Mostrando postagens com marcador Riqueza. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Riqueza. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Sobre poder




Na história da humanidade registra-se um período em que os homens viviam em bandos familiares pouco organizados, em atividade de coleta e caça de alimentos, eram os caçadores-coletores. A economia de caça e coleta implicava em viver em pequenos bandos, o número de indivíduos era limitado pela disponibilidade de fontes alimentícias e pela necessidade de mobilidade. Há fortes indícios que esse número girava em torno de vinte e cinco indivíduos incluídos adultos e meia dúzia de crianças já andando. A própria estrutura do bando excluía qualquer apropriação de áreas de bandos vizinhos e de propriedade de bens. O ônus de propriedades móveis e de invasão de áreas de coleta de outros era maior que os benefícios que poderiam advir de tais opções. Claro que é razoável supor que em tempos de escassez pode ter havido conflitos entre os bandos, mas as indicações arqueológicas depõem contra essas confrontações. Mas, quando a necessidade ou a vontade ditaram o estabelecimento de aldeias, foi que essas populações vizinhas encontraram motivos para cobiçar os recursos de seus contíguos. Ao contrário do modo de vida de caça e coleta, onde os pequenos bandos são mais apropriados para explorar fontes de alimentos, a concentração de alimentos mediante cultivo e pastoreio permite que populações sedentárias cresçam. As aldeias podem tornar-se cidades, com todas as implicações que esses aglomerados apresentam. Se uma aldeia agrícola decide apoderar-se das plantações de uma aldeia vizinha, ela se beneficiará porque sua própria população poderá expandir-se por causa do alimento adicional. Está claro que haveria antes o detalhe de uma batalha. Mas, desde que os benefícios superassem as perdas supervenientes, a aldeia que vencesse o conflito se colocaria numa posição vantajosa à custa dos vizinhos.
Com o advento de povoações permanentes ocorre também o nascimento do materialismo. A vida sedentária nas aldeias permite a acumulação de objetos não essenciais, é e com esses objetos que costumamos associar, o mais das vezes, os símbolos de status e riqueza. A experiência nos mostra que a acumulação de riquezas provoca o desejo de novas riquezas, e, em nenhum momento, essa sede de bens é saciada. Ou seja, ninguém é rico o suficiente para desprezar aquisição de mais e mais bens. O fenômeno vai além do simples acumular coisas materiais, como um fim em si mesmo: pode ser definido como um psicomaterialismo, fenômeno parecido com a cobiça do poder. Riqueza e poder são irmãos xifópagos. E mais, o poder só é atrativo quando há um grande número de pessoas sobre as quais exercê-lo. A história recente do século passado nos dá a medida que essa compulsão pelo poder pode ser maléfica. Com toda evidência, as possibilidades de procura, de manutenção e de expansão do poder foram muito maiores após a revolução agrícola do que antes. E a história nos mostra que há dois caminhos básicos para a expansão do poder: manobras políticas habilidosas ou operações militares bem sucedidas. Mais uma vez nos lembramos de Clausewitz: “A guerra é a continuação da política por outros meios”.
Concordando com Clausewitz, já que a natureza dos dois fenômenos é a mesma, ambas, guerra e política, sempre estão concorrendo para a tomada, aumento ou manutenção do poder. Ainda mais, como poder e materialismo na forma de riqueza são irmãos xifópagos, não há contradição em afirmar que a guerra que está a serviço do poder, e também a política, ambas têm como objetivo aumento da riqueza, seja de nações seja de indivíduos. Meio complicado, mas intrinsecamente verdade. Poder gera riqueza que para ser mantida ou ampliada serve-se da guerra e/ou política para tal. Maquiavel na mais pura acepção: os meios, guerra e política, justificam os fins, poder e riqueza. Fico fascinado como pensadores antigos já tinham uma sintonia fina para perceber os grandes temas sócios antropológicos e os meios para alcançá-los que predominariam nossa sociedade atual. JAIR, Floripa, 21/11/11.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sobre os EUA


