2020/06/12

PRISÃO DE CAXIAS - MONUMENTO AOS EX-PRESOS POLÍTICOS

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No dia 10 de Junho foi inaugurado em Caxias, no jardim em frente da estação do CP, um monumento da autoria do escultor Sérgio Vicente, evocativo da libertação dos presos políticos daquela prisão, no dia 26 de Abril de 1974, na sequência da revolução dos cravos.
O monumento é da responsabilidade da Câmara Municipal de Oeiras, presidida por Isaltino Morais e de uma comissão constituída por representantes da Associação 25 de Abril: Ramiro Soares Rodrigues, Mário Simões Teles, por Otelo Saraiva de Carvalho, por Fernando Vicente, por José Pedro Soares em representação da URAP, por Fernando Cardeira em representação do Movimento Cívico "Não Apaguem a Memória" - NAM, por Raimundo Narciso na qualidade de membro da CICAM (Comissão de Instalação dos Conteúdos e da Apresentação Museológica para o Museu Nacional da Resistência e da Liberdade na Fortaleza de Peniche).
Do monumento faz parte um passeio no qual está gravado o número de presos, naquela cadeia. em cada um dos anos, de 1936 a 1974. Por exemplo, 399 homens em 1938 ou 603 homens e 79 mulheres em 1958.

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 Capitão de mar e guerra Ramiro Soares Rodrigues e presidente da CMOeiras Isaltino Morais
Escultor Sérgio Vicente autor do monumento
 José Pedro Soares em representação da URAP
Da esquerda para a direita: Isaltino Morais, José Zaluar , Fernando Cardeira, Artur Pinto e Raimundo Narciso


 Ex-presos políticos da prisão de Caxias
  Ex-presos políticos da prisão de Caxias
 Ex-presos políticos da prisão de Caxias

2020/06/01

Maria Machado: entrevista no NOTÍCIAS MAGAZINE



Sara Dias Oliveira, jornalista do Jornal de Notícias publicou uma entrevista a 

MARIA MACHADO 

na revista deste jornal, 
NOTÍCIAS MAGAZINE, 
em 31 de Maio de 2020.

A entrevista insere-se na rubrica MEMÓRIAS 
com o título 
«FILHOS DAS CRISES. HISTÓRIAS DURAS, MEMÓRIAS CRUAS»
a seguir reproduzida.


2020/04/27

Grândola Vila Morena - cantada na Itália no 25 de ABRIL

25 de Abril dia da Liberdade. Em Portugal, em 1974  -- Na Itália, em 1945.

Este 25 de Abril, em Itália, cantaram "Grândola Vila Morena". 
Tal como em Portugal, o dia 25 de Abril representa na Itália o fim do regime fascista. É a data da libertação de Roma e da Itália, das tropas nazis de Hitler de quem Mussolini, o ditador italiano, foi aliado, na 2ª Guerra Mundial (1939-45).
Nós temos a Grândola Vila Morena, cantada pelo Zeca Afonso, como o "hino" da nossa libertação, os italianos têm a "Bella Ciao" como o "hino" da luta antifascista dos "partisans" (os guerrilheiros e clandestinos italianos) na libertação de Roma e de Itália do fascismo de Mussolini.
Em Portugal a ditadura durou 48 anos na Itália a ditadura de Mussolini durou 20 e terminou em 1945 com a derrota da Itália na 2ª guerra mundial

Salazar era um admirador de Mussolini e tinha no seu gabinete uma foto sua. E, convém não esquecer, quando Hitler se suicidou, no fim da 2ª Guerra Mundial, cercado em Berlim, pelas tropas soviéticas, Salazar decretou luto nacional em Portugal.

2020/03/01

O Henrique Ruivo e a Madalena... morreram a semana passada.


