Mostrando postagens com marcador Cultura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cultura. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 20 de junho de 2011

19h40 no Rio de Janeiro

Eu sou economista. Ou melhor dizendo, sou um soon-to-be economista – estou nas minhas semanais finais de faculdade. Eu gosto da minha faculdade, eu gosto do meu trabalho. Eu gosto de estudar Economia - é bem menos matemático do que as pessoas pensam e é uma faculdade que obriga você a pensar sob perspectivas diferentes (se você teve a chance de estudar na faculdade que ensina Economia e não Finanças). Eu gosto do meu trabalho – acho interessante a adrenalina que os negócios desperta, o exercício de ter que ser mais sucinto (algo que eu necessito bastante... e que definitivamente não sou nesse blog. :D).

Mas alguns dias parece que eu sou tomado por um sentimento de apatia. Não que eu esteja triste ou insatisfeito com algum aspecto da minha vida. É só um sentimento de 'boredom' com a previsibilidade do mundo ao meu redor. Algo momentâneo, algo que tende a acontecer muito especificamente em segundas e terças-feiras. Você olha para as pessoas ao redor, as conversas e atitudes parecem previsíveis e funcionais demais. Independe do lugar: pode acontecer num deslumbrante dia de outono no Rio de Janeiro, um domingo de verão em Hamburgo ou uma quinta-feira em Paris de férias. São dias em que o meu indomável humor me permite somente fazer o estritamente necessário: compromissos, tarefas do trabalho, estar presencialmente numa aula da faculdade. Estritamente o necessário, porque todas aquelas coisas necessárias e rotineiras que deveríamos fazer no tempo 'livre' se tornam mortalmente entediantes. E eu sei que eu não adianta sentar e 'pelo menos tentar'. Eu preciso de algum estímulo externo, de algum momento em que a minha atenção esteja totalmente focada em algo que me faça parar de pensar no 'o que eu deveria fazer' e me 'transporte' para algum outro lugar.

São nesses dias em que eu vou ao cinema.

Hoje, após sair do trabalho (e depois de cumprir a minha nobre parte enquanto membro do sistema capitalista de produção :D), comprei meu Doritos e minha Fanta Uva (gastronomicamente abominável, gastronomicamente delicioso :D), fui ao Espaço Unibanco e comprei meu ticket para 'Meia Noite em Paris'. Sentei numa cadeira entre dois casais, um tanto quanto ridículo no meu terno e na minha cara de entediado e esperei as luzes se apagarem. E simplesmente viajei.

O filme começa com uma 'cruel' combinação de jazz com cenas de Paris que conseguiram derrubar a minha apatia no primeiro instante. Não sei se foi o jazz ou Paris, mas a combinação dois dois conseguiu derrubar ridículas e incontroláveis lágrimas dos meus olhos. De novo, não por uma tristeza específica. Mas só pela beleza sensível que os filmes do Woody Allen tem a característica de começar. Talvez pela lembrança de estar naqueles locais que agora já me são familiares, de lembrar de mim incrivelmente triste na primeira vez, incrivelmente feliz na segunda e terceira. De pensar na pessoa que me espera lá, de como eu inconscientemente sinto mais falta dela do que conscientemente percebo e de como relacionamentos a distância são incrivelmente cruéis, mas incrivelmente fantásticos quando acontece de você estar junto da pessoa, mesmo que seja por alguns dias.

Uma das minhas maiores implicâncias com atores de Hollywood seguramente é com o Mr. Owen Wilson – o acho canastrão, piegas, o estereótipo do ator americano sem muito conteúdo dramático e profundidade. Precisou de Woody Allen para que ele (Wilson) conseguisse me transmitir alguma empatia com algum personagem que ele interpretasse. A história do escritor americano fascinado por Paris cercado de práticos americanos que logo se tornarão sua família é muito mais cativante do que uma resenha de jornal/blog pode transmitir. Woody Allen conseguiu capturar uma nuance de Paris incrivelmente específica, incrivelmente tênue e que infelizmente demora algum tempo para que se possa captar. Paris é uma cidade dolorosamente nostálgica (em oposição a Londres, onde tudo parece estar se transformando em algo excitante, algo mais moderno, algo mais cool). Tudo parece remeter a uma época, um estilo de vida, um Zeitgeist que não existe mais. Tentando explicar em termos mais práticos, a sensação é a de estar entrando em um salão de festas onde aconteceu uma festa notoriamente fantástica, mas na qual você não esteve. As pessoas, sorriem, as pessoas fumam, as pessoas conversam, enquanto você, turista solitário com tendências melancólicas que toda viagem sozinho sempre acaba despertando, inevitavelmente se pergunta como seria se você conhecesse aquelas pessoas, se você estivesse naquele lugar, se você tivesse estado ali naquele instante. Ao seu redor, a horda de turistas japoneses e americanos, tirando desesperadamente fotos e correndo de um ponto turístico para o outro. E você se achando um louco por não estar fazendo exatamente a mesma coisa, com tantos lugares 'que você tem que conhecer!' naquela cidade – mas o número infinito de páginas de possibilidades do guia desestimulam cada neurônio do seu cérebro, e você decide ficar andando e andando por aquelas ruas invariavelmente bonitas.

A mensagem do filme pode ser mesmo que tendemos irracionalmente mesmo a achar que seríamos mais incrivelmente em algum outro momento: da história, das nossas vidas (se elas tivessem seguido um rumo diferente). Na minha opinião? De que todo mundo precisa de um pouco de ficção, de um pouco de surrealidade para mudar a perspectiva do presente, do racional, do agora. (Ah, Adrien Brody de Salvador Dali, com o seu perfeitamente enorme e fantástico nariz que me fazem esquecer qualquer vontade que eu teria de um dia de mexer no meu...).

E eu saí do cinema, caminhei para o ponto de ônibus na Praia de Botafogo, olhando para a vista fantástica que essa cidade sempre acaba proporcionando. Com o meu olhar ajustado, com o meu humor ajustado, com jazz ressoando na minha cabeça. E pensando em como um bom filme sempre acaba colocando qualquer mente inquieta de volta ao lugar, reequilibrando as doses necessárias de nostalgia, poesia e de ficção que precisamos tanto para levar nossas sérias vidas a frente. No Rio de Janeiro. Ou em Paris.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Elegance is about the way you cross your legs, not the label or the newest clothes from the latest collection

Raríssimas as vezes eu postei aqui um artigo ou entrevista na íntegra (aka. 'nome elegante e jornalisticamente sofisticado para o processo de ctrl v + ctrl c'). Mais raro ainda (ou inédito no blog?) um post sobre moda, um assunto que sinceramente me interessa bem mais do que eu deixo expressar pelos meus textos aqui no blog.

Mas algumas matérias necessitam ser divulgadas, necessitam ser espalhadas, necessitam ser lidas. Por que então eu acho que a entrevista de Carine Roitfeld para a Spiegel Online International merece isso?

#1: C'est Carine Roitfeld, chérie: Como?! Não sabe quem é ela? (Primeira reação choque + Pensamento 'Em que planeta você mora, dear? Planet Girls?!', Segunda reação: Respira fundo, ajeita a camisa social e vai) Sabe o 'Diabo veste Prada'? Sabe Miranda Priestly (meu sonho é virar um chefe e despachar os meus subalternos+estagiários com um seco 'That's all."), o papel da Meryl Streep? Então, ele foi inspirado em Anna Wintour, a toda-poderosa editora-chefe da Vogue Norte-Americana - uma excelente profissional, com um poder absurdo na mão, que catapultou as vendas da Vogue America para a estratosfera, bla bla bla. Mas que vamos combinar: ainda é a Vogue America - onde que americano é um povo conhecido pelo estilo de se vestir?! (Afinal, EUA é o país disso, disso e disso.) Carine Roitfeld é simplesmente a equivalente de Anna Wintour na Vogue Paris, petit. P-A-R-I-S. Primeiro, ocupou o cargo da principal revista de jornalismo de moda na capital de moda mundial (Paris, dã?!). Segundo, ela conseguiu catapultar as vendas da Vogue francesas em um momento de recessão das grandes editoras e ao mesmo tempo estabelecer a Vogue francesa como a publicação internacional quando se trata de inovação e originalidade em termos de jornalismo de moda. (Impossível comparar a o climinha "Quem Acontece meets Bloomingdale's" da Vogue America com os absurdos promovidos por Mme. Roitfeld na Vogue Paris.). Terceiro, ela é inteligente, ousada, fala merda e literalmente rocks. (Preciso realmente afirmar o quanto eu acho ela foda?). E quarto: assez.

