“… he resolved never again to kiss earth for any god or man. This decision, however, made a hole in him, a vacancy…” Salman Rushdie in Midnight’s Children.
holehorror.at.gmail.com
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27.2.09
O Sentido. A Dor
Disse que estava levemente medicada para que a sua vida não perdesse a normalidade feita de rotina, aparência e, ao fim do dia, uma noite de sono. Muito importante dormir tão bem quanto possível. Disse, com um olhar vazio, só assim conseguir olhar e estar com os outros, falar-lhes e mostrar-se presente nas conversas, quando tudo o que quer é alhear-se. Um dia de cada vez dizem-lhe. Mas a dor que não passa – há dores que nunca deveríamos sentir, cada dia parece pior do que o dia anterior, e a saudade maior. Revejo tudo e procuro o sentido. Todos os dias os porquês, os para quês. Todos os dias o que deveria perceber que ainda não percebi, encontrar o sentido para que ele aquiete a dor. (Ou não).
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25.2.09
24.2.09
The Private Patient
And at last he knew the truth about those two deaths. Perhaps Philip Kershaw had been right: there was an arrogance in wanting always to know the truth, particularly the truth about human motives, the mysterious working of another’s mind. (…) The case would be close and his responsibilities over. There was nothing further he could do, or wanted to do.
Like every investigation, this one would leave him with memories, people who would, without any particular wish on his part, establish themselves as silent presences in his mind and thoughts for years but who could be brought to life by a place, a stranger’s face, a voice. He had no wish regularly to relive the past but these brief visitations left him curious to know why particular people where lodge in his memory and what their lives had become. They were seldom the most important of the investigations and he thought he knew which people from the past week would remain in memory.
P. D. James, The Private Patient
Creio que posso afirmar que os romances de P. D. James são praticamente os únicos policiais que hoje em dia leio e aguardo sempre com impaciência que saia mais um. É difícil ser indiferente ao misterioso poeta e inspector Adam Dalgliesh e à sua equipa de colaboradores. P.D. James desenha magnificamente todas as personagens dos seus romances, todas elas são ricas e cheias de vida, e nem as suas perversões ou impulsos mais negros nos são poupados, o que dificulta a tarefa de perceber quem é o criminoso do crime investigado. No entanto James põe especial empenho e cuidado, diria mesmo carinho, nas personagens que ao longo das investigações - romances - nos acompanham sempre, a equipa de investigadores. Sem nos darmos conta nós, fieis leitores, ficamos subtilmente envolvidos nas suas aspirações, dúvidas, memórias e medos, tecendo-se uma estranha teia, porque nunca óbvia, de romance em romance, de implícita cumplicidade. Tudo feito com uma elegância e objectividade ímpar. Os seus romances, na medida do possível, devem ser lidos por ordem cronológica para que este elo frágil e subtil, mas presente ao fim dos tempos não se perca.
P. D. James, para mim, superou-se em Devices and Desires (que belo título), e pensei que dificilmente manteria o mesmo nível. Enganei-me redondamente. Para encanto de todos continua a escrever autênticos romances que, por acaso, são policiais. A sua escrita rica, mas precisa e elegante, os seus retratos psicológicos, o seu instinto para a intriga e a sua capacidade para criar momentos de suspense e terror são únicos, e mantêm-nos interessados e atentos da primeira à última linha. The Private Patient é disso o mais recente exemplo. Agora já estou à espera do próximo romance.
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Like every investigation, this one would leave him with memories, people who would, without any particular wish on his part, establish themselves as silent presences in his mind and thoughts for years but who could be brought to life by a place, a stranger’s face, a voice. He had no wish regularly to relive the past but these brief visitations left him curious to know why particular people where lodge in his memory and what their lives had become. They were seldom the most important of the investigations and he thought he knew which people from the past week would remain in memory.
P. D. James, The Private Patient
Creio que posso afirmar que os romances de P. D. James são praticamente os únicos policiais que hoje em dia leio e aguardo sempre com impaciência que saia mais um. É difícil ser indiferente ao misterioso poeta e inspector Adam Dalgliesh e à sua equipa de colaboradores. P.D. James desenha magnificamente todas as personagens dos seus romances, todas elas são ricas e cheias de vida, e nem as suas perversões ou impulsos mais negros nos são poupados, o que dificulta a tarefa de perceber quem é o criminoso do crime investigado. No entanto James põe especial empenho e cuidado, diria mesmo carinho, nas personagens que ao longo das investigações - romances - nos acompanham sempre, a equipa de investigadores. Sem nos darmos conta nós, fieis leitores, ficamos subtilmente envolvidos nas suas aspirações, dúvidas, memórias e medos, tecendo-se uma estranha teia, porque nunca óbvia, de romance em romance, de implícita cumplicidade. Tudo feito com uma elegância e objectividade ímpar. Os seus romances, na medida do possível, devem ser lidos por ordem cronológica para que este elo frágil e subtil, mas presente ao fim dos tempos não se perca.
P. D. James, para mim, superou-se em Devices and Desires (que belo título), e pensei que dificilmente manteria o mesmo nível. Enganei-me redondamente. Para encanto de todos continua a escrever autênticos romances que, por acaso, são policiais. A sua escrita rica, mas precisa e elegante, os seus retratos psicológicos, o seu instinto para a intriga e a sua capacidade para criar momentos de suspense e terror são únicos, e mantêm-nos interessados e atentos da primeira à última linha. The Private Patient é disso o mais recente exemplo. Agora já estou à espera do próximo romance.