A América é imodesta sobre muitas coisas, mas sobre seu status de império nem seus líderes nem seus cidadãos costumam usar a expressão ou admitir que o sejam. Enquanto impérios anteriores como Roma e Grã Bretanha faziam questão de alardear suas condições de potências e deixar claro que se orgulhavam disso, o império americano diz simplesmente que não existe. Os americanos acreditam que são ricos porque são um povo decente que trabalha duro (o mais das vezes isso é verdade), sem perceber a vantagem gigantesca que o poderio presencial de suas forças armadas e, principalmente de suas multifacetadas empresas ciclópicas, lhes proporcionam explorando as fontes baratas de recursos naturais no exterior. Petróleo no oriente médio e mão de obra barata na China são apenas dois exemplos entre inúmeros que podem ser citados.

No início os EUA agiram como império usando repetidamente a força para expandir seu território. Começaram expulsando os nativos de suas terras produtivas e os levando para desertos ou áreas inóspitas nas quais privações atrozes e morte por inanição ou doenças os esperavam, quando não os exterminaram simplesmente. Depois, em 1812, empurraram os britânicos para o Canadá de uma vez por todas, de modo que intimidaram os espanhóis que cederam suas terras no sudoeste, onde hoje se encontra a Califórnia. Na guerra de 1898 contra a Espanha ficaram com Cuba, Porto Rico e Filipinas, transformando-as em virtuais colônias americanas embora com disfarce de protetorados. Daí em diante, contando mais com força econômica que militar, continuaram conquistando mais e mais países para sua zona de influência especialmente na América Latina, considerada seu quintal desde então.

Nós cidadãos de outros países achamos estranho e apavorante que cidadãos comuns têm permissão para portar armas na América, e vemos as altas taxas de criminalidade e tiroteios em escolas um corolário previsível dessa suposta liberalidade. A imprensa nos dá conta que depois de setembro de 2001 as compras de armas cresceram muito em todos os estados americanos. Mas, vale lembrar que durante a maior parte da história americana, sempre que o interesse econômico era contrariado, o recurso às armas não tinha pudor de ser empregado. Aliás, o gosto por armas, que distingue os EUA de outros países, tem suas raízes na sua história econômica, uma vez que o uso da força teve desde o início uma participação essencial na busca pela riqueza. O chamado oeste selvagem é icônica prova desse apelo armamentista voltado para aquisição de riqueza. Um revólver e um rifle tinham mais utilidade que uma enxada e uma pá na conquista de novas fronteiras. Na fronteira o homem só podia manter o que pudesse defender, e, como quase sempre estava expulsando os nativos americanos, a defesa era uma necessidade constante. Outros colonos também eram uma ameaça potencial, um vizinho belicoso devia ser enfrentado à bala. A ironia e a sutileza eram pouco valorizadas na fronteira; os americanos eram um povo caloroso e aberto que não tinha vergonha do desejo incontrolável pela riqueza, a venalidade nunca foi uma falha de caráter. Foi lá que nasceu o adágio: “Todo homem tem seu preço”.

O moderno império americano coloniza mentes, não territórios. Faz isso principalmente através do domínio daquela que talvez seja a tecnologia mais importante dos últimos cinquenta anos: a tela. Houve tempo em que nós do mundo afora ficávamos sabendo sobres os EUA principalmente através das telas de cinema, na verdade a versão oliudiana para a vida na América. Mais tarde os filmes foram suplementados pelo lixo televisivo e agora temos a internet e suas redes sociais, cujo idioma (inglês) expressa bem a medida que a colonização se processa. Todas essas tecnologias se dirigem principalmente aos jovens. Todas refletem e ampliam o domínio global do inglês. Todas podem levar impulsos diferentes, até mesmo contraditórios, mas estão unidas num comprometimento principal com o comércio, todas dizem: compre!