#2: Sentir a essência do que é a moda da perspectiva de uma francesa: Primeiro que 'moda' é uma palavra que não faz sentido para um francês - eles preferem definitivamente usar o conceito de 'estilo'. Segundo, c'est bien: você pode argumentar que franceses não curtem um banho (falando francamente, até hoje eu ainda não encontrei um francês fedidinho - agora, meu querido, dá uma passada no trem ramal Japeri no horário de rush do final da tarde...), que já viu vários turistas de France absurdamente mal-vestidos dando pinta por Ipanema/Copacabana e até que Christian Audigier é francês. (Agora eu fico feliz se você não sabe quem é Christian Audigier: ele é o Cocô Chanel do creyçon fashion style no Primeiro Mundo, sua marca Ed Hardy é absolutamente idolatrada por todas as celebs Z-List Europa e EUA afora e suas roupas tem o maravilhoso pode de te deixar instantaneamente tão elegante quanto um integrante de gang de rua de subúrbio de San Diego. Resumindo: na hora em que chegar a primeira camisa no Brasil, será sucesso de vendas instantâneo.) Mas é inegável que a 'moda' é uma característica fundamental da cultura francesa. E indispensável da cultura urbana parisiense - eu não diria exatamente que os parisienses são os mais bem-vestidos (dentre as cidades que eu conheci na Europa, esse título segue fácil para Estocolmo - os escandinavos em geral tem um senso estético muito apurado para tudo o que envolve 'design', mas os suecos facilmente são os que mais aplicam isso em termos de 'estilo de se vestir': não é somente um 'usar roupas caras', mas um senso de saber escolher, saber combinar itens a primeira vista comuns e construir com o conjunto um visual essencialmente moderno e trendsetter), mas existe algo no jeito de vestir do parisiense em geral que atrai o olhar de qualquer um que visita a cidade. É um estilo clássico, simples, focado em peças básicas com acessórios de impacto, que quase sempre resulta num estilo que poderia ser classificado como 'casual sofisticado'. Descrevendo assim parece algo 'uniforme', eu sei, mas andando por Paris é incrível como você consegue ver isso em estilos/tribos tão absurdamente diversos, do bohemian ao gótico. Tudo relacionado à um equilíbrio: not too much (italiano demais) a ponto de transmitir informação demais sobre você, not way too less (americano por essência) a ponto de o que você vestir não passar impressão/imagem/idéia nenhuma sobre quem você é. Resumindo o paragráfo gigante que eu acabei de escrever: de forma geral, o francês tem uma noção de que moda é uma das formas mais efetivas de passar uma mensagem pessoal para o mundo - e eles pensam sobre isso.

#3: Para relembrar que jornalismo de qualidade consegue transformar um tema que tão facilmente desbanca para a futilidade tipo 'o-novo-preto-da-estação-é-o-oncinha'/'oh-como-somos-fúteis!' em algo realmente intelectualmente interessante de ser lido: Sendo muito sincero, desconheço qualquer meio de comunicação escrito no Brasil que teria a capacidade/coragem de fazer uma pergunta como 'Can anyone who has spent 20 years in the fashion industry still be normal?' e acho que temos que reconhecer: mídia escrita de grande circulação, no Brasil, com qualidade para ser lida deixou de exisitr há muito tempo. Depois que a Folha passou a 'Crise Árabe' inteira ridiculamente traduzindo textos das grandes agências internacionais de notícias e destacou um time de jornalistas/escritores para discutir o BBB, acho que ficou mais do que sublinhado o fim da Folha como um jornal efetivamente com conteúdo. Em fúcsia. E itálico.

#4 Deswegen habe ich fucking Deutsch gelernt: Dois anos indo estudar alemão no CLAC (toda segunda e quarta, as 7h30!) na ilha do Fundão (@For-não-cariocas: Uma ilha longe longe, muito longe, muito muito longe, praticamente com microclima próprio, impossível de se chegar nos horários de rush, onde ficam a maior parte dos cursos ds UFRJ) + 5 anos de Goethe Institut (#1: Para dar uma dimensão da coisa, quando eu comecei a estudar no Goethe a moeda alemã ainda era o marco; #2 Cinco anos aturando os alunos insuportáveis de Germanística, que ficavam competindo quem decorava a declinação de mais prepsições; #3 O curso inteiro dura 10 anos. D-E-Z-A-N-O-S. Deprimente pensar que em 10 anos quem aprendeu inglês consegue praticamente escrever uma tese de doutorado - quem aprendeu espanhol, uma tese de doutorado em estudos comparados da antropologia do século XVII - e quem aprendeu alemão... consegue falar bem alemão.) + 1 ano de Alemanha (Onde primeiro eu me deprimi ao perceber que 7 anos de alemão me ensinaram a basicamente gaguejar em alemão, depois comecei a decifrar razoavelmente o que a maioria das pessoas falavam - já participou de uma reunião de duas horas onde você tinha que escrever uma ata e basicamente conseguiu entender somente o "Bom dia, estamos aqui..."? Eu já. No meu primeiro dia do estágio novo. - e ao final eu conseguia... me comunicar em alemão... mas tinha finalmente entendido que Hitler não ganhou a Guerra porque alguma força superior existe e não deixou o alemão se tornar a língua franca mundial que falar aquela Scheiße de idioma fluentemente somente nascendo na Alemanha.) = Determinado conhecimento do idioma alemão. Por que? Eu também não sei explicar. Mas, sendo muito sincero, ter acesso à imprensa alemã justifica muito desse esforço: a qualidade e a profundidade das matérias dos semanários alemães é impressionante. São páginas e mais páginas (a Spiegel média quase sempre fica pelas 400 páginas) de matérias que vão a fundo em temas relevantes, colunas com especialistas que realmente entendem do tema dando opinões fundamentadas (alemão adora um "Argumentos a favor" e "Argumentos contra" para qualquer assunto) e entrevistas onde os jornalistas não se intimidam nem por um segundo em fazer as perguntas desconfortáveis que todo mundo quer saber as respostas. Obviamente também existe publicação no estilo 'Meia-Hora' na Alemanha (Bild, for sure) e o que todos os elogios escritos acima são para a chamada tríade-de-ouro da mídia impressa alemã (Die Zeit, Der Spiegel e Frankfurter Allgemeine - os dois primeiros publicados em Hamburgo :D). Mas mesmo entre os equivalentes nos outros países europeus (com a exceção do excelente The Guardian - onde eu li e fiquei sabendo dessa matéria através da coluna de Life & Style chamada Fashion Statement), os jornais alemães são insuperáveis. Assim como os automóveis. E a obsessão por pontualidade e eficiência. :D

E agora, chega de introdução e voilá a entrevista com Mme. Roitfeld (muita emoção, muita emoção):

SPIEGEL: Ms. Roitfeld, you were editor in chief of the French edition of Vogue, the fashion and lifestyle magazine, for 10 years. Before that, you worked for 10 years at Gucci alongside then-creative director Tom Ford. Can anyone who has spent 20 years in the fashion industry still be normal?

Carine Roitfeld: My only drug is a small glass of vodka in the evening, if that's what you're asking. But I was fortunate because -- in addition to the very special world of fashion -- I also had a family, which is something probably rare in this business. I have also been married to the same man, the father of my two children, for more than 30 years. And that has helped me remain relatively normal.

SPIEGEL: For a former Vogue editor in chief, you also look remarkably normal.

Roitfeld: That's part of my newfound freedom. I always wore a tight skirt at Vogue; it was like a uniform.

SPIEGEL: Can you tell us what you're wearing today?

Roitfeld: A no-name T-shirt from Los Angeles, corduroy jeans by Current Elliot and satin shoes I had custom-made in violet. So the glamour's limited to my feet.

SPIEGEL: Does this world of vanity, in which fortunes are spent on trivial things, corrupt people?

Roitfeld: The fashion industry certainly has its obscene sides. The cost of a coat can be obscene. So can the cost of a photo shoot if you're working with a really good photographer. But when I see how good the photos have turned out or even how well the coat was made or how many people worked on it, it's not quite so obscene anymore. Of course, it's not like we're working in a hospital; we don't save lives every month. We just make decisions about skirt lengths, about an inch more or an inch less. That's all.

SPIEGEL: Did that ever seem pointless to you?

Roitfeld: For 10 years, it was a hell of a lot of fun. But, toward the end, it unfortunately got less and less fun. You used to be able to be more playful, but now it's all about money, results and big business. The prêt-à-porter shows have become terribly serious. The atmosphere isn't as electric as it once was, and they now have about as much charm as a medical conference. But it takes just one good fashion show to get things exciting again.

SPIEGEL: If fashion can tell us anything about the age it's created in, what do you think current fashions tell us?

