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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Embriagado


Todas as coisas e ideias tendiam para a esquerda. Depois, inclinaram-se um bom tanto para a direita. Então, rolaram para o centro e por ali ficaram, no equilíbrio frágil de uma mesa de boteco.
O álcool e a política têm efeitos semelhantes.

domingo, 12 de março de 2017

Saudosismo


Passei na casa dos meus avôs para uma visita rápida. Inocência minha achar que conseguiria sair de lá antes do jantar; Como sempre, minha avó convenceu-me a ficar. Segundo ela, estava preparando uma comidinha especial e, além disso, eu andava muito magro, muito branco, precisando comer bem. Decidi ficar.
Enquanto ela terminava os preparativos, sentei à sala com meu avô para ver o jornal. Ele, esparramado na velha poltrona de couro, após duas ou três notícias, comentou:
- Bons os tempos em que só se roubavam corações.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Instáveis


Há um casal problemático que passeia entre minhas idéias. Não conseguem viver juntos por muito tempo.
Se o álcool entra, a poesia logo sai

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Mate


Desde o casamento, acostumou-se a ser tratada como uma rainha - indo para onde quisesse, quando quisesse. Quase todos os desejos lhe eram atendidos, com exceção dos que revelava apenas entre quatro paredes. No entanto, devido às regalias, as dificuldades do marido pouco lhe incomodavam até aquela tarde chuvosa.
Ao arrumar as gavetas, para evitar que os velhos pijamas embolorassem, encontrou as cartas e bilhetes. Descobriu, naquele momento, que ele só se interessava pelas outras rainhas.
Tomada por ira, desgovernada, deixou-se levar pelo primeiro peão que cruzou pela casa.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Insatisfeita


- Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida!
- Está me chamando de coisa?

sábado, 12 de novembro de 2016

Pontinhos


Durante a noite, na praia, viu as luzes dos barcos em alto mar, isolados. Pensou em quão triste seria viver dessa maneira, passar o dia no mar, trabalhando, e à noite virar um pontinho em meio a outros pontinhos perdidos na escuridão.
No caminho de volta para a cidade, reparou nos pontinhos, todos empilhados, mas, ainda assim, isolados.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Nada a perder


Sem ter uma casa para levar desaforo, armou o barraco

 

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Final do verão


Ao final do verão, as cigarras invadem a cidade. Chegam queimadas pelo sol, trocando de pele.
As formigas, trabalhadoras, da cidade nunca saem. Para elas, o inverno é uma ameaça constante.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Fim dos dias do vilão


Engana-se quem pensa que, algum dia, ele arrependeu-se.
Morreu sorrindo aquele cínico; Sabia que a mídia, a seu serviço, na terra ou no inferno, o transformaria em herói.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Entre amigas


O sorriso de hiena desfez-se. Embrenhou-se pelos cantos da parede, como se andasse pelo rodapé. Curvou-se para olhar pela quina da porta, confirmou que a outra se afastava e, então, disse:
- Eu não falei? Essa vagabunda, falsa, nunca me enganou.

 

domingo, 12 de junho de 2016

Mulher bomba


Por dentro, explodia um não. Mas o único som que se ouviu foi o daquela voz, suave e sofrida:
- Aceito.
E prosseguiram com a cerimônia.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Naturalmente, carnívoros


Como todo dia, na pia, o ritual pós-sacrifício acontecia: limpar as peles, cortar em filés, tiras ou cubos, temperar e cozinhar. Naquele dia em especial, na tábua de madeira, jazia uma galinha caipira, com o pescoço torcido e ainda mantendo algumas penas.
O garoto, curioso, aproximou-se da cozinha e observou, com um pouco de nojo, a mãe manuseando aquele bicho. Ela arrancando penas, cortando a cabeça e tirando as peles. Quando reparou que o garoto estava ali, ele aproveitou para perguntar:
- Mãe, o que é isso?
- Franguinho, filho!
- Então... É isso que é franguinho?

terça-feira, 12 de abril de 2016

Ditadura do silêncio


No país da impunidade, faz-se exceção à lei do silêncio, a única respeitada e temida.
Quem cala contente; E os que ousam desafiar a lei, arruaceiros, sofrem as punições

sábado, 12 de março de 2016

Antropofagia


Depois de um dia cansativo, dando suor e sangue no trabalho, ele sentou-se à sua poltrona, no meio da sala. O filho surgiu correndo pelo corredor, saltou sobre ele e lhe deu um abraço apertado. Já sem forças, retribuiu com um beijo no rosto e disse para o garoto que se sentasse no  chão para que pudesse prestar atenção no jornal.
Após uma notícia, o garoto ficou curioso e perguntou:
- Como é que as vacas ficaram loucas?
- Elas foram alimentadas com ração que continha carne de vaca e um monte de produtos químicos, daí elas ficaram doentes e enlouqueceram.
- Então as vacas que se alimentaram de vacas são chamadas de vacas loucas?
- Sim. Isso mesmo.
- E como é que são chamadas as pessoas que se alimentam de pessoas?
Após pensar um pouco,  no seu dia e no estado em que se encontrava, ele respondeu:
- Chefe, meu filho. Nós chamamos de chefe.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Decepção


- E a borboleta?
- Fez um casulo e virou lagarta...
- Ah! Que pena.
- É... Acontece.
- Mas não se preocupe, tem muita borboleta no ar

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O baú


Ela foi até o quartinho dos fundos; Em um canto escuro e empoeirado, encontrou o velho baú. Levou-o até a sala e começou a redescobrir tudo que estava guardado há anos.
Tinha ali um sorriso sincero, que já estava um pouco amarelado pela falta de uso. Havia também uma porção de otimismo infantil, que - apesar de serem infantis - eram pelo menos dez vezes maiores do que os adultos. Também brincou um pouco com os sonhos, fantasias e ilusões. Encontrou até alguns medos, mas algumas peças tinham sumido com o tempo.
O velho baú rendeu bons momentos, mas, ao final da tarde, ela recolheu tudo do chão, fechou o baú e colocou-o de volta naquele canto escuro. O sorriso, amarelado, acabou esquecido -  debaixo do tapete.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Viver e recordar


Depois de muito tempo, descobriu-se que, na verdade, os responsáveis pelas pinturas nas cavernas não foram os homens, mas sim os antílopes, mamutes, tigres e gnus. Cada espécie havia feito suas pinturas em homenagem a seus mortos durante as batalhas do dia a dia. Somente após terem encontrado estes registros é que os homens começaram a fazer os seus também.
Atualmente, os homens são os únicos a manter registros além das marcas no corpo e na alma. Os outros animais não têm dúvida de que ainda demoraremos a perceber que é melhor viver do que recordar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Vagamundo


Vaga vagarosamente divagando, revirando o vácuo, vivendo o vazio, envelhecendo devagar e levando a vida em vão

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Legítima defesa

O advogado alegou legítima defesa; E o juiz absolveu o comandante e mais 11 réus de todas as acusações: homicídio, agressão e uso abusivo de força.
Mais um caso de legítima defesa, em defesa da ordem social.


sábado, 12 de setembro de 2015

Sabia assobiar


Cabisbaixos, ambos, ele e o canário. Ele sentou-se na varanda, abaixo da gaiola, e começou a assobiar, lenta e tristemente.
O canário, que até então nunca havia sequer piado, respondeu com um canto rápido e alegre. Ele então sorriu, como nunca havia sorrido.
Não se sabe até hoje quem ensinou quem.