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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O bom e velho "pé atrás".

"Para se conhecer algo verdadeiramente, é preciso dar-lhe a volta inteira"... ensina Saramago, no documentário 'Janela da Alma'.

Ele não disse e nem precisava ter dito, ainda que quisesse, que essa idéia/conselho, serve mesmo só para as coisas. Não tente dar a volta inteira numa pessoa com a intenção de conhecê-la. Não tente a volta inteira, nem meia volta, nem de lado, de ponta cabeça, não tente virar do avesso! Não vire, revire, não aperte, não pressione.... Não importa quanto esforço faça. Não importa quanto saiba, não saiba ou pense que sabe, não adianta omitir-se, deixando que o avesso seja espontâneo. Não importa..... sempre, sempre, (sempre) haverá a possibilidade de encontrar uma passagem secreta, areia movediça, fundo falso, buraco negro no espaço do desconhecido do outro ou da própria expectativa!!!

Não pule de cabeça... qualquer das opções acima, pode ter metros e metros surpresa de queda livre no abismo.

E eu não falo de amor e nem poderia.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Para atravessar AGOSTO...

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos, de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzsche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos.

Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos - ou precauções - úteis a todos. O mais difícil: evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia, categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo zap!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antônio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún, ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à luz da lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informação para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo; evasão, escapismos. Assumidos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter demais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco.

Sugestões para Atravessar Agosto.
Caio Fernando Abreu.
(O Estado de São Paulo, 06/08/95).

domingo, 3 de agosto de 2008

.

"Se canto sou ave, se choro sou homem
se planto me basto, valho mais que dois
quando a água corre, a vida multiplica
o que ninguem explica é o que vem depois... "

Ney Matogrosso

terça-feira, 17 de junho de 2008

Alguém disse...

Nada se penetra, nem átomos, nem almas. Por isso nada possui nada. Desde a verdade até a um lenço tudo é impossuível. A propriedade não é um roubo: não é nada.

Lagoa da Posse
Livro do Desassossego - Bernardo Soares (Fernando Pessoa).

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vontade de Poesia!



De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica

A Idéia - Augusto dos Anjos.
Foto: Gregoria Correia.

sábado, 10 de maio de 2008

O amor só é bom se doer!?



O homem que diz "dou"

Não dá!
Porque quem dá mesmo
Não diz!
O homem que diz "vou"
Não vai!
Porque quando foi
Já não quis!
O homem que diz "sou"
Não é!
Porque quem é mesmo "é"
Não sou!
O homem que diz "dou"
Não dá!
Porque ninguém dá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor!
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...

[...]

Canto de Ossanha
Vinicius e Baden Powell

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sem José!

E agora?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora?
e agora?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora?

E agora?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio
e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
...e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha!
...para onde?

José (sem José) - Carlos Drummond de Andrade.

domingo, 27 de abril de 2008

PARA NÃO ESQUECER!

Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
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Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
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Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.

- Fernando Pessoa in O Livro do Desassossego, 324.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Quem nunca foi um chato trágico, levanta a mão!

A paixão nos engaja numa difícil experiência do infinito. Como se sabe, ela tende ao “fazer-um-com-o-outro”, à metade perdida do hermafrodita de Aristófanes, à continuidade de Georges Bataille. Mas esta unidade se revela impossível, pois o permanente tender a um, o movimento constante em sua direção, o élan insofreável ruma para o que, contudo, não cessa de furtar-se. A paixão nos dá assim da unidade o vislumbre, talvez mesmo a doce ilusão, mas nunca o descanso, a satisfação plena. É aí que os apaixonados descobrem-se submetidos a compulsórias compulsões. Surgem as figuras do infinito. Falar ao telefone com a pessoa por quem se está apaixonado e, ao desligar, não importa depois de quantas horas de conversa, querer imediatamente ligar de volta. Sofrer uma espécie de ansiedade sem conteúdo quando da ausência dela. Mesmo na presença dela sentir como que uma estranha falta – a falta do um -, que o sexo busca a todo custo preencher. Vem daí também a figura do “eu te amo”, incansavelmente repetida no discurso passional. É que “eu te amo” ultrapassa seu significado à pura vazão: “eu te amo”, repetido inúmeras vezes, é o modo de a linguagem tender ela também ao infinito, tendência por repetição, como se a compulsão pudesse finalmente franquear o um. Se “eu te amo” fosse da ordem da comunicação, os amantes ficariam entediados logo na segunda vez que se pronunciasse a expressão. Mas não: “eu te amo”, no contexto da paixão, não sofre redundância, antes, pelo contrário, é surpreendente a cada enésima repetição, pois traz em si o vislumbre do um, sua promessa.

