(continuação do capitulo anterior)
Abel virou-se, e franziu o sobrolho, e vendo Natália naquela posição e naquele sítio, sabia perfeitamente o que vinha a seguir, pois foram várias vezes que ambos tinha estado naquele cenário, e em todas elas tinham acabado em tórridos minutos de sexo selvagem, mas num casal de apaixonados, isso não tinha muita importância. Afinal, por amor, fazem-se coisas loucas, e desculpa-se por tudo isso.
Ele acaba de urinar, põe a tampa no lugar, puxa o autoclismo, e senta-se lentamente na sanita, abrindo ligeiramente as pernas, numa posição de aparente descontração. Quando se senta, olha para ela e os seus belos olhos azuis, o cabelo pintado de ruivo e coloca o seu melhor sorriso de malandra. Passa a sua lingua pelos lábios, num sinal de que estava ali para atacar, e colocou as suas mãos nas coxas. Juntou o polegar com o indicador no tecido da saia, e lentamente subiu-a, no sentido de aumentar a libido de Abel. À medida que fazia o seu gesto, o sorriso torna-se mais aberto, até que se visse a vagina dela, qual Santo Graal do orgasmo, à vista, com o tatuado coração em chamas, no lugar onde, noutras mulheres, estariam os pêlos púbicos. Pelo menos ali não haveria pelinhos a incomodar, no futuro, quando a lingua dele efectuasse os cunnilingus que faria nela...
Depois de apreciar o espectáculo, ela aproximou-se, pé ante pé, para os braços do seu ex-amado, agora prestes a voltar a sê-lo, pelo menos nessa noite. Sentou-se em cima dele, aproximou-se e beijaram-se, apaixonada e longamente. Depois de a beijar na boca, começou a beijá-la no queixo, e depois no pescoço, fazendo com que ela comecasse a soltar timidamente um gemido de prazer. Logo a seguir, disse, baixinho:
- Quiero que chupes mis tetas, sussurou.
Logo a seguir, puxa a alça do vestido para baixo, até à cintura, para que ele pudesse ver os seios, que estavam ligeiramente acima do nivel dos seus olhos. Os mamilos eram castanhos claros, perfeitamente redondos, grandes, com os bicos ligeiramente saidos. Ele não se fez rogado, e começou a lambê-los lentamente com a lingua, ao mesmo tempo que ela punha as suas mãos na cabeça dele, encostando a cara no seu peito. Mas este primeiro momento de êxtase teria vida curta. No instante a seguir, uma série de batidas repetidas na porta, qual código morse para S.O.S, os fez regressar à realidade. Embaraçada, Natália põe a alça para cima e a saia para baixo, enquanto que Abel gritava:
- Ocupado! Quem é?
- Vai demorar muito? respondeu do outro lado uma voz feminina em portunhol.
- Um pouco. Porquê?
- Tou aflitinha e tengo ai mi bolsa. Puedo entrar, por favor?
- Só um minuto!
Olharam-se e viram que estavam numa situação, no minimo embaraçante. Como sair daquele imbróglio? Olhando para o panorama geral, não tinham muito por onde esconder: sanita, bidé, lavatório, uma pequena cómoda, e uma banheira com um poliban opaco do peito para baixo. Também se podia esconder por detrás da porta, mas não seria muito boa politica...
Não hesitaram um instante: o poliban. Natália foi para lá, abriu a porta, e ficou de cócoras, esperando para que ela fizesse o que tinha de fazer e ir embora. Depois ela sairia dali e voltaria à festa como nada tivesse acontecido. Dito e feito. Tudo demorou menos de um minuto. Ele puxou a água para disfarçar o barulho, abriu a porta e viu-se de caras com a argentina Fernanda. Agradecida, disse:
- Gracias, gracias. Casi fazia por las piernas abajo, afirmou num sotaque espanhol ligeiramente cantado, típico de Buenos Aires.
Ele saiu dali e rumou lentamente em direcção aos convivas. Olhou logo para Marco, que estava momentâneamente sozinho, na cozinha, a tirar mais umas cervejas do frigorífico. Viu-o o e cumprimentou-o:
- Hei! Obrigado por teres vindo à festa. Queres uma jola?