Roitfeld: Today's fashions don't let people dream as much as they used to. Twenty years ago, fashion was a promise -- something that was part of your life and perhaps enriched it, something that reflected a particular era. If you look at advertisements these days, all you see are handbags. They aren't about dreams anymore; customers are buying objects now, not dreams.

SPIEGEL: Is that why you left Vogue in January?

Roitfeld: Ten years is a long time -- and especially 10 years in a gilded cage. They were wonderful years; but, sooner or later, birds want their freedom again.

SPIEGEL: Your French publisher said the time for being provocative and trashy was over.

Roitfeld: I'd put it this way: Fashion needs glamour, provocation and broken taboos.

SPIEGEL: Was it your decision to go?

Roitfeld: Absolutely. And at the perfect moment. The French edition of Vogue had never been more successful, had never had more readers or advertisers. And it had never made as much money. For 10 years, my American publisher, Jonathan Newhouse, let me do what I wanted, even when he thought it might be crazy. But it couldn't have gone on for much longer.

SPIEGEL: Is this the end of era?

Roitfeld: Creativity needs space and a willingness to take risks, but businessmen don't like risk. What's more, designers are coming under more and more pressure. Today, a dress can't just please the women in Paris; it also has to please those in Beijing, Tokyo, Moscow and New York.

SPIEGEL: Is globalization making fashion more boring?

Roitfeld: At the very least, it's leading to a lot of compromise. But globalization is only one factor. Today's designers no longer have to create two collections a year; they have to create four: spring, summer, fall and winter. And some fashion houses also add haute couture twice a year. Who can possibly manage all that? Good designers are artists; they're fragile people.

SPIEGEL: Two of the biggest stars in the Paris fashion world, Britons Alexander McQueen and John Galliano, both left this stage in a very dramatic way. McQueen committed suicide a year ago. And Galliano, the Dior designer, made his exit a few weeks ago after publicly professing his love for Adolf Hitler.

Roitfeld: McQueen's artistic creations always had a very dark side, but his death still came as a shock. After all, it's not like he was alone. He had a big team surrounding him, but it unfortunately wasn't able to protect him.

SPIEGEL: And Galliano?

Roitfeld: I had no idea how unhappy John Galliano must have been. You have to be very unhappy and lonely to praise Hitler in public while completely drunk. The House of Dior has always addressed a range of topics, for example, by having haute couture shows on homelessness where all the models look like people living on the street. But drunkenly shouting "I love Hitler" and calling people in a bar a "dirty Jew-face" is unacceptable. I don't think he really believes what he said; they were simply the actions of a drunk.

SPIEGEL: Are drugs an everyday part of life in the fashion industry?

Roitfeld: No more and no less than they are in other artistic circles. Yves Saint Laurent was the first person to openly admit to being a drug addict. Since I never touched drugs myself, I find it hard to tell whether people are taking them. But, of course, some people do. The industry has become faster and faster. People are constantly fighting jet lag and working through the night.

SPIEGEL: Now that Galliano and McQueen are gone, is German designer Karl Lagerfeld the only one left?

Roitfeld: Yes. Good old Karl. Superhuman Lagerfeld. I don't think he experiences this pressure in the same way. That's why he can put up with it.

SPIEGEL: And no one else can?

Roitfeld: He's not the only one. There's also Nicolas Ghesquière at Balenciaga, Riccardo Tisci at Givenchy, Miuccia Prada and, of course, Tom Ford. And then there are the up-and-coming talents. But they still need time. In a way, we've already seen everything. What else could they hope to invent?

SPIEGEL: And, in any case, copies of their designs soon turn up in Zara and H&M shops.

Roitfeld: Yes. At fashion shows, bloggers sit in the front rows and transmit new looks around the globe. It's all become terribly rapid. You're sitting in Paris, and people in Beijing already know what's going on. It's pretty crazy. But designers are probably really flattered that their looks are being copied.

SPIEGEL: But don't you think that this copying is still a problem?

Roitfeld: I don't see it that way. Fashion stopped being a matter of money a long time ago; it's a matter of taste. These days, even women with less money can dress well. I was always saddened by the idea that elegance was only something for a minority. It's about style. Karl was the first one to understand that. It was very smart of him to design this H&M collection, and very smart of Chanel to allow him to do so.

SPIEGEL: Today, it's mostly wealthy Russian and Chinese women who are buying expensive fashions. People working at many boutiques in Berlin speak Russian.

Roitfeld: That's right. This obsession with particular designers is somewhat strange. I think it's the safest way for these customers to find their feet when they first discover the world of fashion. You can't learn how to be elegant; you can only learn how to avoid mistakes. The rest is instinct. Elegance is about the way you cross your legs, not the label or the newest clothes from the latest collection.

SPIEGEL: Now you're undermining all the sales arguments your own industry makes.

Roitfeld: It's often the case that what a women reads makes her more attractive and more elegant than what she wears.

SPIEGEL: Do French women read more than German women?

Roitfeld: From a very early age, French women learn not to exaggerate. Yves Saint Laurent once said that the purpose of clothes is to make women more beautiful but that a coat must never attract more attention than the woman wearing it.

SPIEGEL: In France, you have a reputation for being the woman who invented "porn chic." Your photos were criticized because they showed young Lolita-type girls, pregnant women smoking and smooching seniors.

Roitfeld: Yes, of course. Fashion has to be given free rein and only a small number of restrictions. I never used any photos that my children shouldn't see; that was my benchmark. The little girls wearing makeup were never naked; it said "No Smoking" under the pregnant woman; and why shouldn't old people kiss? You must be allowed to play. Anything else is terribly boring. I've also painted white models black and later red, which (the French anti-racist NGO) SOS Racisme complained about.

SPIEGEL: Did you find that silly?

Roitfeld: It's absurd to accuse me of being racist. I dedicated an entire issue of Vogue to the black model Liya Kebede. I'm always looking for connections to real life. I once had a series of photos about fur; but, in these politically correct times, you can't even go out on the street in New York or London without getting a pie thrown in your face. The photos showed extras holding up posters of animal rights activists. It was meant to be ironic, but unfortunately not everyone got it. Why can't we wear the animals we also eat, such as sheep and rabbits?

SPIEGEL: You're 56 years old. How difficult is it for a woman to age in the fashion industry?

Roitfeld: Well, during photo shoots, you come across these beautiful 16- or 18-year-old women who have perfect bodies and not a single wrinkle -- but their pictures are retouched. Under these conditions, when you look in the mirror, you have to be happy with yourself, remain young at heart and keep that rock 'n' roll attitude. Otherwise, you won't be able to deal with it.

SPIEGEL: What will you do with your new life?

Roitfeld: I have numerous projects in the works: a book with Karl Lagerfeld, another about my own work, an ad campaign for Chanel and some consulting work for Barneys, the designer fashion store in New York. Who knows? Perhaps I'll become a muse for designers again.

SPIEGEL: So you won't take the place of your former colleague Anna Wintour at the head of the American edition of Vogue?

Roitfeld: That was never seriously under discussion. I like to provoke. I'm very French. In America, they're not even allowed to show a hint of nipple in photos. Anna Wintour is the most powerful woman in the global fashion industry, the first lady of fashion. She's a politician; I'm a stylist. They are two very different jobs. Incidentally, despite all the rumors, she is actually very nice.

SPIEGEL: Do you have any fashion principles?

Roitfeld: I don't change my handbag every season. I believe in the Yves Saint Laurent woman who either has her hands in the pockets of her pantsuit or is holding her lover's hand. She doesn't need a bag.

SPIEGEL: You also always wear high heels.

Roitfeld: Yes, they give you power. You move differently, sit differently and even speak differently.

SPIEGEL: So you never wear flat-soled shoes? Not even when going for a walk?

Roitfeld: I don't go for a walk very often. I wear flat-soled shoes on vacation, but I also travel in high heels, which is why I'm regularly stopped by customs officials at the airport. Wearing high heels in an airplane is suspicious. Nobody else does that.

SPIEGEL: Do you have any fashion tips for us?

Roitfeld: If you don't want to make any mistakes, buy black clothes. That's always good. And from age 50 on, you can slowly start adding a little beige. That's softer. Every five years, you should take a critical look at your own wardrobe and, if necessary, eventually swap your bikini for a one-piece swimsuit.

SPIEGEL: And, if necessary, eventually stop going swimming altogether?

Roitfeld: There comes a time in your life when you even have to consider that. You should always be one of the best, whatever your age group. That may mean staying away from the beach.

SPIEGEL: Ms. Roitfeld, we thank you for this interview.

Interview conducted by Claudia Voigt and Britta Sandberg

Fonte: Spiegel Online International > Zeitgeist

sábado, 9 de outubro de 2010

A Europa vista a partir da....

