Public em O DIABO nº 2282
de 25-09-2020, pág 16. Por António João Soares
O detentor de funções que
exigem responsabilidade e competência e dispõe de poder para escolher
colaboradores deve usar de sensatez para decidir entre candidatos a quem deve
favores e outros que são competentes e eficazes. Têm surgido casos a que a
comunicação social, apesar da submissão ao politicamente correcto, tem dado
atenção.
Uma senhora governante não deu
a devida atenção aos doentes de um lar de idosos infectado por um surto de
covid-19, não avaliando o funcionamento para detectar as causas e adoptar
medidas correctivas e preventivas a fim de parar a tragédia. Ao ser interrogada
em entrevista, confirmou que não se dera ao trabalho de ler um relatório da
Ordem dos Médicos. O PR Marcelo, nas suas andanças pelas praias, em resposta a
pergunta de jornalista, afirmou que no referido caso não se tratou de ignorar
apenas um relatório, mas sim quatro da mesma entidade que ele leu e indicou
data e número de páginas de cada um. Disse que “é preciso ler todos”.
A incapacidade para a função e
a falta de respeito pelos cidadãos mostra que há governantes inadaptados à
função que aceitaram desempenhar. Esta má selecção de colaboradores, nota-se em
vários casos de situações de crise, como por exemplo na prevenção e combate a
incêndios florestais e na prevenção de secas. Estas situações e as medidas
preventivas já foram aqui citadas várias vezes, sugerindo a compartimentação
das florestas com aceiros e, quanto a secas, o aproveitamento da água do mar,
com estações de dessalinização, escolhendo a latitude mais adequada para a
primeira, de forma a apoiar a agricultura mais carente.
Há dias, o Ministro da
Administração Interna lamentou a morte de um bombeiro que ocorreu quando
combatia extenso fogo. Mas não aproveitou a oportunidade para reconhecer que
desde a última época de fogos não accionou as medidas mais apropriadas para
evitar mais incêndios ou, no mínimo, reduzir as dimensões dos que viessem a
ocorrer. Na falta de tais cuidados com o interesse nacional e com as vidas e
haveres da população rural, a tragédia dos incêndios continuará enquanto se
mantiver a passividade dos altos responsáveis pelo País.
Quanto estarão a pagar,
discretamente, os que tiram grandes lucros com o aproveitamento das madeiras
queimadas e com a utilização dos meios usados nos combates aos incêndios?
Ouve-se à boca pequena que se trata de grande negociata em que os incendiários
são pagos pelo seu trabalho.
Para evitar incêndios de
brutal dimensão, há que atravessar a floresta por uma quadrícula de aceiros,
caminhos através da floresta com largura igual à altura das árvores mais
desenvolvidas, a fim de que uma que tombe não ateie o fogo ao outro lado, e
mantidos limpos para que os resíduos e as ervas secas não permitam a
continuidade do fogo. O asseiro tem também a vantagem de permitir o acesso
fácil a viaturas dos bombeiros e a supervisão dos cuidados de que eles
precisam. A criação destes dispositivos afecta pequenas propriedades, pelo que
para ser montada deve haver prévio acordo com todos seus donos, o que implica a
actuação das autarquias. Tenho visto imagens de encostas, na Galiza, onde estão
instalados com grande rigor geométrico.
Um acidente ou outra situação
desagradável fragiliza a autoridade que os cidadãos devem reconhecer ao responsável
estatal, que deixa de merecer o respeito que lhe devia ser dado; e fica-lhe bem
rescindir do cargo. Foi o que sucedeu após o acidente em Beirute.
Infelizmente, esta senhora não
está só. Há pouco tempo, houve um descarrilamento de comboio matando dois
trabalhadores da linha e causando ferimentos e muito incómodo em passageiros.
Falta de cuidados dos trabalhadores, mal mentalizados e mal chefiados. Mas o
governante não se referiu às causas e aos danos e disse aos portugueses que os
nossos comboios são dos mais seguros do mundo e estamos confiantes com eles. ■