- Sim, obrigado. Mas esta é a última, pois vou a conduzir.
- Ah pois. Não quremos uma multinha vinda da RGE (Regimento Geral das Estradas, a divisão de Trânsito da Real Guarda de Policia), pois não?
- Pois não. E depois cobrava-se os 125 euros da multa...
- Hehe...
Depois de beber um gole de cerveja gelada, Abel diz a Marco:
- Porque é que a convidaste?
- Quem?
- A Natália?
- Não fui eu, foi o Javi.
- O Javi? Mas ele nunca ligaram muito um ao outro...
- A Fernanda, a argentina, é a namorada do Javi.
- Ah é?
- Tirou Psicologia e está em Madrid a exercer, ou a fazer uma coisa qualquer académica.
- Olha que da maneira como veste e pinta, tem tudo para não ser.
- Ah viste? Também eu. Não se atirou a ti?
- Não. E não desvies a conversa. Tu sabias que eu tive dificulades em superar o fim da relação, não sabias?
- Mas ouve, meu... não me culpes por a ter convidado. Tu sabes que eu e a Luisa somos amigos deles, do Javi e da Natália. Sabia das dificuldades dele, e convidei-o. Só no inicio da semana é que ambos soubemos da Natália. Sabias que ela vai voltar para cá?
- Como? perguntou um surpreendido Abel.
- É. O ano passado foi para a TVE, no canal de noticias que eles têm, como repórter, e agora parece que em Setembro vai ser a correspondente deles em Coburgo.
- Neste quadradinho? Mas isto não tem nada a declarar... pelo menos deixei de ver noticias, de tão desinteressantes que eram.
- Não tenho a certeza, mas ela disse isso à Luisa. Fala com ela ou fala com a Natália, que deve saber a razão pelo qual decidiu isso. Eu só sei da missa pela metade.
- Eu falo com ela. Que horas são?
- Quase meia-noite, disse, olhando para o relógio de pulso.
- É hora de continuar a noite noutro lado... afirmou, antes de dar outro gole na cerveja.
Entretanto, na casa de banho, Natália olhava de dentro da banheira, quase de cócoras e praticamente sem respirar, aquilo que Fernanda fazia lá dentro. Pensava que era só para buscar a bolsa e dar uma mijadinha, mas a coisa iria demorar. Especialmente quando a seguir entrou um homem na casa de banho, discretamente, para não atrair atenções. Espreitou e reparou que não era Javier, mas sim um rapaz que não o conhecia de lado nenhum, pois não era nem o Marco, nem os amigos do Marco. Provavelmente, um colega de trabalho. Quando os viu, Fernanda estava à volta da sua carteira, de costas para ele. Ele disse "psiu", e ela virou-se e esboçou um sorriso. Chegou-se ao pé dele, mais alto e mais forte do que ela, e pôs a mão dentro das calças, disposto a tirar o que estava dentro dele e fazer-lhe a "massagem bucal". Quando soube o que iriam fazer, fez um esgar zangado, pois não tinha consigo o telemóvel, para poder fazer uma chamada a alguém na festa, para o poder tirar dali. E mesmo que o tivesse, já não teria o numero de telemóvel do Abel. Mas também estava zangada por eles estarem a gozar aquilo no qual tinha sido impedida de fazer momentos antes.
Quase por milagre, bateram-lhe à porta. Fernanda estava nesse momento a lamber o sexo do seu calmeirão, quando fora interrompida. O toque repetiu-se, desta vez mais insistentemente.
- Quien és?
- Vai demorar? respondeu a voz do outro lado. Natália reconheceu-a logo. Era a de Abel.
- Un poquito.
- Despacha-se que estou aflito para cagar, respondeu. Ao ouvir aquilo, Natália teve que conter o riso.
- Para qué?
- Não interessa, abre-me a porta! ordenou Abel, em tom de ameaça.
