Ontem comecei a ler este livro, lançado este ano, e continuei a lê-lo hoje de manhã, antes do jogo de futebol do meu filho. Já há uns anos que não lia um livro seu. Por coincidência, faz hoje 96 anos.
Este é escrito em coautoria, sendo uma até agora ótima súmula, também para as mais jovens gerações, das principais preocupações de sempre deste imprescindível intelectual público, como nos informa o sociólogo e fundador da Current Affairs, Nathan J. Robinson, no prefácio que escreveu sozinho: “Aprendi [lendo-o] a questionar a sabedoria convencional e a analisar forensicamente os documentos governamentais e a comunicação social dominante.”
Aprende-se sempre com os melhores, incluindo a tentar não perder de vista a referência à verdade, sobretudo quando se está cercado pela ofuscação ideológica e pela mentira pura e dura.
Um dos pontos que desde logo me chamou atenção é a forma clara como os autores indicam que a combinação entre “economia de esquerda e nacionalismo político” sempre esteve literalmente na mira da política externa dos EUA, da Guatemala ao Irão, da Indonésia ao Chile, de Arbenz a Allende.
A doutrina do Conselho de Segurança Nacional dos EUA era clara logo em 1954: “regimes nacionalistas mantidos através de apelos às massas” tinham de ser removidos, anulados. Para uma esquerda europeia predominantemente desmemoriada, europeizada e otanizada, não há lembrete mais importante nas presentes circunstâncias históricas.
Lembrai-vos do golpe de Estado financeiro na Grécia, em 2015. A vassala UE serve para manter a ordem por aqui. Na Roménia, num contexto político radicalmente diferente, uma eleição acaba de ser escandalosamente anulada por causa do tik-tok. Não era conveniente do ponto de vista geopolítico. Vale tudo, valerá tudo, quando acumularmos potência plebeia suficiente.
O mito do idealismo norte-americano, fabricado pelos aparelhos ideológicos dominantes, tem de ser constantemente denunciado. Na realidade, trata-se de um realismo tão mortífero como um sistema capitalista que se quer sem freios e contrapesos.
A realidade violenta do sistema imperialista e das suas fontes de poder, também internas ao capitalismo dos EUA, tem de ser criticamente interpretada na sua totalidade, do holocausto na Palestina à catástrofe ambiental, passando pelo cerco à China: o passado ainda não passou, afinal de contas.
Parabéns, Noam Chomsky: “Se você assume que não existe esperança, então você garante que não haverá esperança”.
3 comentários:
Autor contemporâneo incontornável na minha opinião. “Manufacturing consent” é fundamental para perceber os media. Obra mais recente, aconselho vivamente o “Consequences of capitalism”- uma súmula de aulas lecionadas na Universidade do Arizona.
“Hegemony or survival” foi para mim muito esclarecedor acerca da trajectória imperial dos EUA desde a 2a Guerra. Muito dos meus recentes receios com a sobrevivência decente da civilização Humana no curto prazo face a segunda eleição de Trump tem por base este último livro. As tremendisses que Trump tem proferido acerca da NATO são incompatíveis com um declínio ordenado de gerido do poder imperial americano.
Que o império americano está em declínio desde 1947-49 e agora óbvio. O problema é que lidamos pela primeira vez com o declínio e queda não só da maior potência hegemónica de sempre da história humana mas também com a maior capacidade destrutiva da história humana.
E fundamental promover a eutanásia da potência hegemónica e não uma queda súbita e desordenada.
Para si o mundo ou é preto ou é branco. O exemplo da Roménia é mau. Nos tempos q correm o imperativo é combatermos os imperialismos americano, russo e chinês. Se se deixa algum de fora acaba fatalmente por ser um aliado involuntário dos outros.
"Combater imperialismos" sem por em causa o sistema capitalista e Jardinagem ideologica.
No seio do sistema capitalista, o melhor que se arranja e um mundo multipolar.
Enviar um comentário