Numa semana - semana fatídica - morreram quqtro amigos meus o Pina Moura, o Pedro Baptista, o Henrique Ruivo e a Madalena sua companheira.
Nos últimos anos só nos víamos esporadicamente mas lá mais para trás passámos belíssimas férias juntos com os nossos filhos. Nos Olhos d´Água e outras praias do Algarve.
O Henrique era não só um grande artista plástico mas um homem culto, comprometido com a luta contra o fascismo e pela liberdade. Era um excelente companheiro. Deixo as minhas condolências à família, à Ana e ao André.
Henrique Ruivo ia expôr na galeria da Casa Da Cultura | Setúbal, a partir de 7 de março. A exposição mantêm-se e será também uma homenagem ao excelente artista.

 

2020/02/22

PEDRO BAPTISTA - CIDADÃO DO PORTO

Esta 5ª feira, 20-02-2020, foi um dia fatídico. Nesse dia, num dia, morrem dois amigos meus. Pedro Baptista no Porto e Joaquim Pina Moura em Lisboa. Ao Pina Moura que estava muito mal há anos, dediquei a crónica precedente e agora dedico umas palavras ao meu amigo Pedro Baptista, ao passado comum e à terrível surpresa, pois encontrava-se bem e como sempre muito activo.

Membro da Assembleia Municipal do Porto fora nomeado comissário geral para as comemorações dos 200 anos da Revolução Liberal do Porto. Poucas horas antes da inauguração do grande evento cuja preparação o ocupou nos últimos tempos Pedro Baptista despediu-se no Facebook com


“É hoje! Até já!”. Até nunca, até nunca, afinal.

Quando com José Barros Moura, José Ernesto, António Graça, António Hespanha, Pina Moura, Victor Neto, José Manuel Correia Pinto,  José Luís Judas, Fernando Castro, António Teodoro, Osvaldo de Castro, e muitos outros criámos, em 1992, a associação política Plataforma de Esquerda, Barro Moura, amigo de Pedro Baptista, convidou-o a participar. Na sequência do acordo com o PS para as eleições de 1995 para a AR fomos ambos eleitos deputados. Trabalhávamos no mesmo gabinete, grande e espaçoso que acolhia ainda, o capitão de Abril Marques Júnior, a Maria Carrilho e o ex-ministro Eduardo Pereira. De modo que convivemos de modo muito próximo, durante 4 anos o que me permitiu apreciar a inteligência e sagacidade do Pedro para além do seu agradável espírito de humor quantas vezes cáustico. Lembro-me de quando nas 6ªs feiras, ao fim da tarde, antes de partir para o seu muito querido Porto, gostava de nos desafiar e despedia-se de nós “Até para a semana! Vou para Portugal!!”, sim que o Sul não passava de terra de mouros!

Pedro Baptista era um apaixonado e grande cultivador da nossa língua e da história de Portugal. Tenho alguns dos livros que publicou. Encontrávamo-nos de longe em longe, mais em Lisboa que no Porto. E conversávamos, até há poucos dias, pelo Facebook. Desfecho tão inesperado deixa-nos perplexos e tristes. Ficam os pêsames à família tragicamente enlutada.
* Nota: a imagem foi obtida aqui (Link) 


Joaquim Pina Moura deixou-nos

Morreu o Joaquim Pina Moura. O nosso querido amigo Pina Moura. Era um dos meus amigos mais estimados. Mas há muito que vinha morrendo aos poucos, a perder a noção do mundo à volta. Afligia-me muito estar com ele neste estado. O velório é neste domingo, 23 de Fevereiro, no Museu dos Coches, em Belém, Lisboa.
Joaquim Pina Moura com Herculana de Carvalho, sua mulher, em 13 de Novembro
de 2009 com um grupo de amigos num restaurante em Lisboa.


Convivemos estreitamente durante muitos anos no PCP e no seu Comité Central. Depois, com outros, afastámos-nos do PCP num processo que decorreu entre 1987 e 1991. Ainda no partido mas já em processo de rotura criámos com outros, muitos outros, o INES (Instituto Nacional de Estudos Sociais) um movimento político que mobilizou uma grande parte da intelectualidade do PCP nomeadamente José Saramago e muitos outros intelectuais e artistas

Para fundamentar e alicerçar as propostas políticas que depois defendíamos nas reuniões do Comité Central do PCP, fizemos muitas reuniões em casa de Pina Moura.