Fernanda e o calmeirão ajeitaram-se, ela pegou na carteira e saiu dali. Abriu a porta, e pela segunda vez em pouco tempo, os seus olhares cruzaram-se. Ela esboçou um sorriso e rumou dali, sendo surpreendido pelo calmeirão que vinha atrás. Apesar de ser alto, não tinha cara de ser o Javier...
Entrou e fechou a porta. Encostado a ela, chamou por Natália, para saber se ainda estava lá.
- Psst, ainda estás aí?
O ruido da porta a correr indicava que sim, e a saída um pouco atabalhoada mostrava o ponto em que ela já estava farta de estar ali. Abel deu-lhe a mão e disse:
- Vamonos salir daqui. Esta Fernanda es muy puta.
- Pois... reparei no calmeirão. Conheces-a?
- No. Solo Olivia e o Javi.
- O Marco disse-me que era a namorada do Javi.
- Pois, isso sabia eu. Só no sabia que ella eres infidel.
- Se calhar é só aparência, não?
- Bueno, no sei.
- Anda, vamos sair daqui, disse Abel. Tens sitio para dormir?
- En principio ficava aqui, pero podemos ir para tu casa, afirmou.
- Sabes o que isso quer dizer, não sabes?
- Ora, dices que so somos amigos, respondeu Natália, com um ar um pouco trocista.
- Vamos a ver quem é que engole essa... respondeu com um suspiro.
Sairam da casa de banho para a sala de estar. Alguns dos convidados já tinham ido embora, mas o "núcleo duro" ficava: Marco, Luisa, Gilberto, Alvaro, Rita, Javi, uma divertida Olivia e a misteriosa Fernanda. Natália aproximou-se de Javi e segredou-lhe algo ao ouvido, que o fez sorrir. Depois ela disse:
- O Abel fez-me o favor de convidar a dormir em casa dele, que tem un quarto a más, afirmou, causando sorrisos malandros na assistência. Pero no és nada que piensam! É só em nome da nossa amizade, referiu, não fazendo desaparecer os sorrisos, que agora tinham virado gritinhos da assistência, principalmente dos amigos de Abel:
- Ainda bem que já não vivo ao pé de ti. Já andava farto de meter algodão nos ouvidos! gritou Alvaro.
- Pois é, tenho pena dos vizinhos, afirmou Gilberto.
- Acho que Coburgo inteira vai ouvir os vossos gemidos, disse Marco.
- Amigos da Onça! É tudo amizade, garantiu Abel.
- É... uma amizade dessas com as mãos no lombo, também eu! gozou de novo Gilberto.
- Tens preservativos? Posso-te dar um, queres? continuou Alvaro, com um exemplar na mão. A namorada tirou-o da mão e guardou no seu bolso, garantindo que seria usado mais tarde paras as brincadeiras deles.
Os dois despediram-se de toda a gente, os conhecidos com um aperto de mão, os amigos com um forte abraço e umas palmadas nas costas. Quanto a Marco e Luisa, ambos os abraçaram, mostrando agradecimento por terem estado na festa. Quando Luisa abraçou Natália, esta segredou-lhe no ouvido "Gracias por todo", e sairam ambos pela porta, ele com o saco dela numa das mãos.
Quando a porta do elevador abriu, e eles entraram, ambos se abraçaram fortemente. Quase se podia ver lágrimas nos olhos de ambos, parecendo estarem felizes por reatar algo que tinha sido interrompido anos antes. Tirando arrufos aqui e ali, Abel não tinha tido um relacionamento estável como aquele, enquanto que Natália tinha tido nos últimos dois anos, uma relação com um jovem advogado de uma firma famosa em Madrid. Tudo indicava que as coisas iam dar em casamento, isso sabia ele da última vez que falaram, três semanas antes. Mas porque é que se tinham separado abruptamente?
Ele gostaria que respondesse a essa pergunta, mas por agora, estava feliz por a ver de volta, e a ter nos seus braços. A partir dali, iria aproveitar o momento para o resto da noite, e logo se veria. Ambos mantiveram-se abraçados até que o momento em que elevador tocou o rés-do-chão.
(continua amanhã)