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22.2.09
Na capa da Pública de hoje aparece uma fotografia de Pedro Passos anunciando a grande entrevista dentro da revista (entrevista desprovida de interesse) e um título sugestivo “Pedro Passos Coelho, O Candidato”. Ora eu pergunto-me: em ano eleitoral com as várias eleições que se avizinham, ele é exactamente candidato a quê? Deputado ao Parlamento Europeu? A Presidente de uma Câmara? A Primeiro-ministro?
Sobre a entrevista em si, há pouco a dizer, pois o que ele disse, apesar das páginas de texto, nada trouxe de novo, nem do ponto de vista político, nem sequer pessoal, antes pelo contrário. Reforçou a sua convicção (vontade) na fragilidade da liderança de Manuela Ferreira Leite, atribuindo o ónus dessa fragilidade a um "jogo de percepções", seja lá o que for que isto quer dizer (aparecer muito nos media, talvez?), em que ele acha que "(...) a sociedade em geral percepciona(r) como mais relevante a actividade daquele que não ganhou (a liderança do PSD), isso significa que o que ganhou não está a fazer o que deve". Parece-me uma manifestação de intenção e de alguma má-fé. Nada de novo, portanto.
Estranhei as suas leituras da juventude. Quem lê Voltaire antes de Camilo ou Eça? Fenomenologia do Ser de Sartre, não conheço, mas eu também não tenho pretensão a conhecer toda a obra de Sartre e sobretudo, não li obras filosóficas densas, nem na juventude, nem agora. Graças a Deus!
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Sobre a entrevista em si, há pouco a dizer, pois o que ele disse, apesar das páginas de texto, nada trouxe de novo, nem do ponto de vista político, nem sequer pessoal, antes pelo contrário. Reforçou a sua convicção (vontade) na fragilidade da liderança de Manuela Ferreira Leite, atribuindo o ónus dessa fragilidade a um "jogo de percepções", seja lá o que for que isto quer dizer (aparecer muito nos media, talvez?), em que ele acha que "(...) a sociedade em geral percepciona(r) como mais relevante a actividade daquele que não ganhou (a liderança do PSD), isso significa que o que ganhou não está a fazer o que deve". Parece-me uma manifestação de intenção e de alguma má-fé. Nada de novo, portanto.
Estranhei as suas leituras da juventude. Quem lê Voltaire antes de Camilo ou Eça? Fenomenologia do Ser de Sartre, não conheço, mas eu também não tenho pretensão a conhecer toda a obra de Sartre e sobretudo, não li obras filosóficas densas, nem na juventude, nem agora. Graças a Deus!
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20.2.09
Um dos temas/posts mais provocatórios de toda a blogosfera é certamente o “A Passagem do Tempo por um Banco no Jardim de St. Amaro”, pela perplexidade que causa, pela irritação, pela incompreensão. Eu própria andava intrigada com aquela “treta” de banco postada vezes demais e que achava uma perda de espaço. Mas como com tudo na vida vamo-nos habituando e a pouco e pouco as coisas vão-se entranhando, e a provocação começa a esboçar-se e a tornar-se nítida.
O banco começa por ser enigmático e a intenção também. Porquê postar com tanta frequência um banco num jardim de Lisboa? A fotografia é demasiado normal e despretensiosa para que possa ser considerada uma obra de arte ou um golpe de génio. Para quê, então? Num segundo momento é a continuidade, a persistência: não é só uma fotografia, é outra e no dia a seguir outra, e mais outra e outra ainda, e sabemos que amanhã veremos outra. Primavera, Verão, Outono e Inverno. Há dois anos, no ano passado, este ano e no próximo. As pessoas fotografadas vêm e vão e o banco fica. As folhas das árvores caem voltam a nascer e o banco permanece. Está lá. Sempre. É símbolo da permanência versus o efémero, da constância versus o impulso, da solidez versus a fragilidade, da indiferença versus a “luta”. Ora este símbolo é contrário ao espírito dos tempos que correm, onde a mudança e a novidade são valorizados, onde as modas se sucedem e as inovações são aguardadas com curiosidade e reverência. Mas a novidade cedo se esgota, depressa passa. O banco no Jardim de St. Amaro, não. O banco, indiferente a quem lá se senta, à idade ou à roupa que veste, indiferente aos governos que nos governam, ao caso Freeport, pactos de regime, casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou até à existência de Pedro Passos Coelho, absolutamente indiferente ao facto de ser ou não objecto de fotografia e irritação de quem a vê (fotografia) regularmente “postada”, indiferente à polémica do momento, aos links feitos ou não, às audiências, ou até à sorte de quem o fotografa e de quem “posta” a fotografia, é a grande provocação com que o Abrupto brinda a blogosfera quase diariamente.
