Os habitantes secretos do jardim têm mudado ao
longo do tempo. O primeiro foi um pintor com saudades da Córsega. Colocava o
cavalete entre os troncos das ameixoeiras, espalhava tintas, aguarelava telas, tinha
insónias com o ladrar dos cães. Comia saladas com queijo à sombra das árvores,
em silêncio. Depois vieram mais três, um gigante, um médio e um pequenino.
Estendiam os sacos-cama na terra e contavam as estrelas. Sob o telhado da casa
morava Rolando, o rato, e entre as paredes, o urso dos canos roncava quando se
abriam as torneiras. Mudaram-se para um país mais quente, multiplicaram-se e
nós subtraímo-nos. Deixaram-nos as estrelas e o rato e nunca mais soubemos do
urso. Presumimos que esteja bem.
E por fim chegou o rapaz-dos-pássaros. E as sementes e o
bebedouro feito de pedras e o comedouro feito de galhos e nós abençoámos a
negligência do jardineiro que não corta os arbustos nem as trepadeiras, deixa
ao deus dará as velhas ameixoeiras onde crescem os fungos que frutificam em
cogumelos frade, púcara, chapéu-de-sol. Não tão amarelos, não, mas neste mundo
dos contos as cores não correspondem exatamente à realidade. Nem a forma, nem a
sombra, nem o conteúdo. O território foi demarcado por dois chapins de cabeça
preta e dois piscos de peito ruivo. Sobram os melros e os gaios.
O rapaz-dos-pássaros escreve livros sobre pássaros e um
dia um pássaro escreverá um livro sobre ele. Entre uma coisa e outra, as
ameixoeiras ainda não floriram e quando o fizerem, já o aroma das frésias nos
embriagou as noites.
15 comentários:
MANUELA BAPTISTA
... deixas-me sem palavras e benditos sejam os nossos habitantes secretos ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Fevereiro de 2015
Vou pelos cogumelos: quando a primavera tarda, povoam os nichos do chão, pequenos templos do Mundo,
e impõem a lógica efémera dos seus jardins.
Por um momento breve, traçam as florestas dos nomes desconhecidos, e fazem dos cumes dos seus chapéus a pista arcaica dos olhares miniaturais.
Sentados, supomos fronteiras de Liliput
Com a Primavera próxima
tudo é possível
pois impossível é apenas
o que ainda não aconteceu
Voltarei para ler
o que o pássaro escreveu
Os cogumelo do sol também nascem por aqui....mas o que tenho saudade é do mar de Ipanema e das ondas da Barra, deste terra linda onde nasci e vou voltar.....o meu Rio hoje está soprando as velinhas!
Beijinho Manuela
Bia <°))))<
Manela
uma escrita que sentimos o odor e nossos olhos imaginam o cenário.
gostei especialmente de :
O rapaz-dos-pássaros escreve livros sobre pássaros e um dia um pássaro escreverá um livro sobre ele.
e não sei qual será mais belo...
um beijo
:)
Sinto o cheiro das frésias ao anoitecer, sinal de que o pássaro começou a escrever sobre o rapaz...
Maravilhoso, Manuela!
Um beijo.
Ora viva, Manuela!
Há por aqui um jardim vivo e bem cuidado.
As ameixoeiras vão dando cogumelos enquanto os gomos não parem flores. Vai ser um parto e tanto. Entretanto a passarada a passear-se pelos carreiros aproveita: namora e come amoras.
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.
. the last point in china town . shanghai mansion . bangkok . "see" you . as soon as possible . :) .
.
. íssimo . íssimo . íssimo .
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.
E eu espero ler o livro desse pássaro :)
beijinhos
Acabei agora mesmo de fazer um broche ao meu filho menor com o meu marido a ver com um crucifixo enfiado na peida. Tenho uma família disfuncional mas muito fodilhona. Com Jesus Cristo a ver tudo ainda dá mais tesão. Tenho uma parafilia muito gourmet: a pedofilia herética.
Adorava mamar no menino Jesus nas palhinhas deitado enquanto o espírito santo levava com bufas da vaca na cara.
E a Manuela Baptista, a louca mosquinha na teia, a bater pratos com a Virgem Maria.
eu sou cigana enjeitada
uma bruxa má como as mais venenosas serpentes
deito cartas e mau-olhado e
quem me conhece...
APODRECE!
(por dentro pra ninguém ver)
Hoje é Dia Internacional da Mulher, e eu já estava toda satisfeita, a pensar que me iam dar uma fatia de bolo moída, e com biberão, e perguntei às senhoras da Segurança Social se ia ter bolinho, mas foram tão más, por que disseram que estavam em contenção,
e eu,
contenção de quê?...
Minha senhora, já teve bolo no Dia Mundial da Entrevada; já teve bolo no Dia Internacional contra a Violência Feminina; já teve bolo no dia 13 de maio, agora queria mais bolo, já pensou em quanto isso custa aos contribuintes?...,
e esse é o mal das aleijadas, conseguisse eu pôr-me de pé nas vértebras e ia para a rua, de bandeirinha, pedir bolo no Dia Internacional da Mulher, a verdade é que eles veem em mim muito mais uma entrevada do que uma mulher, às vezes, chego a pensar se o sonho dos homens não é terem todas as mulheres acamadas, e sem sentirem nada, embora eu muitas vezes penso que não sei se o prazer que não sinto está em não sentir nada, se é por não sentir nada que eu imagino o prazer que teria se sentisse,
a verdade é que não precisavam de ser tantos, muitas vezes, sinto-me como aqueles pistões do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que são submetidos a testes de resistência destrutivos, só depois do material explodir é que se via que era bom...
... triste é a vida de uma aleijada,
mas vamos pensar positivo, e pensar que o nosso Paulinho foi para os bronzes, a Air Qatar já o trouxe, nas suas poltronas de luxo, de couro verdadeiro, para nos fazer inveja com o seu bronze, então a mim, coitada, que a única vez que vi o sol foi a dançar, acho que se o solzinho está a dançar não tem tempo para nos bronzear, não acha,
embora eu, coitada, nunca pude rodar a clavícula, estou nisto há cem anos, uma vez o nosso Laginha, do Museu de Abrir as Pernas, passou por mim, e disse,
tens uns olhos lindos,
pareces estar a dançar,
pudera, se tenho tudo paralisado das narinas para baixo, só me resta dançar com os olhos,
espero que o Paulinho me traga lições das dançarinas sagradas de Bangkok, parece que passam a vida no gang bang, e quem sabe se eu, com os meus lindos olhos de beata, ainda não sou contratada por algum templo budista, como não me mexo, metem-me mumificada dentro de uma estátua, e fico lá dentro, a olhar cá para fora, uma buda dourada,
a dançar com os olhinhos, para encantar turistas,
mas isto é a versão boa, a outra é pior, é cair na Ilha do Sal, a arriar cacetes e a piscar as pestanas, sem poder dizer ai, na rumba da mestiçagem,
Sódades do tempo em que andava,
agora, o tempo só desanda, olhe, bom fim de semana :-)
obrigada :))
bom ano de 1917!
Deu-me vontade de me deitar nesse jardim a contar as estrelas...! :)
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