Reflexão de um porquinho de barro
És do barro
e aos cacos voltarás
Levaram
algum tempo dando-me de comer
Pequenas
moedinhas
Foram
enchendo-me de pequenos centavos
Algumas cédulas
de valor
Por um
buraquinho nas minhas costas
Quando
estava obeso do vil metal
Num certo
dia me despedaçaram
Com uma
martelada certeira
E cruel no
meio da minha coluna
Vertebral
Espatifaram
minhas costas
E fiquei
aos pedaços espalhados
Pelo chão
Juntaram os
cobres com cuidado
Contaram o
dinheiro
E meus
cacos fora para o latão
Do lixo
Feito um
bicho qualquer
Um mal-me-quer
despetalado
Por uma
desesperada paixão
Destino
idêntico foi meu amigo leitão
Feito de
carne e banha
Foram dando
de comer milho
E ração
Num lugar
apertado
Para não se
movimentar
Muito amido
sal dissolvido
Para ele
engordar
Certo dia
Houve a
matança do porco
Uma
martelada na testa
Sangria no
pescoço
Dependurado
Esquartejaram
o bichinho
Separaram o
toucinho do osso
O pernil do
soro gorduroso
E os restos
salgaram
Com sal
grosso
O filé
virou empanado
As vísceras
foram defumadas
Até o rabo
as orelhas
Os pés
Cozeram
numa feijoada
Pra serem
devorados com laranja farofa
E couve
flambada
As tripinhas
tira-gosto
Para comer
com caipirinha
O contra
filé foi assado
A pele
virou crocante torresmo
Para se
comer com chope e uca
A outra
parte fizera à pururuca
Este é o
destino reservado
Ao suíno
Tantos os
nascidos do barro
Como a
quimera do reino
Monera.
Luiz Alfredo - poeta