Consumada a rotura com o partido em 1991 criámos, Pina Moura, Barros Moura, Mário Lino, José Luís Judas, Osvaldo de Castro, Vitor Neto, Fernando Castro, Hilário Teixeira, eu próprio e outros ex-militantes do PCP e activistas políticos de outras origens, uma associação política a Plataforma de Esquerda que atingiu os 1.200 associados.

Nas vésperas das eleições para a AR de 1995 a plataforma de Esquerda fez um acordo eleitoral com o PS e  desenvolveu um trabalho de mobilização conjunta do eleitorado em todo o país nos chamados Estados Gerais nos quais Pina Moura teve um papel muito destacado que não passou despercebido a Guterres que, após a sua vitória eleitoral em 1995, o chamou para Secretário de Estado, e depois numa carreira fulgurante para Ministro da Economia e em seguida para Ministro da Economia e das Finanças. 

Encontro com Gorbatchov em Cascais a convite de José Luís Judas então presidente da Câmara Municipal desta idade. Pina Moura está à esquerda de Gorbatchov. A foto é de notícia do Expresso, de 24 de Junho de 1995

Pina Moura para além das sua grande capacidade intelectual e de trabalho era um companheiro muito solidário e que todos os seus amigos muito prezávamos. Apesar do seu estado de saúde, desde há tantos anos, a notícia do seu falecimento causou entre os seus amigos grande consternação.
À Herculana, aos filhos, ao irmão Viriato, à restante família, sentidos pêsames, meus e da Maria Machado. 

2020/02/15

NAM presta homenagem a Humberto Delgado no Panteão Nacional

O Movimento Cívico "Não Apaguem a Memória" - NAM organizou, no Panteão Nacional, em Lisboa, uma homenagem ao general Humberto Delgado no dia 13 de Fevereiro de 2020, dia do 55º aniversário do seu assassinato pela PIDE. A homenagem teve nomeadamente a participação do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, de Frederico Delgado Rosa e Rita Delgado, netos de Humberto Delgado, do coronel Manuel Pedroso Marques, participante na tomada do quartel de Beja e companheiro da acção revolucionária de Humberto Delgado. Estiveram presentes vários "Capitães de Abril", como Vasco Lourenço da A25A ou Rosado da Luz, da direcção do NAM.
A ideia foi trazida por Anália Gomes membro da direcção do NAM e a sua concretização deve-se ao presidente da direção, Fernando Cardeira.
Deixo aqui um conjunto de imagens do evento, na maior parte fotos de elevada qualidade de Carlos A. Pereira Martins que gentilmente mas enviou e facilmente se identificam pela sua assinatura.

O Panteão (imagem do Google mapas)

O Programa

A chegada do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues 

Intervenção da directora do Panteão Nacional, Isabel Melo.
Intervenção do presidente da direcção do NAM Fernando Cardeira
Intervenção de Pedroso Marques

   Frederico Delgado Rosa neto de HD, José Zaluar, Rita Delgado neta de HD e Fernando Cardeira
Na 1ª fila Maria Antónia Palla, mãe do 1º Ministro, Noémia Ariztia e Mário Lino
Maria do Céu Guerra fala com Ferro Rodrigues
Intervenção de Rita Delgado
Vasco Lourenço, Raimundo Narciso, Manuel Pedroso Marques
Rosado da Luz, Vaso Lourenço,  Raimundo Narciso, Carlos Pereira Martins e Pedroso Marques
José Zaluar, Rita Delgado e Fernando Cardeira




