terça-feira, 22 de abril de 2008
História Reticente - Cap. VI
Stella ficou assustada. Não poderia imaginar que mais alguém, além dela, já tivesse acordado, naquela hora da madrugada. Então olhou para trás. E percebeu que Joaquim sequer havia ido dormir. Seu terno estava amassado, desalinhado. Seus cabelos estavam atrapalhados. Seus olhos, vermelhos. Cansados e maravilhados. Um sorriso deliciava-se em lábios pretensiosos. Stella sentiu o rosto esquentar com aquele olhar ambicioso sobre seu corpo. Estava apenas com a camisola. Lembrou-se e cobriu o corpo com as pequenas mãos. Em vão. Abaixou a cabeça. Correu em direção à escadaria que dava para os aposentos da casa. Mas Joaquim foi mais rápido. Pegou-a pela cintura fina. Suas mãos eram realmente grandes. E fortes. Decidido, puxou-a para si. Stella fechou os olhos. Não gritou. Não reagiu. Apenas deixou-se aprisionar por aqueles braços pesados. Sentiu a respiração ofegante de Joaquim em seus cabelos. Seu hálito estava forte. Estava bêbado. Então, abriu os olhos, de repente. Como se estivesse voltando de um transe. E empurrou-o. Soltou-se e correu. Pode ouvir sua risada infame. Conseguiu chegar ao quarto. Trancou a porta. E sentou-se no chão frio. Ele não a seguiu. E ela não sabia o que sentir. Foi invadida por sentimentos adversos. Primeiro medo, depois aversão. Raiva. “Como pode me agarrar assim? Pensa que sou como as mulheres da vida, que está acostumado a lidar todas as noites?” Depois sentiu prazer. Desde que vira Joaquim na estação, gostara daquele sorriso. Foi o sorriso mais lindo que já vira. E agora experimentara suas mãos. Seu olhar inquietante. E gostara daquilo, meu Deus. Então foi tomada por um desapontamento. Não podia querer Joaquim. Ele não era o seu noivo. Não seria ele o seu marido. E mesmo que fosse, como poderia aceitar um homem que não lhe teve respeito. Stella colocou a cabeça entre os joelhos e apertou as mãos. Mais do que nunca, queria estar com sua mãe, longe daquele lugar. Queria outra vida, outra história. Praguejou seu destino. E depois de alguns longos minutos, levantou-se, determinada. Trocou-se rapidamente. Sentou-se na penteadeira. Penteou os longos cabelos. Prendeu-os em um coque delicado. Apertou as bochechas. Ensaiou um sorriso. E abriu a porta. Desceu as escadas e foi direto para a cozinha. Mas Joaquim não estava mais lá. Ficou aliviada. E levemente decepcionada. Viu uma rosa vermelha sobre a mesa, junto ao chapéu do rapaz. Recém colhida. Era para ela. Sabia que era. Só não soube se era um pedido de desculpas ou mais um atrevimento por parte de Joaquim. Sentiu seu cheiro fresco. E foi para o jardim.
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