O banco começa por ser enigmático e a intenção também. Porquê postar com tanta frequência um banco num jardim de Lisboa? A fotografia é demasiado normal e despretensiosa para que possa ser considerada uma obra de arte ou um golpe de génio. Para quê, então? Num segundo momento é a continuidade, a persistência: não é só uma fotografia, é outra e no dia a seguir outra, e mais outra e outra ainda, e sabemos que amanhã veremos outra. Primavera, Verão, Outono e Inverno. Há dois anos, no ano passado, este ano e no próximo. As pessoas fotografadas vêm e vão e o banco fica. As folhas das árvores caem voltam a nascer e o banco permanece. Está lá. Sempre. É símbolo da permanência versus o efémero, da constância versus o impulso, da solidez versus a fragilidade, da indiferença versus a “luta”. Ora este símbolo é contrário ao espírito dos tempos que correm, onde a mudança e a novidade são valorizados, onde as modas se sucedem e as inovações são aguardadas com curiosidade e reverência. Mas a novidade cedo se esgota, depressa passa. O banco no Jardim de St. Amaro, não. O banco, indiferente a quem lá se senta, à idade ou à roupa que veste, indiferente aos governos que nos governam, ao caso Freeport, pactos de regime, casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou até à existência de Pedro Passos Coelho, absolutamente indiferente ao facto de ser ou não objecto de fotografia e irritação de quem a vê (fotografia) regularmente “postada”, indiferente à polémica do momento, aos links feitos ou não, às audiências, ou até à sorte de quem o fotografa e de quem “posta” a fotografia, é a grande provocação com que o Abrupto brinda a blogosfera quase diariamente.
19.2.09
Enquanto isso, discutimos amplamente o sexo dos anjos, perdão o casamento de pessoas do mesmo sexo, seguindo à risca o script do Grande Líder e seus conselheiros que, diga-se em abono da verdade, não brincam em serviço.
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18.2.09
Um Mundo Disney
Entre o “monte de sarilhos” dito por D. José Policarpo (advertindo as mulheres católicas que pensem em casar com muçulmanos) há algumas semanas e a “muita cautela” proferida por D. José Saraiva Martins, há um mundo que os separa. A advertência é sempre pertinente, mas a linguística nada esconde: ela é a evidência do oceano que separa os seus mundos. Quem não entende esta diferença de mundos, terá ainda mais dificuldade em digerir a não normalidade da homossexualidade a que D. José Saraiva Martins se refere. Às vezes pergunto-me se ele, e tantos outros como ele no seio da Igreja Católica, não viverão numa outra dimensão, numa espécie de “Mundo Disney” do Catolicismo, tal a falta de conexão com o mundo de todos os dias bem mais duro, prosaico e em todas em matizes de cinzento.
Nas críticas que por vezes teço em relação à Igreja Católica institucional, uma que repito tem exactamente a ver com o facto de ainda, e apesar do Concílio Vaticano II, da televisão, dos computadores, dos aviões, tantas vezes sentirmos que o nosso interlocutor (membro do clero ou de uma ordem religiosa e porque pertence à estrutura hierárquica da Igreja) vive num mundo à parte que não é o nosso e que não conhece o nosso, onde os católicos vivem, trabalham, casam, se divorciam, tentam educar filhos, pagar contas etc. Que tantas vezes ainda as realidades experimentadas por uns e por outros são tão díspares que tornam o diálogo quase um eco em que cada um só se ouve a si próprio.
Nas críticas que por vezes teço em relação à Igreja Católica institucional, uma que repito tem exactamente a ver com o facto de ainda, e apesar do Concílio Vaticano II, da televisão, dos computadores, dos aviões, tantas vezes sentirmos que o nosso interlocutor (membro do clero ou de uma ordem religiosa e porque pertence à estrutura hierárquica da Igreja) vive num mundo à parte que não é o nosso e que não conhece o nosso, onde os católicos vivem, trabalham, casam, se divorciam, tentam educar filhos, pagar contas etc. Que tantas vezes ainda as realidades experimentadas por uns e por outros são tão díspares que tornam o diálogo quase um eco em que cada um só se ouve a si próprio.
Nota: a não normalidade da homossexualidade poderá sempre ser entendida e demonstrada do ponto de vista estatístico. Duvido, no entanto, que tenha sido essa a intenção neste caso, onde essa “normalidade” certamente pressupõe um juízo de valor.
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17.2.09
Victor Constâncio parece estar condenado a não conseguir sair do patamar da irrelevância e a acordar sempre mais tarde do que os outros, chegando sem graça nem jeito ao final do acontecimento. Perde sempre a parte mais importante. Alguém a oferecer-lhe um despertador?
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Felizes Para Sempre ou Um Post Confuso
Ontem o país parece ter acordado para o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Falo do país relutante, no qual eu me incluo, em parar para pensar nesse tema que José Sócrates tão convenientemente lançou agora para a arena do circo com a missão bem clara de entreter quem tem mais em que pensar. Mais e pior. Esta questão deixa-me sem jeito. Muitas vezes tenho opiniões claras, mas não é o caso. Acho tudo confuso e confesso que não tenho uma visão apaixonada pelo assunto, muito menos uma opinião fundada e que sinta coerente. Nem me apetece ter. Se querem casar, que casem. Mas logo a seguir pergunto-me: mas porque carga de água hão-de querer casar? Só para dizer que se casam, fazerem uma boda e tudo como manda o figurino copiando os modelos que rejeitam? Para se divorciarem? Para dizermos que Portugal é um país evoluído (é assim que se mede o grau de desenvolvimento de um país?) Sempre pensei que com a regulamentação e reconhecimento das uniões de facto entre casais do mesmo sexo, os direitos exigidos (e legitimamente, do meu ponto de vista) já são reconhecidos. Para quê casar se o casamento é uma realidade feita do e para o mundo “heterossexual”? Mas, voltando ao inicio: se querem casar, casem. Só não percebo porque o querem fazer. Só para terem esse direito? De serem iguais aos heterossexuais que rejeitam? Não consigo sair daqui e confesso que também não me tenho esforçado, nem sequer tentado evoluir.