Intervenção do Presidente da Assembleia da República Ferro Rodrigues


2020/01/24

"A Internacional" sob a direcção de Toscanini



Em 1944, para homenagear a vitória dos Aliados na Itália, o lendário Maestro Arturo Toscanini - um refugiado de fascismo no seu próprio país - decidiu realizar uma apresentação do "Hino das Nações" de Verdi. "Hino" é uma composição que Verdi originalmente construiu em torno dos hinos nacionais da Grã-Bretanha, França e Itália. Para homenagear todos os quatro principais aliados, Toscanini decidiu adicionar "The Star Spangled Banner" para os EUA e "The Internationale" para a União Soviética.
A música foi tocada pela NBC Symphony Orchestra, com o Westminister Choir e o grande tenor Jan Peerce como solista; conduzido por Toscanini. Foi filmado como uma obra a ser exibida nas salas de cinema e narrado por Burgess Meredith.
No início dos anos 50, no auge do anticomunismo e do McCarthyism, os censores dos EUA cortaram a parte dessa performance que apresentava a "Internationale". Durante anos, a sequência contendo The Internationale foi considerada perdida para sempre. Mas, recentemente, uma cópia desse pedaço de filme foi redescoberta no Alasca. Portanto, agora esta empolgante versão da Internacional - junto com o coral e a orquestra sob a direcção de um grande maestro - pode ser apreciada novamente.
O original em inglês

In 1944, to honor the Allied victory in Italy, legendary counductor Arturo Toscanini--a refugee from Fascisim in his home country--decided to conduct a performance of Verdi's "Hymn of the Nations". "Hymn" is a composition that Verdi orginally built around the national anthems of Britain, France, and Italy. In order to honor all four of the major Allies, Toscanini decided to add "The Star Spangled Banner" for the U.S. and "The Internationale" for the Soviet Union. The music was performed by the NBC Symphony Orchestra, with the Westminister Choir and the great tenor Jan Peerce as soloist; conducted by Toscanini. It was filmed as a featurette to be shown in movie theaters, and was narrated by Burgess Meredith. In the early 50's, at the height of the Red Scare and McCarthyism, U.S. censors excised the portion of this performance that featured the "Internationale". For years the sequence containing The Internationale was considered forever lost. But recently a copy of this missing piece of film was rediscovered in Alaska. So now this rousing rendition of the Internationale--together with chorale and orchestra under the direction of a great conductor--can be enjoyed again.

2019/11/11

Canção do Mar na TV russa

Uma bela canção portuguesa cantada na língua de Camões, na língua de Pushkin e em Tártaro.
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"As russas Elmira Kalimullina e Pelageya arrasaram num programa televisivo do seu país, com uma interpretação fenomenal do tema português Canção do Mar, da versão de 1993 do álbum "Lágrimas" da Dulce Pontes."
Cantam em Português, em Russo e em Tártaro.

2019/09/17

EDWARD SNOWDEN HERÓI DA HUMANIDADE

Memórias do homem que denunciou o “capitalismo de vigilância”

No livro Vigilância Massiva, Registo Permanente, que publica hoje (ed. portuguesa da Planeta), o antigo espião explica porque divulgou um programa global de vigilância. Eis um excerto (Jornal Público 2019-09-17) 

A razão por que está a ler este livro é eu ter feito uma coisa muito perigosa para alguém na minha posição: decidi dizer a verdade.
[O governo americano] assumiu, em segredo, o poder da vigilância massiva, uma autoridade que por definição afecta mais os inocentes do que os culpados
O meu nome é Edward Joseph Snowden. Costumava trabalhar para o governo, mas agora trabalho para o público. Demorei quase três décadas a perceber que há uma diferença, e quando isso aconteceu tive alguns problemas no escritório. Em consequência, agora dedico o meu tempo a proteger o público do género de pessoa que então era: um espião da Central Intelligence Agency (CIA) e da National Security Agency (NSA), mais um jovem técnico desejoso de construir aquilo que, tinha a certeza, ia ser um mundo melhor.

