Mostrar mensagens com a etiqueta Revista "O Instituto". Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Revista "O Instituto". Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ortografia em discussão

Ao tempo em que a ortografia da língua portuguesa ainda não dispunha de acordo, predominava um determinado padrão, que não era, no entanto, de uso obrigatório. Daí que surgisse a possibilidade de discussão da melhor fórmula a utilizar, como sucedeu no seio do Instituto, em 1895/1896, em torno da redacção da sua revista. Não nos apercebemos facilmente da dimensão da polémica apenas folheando as páginas d’O Instituto, mas sim através de uma publicação elucidativa, intitulada A questão orthographica e o Instituto de Coimbra: documentos e explicações (1896).

Ela é da responsabilidade da primeira comissão de redacção nomeada para se encarregar da publicação do vol. 43 d’O Instituto, composta por António Augusto Gonçalves, António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, António José Teixeira de Abreu, Francisco José de Sousa Gomes e Joaquim Mendes dos Remédios. Estes sublinham o carácter somente científico da disputa em torno da questão ortográfica, que era então discutida em diversos países cultos. Esta comissão ergueu como objectivo acabar com a coexistência de diferentes grafias dentro da revista. O principal arauto desta posição foi António de Vasconcelos, 1º redactor, que propôs assim que O Instituto uniformizasse a sua grafia, seguindo o modelo da ortografia etimológica, sendo apoiado pelos restantes membros da comissão. Ora, isso implicava em alguns casos corrigir a ortografia adoptada pelos autores dos artigos, o que originou reclamações e críticas.

Perante isto, a comissão lançou o convite de se discutir em bases científicas esta questão, inclusive nas páginas d’O Instituto, mas o diferendo acabou por ser levado à Direcção do IC. Aqui, o principal oponente foi Assis Teixeira, mas outros oradores tomaram parte na discussão, entre os quais estavam Costa Lobo e Eugénio de Castro. Falou-se na necessidade de uniformizar a ortografia, esse ponto era mais ou menos consensual, o que estava em causa era sobretudo a legitimidade da comissão de redacção para tomar esse encargo.

Acabou por ser aprovada uma moção, em sessão da Direcção de 3/5/1896, que prescrevia que os colaboradores da revista pudessem publicar os seus textos na ortografia que adoptassem. Dias mais tarde, Bernardino Machado apresentou uma proposta conciliatória para que a Direcção nomeasse uma comissão especial para estudar e definir sobre bases científicas uma nova ortografia da revista, porém, essa proposta não teve seguimento. Em resultado, ainda em Maio, a Direcção presidida por José Epifânio Marques demitiu-se, cessando funções de igual modo a comissão de redacção que por ela tinha sido nomeada. No dia 26 de Maio de 1896, em Assembleia Geral, Bernardino Machado era eleito o novo presidente do IC. Em Junho, já uma nova comissão de redacção dirigia O Instituto: Afonso Costa, Bernardo Aires, José Frederico Laranjo, Luciano António Pereira da Silva, Manuel de Azevedo Araújo e Gama.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Alma Mater e República Digital

Foi hoje apresentada publicamente a ALMA MATER – Biblioteca Digital de Fundo Antigo da Universidade de Coimbra. Este novo recurso congrega as bibliotecas digitais da Universidade de Coimbra (Biblioteca Geral Digital, Biblioteca Digital da Faculdade de Direito, Biblioteca Digital de Botânica e a mais recente Biblioteca Digital da Faculdade de Letras) e reúne um vasto acervo de obras que integram o património bibliográfico e documental das bibliotecas de diversas faculdades.

Na ALMA MATER é possível pesquisar os documentos digitais existentes nas bibliotecas da Universidade de Coimbra e consultá-los pormenorizadamente. Dos cerca de 4000 documentos disponibilizados ao público destacam-se alguns periódicos como o Annuario da Universidade de Coimbra, O Instituto: jornal scientifico e litterario, o Boletim dos Hospitais da Universidade de Coimbra e as Observações meteorológicas, magnéticas e sísmicas, a correspondência de Aurélio Quintanilha e Luís Carrisso e o núcleo fotográfico do espólio de Belisário Pimenta.

Na mesma sessão foi apresentada a República Digital, que “é uma plataforma de informação digital de acesso livre, para a investigação e para o público em geral, que aglutina um conjunto diversificado de documentação disponível na Biblioteca Geral, na Rede de Bibliotecas da Universidade de Coimbra e na Biblioteca Municipal de Coimbra, directa ou indirectamente relacionado com a afirmação das ideias e das instituições republicanas em Portugal, e com a oposição republicana ao Estado Novo”. Assumem destaque, nesta plataforma, três núcleos principais de documentação: o Fundo Belisário Pimenta; o Fundo Armando Cortesão; e um núcleo de documentos digitais composto por “jornais de Coimbra, manifestos, revistas científicas e trabalhos universitários, representativos das transformações sociais, políticas, estéticas e científicas, ocorridas no arco de tempo compreendido entre as décadas de 1890 e de 1920.”

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Alexandre Herculano e o Instituto de Coimbra


No bicentenário do nascimento de Alexandre Herculano (1810-1877), recordamos este que foi um dos sócios honorários do Instituto de Coimbra, desde a sua fundação (1852), e umas das principais figuras da cultura portuguesa oitocentista.

Alguns textos de Herculano encontram-se publicados na revista O Instituto, nos seus números iniciais, nomeadamente, na forma epistolar. As primeiras cartas que o Instituto publicou dizem respeito a uma solicitação de Herculano à Faculdade de Direito de Coimbra, em 1853, para que esta emitisse um parecer sobre o seu IV volume da História de Portugal, no que aos assuntos jurídicos dizia respeito, reconhecendo o autor a sua insuficiência de formação neste campo. A resposta da comissão nomeada para o efeito foi extremamente favorável, interpretada por Herculano como um incentivo à prossecução dos seus trabalhos (vd. vol. 2, p. 13, 61, 66).

Dois anos mais tarde, Herculano envia à redacção d’O Instituto uma carta, publicada no vol. 4 (p. 195), para se defender das acusações de anticlericalismo que lhe são feitas num outro artigo da mesma revista, assinado por Miguel Ribeiro de Vasconcelos, intitulado “Memória histórica sobre a revolução que em 1246 tirou a coroa a D. Sancho II”.

Em contrapartida, é significativo o número de artigos d’O Instituto dedicados a Alexandre Herculano, mormente no volume subsequente à sua morte (vol. 25), e nos volumes 84, 85 e 86, onde finalmente se publicaram artigos que se destinavam a uma projectada obra de comemoração do 1º centenário do seu nascimento. Entre estes destacamos o texto “Herculano en la religión ibérica”, da autoria de Miguel de Unamuno (vol. 85, p. 503).

Com efeito, em 23 de Maio de 1878, o Instituto realizou uma sessão pública de homenagem ao historiador, onde Vicente Ferrer Neto Paiva, sócio do IC e amigo de Herculano, leu o seu elogio histórico. Em 1881, o IC lançou uma subscrição entre os seus membros em ordem a contribuir para um monumento a Herculano, e foi adquirido, por iniciativa do sócio José Epifânio Marques, um retrato de Alexandre Herculano para figurar na Sala de Conferências do Instituto. O IC esteve ainda representado, por intermédio de D. António da Costa de Sousa de Macedo e do Conde de Valenças (Luís Jardim), na cerimónia de trasladação dos restos mortais do escritor para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1888.