Ontem, com debate televisivo assim ao longe, porque distraída e sem grande motivação, ouvi algo que ainda me pôs mais perplexa e é uma questão de terminologia, que parece ter um simbolismo ou um sentido que me escapou (repito que não estive muito atenta) até agora. Parece existir por parte das partes interessadas (na defesa do casamento) uma recusa, ou um evitar da expressão “casamento homossexual”. Mas não é disso mesmo que se trata, ou querem criar frases eufemísticas e politicamente correctas para o que é um casamento homossexual? Ou então, será que querem deixar a porta aberta aos casamentos entre duas pessoas do mesmo sexo, mas que sejam heterossexuais? Eu gosto de conhecer a razão e o porquê das coisas e este tema é debatido de forma demasiado fundamentalista e urgente, para sentir seriedade na intenção e na razão. O país afunda-se em medidas eleitoralistas e essas sim deveriam manter-nos alerta. Quanto aos casamentos, tudo o que desejo é que sejam felizes para sempre.
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Ontem, com debate televisivo assim ao longe, porque distraída e sem grande motivação, ouvi algo que ainda me pôs mais perplexa e é uma questão de terminologia, que parece ter um simbolismo ou um sentido que me escapou (repito que não estive muito atenta) até agora. Parece existir por parte das partes interessadas (na defesa do casamento) uma recusa, ou um evitar da expressão “casamento homossexual”. Mas não é disso mesmo que se trata, ou querem criar frases eufemísticas e politicamente correctas para o que é um casamento homossexual? Ou então, será que querem deixar a porta aberta aos casamentos entre duas pessoas do mesmo sexo, mas que sejam heterossexuais? Eu gosto de conhecer a razão e o porquê das coisas e este tema é debatido de forma demasiado fundamentalista e urgente, para sentir seriedade na intenção e na razão. O país afunda-se em medidas eleitoralistas e essas sim deveriam manter-nos alerta. Quanto aos casamentos, tudo o que desejo é que sejam felizes para sempre.
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14.2.09
O Leitor
É inegável que estamos cheios de opções para ver bons filmes no cinema. Desta vez “O Leitor”- talvez o filme que vi nos últimos tempos de que mais gostei - será pretexto para um comentário e algumas reflexões. Estamos em território de adultos, não por causa da exposição anatómica ou das razoáveis cenas de sexo, mas porque entramos num mundo complexo, desarmante e cerebral.
É um filme cuja estrutura narrativa, em variados e nem sempre aparentemente sequenciais flash-back, tem planos que se sobrepõem e percebemos uma falta, ou melhor, "a" falta; a falta de matéria de união, não me refiro a uma união sequencial ou cronológica, mas sim a algo como uma argamassa que une os tijolos, um fio motivador, a identidade do filme, o que quer que seja que faz mover as personagens e faz acontecer a história, que se desenrola de uma forma fria e quase que automática. Essa matéria nem sempre é evidente e a riqueza do filme é que nós enquanto espectadores vamo-nos questionando e tentando perceber do que é que ele (filme) trata. Será o amor? O erotismo? Será o interesse? O destino? Será a verdade? Será o cumprimento do dever? A frieza de nunca o questionar? Será a vergonha (do analfabetismo)? A honestidade? Será a culpa ou a falta dela? Será o sentido do sofrimento? A justiça? Há de tudo um pouco, e no fim, para além da desarmante honestidade de Hanna, que é sempre um desafio às outras personagens e a nós espectadores, e de um sempre desconcertado (e porquê, tentamos nós perceber até ao fim do filme) Michael Berg, vemos e lemos o que queremos ou o que somos levados a ver e a ler.
A realização é metódica e os actores são tão bons quanto esperávamos. Kate Winslet mais uma vez prova a grande actriz que é despojada de si e entregue totalmente a uma Hanna misteriosa, desarmante, mas digna. O jovem David Cross (Michael Berg na juventude) e Ralph Fienes são competentíssimos parceiros de Winslett.
Da culpa.
O jovem Michael estudou direito e um professor seu explica-lhe que não é a moral que rege o mundo, mas sim a lei, mas Michael parece não ter nunca absorvido esta noção. As aulas de Direito coincidem com o julgamento de Hanna e com o turbilhão de sentimentos conflituosos de Michael. Ele quer perceber culpa (a dita Moral que não rege o mundo) em Hanna, ele espera percebê-la mas nunca a consegue ver, o que lhe trará consequências de peso: ele faz sua a culpa que gostaria de ter visto nela e vai ser ele que a vai expiar numa vida ao longo de grande parte da sua vida. Essa inexistência de culpa en Hanna é talvez o elo que os liga ao longo dos anos de uma forma que só eles entendem, pois o segredo dela só ele o conhece. Para Hanna a culpa é o segredo, de tal forma que o guarda e está preparada para uma maior e “injusta” condenação por parte do tribunal; a culpa não está nos factos por que foi julgada.
Do sentido do sofrimento.
Michael quer que o sofrimento tenha sentido e gostava de ver um propósito, tirar uma lição desse sofrimento, talvez para poder entender os seus actos, o seu sofrimento. Mas as voltas estão trocadas. Por duas vezes ele se depara com o vazio, o nada do sofrimento. Depois de tudo o que se passou Michael pergunta a Hanna, pouco antes dela sair da prisão o que é que ela aprendeu com a prisão. Vê-se que ele está à espera de uma resposta existencial, de crescimento individual, mas a desarmante honestidade de Hanna e a cerebralidade da sua resposta não deixam margens para dúvidas: a aprendizagem (aceitação da culpa, sentido do sofrimento) que ele procura não está lá. Do sofrimento não aprendeu nada. Do mesmo modo na conversa final entre Michael Berg e Llana Mather, ela lhe diz para não procurar a sua catarse nos campos (de concentração): não há lá nada. Não se aprende nada, não se ganha nada. Aquele sofrimento é nada. Michael está entregue a si próprio.