Os americanos são os melhores comerciantes do Planeta, até porque sua economia é baseada no consumismo desenfreado. Através das telas eles convencem o mundo a querer o que são especialistas em produzir: uma definição consumista da felicidade. A definição americana consumista de felicidade está matando o Planeta. O estilo de vida americano é sedutor, faz o resto do mundo sonhar com ele, mas se todos os mais de seis bilhões de habitantes da Terra o alcançassem, seriam necessários no mínimo três Planetas para proporcionar toda a matéria prima necessária e para acomodar todo o lixo produzido. Mas, como só temos essa Terra é preciso repensar tecnologias melhores, mas, sobretudo, redefinir o que é desenvolvimento e até onde a humanidade pode ir se quiser usufruir do que os americanos definem como progresso e bem estar.

Não faz sentido o americano comum sentir culpa da riqueza que goza, mas será considerado idiota se não perceber como é privilegiado. Num mundo que é assustadoramente pobre, a maioria dos americanos é incrivelmente rica, às vezes esbanjadoramente rica. Essa riqueza tem consequências enormes, mas eles não percebem isso, estão dizimando os recursos que a Terra dispõe e os quais não são renováveis, como o petróleo, por exemplo, e nem sequer pensam a respeito. Isso é estultice pura, uma Terra devastada é tão ruim para o pobre como para o rico.

Existe algo torpe em consumir de modo tão insensato quando um terço dos habitantes do Planeta vive abaixo da linha de pobreza. Aliás, não deveriam se surpreender que o comportamento deles provoque os mesmos sentimentos que os ricos atraíram durante toda a história: inveja, admiração, mas também ressentimento e ciúme e os atos perversos que essas emoções podem provocar. 11 de setembro de 2001, é consequência dessa situação, não tenhamos dúvida. JAIR. Floripa, 05/03/11.


sábado, 13 de novembro de 2010

Sobre ouro


O fascínio que os metais nobres, especialmente o ouro, exercem sobre as pessoas é uma constatação milenar. Praticamente todas as culturas e civilizações antigas descobriram e usaram esse metal, independentes umas das outras. Parece que o brilho e a raridade do elemento contribuíram para que a ele fossem atribuídas propriedades que trariam prestígio e poder para quem o possuísse, independente de sua utilização prática na confecção de objetos. A alquimia e a busca da pedra filosofal nada mais eram que emprego da noção equivocada de obtenção de ouro através da transmutação de metais inferiores, em geral do chumbo.

Portanto, por que ouro é um metal precioso? Pela raridade? Por que é brilhante em estado natural? Nem uma nem outra resposta. Claro que é brilhante em estado natural e relativamente raro, não se encontra ouro em qualquer lugar. Contudo, esse metal só é precioso porque não se combina facilmente com outros elementos e não é atacado pelo oxigênio, ou seja, não oxida como o ferro, por exemplo. É um metal nobre, que, por analogia à nobreza humana, não se mistura com metais comuns da tabela periódica dos elementos. A nobreza do ouro e de outros metais encontra-se no nível atômico, mas não é o escopo desse texto tentar explicá-la.

Enquanto o ouro puro – de 24 quilates - é de um amarelo forte, pode ser conseguida uma ampla variedade de cores para uso industrial ou na fabricação de jóias e adereços. Há inclusive ouro rosa, branco, verde, azul ou cinza, resultado da mistura com metais diferentes.

Por exemplo, quando a prata e o cobre são adicionados ao ouro puro, ele permanece amarelo, ainda que mais esmaecido que a cor original. Quando níquel ou paládio (ou zinco e cobre) são adicionados, o ouro se torna branco. O ouro puro combinado com cobre, prata e zinco resulta em ouro verde. E o ouro rosa é feito quando o cobre é misturado com ouro puro.

Por que se mistura o ouro com outros metais? Em princípio, a cor resultante da mistura de outros metais ao ouro é um subproduto, a mistureba tem intenção de modificar as propriedades mecânicas do ouro. Ao sair puro da mina convencionou-se que o metal tem 24 quilates, sendo que quilate é medida de pureza, ou de quantidade como explicam os entendidos: 24 quilates significam 100% ouro na amostra considerada. Por outro lado, ouro puro, de 24 quilates, portanto, não possui boas propriedades mecânicas como tenacidade, embora tenha uma maleabilidade excepcional. Maleabilidade é uma brandura que permite que o metal seja transformado em lâminas muito finas sem perder a coesão entre as moléculas. Aliás, o ouro é o metal que permite a confecção das mais finas lâminas possíveis, algo como 23 micra, ou seja, vinte e três milésimos de milímetro. Ao ser misturado o que se procura é um metal mais duro, mais tenaz, capaz de ser moldado, mas sem perder o brilho e a nobreza de não ser atacado pelo oxigênio.