A minha carreira na Comunidade da Informação (CI) americana durou sete curtos anos, ou seja — e foi uma surpresa quando me apercebi disto —, só mais um ano do que o tempo do meu subsequente exílio num país que não escolhi. Durante esses sete anos, no entanto, tive a oportunidade de participar na mais significativa mudança na história da espionagem americana — a passagem da vigilância de alvos individualizados para a vigilância massiva de toda a população. Ajudei a tornar tecnologicamente exequível para um governo coligir as comunicações digitais do mundo inteiro, armazená-las por períodos indefinidos e consultá-las à vontade.
Depois do 11 de Setembro, a CI ficou esmagada pela culpa de não ter conseguido defender a América, por ter deixado que o ataque mais devastador e destrutivo contra o nosso país desde Pearl Harbor acontecesse “no seu turno”, para usar uma expressão popular. Em resposta, os seus líderes procuraram construir um sistema que evitasse serem apanhados mais uma vez com um pé no ar. Esse sistema teria como base a tecnologia, uma matéria alienígena para o seu exército de cientistas políticos e doutores em gestão administrativa. As portas das mais sigilosas agências de informação abriram-se de par em par para jovens técnicos como eu. E os nerds herdaram a Terra.
Se naquela altura havia qualquer coisa de que eu percebia, era de computadores, de modo que subi depressa. Com vinte e dois anos, recebi da NSA a minha primeira autorização de nível Muito Secreto para um lugar na base do organograma da instituição. Menos de um ano mais tarde, estava na CIA, como engenheiro de sistemas com acesso ilimitado a algumas das mais sensíveis redes do planeta. O único supervisor adulto era um tipo que passava o turno a ler romances de espionagem de Robert Ludlum e Tom Clancy.
As agências estavam a violar todas as regras que elas tinham estabelecido no empenho de contratar talento técnico. Em circunstâncias normais nunca contratavam ninguém que não tivesse pelo menos um bacharelato, ou, mais tarde, no mínimo frequência universitária, e eu não tinha nenhuma destas coisas. À luz de todas as normas, não devia ser autorizado a entrar no edifício. (...)
Com vinte e seis anos era, no papel, empregado da Dell, mas mais uma vez trabalhava para a NSA. A procura de fornecedores de serviços tinha-se tornado a minha cobertura, como a da maior parte dos espiões com tendências tecnológicas do meu grupo. Mandaram-me para o Japão, onde ajudei a conceber o que na prática acabou por ser o backup global da agência — uma massiva rede clandestina graças à qual mesmo que a sede da NSA fosse reduzida a cinzas por um ataque nuclear havia a certeza de que nenhuma informação se perderia. Na altura, não me apercebi de que criar um sistema capaz de manter um registo permanente da vida de toda a gente era um trágico erro.
Voltei aos EUA dois anos mais tarde e recebi uma promoção estratosférica para a equipa técnica que assegurava o relacionamento da Dell com a CIA. A minha função era reunir-me com os chefes das secções técnicas da CIA para criar e vender a solução para qualquer problema que eles fossem capazes de imaginar. A minha equipa ajudou a agência a construir um novo tipo de arquitectura de computação: a “nuvem”, a primeira tecnologia que permitia a qualquer agente, fosse qual fosse a sua localização física, aceder e pesquisar quaisquer dados de que precisasse, independentemente da distância.
Em resumo, o trabalho de gerir e conectar o fluxo de informação levou ao trabalho de descobrir como armazená-la para sempre, que por sua vez deu lugar ao trabalho de garantir que essa informação estava acessível e podia ser consultada em qualquer parte do mundo. Foi nestes projectos que me concentrei quando, com vinte e nove anos, fui para o Havai depois de ter aceite um novo contrato com a NSA. Até essa altura, tinha funcionado com base na doutrina da Necessidade de Saber, incapaz de compreender o propósito cumulativo por trás das minhas tarefas especializadas e compartimentadas. Foi só no paraíso que estive enfim numa posição que me permitia ver como todo o meu trabalho funcionava em conjunto, como as rodas dentadas de uma gigantesca engrenagem, para criar um massivo sistema de vigilância global.
Nas profundezas de um túnel sob uma plantação de ananases — uma antiga fábrica subterrânea de aviões da era Pearl Harbor —, sentava-me diante de um terminal que me dava um acesso quase ilimitado às comunicações de praticamente qualquer homem, mulher ou criança que à face da Terra usasse um telefone ou um computador. Entre essas pessoas havia cerca de 320 milhões de cidadãos americanos, meus compatriotas, que na condução normal das suas vidas quotidianas eram vigiados numa grosseira contravenção não só da Constituição dos Estados Unidos como dos valores mais básicos de qualquer sociedade livre.
A razão por que está a ler este livro é eu ter feito uma coisa muito perigosa para alguém na minha posição: decidi dizer a verdade. Coligi documentos da CI interna probatórios da violação da lei por parte do governo dos EUA e entreguei-os a jornalistas, que os avaliaram e mostraram a um mundo escandalizado.
Este livro é a respeito do que levou a essa decisão, dos princípios éticos e morais que a en formaram, e de como nasceram… o que significa que é também a respeito da minha vida.

