É amor quando consegue permanecer perene, fogo aceso, chama constante, ainda que branda, mas que aquece longamente nas noites de mais tenro inverno, tal como essa de hoje. É amor quando transforma aquilo do que se acrescenta em algo maior, que muda, que faz da matéria bruta uma matéria prima, que faz o pequeno ingrediente que iniciou a receita, aquela pitada de fermento, crescer e se multiplicar, transformar a farinha no bolo, o leite frio no cremoso recheio, a saudade em afago, o abraço em terno beijo, o até breve para até sempre, todos os dias, até a quantia em que durar...
É amor quando transmuta e traz do caos a paz, traz do incêndio a água, traz da revolução a complexidade que acrescenta e faz olhar o mundo com parcimônia, faz chegar mais perto, faz ficar mais denso, faz ficar completo. Estamos aqui falando do amor essencial, incondicional e não das paixões doentias e efêmeras, que a nada suportam e que no mínimo sopro da brisa já se esvaem em desilusão. É amor alicerçado, parede reforçada, concreto armado que sustenta e ergue, que traz e dá forma a toda luz.
É amor quando transcende e purifica. Faz aquele mar revolto silenciar ao ponto de se poder ouvir o ressoar e o canto das gaivotas que alcançaram o horizonte. O amor transcende e acende no coração a luz, na alma a esperança, na vida o caminho, na estrada o esteio, na plumagem rica a beleza das aves que sobrevoam as paragens mais distantes e enfeitam nosso coração em um bailado multicor rufando suas asas. O amor transcende quando sabemos que a mínima alegria é o combustível benfazejo do coração. O amor transcende quando enviamos no desejo de querer bem todo o nosso afago e alcançamos a alma do outro, pura e para nós tão encantada, que nos reconecta à nossa própria essência.
É amor todo o conteúdo que nos enaltece, que nos proclama a verdade. É amor a certeza dos corações conectados, não importando a distância ou o tempo em que estiveram separados, porque o amor é a união e a convicção dos nobres desejos intercalados. É do amor a memória mais sublime e a doce certeza de se poder partir por saber onde está o porto seguro para voltar quando preciso for. É do amor a quantia incondicional do afeto que destina e trilha a estrada em criação com o futuro, na comunhão da alma, com a construção de si e do outro em parcimônia, em elevação, em nobre dueto, em perfeição de alma e coração.
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