Se a paixão, mesmo quando recíproca, é uma experiência estruturalmente difícil (embora maravilhosa, e para muitos compensadora, pois a intensidade erótica e afetiva vale cada segundo de ansiedade), quando não correspondida, torna-se, todos sabemos, insuportável. Mas não me refiro aos casos em que alguém se apaixona e o objeto da paixão não corresponde de forma nenhuma. Ou àqueles em que um dos dois apaixona-se inadvertidamente, e o outro, que até manifestava certo interesse, perde-o de todo, pois o sujeito apaixonado, com sua demanda infinita, sofre uma brusca desvalorização aos olhos do outro, não-apaixonado. Estas situações são claras e, embora dolorosas, diante delas não resta outra coisa senão desapaixonar-se. Situação diferente é aquela em que um dos dois apaixona-se enquanto o outro ama, deseja, porém com medida, sem se apaixonar. Experiência dificílima para o apaixonado, pois configura uma impossibilidade espacial: o infinito não se compatibiliza com o finito, por maior que seja este amor – com medida, sem apaixonar-se, não se engaja no infinito, com todos os seus sintomas. E quem está apaixonado, por sua vez, não pode demandar do outro, nada menos que infinito. De nada adianta que o outro telefone, que demonstre desejo, até mesmo amor. Diante do infinito, toda medida, mesmo grande – é nada. Trata-se de uma questão matemática: relativamente ao Universo, a distância entre a Terra e o Sol é nada.

Dessa impossibilidade contingencial (a impossibilidade estrutural da paixão é o tender ao um impossível) decorre um acontecimento terrível. O apaixonado torna-se um chato, como se sabe, mais de uma espécie muito particular de chatos. Quem é familiarizado com os personagens de Dostoievski já se deu conta de que muitos deles têm esse traço exasperante: agem errado, sabem que estão agindo errado, e mesmo assim agem errado infinitamente, até a humilhação. Basta ler, por exemplo, Notas do Subterrâneo. Aí se encontra o que se pode chamar de uma chatice trágica. Sim, pois o que redime, da perspectiva do próprio chato, a chatice... é a ignorância de sua condição. Mas os chatos dostoievskianos são trágicos precisamente porque lúcidos. Sabem que estão agindo errado, que estão se afundando, mas mergulham no erro infinitamente. Chatice e lucidez é trágico, pois sofre-se duplamente: pelas conseqüências dos atos e pela nítida percepção, antecipadora, que se tem delas. É claro que os personagens de Dostoievski, agem assim porque são... passionais. Quando a paixão é recíproca, o fato de os dois amantes estarem engajados no infinito elimina em ambos o risco da chatice trágica, já que os dois desejam a demanda infinita um do outro; mas basta que o infinito tenha que medir-se com o finito, que a desmedida tenha que conviver com a medida, para que um desequilíbrio fundamental se instale e, com ele, o papel de personagem de Dostoievski que, inapelavelmente, o apaixonado tem que vivenciar.