Quartel-General da CIA em Langley - Virginia 

O que faz uma vida? Mais do que aquilo que dizemos; mais, até, do que aquilo que fazemos. Uma vida é também aquilo que amamos, e aquilo em que acreditamos. Para mim, aquilo que mais amo e em que mais acredito é conexão, conexão humana, e as tecnologias através das quais é conseguida. Essas tecnologias incluem livros, claro. Mas, para a minha geração, conexão tem significado sobretudo a internet.
Antes que recue, sabedor da loucura tóxica que infesta esse vespeiro nos nossos dias, compreenda que para mim, quando a conheci, a internet era uma coisa muito diferente. Era um amigo, e um pai. Era uma comunidade sem fronteiras nem limites, uma voz e milhões, um território comum ocupado mas não explorado por várias tribos que viviam em amizade lado a lado, e cada um era livre de escolher o seu nome e a sua história e os seus costumes. Todos usavam máscaras, e no entanto esta cultura de anonimidade-através-da polinomia produzia mais verdade do que falsidade, porque era criativa e cooperativa em vez de comercial e competitiva. Claro que havia con flito, mas era mais do que compensado pela boa vontade e os bons sentimentos: o verdadeiro espírito dos pioneiros.
Compreender-me-á, então, quando digo que a internet dos nossos dias está irreconhecível. Não importa que esta escolha tenha sido consciente, resultado de um esforço sistemático por parte de alguns poucos privilegiados. O impulso inicial para transformar comércio em “e-comércio” levou muito depressa à criação de uma bolha, e então, logo a seguir ao virar do milénio, a um colapso. Depois disso, as empresas perceberam que as pessoas que entravam online estavam muito menos interessadas em gastar do que em partilhar, e que a conexão humana possibilitada pela internet podia ser monitorizada. Se o que a maior parte das pessoas
online queria era poder dizer à família, aos amigos, a desconhecidos o que estava a fazer, e em troca saber o que estavam a fazer a família, os amigos e os desconhecidos, a única coisa de que as empresas precisavam era arranjar maneira de situar-se no meio destes intercâmbios sociais e lucrar com isso.
Foi o começo do capitalismo de vigilância, e o fim da internet tal como eu a conhecia.
Ora bem, foi a web criativa que colapsou, e inúmeros sites individualizados, criativos e difíceis fecharam portas. A promessa de conveniência levou as pessoas a trocar os seus sites pessoais — que exigiam uma manutenção constante e trabalhosa — por uma página no Facebook e uma conta Gmail. Era fácil tomar a aparência de propriedade pela sua realidade. Poucos de nós o compreenderam na altura, mas nada daquilo que passaríamos a partilhar continuaria a pertencer-nos. Os sucessores das empresas de e-comércio que tinham falhado por não conseguir encontrar qualquer coisa que estivéssemos interessados em comprar tinham agora um novo produto para vender.
O novo produto éramos Nós. 
A nossa atenção, a nossa actividade, os nossos lugares, os nossos desejos — tudo a nosso respeito que revelávamos, tendo ou não consciência disso, estava a ser vigiado e vendido em segredo, de modo a adiar a inevitável sensação de violação que, para a maior parte de nós, só agora começa a aparecer. E esta vigilância continuaria a ser encorajada de uma forma activa, e até financiada, por um exército de governos gulosos do enorme volume de informação que iriam obter. Exceptuando o acesso e as transacções financeiras, poucas ou nenhumas comunicações eram encriptadas na primeira década dos anos 2000, o que significa que em muitos casos os governos nem tinham de dar-se ao trabalho de abordar as empresas para saber o que os respectivos clientes andavam a fazer. Bastava-lhes espiar o mundo sem dizer nada a ninguém.
O governo americano, em total desrespeito pela sua carta fundadora, foi vítima desta tentação, e uma vez provado o fruto desta árvore venenosa foi assaltado por uma febre incurável. Assumiu, em segredo, o poder da vigilância massiva, uma autoridade que por de fi nição afecta mais os inocentes do que os culpados. Só quando cheguei a uma compreensão mais profunda desta vigilância e dos seus males comecei a ser perseguido pela consciência de que nós, o povo — o povo não de um só país mas do mundo inteiro —, nunca tivemos direito de voto, e nem de expressar a nossa opinião, neste processo. O sistema de vigilância quase universal tinha sido criado não só sem o nosso consentimento, mas também de uma forma que escamoteava ao conhecimento, de intenção deliberada, todos os aspectos dos seus programas. A cada passo, a mudança dos procedimentos e as suas consequências eram ocultadas a toda a gente, incluindo a maior parte dos legisladores. 
Para quem podia voltar-me? Com quem podia falar?