Nessa era de paz mundial, todos os países se amando, "Eu amo o mundo, eu sou um cidadão global!" o discurso oficial (válido em todos os países do mundo, menos na França, onde eles abertamente pensam que o resto do mundo se encontra num patamar inferior ao deles - e os que estão economicamente acima se vestem e comem mal, portanto são irrelevantes) é de paz e amor global, de que as nações se amam, blablabla.

Mas nada como um pouquinho de álcool e criatividade para o nacionalismo emergir realmente e apimentar as coisas, néam? :)

O estúdio londrino de design gráfico Alfagraphic fez um mapa estilizado da União Européia para o jornal alemão Süddeutsche Zeitung em Junho de 2009, em meio a crise energética do continente, negociações tensas sobre o gás com os russos e tudo mais. O mapa original (o primeiro dessa série) ficou tão bom, mas tão bom que o pessoal do escritório resolveu fazer uma série mais extensa, com a visão do continente sob a perspectiva de alguns países europeus. O resultado? Confiram aí abaixo:

A União Européia vista pelos próprios europeus
(Destaque para Mar Báltico = Meh Sea, Golfo de Bótnia = Gulf of Abba)

A Europa vista pelos americanos

A Europa vista pelos britânicos

A Europa vista pelos franceses
(Destaque para: Bélgica = Semi-France, Suíça = Semi-France, Hungria = Sarko's Land)

A Europa vista pelos alemães
(Destaque para: Ilhas Baleares = Balearic Germany + Ajudinha para os não familiarizados com o deutsch: Sparkasse = Caixa de Poupança, Proletariat = Proletariado, Schokolade = Chocolate, Schinitzelreich = Reino do Porco empanado, prato típico austríaco que na Alemanha eles acham que veio de Viena e nós de Milão, Eiffelreich = Reino de Eiffel, Schnaps = Álcool extraído de batata e semelhantes).

A Europa vista pelos italianos
(Destaque para: Croácia = Dalmatia, Bulgária = Babysitters, Romênia = Thieves)

A Itália vista pelos italianos
Acabou? Claro que não! No site da para ver as interessantes "A Europa vista..." pelos russos, búlgaros e poloneses. Aliás, ainda tem duas que acho que vale super a pena mostrar. Quais?

A Europa vista pelos gays
(Destaque para: Barcelona = Dancelona, Paris = Mall, Londres = XXL, Berlin = Pobre mas sexy)

E... a América do Sul vista pelos americanos(!)
P.S.- Se alguém der uma gargalhada nível 5 ao ver isso, diz aí, porque é ou não é hilário?! (Ou realmente eu sou tão nerd assim?) :D

domingo, 1 de agosto de 2010

Sobre a difícil arte de blogar (e comentar)


Teoricamente blogar é algo muito fácil. Escolhe-se um site de preferência (os que prezam pela praticidade e facilidade escolhem o Blogger, os que preferem a liberdade e conseguem entender como funciona aquela merda escolhem o Wordpress). Cria-se uma conta. Decide-se por um template (agora tem umas opções mega estilosas que não existiam quando eu resolvi criar o meu blog! E agora? E o medo de migrar para algo cool mas sem a essência Lost und Found de ser?!). Nomeia-se o blog (a hora mais complicada: quando você precisa ser criativo, mas sem ser babaca nem copiar algo que já existe. Mas claro, algo que represente você. Ou seja, um processo difícil pra caralho.). Clica-se em „Nova Postagem”. Dá-se um novo título ao que você quer escrever. Escreve-se o que vem a sua cabeça e voilá: você é um blogueiro.

No mundo real, claro que as coisas não tão fáceis assim. Entre escrever o que você pensa e clicar no “Postar” existe uma decisão de compartilhar as suas ideias com o mundo. De entender que aquilo que você escreveu vale a pena ser lido. De checar se aquilo foi algo que outras pessoas pensaram também. De saber se é relevante. E isso envolve ter uma coragem do caralho. E um certo grau de egocentrismo: todo blogueiro gosta de saber que é lido, que é apreciado, de que colocou em palavras o que pessoas não conseguiram colocar antes.

Mas para acontecer essa interação entre autor e leitor, precisa existir o botão “Comentar”. Li uma vez em um blog francês de uma adolescente mega antenada em moda uma discussão sobre o tema: depois de alguns posts gongativos e meio stalkers (contando detalhes da vida dela e de pessoas do seu grupo de amigos), ela resolveu acabar com a seção “Comentários” por acreditar que o blog é uma visão de mundo de uma pessoa, exposta para que outras possam acompanhar e tirar suas próprias conclusões. E que esse processo então prescinde dos comentários.

Eu discordo. Quem quer escrever e não escutar comentários e ideias e correr riscos escreve para si mesmo, num diário, guardado a sete chaves. Se for muito corajoso, organiza em textos e envia para uma editora, que se ele for tão brilhante mesmo, vai publicar. E ele não vai ler nenhuma crítica de jornal, nenhuma resenha, nada. E tapa os ouvidos para qualquer um que venha falando “Eu li o seu texto...”. Agir dessa forma tem suas vantagens, é claro (a ignorância pode ser uma benção, claro). Mas eu pessoalmente acho um tanto quanto... solitário agir assim.

Mas aceitar que comentários cheguem também tem sua dose de risco. O risco de ser desafiado. De chegar alguém e dizer que discorda do que você pensou, e questionar o seu escrito de uma forma que te atinja lá, bem no seu calcanhar de Aquiles. De alguma forma, provar para você que você está errado, ou de que o seu pensamento pode não ser o único válido. E aí as coisas complicam...

Todo blogueiro tem a sua lista de comentários ácidos, do tipo mais difícil de engolir. Daqueles que você passa algum tempo pensando em como responder, mostra para um amigo mais chegado e pergunta “Como respondo esse FDP?”. Estou excluindo dessa lista os puramente gongativos, afinal, gongar sem conteúdo é pura mediocridade auxiliada pela possibilidade de assinar como anônimo. Estou falando dos comentários que questionam o que você escreveu, o que você pensa. De que te fazem pensar por pelo menos 5 minutos, nem que sejam para te deixar puto. E fazer você escrever um outro post em resposta e esse comentário.

Todo mundo que acompanha o meu blog sabe mais ou menos como eu penso. Sabe da minha verve crítica, dos meus comentários irônicos com relação a tudo e a todos. Não sou assim o tempo todo, nem é esporte: é só mesmo o espaço que eu uso para me expressar assim. E falar o que eu penso. Compartilhar a minha visão de mundo. Trocar ideias, e chegar a uma conclusão diferente no final.

Por isso que eu acho que vale a pena blogar. E deixar o botão “Comentários” aí, ativo, funcionando. Para conseguir ter interação com os meus leitores críticos. Para que se alguém discorde do que eu escrevo, que essa discordância chegue até mim. E que isso me incomode, me deixe puto, sim. Mas que me faça pensar. E que me faça rever meus conceitos, ou só melhor fundamentar os meus conceitos preexistentes.

Porque só assim vou extrair alguma vantagem real de blogar.

A de ser um pouco menos ignorante. E aprender um pouco mais com os outros. Seja blogando. Seja comentando. Seja comentando e percebendo que o mundo pode não ser muito bem da forma como você pensa.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Definitivamente 1994 feelings

Vocês já sabem, eu roubei daqui
Como assim o Calatrava vai construir um museu no Pier Mauá?! Como assim a Prefeitura do Rio tem dinheiro para bancar um arquiteto do porte dele para desenhar uma obra desse porte?! E como assim que eu não sabia que o meu arquiteto preferido tava no Rio, e vai desenhar algo para a minha cidade?!

