9/05/2010

rede

siga pelas galerias, boca
que lhe devora, sede
contínua da esfinge
cocaicômana suportando o peso
da pureza
em suas narinas brancas enquanto
você olha de frente a crise
das metáforas, o rol
dos vilipêndios
, a carne
do ato e a carne do sentido, os lugares
que agora são
restos da sua melhor
parte, enquanto você
está prestes
a se perder
de vez seguindo aquelas galerias
de fibras subterrâneas, não
sob a pele, “se você quer
enlouquecer vou
lhe contar toda a verdade que está por baixo
da verdade que está por baixo”, ela disse
sem saber que sua cabeça já estava
a prêmio, rolando como um dado
sobre os lençóis, se contorcendo
em espasmos e murmurando
eu já sei,
eu já sei,
eu já sei

Um comentário:

Daniel F disse...

"cocainômana" é bom demais, ótima sonoridade. me lembrei do poema do Bandeira:

PIERRETTE
O relento hiperestesia
O ritmo tardo de meu sangue.
Sinto correr-me a espinha langue
Um calefrio de histeria...
Gemem ondinas nos repuxos
Das fontes. Faunos aparecem.
E salamandras desfalecem
Nas sarças, nos braços dos bruxos.
Corro à floresta: entre miríades
De vaga-lumes, junto aos troncos,
Gênios caprípedes e broncos
Estupram virgens hamadríades.
Ergo os olhos súplices: e vejo,
Ante as minhas pupilas tontas,
No sete-estrelo as sete pontas
De sete espadas de desejo.
O sexo obsidente alucina
A minha índole surpresa:
As imagens da natureza
São um delírio de morfina.
A minha carne complicada
Espreita, em voluptoso ardil,
Alguém que tenha a alma sutil,
Decadente, degenerada!
E a lua verte como uma âmbula
O filtro erótico que assombra...
Vem, meu Pierrot, ó minha sombra
Cocainômana e noctâmbula!...