2019/04/28

A Libertação dos presos políticos de Caxias pelos capitães de Abril

A convite da Associação 25 de Abril participei numa comissão com alguns " capitães de Abril" numa comissão que apoiou a CM de Oeiras nas comemorações do 45º aniversário da revolução dos cravos, que inclui uma estátua a erigir mais tarde e a inauguração de uma lápide em homenagem aos presos políticos no jardim em frente da prisão (Reduto Norte) no dia 26 de Abril de 1974, exactamente 45 anos depois da libertação.

Deixo aqui algumas fotografias da homenagem aos que tanto lutaram e sofreram para usufruirmos hoje da Liberdade que gozamos.
Na 1ª foto vê-se, de costas, a Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, o presidente da CMOeiras Isaltino Morais e Manuel Alegre autor do poema impresso na lápide, no momento em que a inauguravam.
Na 2ª foto estou eu com Mário Pinto, o então capitão e agora coronel reformado, comandante da força de paraquedistas que libertou os presos em 26 de Abril de 1974.
Nas outras fotos, se as ampliarem com um clique, reconhecerão vários outros "capitães de Abril" nomeadamente o Otelo.
Depois dos discursos da Ministra da Justiça, de Manuel Alegre e de Isaltino Morais, fez-se a abertura simbólica do grande portão de ferro da prisão e dele saíram não os ex-presos mas um lindo e vibrante  grupo de miúdas e miúdos, alunos dos primeiros anos de escolaridade, alguns deles netos de ex-presos. Correram para nós e ofereceram-nos um saco com os versos da lápide que se vê na foto onde estou com Mário Pinto e dentro um cravo vermelho e uma folha decorada com uma pintura e uns versos da autoria de cada um. A mim uma jovenzinha ofereceu-me a "obra de arte" que vai reproduzida aqui em baixo que no verso tem escrito EBS. Bruno 3º ano Maria L Leonor.
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2018/11/09