Olha, eu sei, museu pra quê com o bilhão de problemas na cidade, sistema de transporte praticamente do lado de um completo meltdown... mas Santiago Calatrava não dá pra resistir. Desperta a minha Marie Antoinette interior. Que os favelados continuem comendo "chat brûlée". A gente vai ter um prédio desenhado pelo Calatrava! :D

P.S.- Raros os momentos que vocês me virão declarando tais pérolas sociais, ok? Portanto, peguem leve. Eu também tenho direito a minha cota de alienação social de vez em quando.
P.S.2- Eu sou tão apaixonado pelo Calatrava que eu juro que dava em cima dele. Até que ele é gatinho, vocês não acham? E inteligente...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Monocle: Hype é ser inteligente + Pergunta

No mundo moderno, definitivamente o que alguém não pode ser é mono. Tem que entender de tudo, saber falar de tudo, ter uma opinião sobre tudo. Eu, pessoalmente, acho isso o máximo: quanto menos rótulos tipo "Economistas gostam de números, Advogados não podem usar moicano", melhor! O desafio: saber encontrar o ponto certo para não ir do "charmosamente cool" para o "pretensiosamente hype". E para quem quer encontrar o seu ponto nessa escala (e quer ir muito além da futilidade com roupagem hype-posh de GQ's ou Men's Vogue's da vida) que a revista Monocle parece ter sido feita feita: Política, Negócios, Cultura, Design. Tudo numa roupagem altamente interessante, extremamente inteligente (primeira revista que eu vi que vale o preço que tem: parece um livro de tão grossa que é), além do cool factor que chegar a dar ódio (a loja virtual do site é praticamente um templo daquelas coisas que racionalmente não precisamos, mas que deixariam o nosso dia-a-dia infinitamente mais cool e cheio de design :D). As deprês: #1 Nunca vi vendendo em lugar nenhum pelo Brasil; #2 Se na Europa ela já custava por volta de uns 10€ (preço consideralmente acima de outras revistas), me deprime pensar na fortuna que ela será precificada, seguindo a  nossa muy irracional lógica de preços para produtos importados (WHY?!). O site? Na brand new lista de sites interessantes, aí do lado. ;)

Perguntinha-nada-a-ver #1: Pensando em criar um tag para discutir alguns assuntos econômicos aqui no blog, mas morrendo de medo de que os leitores habituais achem que isso se tornou o site do Valor Econômico, saiam correndo para o Katylene e só role comment tipo "Tenho R$50 mil investidos numa casa em Araruama: deveria vender e comprar ações da Petrobrás?". Claro, nada muito sério demais, tudo comentado do meu ponto de vista, no meu style: nada de economês, muito glamour, brilho e frases sem fim. O que acham? Interessa? Opiniões, please.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Momento* "Wie bitte**?": Cultura e Imperialismo

*eu sei, eu ando mesmo num momento de muitos... “Momentos”. Mwah!
** Literalmente, em alemao “Como, por favor?”. Geralmente pronunciado com a mesma expressao que voce falaria “Que PORRA é essa?”.

(Kindly stolen from Made in Brazil)
Comentário "Muito Nerd": 
... No entanto, todas essas obras [sobre clássicos da literatura europeia que ele analisa no livro]  sustentam que a fonte de ação e da vida significativa no mundo encontra-se no Ocidente [no caso, o Ocidente desenvolvido], cujos representantes parecem estar a vontade para impor suas fantasias e filantropia num Terceiro Mundo retardado mental. Nessa visão, as regiões distantes do mundo não possuem vida, história ou culturas dignas de menção, nenhuma independência ou identidade dignas de representação sem o Ocidente.”
Trecho do livro “Cultura e Imperalismo” de Edward W. Said, Editora Companhia das Letras (1995)

Comentário "Um pouco menos nerd":
Melhor definição de subdesenvolvimento, impossível: shopping "de público selecionado" contratando modelo internacional (e ignorando que somos O celeiro internacional de talentos nessa área) somente pelo fato que ela foi “in” em algum momento nas últimas décadas nos mercados CENTRAIS (queridón: Brasil não é mercado para consumo de luxo. Ponto Final. Ou vai me dizer que você realmente acreditou naquele papo de estilista internacional abrindo loja na Oscar Freire/Garcia D'Ávila para desovar colecao nao-vendida da Europa e EUA falando que somos um key market no mercado de luxo mundial? Tsc tsc tsc) e não percebendo que isso somente acentua a sua desagradável imagem de trying so hard.

Comentário "Totalmente Nao-Nerd": 
Não parece que ela tá vestindo uma Ceasar Salad?!

quinta-feira, 11 de março de 2010

Curtas: Fucking VIP me too!

(Gentilmente roubado, larapiado e chupinzinhado do Aqui só tem bafon)
A-M-E-I. Só que:


- Só SP? E Rio?!: Paulistanos, vocês tem SORTE: enquanto o conceito de ser VIP em SP consegue ser beeem flexível (empresário foda, arquiteto badalado, estilista/modelo de renome), no Rio ele pode se resumir a algo bem simples: fazer/ter feito algum trabalho ligado a Globo. QUALQUER TRABALHO. Um inferno: é um tal de ator B que fez participação no especial de Natal da Xuxa de 1997 entrando na frente da fila, amigo de BBB querendo entrar em boate com um entourage mínimo de 10 pessoas - já ouvi até ator se vendendo como a mais nova promessa do diretor/autor de novelas X para conseguir não pagar comanda. Qualquer acesso ao mundinho da Hollywood brasileira super vale. Mas atenção: tem que ser Globo. Ex-global na Record por mais de 2, 3 anos?`Grandes chances de te perguntarem porque você não tem feito mais novelas (enquanto você está no ar na novela do horário nobre da Record).

Sistema brasileiro x Sistema Norte-Europeu: Difícil saber qual o sistema é melhor. Aqui, você se veste, parte para uma boate e se prepara para #1 pagar uma fortuna por qualquer ingresso a qualquer boate (meu maior choque foi perceber como sair no Brasil é CARO – algumas vezes mais caro do que na Alemanha) #2 mofar na fila, porque 257 VIP's (com os seus respectivos entourages) vão entrar na sua frente justamente quando você já estiver bem pertinho da entrada. Mas pelo menos você entra: na Europa você se veste, parte para a boate e não tem a mínima ideia se você vai entrar ou não. O door control é violento: tá com um cinto/brinco/relógio que destoa do que o door control acha deve ser o estilo da boate naquela noite? Não entra. Simples assim. Na Suécia era ainda mais cruel: vi empresário americano (de tenis, camisa social para fora e baggy jeans – CLARO) falando que era amigo de pessoa X, makes US$X.000.000 a year, implorando para entrar em um clube (no qual eu já estava dentro), enquanto a door olhava para o horizonte, só repetia “Sorry. We are crowded. e deixava passar outros suecos mais bem vestidos e de acordo com o que ela achava ser a boate naquela noite. A selecao VIP x Not VIP acontecia já dentro da boate: todo mundo tinha que passar pela mesma fila para entrar no lugar. Por um lado bom, por um lado ruim: lá, em tese, todo mundo igual em direitos de entrar no lugar, MAS nada me tira da cabeça que o povo nao-lourinho/nao-europeu seja barrado com mais frequencia nesses lugares. Aqui, entra quem pode pagar (e tem paciência para esperar na fila)... mas de alguma forma isso não seria fazer a mesmíssima coisa usando o fator preço (“Voce simplesmente não pode pagar! Vai pro 1140, vai pao-com-ovo!”)?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Curtas: Relativizando o BBB

Cheguei da Europa me prometendo que eu nao iria entrar nessa histeria nacional televisiva chamada Big Brother Brasil. Ledo engano: uma noite de terca, uma amiga viciada, um argumento "Po meu, sentaê! E só veRRR a eliminacao que a gente vai, caramba!" e voilá: me envolvi emocionalmente. Viciei. Merda. :( E quer saber: se fechei a Monocle e fui assistir essa merda, vambora comentar: Dourado? Ha? Oi? Ui!

Total apoio ao direito de livre expressao/opiniao da gay moderna: tem mesmo que pensar da forma de forma independente (e claro, crítica - tira o olho do abdomen do gato e analisa o resto, bee!). Mas: relavitizacao é o CARALHO!

Who is Dourado, what did Dourado? Sincerely, I don't give a fuck. Mais um BBB, menos um BBB: alguma diferenca? Reunioes da pauta do Ego e Saturday Parties do Wolf gritam YEEEES! Para o que eu "give a fuck" (ui!)? Nossa mania nacional de relativizar as coisas. Nao considerar o que as pessoas falam, expressam, comunicam, mas buscar... um significado positivo e inocente para tudo aquilo que foi dito, quando se gosta da pessoa. O famoso jeitinho adaptado para as relacoes interpessoais: fulano nao disse A, na verdade ele queria dizer B, coitadinho.

Pessoas escolhem comportamentos, afirmacoes e opinioes. Ambiente, educacao, histórico familiar influenciam? Sim, podem. Influenciar. Definir? Vai da vontade de cada um em buscar saber, e construir a sua própria verdade. Nao foi buscar? Nao vai levar de mim o beníficio da dúvida, darling.

Para terminar: Gente simples é agricultor de subsistencia do interior da Paraíba. Ignorante é faxineira com ensino fundamental incompleto ganhando sálario mínimo. E suástica como "símbolo utilizado por culturas orientais" só em templo indiano e aquarelinha pintada na Birmania. E sinceramente: Rocky wannabe meets CTG meets Mein Kampf querendo dar uma de tudo isso? NAO. Nao MESMO.