Pois bem, temos então o ouro “geneticamente modificado” pela adição de metais e o qual permanece nobre, mas qual é a quantidade de elemento estranho que se mistura a esse metal? Desde que se conhece o ouro, o homem sempre o usou e misturou das mais diferentes formas e nas mais variadas proporções, contudo, na Europa moderna foram fixadas normas e proporções de mistura com intuito de uniformizar e padronizar as ligas resultantes das misturas. Assim, ficou estabelecido que ao se adicionar um terço do peso inicial do ouro em metal diverso, o ouro se torna de dezoito quilates ou 750 de pureza, como alguns usuários gostam de dizer. Por exemplo, se você tem nove gramas de ouro puro e adiciona três gramas de prata, resulta doze gramas de ouro 18 quilates ou ouro 750, simples, não?

Na maioria dos países, convencionou-se que ouro usado em jóias deve ter dezoito quilates, ou seja, uma mistura tal que proporcione à amostra 75% de ouro e 25% de outro metal. Alguns países, como Portugal, determinam que a mistura da liga esteja em tal proporção que o ouro se torne de vinte e dois quilates, mas é difícil encontrar ouro nessa proporção. Nos EUA é comum encontrar jóias de 14 K e até de 10K, numa proporção que, a rigor, significa que a liga tem mais elemento estranho do que o precioso metal.

Já que falamos de quilates (Karation, do grego) é interessante esclarecer que quilate de metal precioso não tem nada a ver com quilate (Qirat, do árabe) de pedra preciosa lapidada. Qirat ou quilate de pedra preciosa é peso, isto é, um quilate corresponde à quinta parte do grama, assim, cinco quilates equivalem a um grama. Por exemplo, quando se fala de um rubi de dez quilates está se afirmando que o rubi pesa dois gramas, nada mais que isso.

Pois bem, qualquer ouro que não seja 24 K, é uma liga, tão mais nobre e valiosa quanto menor for a proporção de metal forasteiro que se adicionou. Mas, ainda existem na confecção de jóias e bijuterias finas, os banhos e chapeamentos de ouro, os quais consistem em dourar por imersão ou cobrir com uma delgada camada um metal comum e dar a ele uma aparência de ouro.

É claro que a maior porcentagem, cerca de noventa por cento, de ouro lavrado no Planeta se destina a “reservas”, seja na forma de barras ou moedas, e o resto se transforma em jóias para satisfazer a vaidade humana ou vai para indústria. As chamadas reservas são lastros que, antes do acordo de Bretton Woods, queriam dizer que todo dinheiro emitido pelo poder público, obrigatoriamente, tinha que ter o seu valor correspondente em ouro nos cofres do governo. O ouro guardado servia de lastro para o dinheiro circulante no país. Por isso era denominado lastro-ouro. Porém, depois do acordo de Bretton Woods o lastro das moedas passou a ser a riqueza produzida pelo país, e não o ouro depositado no Banco Central, no caso dos EUA, no Fort Knox. Mas, mesmo assim, a reservas continuam a existir e salvam certos países da bancarrota como aconteceu com a Rússia depois da queda do regime comunista. Há também a lei econômica da oferta e demanda, a qual determina que se a oferta do produto aumentar seu preço diminui, então é natural que as grandes reservas fiquem retidas para evitar a queda do preço o que geraria um caos econômico. Na indústria, certos circuitos eletrônicos delicados e espelhos de precisão como o do telescópio Hubble são fabricados com alguma quantidade de ouro, de forma que mesmo que não sejamos vaidosos ou não tenhamos poder aquisitivo para usar adornos de ouro, esse metal sempre estará em nosso entorno, facilitando o fluxo da vida civilizada. JAIR, Floripa, 13/11/10.