Homenagem a Edmundo Pedro no CCB quando faria 100 anos

Ontem, dia 8 de Nov de 2018, decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, por iniciativa do seu presidente, Elísio Summavielle, uma homenagem a Edmundo Pedro falecido há pouco e que faria 100 anos nesta data. 
Com a sala repleta a homenagem reuniu muitos dos amigos de Edmundo.
Além de Elísio Summavielle que moderou a sessão esta teve como oradores João Soares, Luís Osório, Vasco Lourenço, Fernando Pereira e Paulo Almeida. 
Os oradores fizeram a história do combatente anti-fascista Edmundo Pedro e também em parte do pai Gabriel Pedro e restante família.
A pedido da mesa e na sequência de sugestão de João Soares falei da vinda de Gabriel Pedro,  pai de Edmundo, a Portugal em Outubro de 1970, e na sua participação na primeira acção armada da ARA, a sabotagem do Cunene. Gabriel Pedro estava exilado em Paris e era procurado pela PIDE, apesar disso e dos seus 70 anos de idade, insistiu junto do PCP, em Paris, para vir clandestinamente a Portugal e participar na primeira acção armada da ARA.
Referi depois o activo papel de Edmundo Pedro no Movimento Cívico "Não Apaguem a Memória" - NAM, de que era um dos sócios honorários. Com esse objectivo fiz um power-point que foi exibido no início da sessão. A homenagem terminou com a exibição de um pequeno vídeo da Fernanda Paraíso onde Edmundo dá uma entrevista, pouco tempo antes de falecer. 

Seguem-se imagens do power-point: sobre participação de Edmundo em iniciativas do NAM de que era sócio honorário.
 Visita do NAM à antiga prisão política do Forte de Peniche em 2006-04-01
2006-07-01  NAM organiza concentração de ex-presos políticos e amigos, no Aljube, para reivindicar museu. Edmundo no início da escada, à esquerda.  (Iniciativa do associado Artur Pinto e também ex-preso político na cadeia do Aljube ).
..Nas traseiras do Aljube, Edmundo Pedro fala aos presentes
2006-10-05  Manifestação com início do local da antiga sede da PIDE, em Lisboa, contra a decisão da PGR que declarou arguidos João Almeida e Duran Clemente  na manifestação, origem do NAM, em 2005-10-05, junto do local da antiga sede da PIDE. Fala Henrique de Sousa pelo NAM.
2006-12-06 Homenagem aos ex-presos políticos. Edmundo Pedro e Nuno Teotónio Pedro descerram lápide no antigo tribunal Plenário da Boa Hora. Seguiu-se sessão solene.
2008-10-05 Tela gigante, junto da ex-sede da PIDE, no 3º aniversário do NAM
Os autores da tela - alunos da Escola Superior de Belas Artes com o prof. Lima de Carvalho
2008-10-05   Edmundo Pedro apõe assinatura na tela 
2008-10-29 Colóquio  na Assembleia da República “Tarrafal: uma prisão dois continentes” – Fundação Mário Soares - NAM
 2008-10-29 “Tarrafal: uma prisão dois continentes” a assistência.
.2008-10-29 Colóquio “Tarrafal: uma prisão dois continentes
Homenagem na FIL a Edmundo Pedro no seu 90º Aniversário
 2009 -04-28  simpósio, no Tarrafal. Organização: Governo de Cabo Verde, Fundação Mário Soares, e NAM.  Intervenção Pedro Pires  presidente da República de Cabo Verde.
Mário Soares fala no Simpósio do Tarrafal
 Prisões do campo de concentração do Tarrfal 
"O segredo" celas de castigo.
Edmundo e Mário Soares no Tarrafal durante o simpósio.
2010-04-25 Edmundo Pedro fala na inauguração de uma placa que assinala a antiga sede da PIDE, iniciativa do NAM em colaboração com a CML.
2012-01-04  Homenagem pelo 50º aniversário, aos heróis da revolta do quartel de Beja. Organização da Comissão de Participantes [no assalto] e NAM .
      2014-01-28  Homenagem aos advogados dos presos políticos da ditadura - Iniciativa NAM                           com a Assembleia da República.  (Foto da autoria do fotógrafo José Gema)

Na homenagem, na AR aos advogados dos presos políticos da ditadura (Foto da autoria do fotógrafo José Gema)