O que podem fazer estes apaixonados que se vêem subitamente presos nas páginas de um romance russo? Procurar dar-se, talvez, alguma medida? Mobilizar a vontade contra o desejo? Empresa árdua, uma vez que se trata de uma guerra desigual – quase uma covardia -, e também porque não se abre mão da desmesura assim tão facilmente, já que nela o que está em jogo é o vislumbre do um, a promessa. Como no samba-canção de Caymmi: “não tem solução”. Mas passa. Tudo passa. E até mesmo, trágico maior, a própria vida: como diria o poeta, “de resto, sério/só o cemitério”.


Os chatos trágicos - Francisco Bosco in Banalogias.

terça-feira, 11 de março de 2008

Necessária "Solistência"...



Eu estou só.
O gato está só.
As árvores estão sós.
Mas não o só da solidão: o só solistência.

G. Rosa.

terça-feira, 4 de março de 2008

Viva a Ironia... Estrelando: O Casamento!


Casamento é bom, mas acho que é levar o amor um pouco longe demais. - Texas Guinan.


Minha primeira mulher era muito infantil quando nos casamos. Um dia, eu estava tomando banho na banheira e ela afundou todos os meus barquinhos sem o menor motivo. - Woody Allen.


[Explicando por que nunca se casou:]
Não consigo me acasalar em cativeiro. - Gloria Steinem.


Entrei para os Casados Anônimos. Quando me dá vontade de casar, eles me mandam uma mulher de roupão e rolinhos no cabelo, para me queimar a torrada. - Dick Martin.


Por que uma mulher dá duro durante dez anos para mudar os hábitos do seu marido e depois se queixa de que ele não é mais o homem com quem ela se casou? - Barbra Streisand.


[Desculpando-se com sua mãe, Judy Garland, por não poder comparecer a um dos seus casamentos:]
Desculpe, mamãe. Irei no próximo. - Liza Minnelli.


............


Ruy Castro in Mau Humor - Uma Antologia Definitiva de Frases Venenosas.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

......



“É preciso ter força pra rir, relaxar e ser leve, a tragédia é ridícula.”



Frida Kahlo

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

tarde demais, babe!



"....a sabedoria nos chega quando já não serve para nada."


Gabriel García Márquez,
in O Amor nos Tempos do Cólera.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

UM MAR DE FOGUEIRINHAS!


Em face de uma certa e agoniante estagnação, presa e dependente a fatos e acontecimentos temporais do que se pode chamar de "seqüência natural da vida"... a graça, a iluminação e a salvação dos dias nascem, sobretudo, da existência do bendito mar de fogueirinhas que eu tive e continuo tendo a felicidade de cruzar no caminho.
A vida surpreendentemente compensa, nunca houve tamanha variedade de fogueiras.... fogueiras amigas, coloridas, interessantes, algumas próximas, outras distantes... fogueiras afrodisíacas, inteligentes, divertidas, excêntricas, filosóficas, artísticas... tem de todos os jeitos e tamanhos e para todos os gostos e principalmente e felizmente para o meu...


O Mundo...

Um homem conseguiu subir ao céus.
Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana.
E disse que somos um mar de fogueirinhas.
- O mundo é isso - relevou. - Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras.
Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores.
Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas.
Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto, pega fogo.


Eduardo Galeano - O Livro dos Abraços.


terça-feira, 25 de setembro de 2007

ALGUÉM DISSE... Da Experiência...


Os não amantes do ctrl c + ctrl v, que me perdoem.... (viu Les?)
Mas os estudos para a frustrante prova de Direito Penal de ontem, acabaram com a minha disposição de leitura e escrita...

Só para constar e o dia não passar em branco, "alguém disse", com o queridão do Oscar Wilde:

"A experiência não tem valor ético. Ela é apenas o nome que o homem dá a seus erros. Em regra os moralistas consideram-na uma espécie ética, para a formação do caráter, e louvaram-na achando que ensinava ao homem o que ele devia ou não devia fazer. Mas a experiência não é uma força motora, como tampouco é a consciência. Ela demonstra que o nosso futuro parecer-se-á com nosso passado, e que aquilo que fizemos uma vez com horror, voltaremos a fazê-lo mil vezes com alegria."

Oscar Wilde