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É um filme cuja estrutura narrativa, em variados e nem sempre aparentemente sequenciais flash-back, tem planos que se sobrepõem e percebemos uma falta, ou melhor, "a" falta; a falta de matéria de união, não me refiro a uma união sequencial ou cronológica, mas sim a algo como uma argamassa que une os tijolos, um fio motivador, a identidade do filme, o que quer que seja que faz mover as personagens e faz acontecer a história, que se desenrola de uma forma fria e quase que automática. Essa matéria nem sempre é evidente e a riqueza do filme é que nós enquanto espectadores vamo-nos questionando e tentando perceber do que é que ele (filme) trata. Será o amor? O erotismo? Será o interesse? O destino? Será a verdade? Será o cumprimento do dever? A frieza de nunca o questionar? Será a vergonha (do analfabetismo)? A honestidade? Será a culpa ou a falta dela? Será o sentido do sofrimento? A justiça? Há de tudo um pouco, e no fim, para além da desarmante honestidade de Hanna, que é sempre um desafio às outras personagens e a nós espectadores, e de um sempre desconcertado (e porquê, tentamos nós perceber até ao fim do filme) Michael Berg, vemos e lemos o que queremos ou o que somos levados a ver e a ler.
A realização é metódica e os actores são tão bons quanto esperávamos. Kate Winslet mais uma vez prova a grande actriz que é despojada de si e entregue totalmente a uma Hanna misteriosa, desarmante, mas digna. O jovem David Cross (Michael Berg na juventude) e Ralph Fienes são competentíssimos parceiros de Winslett.
Da culpa.
O jovem Michael estudou direito e um professor seu explica-lhe que não é a moral que rege o mundo, mas sim a lei, mas Michael parece não ter nunca absorvido esta noção. As aulas de Direito coincidem com o julgamento de Hanna e com o turbilhão de sentimentos conflituosos de Michael. Ele quer perceber culpa (a dita Moral que não rege o mundo) em Hanna, ele espera percebê-la mas nunca a consegue ver, o que lhe trará consequências de peso: ele faz sua a culpa que gostaria de ter visto nela e vai ser ele que a vai expiar numa vida ao longo de grande parte da sua vida. Essa inexistência de culpa en Hanna é talvez o elo que os liga ao longo dos anos de uma forma que só eles entendem, pois o segredo dela só ele o conhece. Para Hanna a culpa é o segredo, de tal forma que o guarda e está preparada para uma maior e “injusta” condenação por parte do tribunal; a culpa não está nos factos por que foi julgada.
Do sentido do sofrimento.
Michael quer que o sofrimento tenha sentido e gostava de ver um propósito, tirar uma lição desse sofrimento, talvez para poder entender os seus actos, o seu sofrimento. Mas as voltas estão trocadas. Por duas vezes ele se depara com o vazio, o nada do sofrimento. Depois de tudo o que se passou Michael pergunta a Hanna, pouco antes dela sair da prisão o que é que ela aprendeu com a prisão. Vê-se que ele está à espera de uma resposta existencial, de crescimento individual, mas a desarmante honestidade de Hanna e a cerebralidade da sua resposta não deixam margens para dúvidas: a aprendizagem (aceitação da culpa, sentido do sofrimento) que ele procura não está lá. Do sofrimento não aprendeu nada. Do mesmo modo na conversa final entre Michael Berg e Llana Mather, ela lhe diz para não procurar a sua catarse nos campos (de concentração): não há lá nada. Não se aprende nada, não se ganha nada. Aquele sofrimento é nada. Michael está entregue a si próprio.
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13.2.09
Cinco Mil Euros
José Sócrates considera-se rico com 5 mil euros, e eu acho que ele é um homem de sorte e fico feliz por ele. Como cada um tem o direito de fazer ao dinheiro o que bem lhe apetece, não me cabe perguntar-lhe como é que faz para ser assim tão rico. É que eu pensei nas muitas famílias portuguesas com esse rendimento mensal que, apesar de terem uma vida própria da classe média, estão longe de se considerarem ricas. Repito que falamos de classe média (ou média alta, se preferirem), que vive num apartamento na cidade, que tem dois filhos, dois carros , usa o sistema de saúde privado e escolas privadas, tem empregada doméstica, mas que leva uma vida “normal” de classe média. Deixo aqui um exemplo (há outras situações de casas que não se pagam porque os pais ofereceram, de pensões alimentares a pagar, de colégios para dois ou três, ou não, haveria outros exemplos mas escolhi este) de despesas possíveis para ver como se vive com 5 mil euros e quão rico se é:
Prestação da Casa (t3 em Lisboa/Porto,...) 800
Prestação carros (2) 400
Colégio (1 filho, o outro fica ainda com a avó) 500
Despesas da casa (luz, gás, água) 300
Telefones, telemóveis, TVs; internets 300
Alimentação 400
Almoços e restaurantes 350
Gasolina 150
Empregada Doméstica (tempo parcial ) 400
Seguros (saúde, vida, carros...) 200
Despesas saúde (médicos, farmácias) 100
Roupas e calçado crianças 100
Para este exemplo de despesas o total já são 4000 euros mensais. Sobram 1000 euros. Se me explicarem como é que mil euros dão para o fato Armani, os sapatos Prada, as férias seja lá onde forem, aquele sofá que tanto precisamos, a Bimby, o cabeleireiro, o ginásio, a roupa interior, os saldos da Zara, a carteira Vuitton, as calças de ganga, as férias de ski, já para não falar nos livros, DVD, nos concertos, no cinema, uns pneus do carro, na playstation, nos presentes para aniversários, etc, etc... ficaria muito satisfeita.