- Aliás, tema relacionado: amigo de um amigo alemao de passagem pelo Rio, levantando um assunto que me deixou bem grilado. Por que vários brasileiros abordam os alemaes com a saudacao do Kaiser ("Heil Hitler!") achando a coisa mais simpática do mundo? A reclamacao já chegou aos meus ouvidos de diversas fontes, todas acrescidas do "Isso só aconteceu comigo no Brasil.". A reacao dos alemaes? A pior possível: de desde o "Mas por que voces fazem isso?" ao "Isso é um assunto sério demais. Nao tem graca nenhuma.". Todas considerando a pessoa que fez a saudacao em questao um imbecil sem qualquer chance de virar amigo posteriormente (se o comedor-de-salsicha levar na boa, CORRAO: o psicopata-canibal-gay deve ter escapado e vir passar férias no Brasil!!!). Relativizar, levar em conta que a pessoa é ignorante, que provavelmente nao foi educada de forma correta nesse tema? Fick dich: sem chance quando o assunto em questao envolve 6 milhoes de judeus mortos, um continente inteiro destruído e um país com uma marca indelével de "culpado" por uma atrocidade dessas. Tem coisas que nao dá pra relavitizar: nazismo, intolerancia racial e homofobia sao algumas delas, Dourado. Aprende essa, lieber.

(Historinha, já contada num comentário num post do Chatonoar: estudante nigeriano do Erasmus resolveu dar uma de engracadinho e mandar um "Heil Hitler!" na principal rua de bares de Hamburgo. Dois policiais viram, e mesmo sendo rídiculo pensar que um africano negro poderia ser um neonazista, o resultado foi delegacia policial, noite dormida na cadeia e multa de 2500EUR, com registro na ficha criminal.  Agora, respondam: qual voces acham que é a possibilidade de a imigracao alema "relativizar" isso na hora em que o cara for tentar um visto para qualquer outra nacao do bloco da UE, hein?).

- E quer saber de uma coisa? Mein Arschloch para BBB e gente imbecil e chega desse assunto que Amaury Junior tá comecando. Tschüß!

Update: To FALANDO que Amaury Junior é PHODA! Com quem ele me abre o programa agora? Carmen Mayrink Veiga! AMO: Narebapower (todos unidos contra a rinoplastia, yeah!), cabelo juba-de-leao total anos 70, rios de dinheiros gastos em coisas absolutamente superflúas (o vestido que Yves Saint Laurent considerava sua obra-prima foi um que ele confeccionou para ela, TSÁ? H&M e Carmen Steffens: Mme Mayrink Veiga te despreza!), portrait pintado por Portinari (Estrella Photo Studio is sooo crediário e cheque especial), moooooitas viagens e o indefectível apartamento nababesco em Paris (apartamento em Paris é tao old money carioca que faliu e perdeu absolutamente TUDO, sobrando somente o apartamento no Atlantica-Rui Barbosa, a louça Limoges e o sobronome pomposo, néam?).

Atoooron! Tao social-marxista-politicamente anti-correta! Carmen Mayrink Veiga: eu te relativizo. ;)

P.S. - Diego: eu super discordo de voce. Mas eu te relativizo também. :D

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Back to Real Life, Still Alive

Ah, o cotiadiano caos da vida normal. Chegar de viagem, voltar para casa, e necessariamente enfrentar aqueles milhares pequeninos problemas que tomam tanto tempo. Onde colocar os casacões pesados de inverno, que se tornaram peças de museu nesse calor senegalês do Rio de Janeiro? O que fazer com os mapinhas, tickets de metro, folhetos e ingressos de museus que eu fui colecionando ao longo do tempo? Desfazer as malas: o trabalho mais desconfortável, chato e sacal que um viajante pode ter, principalmente quando se tem a incômoda impressão que a vida lá fora era tão mais excitante do que a vida aqui em "casa".

As férias do Lost und Found in Translation acabaram sendo não-planejadas, mas absolutamente necessárias. Mas agora que finalmente a minha vida adquiriu uma estrutura próxima de uma rotina (que será deliciosamente quebrada por esta loucura festiva chamada Carnaval), a regularidade dos posts volta ao normal, fiquem tranquilos. :D

Compromisso de brasileiro que morou na Alemanha. ;) (E cá entre nós: que está louco para voltar para lá!).

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

It's official: Banzo mode on

Existe um estudo do antropologista Kalervo Oberg, de por volta de 1960, que serviu de base para a elaboração da chamada "curva dos choques culturais". Mas o que seria a curva de choques culturais (adoro esse momento "auto-pergunta". Acho tao acadêmico-chato-mala :D)? Basicamente uma simplificação do sobe-e-desce de humores pelos quais passa uma pessoa quando mora em um país/cultura diferente por um período de médio ou longo prazo. 


(É queridoes, morar na Europa nao é só ficar pirigueteando de sobretudo e cachecol pelas ruas cobertas de neve, tomar um vanilla mocha chocolate crunchy venti no Starbucks dando pinta para os locais e cosméticos La Roche Posay por precinhos acessíveis nao... Foi muito difícil, táh! #draminhamodeon).

Basicamente again (amo "basicamente") a curva é a que os senhores acadêmicos podem encontrar aqui abaixo:
E as fases... sao muito fáceis de serem descritas por quem já morou fora. Quer ver só?
Fase 1 - Honeymoon (Lua-de-mel): Aquele momento que voce (brega, sem estilo, sem glamour, recém chegado do Third World) entra pela primeira vez na H&M. As portas se abrem. Seu queixo vai no chao, o rostinho quebra de lado. Brilhos, tachas, dourados, cintos com pele de cobra (tudo isso na secao masculina). Voce pega aquela calca skinny vermelho-sangue que praticamente grita "Eu sou viado SIIIM!" léeeeeeeenda mega-hype que voce viu no Sartorialist e olha o preco. A lágrima de emocao escorre pelo rosto, suas maos tremulam. SIM, voce enquanto estudante de intercambio fudido poderá ter glamour, ter estilo, ter brilho por um preco acessível! Adeus vida sem glamour; Salut estilo, charme, elegancia! Welcome to Europe. ;)

Fase 2 - Hostility (Hostilidade): O momento em que literalmente "Fudeu". A fase "voce rolando pela grama do Stadtpark, agarrado com as suas skinny jeans, Gola's e cachecóis gritando 'Obrigado G-zus, Abencoada seja Our Lady of Gaga!' " passou. A H&M se tornou... normal (táh, mentira: nunca se torna normal. Se voce é brasileiro eXperto, se lembra fácil de realidade que te espera no Brasil: C&A creiço fashion x Osklen cobrando uma fortuna por uma camisa proto-playsson-"Partiu Barô?"). As velhinhas alemas te xingam quando voce atravessa a rua no sinal vermelho - com nenhum carro a vista vindo dos dois lados. O Mac Escravo te dá um sermao (em voz alta) porque voce esqueceu de colocar a bandeja na prateleira de "Retorno", e o seu amigo alemao dá razao a ele, comentando que "latinos-americanos estao acostumados a terem pessoas fazendo tudo por eles" e "que as coisas nao sao assim na Alemanha" (me dava um ódio esse frase). Voce tá depre, liga para o seu amigo alemao pedindo para encontrar com ele e desabafar, ele vira e fala "Olha, agora eu to ocupado, mas eu tenho uma hora prum café daqui a duas semanas? Topa?". Nessa fase comeca a bater uma mágoa de cabocla fuderal, voce comeca a falar mal dos alemaes como se fosse a coisa mais normal do mundo (gente, detonei tanto a imagem dos alemaes Europa-wide... Tadinhos...) e tem horror de falar uma palavra sequer do idioma quando voce está fora do país (heehhe deixei tanto turista alemao se fuder em Portugal... hehehe).
Claro, e naquele dia que voce tá praticamente querendo se matar, voce vai receber aquela mensagem superfofa daquela amiga falando "E ai? Tá curtindo muito a Europa? Muita inveja! Aproveita muito, táh?". Ódio.

Fase 3 - At home: Um belo dia voce está em Londres e pensa "Ai, que desorganização!". Em Londres. Voce, do Rio de Janeiro. Logo depois, voce comeca a escutar alemao e ter certeza absoluta de que voce escutou portugues. Voce se frustra com cidades cujos os sistemas de onibus nao tem placares eletronicos mostrando em quantos minutos chega o próximo onibus (absurdo!), fica puto quando pessoas chegam 3 minutos atrasadas (como assim!) e comeca a beber cerveja a temperatura ambiente como se fosse a coisa mais natural do mundo (hmmm... lecker!). E pra terminar: uma hora, quando voce volta para a Alemanha de uma viagem, do nada comeca a surgir um sentimento completamente novo, um sentimento de "Ufa, cheguei em casa!".  Ai fudeu: voce se adaptou. E uma hora que voce se acostumou a vida boa...

