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01 março 2023

Prenúncios do fim...

 ...por Filomena Mónica
no dia em que fez 59 anos.
Num artigo que publicou no
Jornal "Público" em 
1 de Fevereiro de 2002
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Maria Filomena Mónica
( n. 30/01/1943 )
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“Acabo de me olhar atentamente ao espelho. Faço hoje 59 anos. Para o ano que vem, serei uma sexagenária. Noto, sem demasiada angústia, as rugas à volta dos olhos, o tufo de cabelos brancos, as linhas horizontais do pescoço. Talvez não seja salutar pensar na morte no dia do próprio aniversário. Mas ela não me assusta. O que me assusta é a demência. A deliquescência do cérebro. A desintegração da memória. A perda de identidade. Com uma frequência crescente, interpreto incidentes do quotidiano como maus sinais. Um dia, é o facto de me ter esquecido do local onde estacionei o carro. Outro, o estar ao telefone sem me lembrar para quem liguei. Outro ainda, o desaparecimento de nomes outrora familiares. E muitos outros casos. Há uma semana, não fui capaz de descobrir onde pousara os óculos para ler, até que, ao passar diante de um espelho, descobri que estavam no topo da minha cabeça. É fácil entrar em pânico. Geralmente, quando isto sucede, tento acalmar-me, dizendo-me que a memória de muitos dos meus amigos, que não temem o advento da doença de Alzheimer, também lhes prega partidas. Mas a inquietação não desaparece. Ter-se-iam aberto as portas para o jardim sombrio, onde nada tem nomes, nem caras, nem história? 
Precavida como sou, tenho andado a imaginar o que deverão ser as minhas últimas palavras. Numa era em que ninguém morre em casa, mas encarcerada em hospitais...”
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in. 
"Público".
 01.02.2002

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