ou esvaziam-se ideias antigas, que são repostas por novas. 


Escrever é fluir, no sentido de reativar as marés. Escrever é palco para a tristeza virar poesia. Escrever é luz para a canção daquele dia, que fica mais bonito, porque a prosa fica rica, há um tempo para um cafezinho e ali, desfrutar da ideia de alguém, que de repente te traz uma visão diferente, que de repente expande o seu inconsciente e faz o mundo acontecer de forma melhor. Eu escrevo desde que me conheço por gente e, agora ainda mais, porque já ultrapassou todo sentido de necessidade. Escrever me dá prazer e me dá vontade, de usufruir da vida sempre um pouco mais.