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Prestação da Casa (t3 em Lisboa/Porto,...) 800
Prestação carros (2) 400
Colégio (1 filho, o outro fica ainda com a avó) 500
Despesas da casa (luz, gás, água) 300
Telefones, telemóveis, TVs; internets 300
Alimentação 400
Almoços e restaurantes 350
Gasolina 150
Empregada Doméstica (tempo parcial ) 400
Seguros (saúde, vida, carros...) 200
Despesas saúde (médicos, farmácias) 100
Roupas e calçado crianças 100
Para este exemplo de despesas o total já são 4000 euros mensais. Sobram 1000 euros. Se me explicarem como é que mil euros dão para o fato Armani, os sapatos Prada, as férias seja lá onde forem, aquele sofá que tanto precisamos, a Bimby, o cabeleireiro, o ginásio, a roupa interior, os saldos da Zara, a carteira Vuitton, as calças de ganga, as férias de ski, já para não falar nos livros, DVD, nos concertos, no cinema, uns pneus do carro, na playstation, nos presentes para aniversários, etc, etc... ficaria muito satisfeita.
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12.2.09
Doubt
Por vezes parecia que estava a ver um filme de acção: suspirava de alívio de cada vez que terminava um diálogo, tal a tensão dramática e a atenção que eles requeriam. Todos os detalhes contam: o cenário, os gestos, os tempos de fazer o que se faz, ou de dizer o que se diz, a expressão da cara que os inúmeros primeiros planos ajudam a decifrar. Outro filme feito para ver os actores brilharem e eles brilham. Todos eles o que é também um claro sinal de mérito do realizador.
Tudo se passa em pouco tempo e em pouco espaço. Grandes dúvidas, grandes certezas, algumas hesitações. “Kindness” contra “virtue”. Complacência contra determinação. Tolerância contra intolerância. O que é a verdade, onde está a verdade. Todos estes tópicos fluem inteligentemente, evitando slogans, verdades pré-fabricadas ou politicamente correctas, polémicas fracturantes e sentimentalismos fáceis, num ambiente depurado quer do ponto de vista formal quer psicológico. Cada diálogo é uma luta entre verdades num pano de fundo de catolicismo. Para nosso desafio e deleite neste filme não há um minuto perdido, e vê-se avidamente sem sentir o tempo passar.
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Tudo se passa em pouco tempo e em pouco espaço. Grandes dúvidas, grandes certezas, algumas hesitações. “Kindness” contra “virtue”. Complacência contra determinação. Tolerância contra intolerância. O que é a verdade, onde está a verdade. Todos estes tópicos fluem inteligentemente, evitando slogans, verdades pré-fabricadas ou politicamente correctas, polémicas fracturantes e sentimentalismos fáceis, num ambiente depurado quer do ponto de vista formal quer psicológico. Cada diálogo é uma luta entre verdades num pano de fundo de catolicismo. Para nosso desafio e deleite neste filme não há um minuto perdido, e vê-se avidamente sem sentir o tempo passar.
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Cinema,
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Meryl Streep,
Philip Seymour Hoffman
10.2.09
A Voz Moralizadora
Como eu receio vozes moralizadores, sobretudo vindas do Estado e dos políticos. Agora, numa declaração que é mais uma desavergonhada medida propagandística e eleitoralista, Teixeira dos Santos fala da limitação dos salários dos quadros superiores dos bancos que recorram às garantias do Estado, e fala da legitimidade do Estado em ter uma voz – que eu diria moralizadora – nesse domínio. Malhar nos ricos, legitimando que salte cá para fora esse sentimento mesquinho mas poderoso que é a inveja, e que jaz latente em todos os pobres de espírito que aspirando a ser ricos nunca conseguiram ou puderam, foi sempre fácil e os nossos governantes perceberam-no bem: não faltam palavras de ordem e slogans sonantes e que colem facilmente ao ouvido (oh, delícia das delícias) bem como frases finas, elegantemente construídas e de aparente subtileza ideológica para deleite dos intelectuais. Malhar nos ricos moralizando a sociedade e a política: oh prazer dos prazeres, sublime desígnio político, que o diga o Presidente Chavez inspirador e amigo dos nossos governantes: puxando à inveja, chafurdemos todos pois no caldo medíocre do igualitarismo, enalteçamos os sentimentos básicos das justiças populares e das vozes moralazadoras. Depois da ressaca da festança, pagaremos todos caro por tais desvarios. Todos?