Enfim, tudo isso para explicar que (afinal, Murphy nao é pai, é padrasto) depois de tuuuuudo isso, quando voce tá lá, quietinho, acostumado com a sua vidinha européia escura-friazinha-mas-legal-pra-caramba, bem na hora que voce tá bem feliz, chega a hora de voltar. E chuta só? Existe o choque cultural de reentrada (gentém, eu nao sei essas coisas de CDF que eu sou nao. Isso foi uma das únicas coisas que eu prestei atenção nas minhas aulas na Alemanha), que acontece quando voce volta para o seu país de origem depois de um tempo fora. Sao basicamente as mesmas fases, nos mesmos meses do choque cultural de entrada. Mas chuta só de novo: a amplitude da curva é maior, ou seja, o choque é ainda pior do que o se tem ao entrar em uma nova cultura. Olha só que legal!
----
E por isso o título do post de hoje: estava lá eu, quietinho, escutando música. Tenho covardemente evitado ficar muito no Facebook para nao falar com os meus amigos alemaes, tenho covardemente evitado abrir as fotos de Hamburgo, mexer nas coisas de Hamburgo, ver qualquer coisa que me lembrasse Hamburgo. Os amigos do Brasil... já encontrei quase todos, entao novidade mais nao é, Fernando já está no Brasil, isso é fato. A fase inicial do "Wow, Brasil!" já meio que passou: é calor mesmo, é desorganizado mesmo, é informal mesmo.

E aí a porra do iTunes shuffleia para Krieger des Lichts - Silbermond, uma música que eu escutei horrores na hora de voltar para o Brasil. E ai fudeu: welcome segunda fase do choque de reentrada. A fase onde voce olha ao redor e pensa "Que porra eu to fazendo aqui?", onde voce tem a incomoda sensacao de se sentir estrangeiro no seu próprio país. Aí veio a coragem de abrir as mensagens de amigos queridos que ficaram lá e saber que o lago Alster congelou e as pessoas estao caminhando e patinando em cima dele. Que as festas e jantares dos estudantes do Erasmus continuam, com todo mundo se encontrando e comentando como voce faz falta.

E voce, aqui, do outro lado do mundo, olhando ao redor e se perguntando "Que porra eu to fazendo aqui?.
Saudades de Hamburgo. Saudades da neve, da cerveja barata e quente, da H&M, da Hauptbahnhof (Estacao Central), de andar na Jungfernstieg sábado a tarde com os meus amigos portugueses. De escutar alemao. De sair sábado a noite com amigos para a Reeperbahn e me divertir sem me preocupar com seguranca, dinheiro, como vou chegar em casa, com nada. Saudades dos amigos.
Saudades de me sentir em casa - fora de casa. Talvez seja isso que aconteca quando voce viaja muito - o estranho se torne o familiar. E daí a dificuldade de se acostumar ao que é normal, conhecido, esperado. :/

Mas enfim (again)...Odeio terminar posts de bad mood. Nao fazia na Alemanha isso, nem farei no Rio. Procurei olhar ao redor e ver algo para me fazer sentir um pouco melhor e poder compartilhar. Só precisei olhar para a janela em frente. E perceber que tem horas... que morar no Rio é incomparável...
Things will get better! (E eu responderei os comentários, prometo!).

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Heute: Schweiz. Suisse. Svizzera. Morgen: Brasilien


Durante a maior parte em que eu mantive esse blog aqui na Europa, eu sempre pensei como seria o último post in Europa. Pensei em vários temas, várias formas de abordagem. Escrevi rascunhos, tirei fotografias... E quando a hora chega, que decepção: crise criativa. Branco completo. Nichts. Nao consigo pensar em nada para escrever.

Para ser sincero, eu nao consigo muito acreditar que a hora de voltar chegou. Sabe, do tipo negacao da verdade mesmo? Afinal, agora estou em Zurique, cercado da mais pura e clássica imagem invernal alpina. Acabei de voltar do parque perto de onde estou, onde brincamos de trenó de neve (e caí do trenó, claro), fiquei todo cheio de neve, tremi de frio com a neve fofa em contato com as minhas maos. Como posso acreditar que em 24 horas estarei desembarcando em Guarulhos, diretamente para o verao do hemisfério sul? E um pouco depois, Rio de Janeiro: praias, sol, mar. Nao consigo acreditar. Nao consigo acreditar mesmo.

E para ser sincero, a negação nao vem da falta de deixar o "mundo capitalista europeu". A gente aprende a viver sem as pecas maravilhosas e baratas de H&M, aprende a viajar sem a maravilhosa Ryanair oferecendo passagem para aquele destino dos sonhos (Veneza, Paris, Salzburgo) por alguns trocados de euro, aprende a cuidar da pele sem os maravilhosos cosméticos europeus por precos justos (au revoir, La Roche Posay... Agora é Natura, e olhe lá!).

O foda é mesmo deixar para trás tudo o que eu vivi aqui... Lembrancas: Ver o Big Ben às 2.30h no Shuttle Bus vindo de Stansted. As primeiras flores surgindo junto com os raios de sol que marcam o final do inverno. As festas incríveis com amigos pela Reeperbahn de Hamburgo. Sabores: Messmör (da Fjällbrynt, bien sur!) na Suécia. Currywurst na Hauptbahnhof de Hamburgo. Rivella a qualquer hora em Zurique. Lugares: Copenhague na primavera e as primeiras experiencias nao-alemas na Europa. Estocolmo no verao e a certeza que existe outros tipos de veroes que podem ser tao incríveis como o do Rio. Lisboa no outono e a felicidade de reencontrar um pouco de casa na Europa. E Hamburgo... Simplesmente Hamburgo: o ano inteiro. E os amigos. (É melhor nem comecar a citar nomes, porque lágrimas virao, e ai fudeu!). Amigos, todos aqueles para os quais em algum momento eu olhei para eles no fundo dos olhos e pensei "Eu tinha mesmo que vir de tao longe para conhecer essa pessoa!".

Agora chegou a hora de fechar as malas pela última vez e simplesmente embarcar. Voltar para o Brasil, voltar para a vida que eu deixei ai esperando por mim quando embarquei para a Europa. Voltar para a vida less glamorous (para nós brasileiros, néam: para os meus amigos europeus, eu estou praticamente voltando para o paraíso do verao eterno, sol, praia e mar...) e muito mais próxima da realidade de cada um de voces que leem esse blog. Agora os desafios serao de readaptacao ao meu país de origem, de reaprender tudo o que eu tive que desaprender para me integrar na Europa. As surpresas serao em redescobrir tudo aquilo que eu já conhecia, mas acabei esquecendo depois de tanta coisa nova que eu vivi nesses últimos 11 meses.

Como eu já tinha comentado, o blog continua. Ainda tem muita viagem que eu fiz aqui na Europa cujas lembrancas eu quero deixar por escrito (senao elas acabam se perdendo e se perdendo cada vez mais com o tempo). Ainda tem a fase de readaptacao no Brasil que eu acho que vai ser interessante registrar também por escrito, para entender melhor futuramente como toda essa loucura de ir morar fora se dá. E ainda tem as minhas impressoes de mundo que eu aprendi a deixar registrado por escrito, e a fazer isso tudo com prazer. Algumas pequenas mudancas virao, claro, para dar um "sentido" para o blog, mas no geral a essencia será mantida.

Afinal, de um lado ou de outro do Atlantico, Fernando continua tentando se encontrar. :)

Entao... até o Brasil! E obrigado por terem participado dessa viagem comigo. :D

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Post pilequinho

Warnung: Uma garrafa vazia de prosecco (vagabundo) italiano se encontra do meu lado, portanto, pode ser que amanhã eu perceba que esse post foi queima-filme demais, e o delete... Enfim, não estranhem o tom do post em si!

Acho que só quem morou no exterior durante um tempo sabe como são aqueles momentos em que bate um sentimento de deprê, de estar fora da sua cultura, longe de amigos que são o seu apoio... Chega um momento que você inevitavelmente se questiona "Será que realmente valeu a pena tudo isso?".

Hoje estava num dia dessas. Não consegui trabalhar direito no trabalho, e junto disso vieram os pensamentos sobre o FDP germânico, de como apesar de tudo o que ele fez sinto falta dele, e de como estar aqui é tão complicado e tão difícil algumas vezes... Enfim, tava me sentindo tristonho, uma merda hoje. Mesmo assim, me forcei a ir para o treino de volleybol com os estudantes alemães aqui da residência hoje. Aprendi aqui na Alemanha que nesses momentos o melhor que você tem a fazer é sair mesmo do seu quarto, se obrigar a fazer alguma coisa que exija interação, e colocar um sorriso falso no rosto.

