Quando
ouvi tua voz pela primeira vez, uma explosão de silêncios me fez
entender que nunca mais eu seria a mesma pessoa. Teu rosto veio
depois, por detrás do tumulto das nuvens que anunciavam um temporal.
Não, não foste como a primeira paixão, platônica e ansiosa, foste
o pasmo essencial dos desesperados que correm no meio da tempestade
sem saber aonde ir.
Passei
anos de janela aberta para as estrelas, procurando as
constelações em que te escondias. A cada encontro, um véu caía, e
tua nova face refazia todos os percursos e me enredava num amor novo
que, eu sabia, era o mesmo, só que travestido de realidade. Da
realidade que revelava tuas imperfeições e te tirava do céu, mas
te trazia à terra e nos aproximava.
À espera de um eclipse, dormi muitas vezes em braços que não eram os teus. Depois os esquecia e deixava o tempo reacender teu cheiro até tua voz me chamar pelo nome, o nome de estrela que me deste antes de me perderes entre os rascunhos dos teus poemas.
Descobri, tantos anos depois dessas idas e vindas, que a matéria de que foi feito nosso amor não se desintegra. Repousa invisível, mas sempre desperta na carnação dos sentidos, mesmo quando, na atonia dos desesperados que correm na tempestade, não sabe exatamente aonde ir, mas vai. E sempre nos encontra à espera um do outro, como na primeira vez em que nos vimos. Como na primeira vez em que ouvi a tua voz e uma explosão de silêncios me ensurdeceu para o resto do mundo.
Aíla
Sampaio