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9.2.09
Em relação à “Taxa Robin dos Bosques” (da qual discordo como princípio e na aplicação, mas isso daria um outro post), que prevê diminuição das deduções para efeitos fiscais dos ricos para aumentar as deduções dos pobres, Manuela Ferreira Leite foi certeira (Jornal da Noite da SIC): falta a José Sócrates definir o que é um rico. Se se considera “rico” um agregado familiar com rendimentos acima dos 40 mil euros anuais, então está tudo explicado e é escandalosa a desculpa “Robin dos Bosques” – mais um slogan eleitoral mentiroso - para aquilo que é nada mais nada menos que uma nova subida de impostos para a classe média. Nós somos muito pobres; não só mas também de espírito quando se considera “rico” um agregado com rendimentos acima dos 40 mil euros!
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8.2.09
Actos Estúpidos
Michael Phelps pediu desculpa por aquilo que considerou ter sido um “acto estúpido” (Público, edição impressa de ontem). É mais um a entrar no universo dos que pedem desculpa em público de “actos estúpidos” tantas vezes privados e que nunca sequer deveriam ser do conhecimento público. Mas o mundo é como é e as figuras públicas estão constantemente debaixo do olho dos media que não perdem o scoop que um “acto estúpido” promete sempre. Gostei desta definição de “acto estúpido” que Phelps deu, pois pareceu-me muito mais rigorosa do que outras mais sofisticadas tantas vezes dadas a actos semelhantes. Phelps é um ser humano e os seres humanos fazem coisas estúpidas em privado e em público. O problema de Phelps foi ter sido fotografado e ter visto a sua foto a fumar cannabis correr o mundo com a rapidez e eficácia que todos hoje conhecemos. Aí Phelps pessoa e Phelps “marca” entram em conflito e alguns patrocinadores recuam nos patrocínios, pois a imagem dada pela “marca” não é coerente com a imagem da marca dos produtos que vendem. Como a marca Phelps tem um valor (em termos de dólares) que não pode ser negligenciado, a pessoa Phelps sente-se na obrigação de fazer um pedido de desculpas público, e fá-lo, coisa que me parece desnecessária e até ridícula. Como se o acto de fumar cannabis numa festa com amigos fosse um gesto premeditado e deliberado para ofender alguém, e não um possível (e discutível) “acto estúpido” que Phelps tão sensatamente qualificou.
Estes pedidos de desculpa, que agora tão na moda estão, parecem ser úteis a ajudar a limpar as consciências colectivas habitadas pelas várias culpas que a nossa sociedade se propõe expiar. Nos EUA um pedido de desculpas público por “actos estúpidos” cometidos, ou até por outros menos estúpidos e mais sérios mas do foro privado, tem mérito e a capacidade de regeneração e aceitação pública de quem o faz parece ser inegável. Estes gestos sempre me intrigaram, tão alheios parecem ser à minha genética, sempre me causaram algum repúdio e tantas vezes me parecem mais abertamente atentados ao pudor e à honra do que os “actos estúpidos” de facto cometidos. Uma sociedade que exige pedidos de desculpa públicos por “actos estúpidos” é uma sociedade malsã e hipócrita que desbarata e maltrata os conceitos de ofensa, de arrependimento e de perdão.
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Estes pedidos de desculpa, que agora tão na moda estão, parecem ser úteis a ajudar a limpar as consciências colectivas habitadas pelas várias culpas que a nossa sociedade se propõe expiar. Nos EUA um pedido de desculpas público por “actos estúpidos” cometidos, ou até por outros menos estúpidos e mais sérios mas do foro privado, tem mérito e a capacidade de regeneração e aceitação pública de quem o faz parece ser inegável. Estes gestos sempre me intrigaram, tão alheios parecem ser à minha genética, sempre me causaram algum repúdio e tantas vezes me parecem mais abertamente atentados ao pudor e à honra do que os “actos estúpidos” de facto cometidos. Uma sociedade que exige pedidos de desculpa públicos por “actos estúpidos” é uma sociedade malsã e hipócrita que desbarata e maltrata os conceitos de ofensa, de arrependimento e de perdão.
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6.2.09
O Comissário Europeu para o Ambiente acha supérflua a discussão em Portugal sobre o caso Freeport, pois a Comissão Europeia analisou a questão baseada numa queixa apresentada pela Quercus em 2002 e concluiu que a construção do centro comercial não tinha impactos significativos sobre as aves protegidas pela ZPE, independentemente das modificações do seu perímetro. Estas declarações, para além de parecerem demasiado concertadas com o nosso governo e o braço longa da sua propaganda é absolutamente inoportuna. Primeiro porque a questão do caso Freeport não é uma questão técnica, como não é uma questão de justiça: é uma questão política (a lembrar: uma investigação do SFO do Reino Unido que põe em causa a pessoa do nosso primeiro ministro, a aprovação por um governo de gestão do licenciamento do projecto a uns dias das eleições, a celeridade com que as autorizações foram dadas comparando com casos semelhantes, a presença da família do então Ministro do Ambiente neste processo, as contradições entre o que os vários intervenientes dizem, o porquê do não andamento da investigação deste caso em Portugal desde 2005) à qual o nosso primeiro ministro continua a não dar respostas concretas e satisfatórias. Segundo porque cabe aos eleitores portugueses, e não aos burocratas em Bruxelas, decidir da pertinência e do supérfluo das discussões em Portugal. A democracia é assim, coisa que parece ser frequentemente esquecida em Bruxelas.