Enfim, jogamos volleybol e um dos alemães - que eu conheço um pouco mais - me chamou para tomar um vinho mais tarde e jogar conversa fora com o grupo deles.

E sabe quando você entende que todas as merdas e perrengues pelos quais você passa são de alguma forma válidos, porque de alguma forma formam o teu carater, te introduzem a pessoas que te fazem enxergar o seu real valor?

Um dos alemães fofamente falou que ele se sente muito feliz de ter me conhecido, por toda a minha cabeça internacional, e pela minha vontade de me integrar e aprender sobre a cultura alemã. Sobre mesmo estando um pouco mais alegre (sou mega fraco para álcool) e cansado, eu continuar insistindo em falar alemão. Que isso mostrava como eu era um cara tolerante, aberto a coisas novas, e que ele achava isso fantástico em mim. E mais uma vez, que ele estava muito feliz de se tornado meu amigo...

Nessa hora o sentimento drama-latino veio, e eu não consegui segurar a lágrima. Lágrima que veio porque eu pensei que em Janeiro eu vou ter que dizer adeus para tantos amigos alemães que eu fiz aqui. Amigos que esperam o sinal ficar verde mesmo que nenhum carro esteja vindo, amigos que acham que 2 minutos já representam um atraso inaceitável... amigos tão alemães, mas que de alguma forma eu conquistei, e me tornei parte da vida deles.... e eles da minha.

Achei que isso merecia ficar registrado num post, porque nesse blog eu meto tanto o pau nos alemães... e precisava registrar a capacidade desse povo, de com poucas palavras, falarem tanto e tocarem tanto o coração de uma pessoa. Afinal, quando alemão fala alguma coisa, eles realmente sentem aquilo, né? :)
Bom perceber que já valeu alguma coisa essa viagem: eu fiz amigos que eu certamente jamais irei esquecer e levarei pelo resto da minha vida. Mas agora, o que eu faço? Eu não quero dizer tchau para eles! E ao mesmo tempo, saudades tantas do amigos que ficam no Brasil...

Viajar realmente é deixar um pedaço do seu coração em cada lugar que você pisa... E ao mesmo tempo que ele se torna enorme, fica cada vez mais difícil montar ele todo... :(

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Warnung, Warnung: Wir speak kein Englisch!



Comercial do Berlitz para o mercado alemao para mostrar que, ao contrário do que se fala no Brasil ("que todo mundo na Alemanha fala ingles" - ha ha ha), os conterraneos de Frau Helga e Herr Hans nao sao lá muito versados no idioma shakespeariano nao...

É a chamada "Síndrome do País Grande Europeu": se fala um dos idiomas top 5 do continente europeu (alemao, frances, ingles, italiano e espanhol), certeza que vai falar ingles com um sotaque intelingível, vai ficar inconformado porque voce nao fala fluentemente o idioma dele (frances chato "Mas Fernando, falar alemao para que? Frances é muito melhor!" / Fernando not in a very friendly day "Melhor para que?! Para ler embalagem de perfume e desodorante? Voces nao usam mesmo...") e vai encher o saco falando que o idioma dele ainda tem alguma expressao internacional. E em viagem nesses países, pode ir esquecendo cinema e televisao se voce nao fala o idioma fluentemente - T-U-D-O dublado (e pasmem: nao existe tecla SAP nas TV's daqui! Viva Globo, viva NET!). Ou seja, tudo com aquele jeitinho de dramalhao mexicano (voces acreditam que um alemao teve a pachorra de me falar que "é porque muitas pessoas nao conseguem ler enquanto assistem o filme"? . HallOOO: Índice de Alfabetizacao em 99%?!!! PIB per capita de US$ 39.650?!!! Inglaterra a 45 minutos e 30€ de distancia daqui?!!!! Ah, vai tomar no cú!).

Enquanto isso, Escandinavos e Holandeses falam ingles melhor do que os próprios americanos (o que nao é nenhum grande desafio: sejamos sinceros, povinho mais without notion impossível...). Em qualquer um desses países, é voce tentar falar algo no idioma deles que eles automaticamente respondem "How may I help you?"- todo mundo, incluindo motorista de onibus, trocador e imigrante vendedor de cachorro-quente. Lindo demais (Como eu já falei, amo IDH elevado, me amarro numa deficiencia de melanina e adoro horários de onibus do tipo "13.57h).

P.S.- Post vinganca pelas 2403 vezes que eu escutei alguma expressao em espanhol na hora em que eu falei que era do Brasil - muitas vezes escutando ainda "Ah, mas espanhol é igual a portugues, nao é?". Ah, nao fode: Ok, espanhol é igual a portugues (e quem me vier com lista de "falsos cognatos" leva um Don Quijote de La Mancha na cabeca de volta!). Mas porra, pagava uma fortuna no Goethe para aprender esse merda de idioma suuuper popular e acessível (no ranking "países mais odiados do mundo", Alemanha tá lá no top 10 fácil. Também, quem manda iniciar e ainda perder duas guerras num século? Aprende com Itália, caramba: o case de marketing do século - "Como perder uma guerra, enviar judeus para Auschwitz, apoiar a Alemanha nazista e ainda sair de vítima no final da Guerra"), venho de um país de terceiro mundo, a criatura vem de um dos melhores sistemas de ensino do planeta e eu vou ter que ensinar geografia para europeu?! Mein Arschloch! Aliás: toda essa historinha de BRIC's fez com que todos os europeus por aqui nao acreditem que o Brasil é ainda um país de terceiro mundo (sério, eles me corrigem quando eu falo isso!). Em resposta, eu falo que somos "Third World - Business Class".

P.S.2- Para os que acham alemao um idioma "feio", "forte", "gutural demais": escutem dinamarques e holandes, e depois falem comigo. Alemao em comparacao com esses idiomas parece frances de tao leve e suave. Sabe aquele som daquela sua tia-avo, filial da CSN, 5 décadas fumando 850 Capri's por dia, quando limpa a garganta? Holandes. Sabe aquela onomatopéia igualzinha ao som de vomitar? Esse fonema é um dos mais usados em Dinamarques. (Dica: mesmo que voce fale alemao, melhor levar escrito o nome dos lugares quando voce for a Dinamarca ou Holanda. Ao contrário do alemao - onde o que vale é o que está escrito - em dinamarques e holandes o som é completamente diferente do que está escrito. Tive problemas sérios em Copenhague para me guiar, achar uma estacao ou dizer onde eu morava).

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

China na Feira do Livro de Frankfurt 2009

(Foto do site Zeit.de - © dpa)

Hoje comeca em Frankfurt a maior feira do mercado editorial mundial: a Frankfurter Buchmesse (Feira do Livro de Frankfurt). O evento é considerado a mais importante plataforma para autores e editoras, e todo ano um país é convidado para ser o destaque da Feira. Em 1994, nós brasileiros fomos os convidados e esse ano advinha quem foi? China.

O barraco está montado porque eu, voce e toda a populacao de Shanghai sabemos que publicar livros na China é basicamente um inferno. Obviamente, o governo chines investiu pesado na comitiva que irá representar o país em Frankfurt, e levou somente o que considerou interessante para a manutencao da imagem da China como um país "moderno". O que eles nao contavam era com o espírito de Schwein de algumas editoras alemas (que "atóoram" uma censura e repressao política - a metade oriental do país nem viveu isso até a década de 90), que seguindo o tema China, resolveram levar publicacoes consideradas proibidas e indesejadas por Pequim. Sim, a Feira vai contar com a versao "oficial" da China (montada nos escritórios do PC de Pequim) e com a versao "uncensored" contada pelos dissidentes e todos nao-desejados pelo Governo Chines.

Comments:
1 - Por isso que tem horas que eu atóooro a Alemanha: eles sao chatos, organizados, meticulosos. Mas o pessoal daqui tem cojones para defender os seus príncipios, e querer bancar de moderno e desenvolvido para alemao enquanto mantem a populacao debaixo da censura nao rola mesmo. Toma Falun Gong agora, toma Pequim...

2- Nada contra chineses (xíe xíe pelos meus produtos H&M produzidos com mao-de-obra semi-escrava, Beijing!), mas sinceramente, nao compro essa histeria de "China, o país do novo milenio". Para mim é um país repressor, poluído, caminhando a passos largos para um baita desastre economico e ambiental. E cafona bacaraí (vamos combinar: porra, com tanto Norman Forster, Herzog & de Meuron e Zaha Hadid por aí, me constroem aquele erro que Pudong é? Se inspiraram no que para construir aquilo? Na cidade do Megamen?!!! Porra, quer brincar de Nova York pelo menos aprende com Dubai, caramba...).