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4.2.09
Revolutionary Road
Revolutionary Road não é um filme que cause grande entusiasmo generalizado, nem é “diferente” ou deslumbrante, mas é sólido e de uma qualidade irrepreensível. Eu gostei muito de o ver. Parece ter sido feito para enaltecer o trabalho dos actores e conseguiu isso mesmo: fá-los brilhar da primeira à última cena e creio que ninguém duvidada disso. Kate Winslet, Leonardo di Caprio e um fabuloso Michael Shannon dão o seu melhor para deleite de quem os vê. O filme explora o sentimento de frustração de um casal de um subúrbio norte-americano nas suas múltiplas facetas e ao fazê-lo deixa vir à tona o que move cada um dos elementos do casal, o que os liga e o que os afasta. Implacavelmente comprometida com a “sua” verdade, April Wheeler não desiste de lutar e exigir o seu sonho daquilo que pensa ser uma vida com sentido, num percurso em que a questão de ser ou não verdadeiro, onde está a verdade e o que é a verdade se coloca inúmeras vezes a cada um e ao casal, bem como os limites dessa mesma verdade. John Givings, o outsider visionário e em tratamento numa clínica psiquiátrica, funciona quase como uma espécie de coro da tragédia clássica: vê o que ninguém ousa ver, diz o que ninguém ousa dizer. Nada é adquirido neste filme: não há bons nem maus, justos nem injustos, boa fé nem má fé, mas há sobretudo uma transpiração dramática inequívoca, ou não fosse Sam Mendes um homem vindo da produção teatral.
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3.2.09
Um Serão Televisivo
Televisão ligada para assistir à competência desalmada (sem anima) e polida de Pedro Passos Coelho. Nunca aquele homem me faz abrir um pouco mais os olhos, me faz mudar a expressão dos lábios, me faz franzir um sobrolho. Tudo nele é liso, estudado, aprendido, ensaiado e competente. Não há nunca um rasgo de humor, um lapso (então gaffes nem falar), um tom confessional a permitir um desabafo. Tudo dito como manda o manual de como ser líder e primeiro ministro com um mínimo de risco, de investimento pessoal e de esforço. Mas o pior é a dificuldade que PPC tem em lidar com a verdade pois, tal como aquelas flores que de tão bonitas até parecem de plástico, também ele respira plástico, falso e hipocrisia. Senão vejamos: para quê insistir na legitimidade de Manuela Ferreira Leite, valorizar que ele cumpra o seu mandato se no minuto a seguir ele se diz disponível para ser primeiro-ministro e se o seu percurso é o de sistematicamente contradizer e opor qualquer declaração da líder do PSD? Porque é que ele investe tanto em, sempre que MFL toma uma posição, vir para a comunicação social dizer o contrário e o oposto. Se acredita que é importante estabilidade no PSD porque é que a sua intervenção política é tão activa enquanto oposição. PPC parece ser mais um deste políticos que infelizmente tão bem representam o pior dos políticos em Portugal, para quem a verdade é um conceito oco e que demonstram inconstância e desajuste entre as suas palavras e os seus actos, bem como nenhum respeito pelos cidadãos que o ouvem dizer num dia e desdizer no dia a seguir.
Também fiquei espantada com as políticas que preconiza para o país, e o tornam diferente de MFL e a forma como se demarca do governo socialista actual: lançou umas frases banais, desinspiradas e sem nexo para um ouvido mais exigente em que mistura liberalismo com intervenção moderadora do estado que impeça as injustiças de um mercado livre, no quel, se bem entendi, ele não acredita. Se isto é liberalismo, então os porcos devem também voar. Eu não percebi nada, mas deve ter sido problema meu.
A segunda parte do serão televisivo foi passado a discutir a justiça, mais do que discutir o caso real de José Sócrates com o Freeport. Não vi até ao fim, porque me cansou ver tantos representantes do regime a evitarem o tema e a evitarem questionar o Primeiro-ministro nas suas decisões políticas enquanto Ministro do Ambiente e em questionarem as actuais declarações de José Sócrates. Ao que parece, segundo o que já li na blogosfera o Prós e Contras foi, sem surpresa, mais uma manifestação do seguidismo da RTP face ao poder actual. Portanto, nada de novo.
No intervalo dei graças a Deus pelo Dr. House. Um rasgo, aí sim, de inteligência, de humor e de talento que permite a evasão, sair daqui, coisa de alguns instantes, e pensar que lá longe muito longe Portugal é mesmo um pobre e pequeno país.
Também fiquei espantada com as políticas que preconiza para o país, e o tornam diferente de MFL e a forma como se demarca do governo socialista actual: lançou umas frases banais, desinspiradas e sem nexo para um ouvido mais exigente em que mistura liberalismo com intervenção moderadora do estado que impeça as injustiças de um mercado livre, no quel, se bem entendi, ele não acredita. Se isto é liberalismo, então os porcos devem também voar. Eu não percebi nada, mas deve ter sido problema meu.
A segunda parte do serão televisivo foi passado a discutir a justiça, mais do que discutir o caso real de José Sócrates com o Freeport. Não vi até ao fim, porque me cansou ver tantos representantes do regime a evitarem o tema e a evitarem questionar o Primeiro-ministro nas suas decisões políticas enquanto Ministro do Ambiente e em questionarem as actuais declarações de José Sócrates. Ao que parece, segundo o que já li na blogosfera o Prós e Contras foi, sem surpresa, mais uma manifestação do seguidismo da RTP face ao poder actual. Portanto, nada de novo.
No intervalo dei graças a Deus pelo Dr. House. Um rasgo, aí sim, de inteligência, de humor e de talento que permite a evasão, sair daqui, coisa de alguns instantes, e pensar que lá longe muito longe Portugal é mesmo um pobre e pequeno país.
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