segunda-feira, 13 de maio de 2013

Coleções de Arte das Grandes Casas - Palácio do Duque de Lafões


Introdução
Na investigação histórica, em especial a ligada à história local, encontramos muitas vezes testemunhos, histórias e documentos que nos remetem para diferentes áreas do conhecimento histórico, desde a história militar, social, industrial, e outras, sendo contudo uma das áreas que mais me fascina a da história da arte.
Neste particular, a história da arte não deve cingir-se apenas às obras que conhecemos e que nos chegaram até aos dias de hoje, como parece sugerir o Professor Reynaldo dos Santos, na sua obra-magna “Oito Séculos de Arte Portuguesa. História e Espírito”, ao afirmar:
Nisto se distingue a crítica de arte dos juízos sobre os acontecimentos históricos aos quais o historiador não assistiu, tendo de os julgar sobre interpretações e controvérsias; enquanto a arte, julga-se através das próprias obras que constituem a essência da sua história” (SANTOS, 1963, pp. 19-20)
Acreditamos que a compreensão integral da história da arte não se deve fazer apenas por uma “mera análise das obras existentes”, antes se deve analisar o artista e a obra como um sistema onde cabem várias problemáticas de múltiplos factores  como por exemplo: Quantas obras fez um artista antes de chegar às suas obras de maior valor artístico? Que circuitos artísticos e escolas frequentou? Que outros autores e artistas conheceu e que influência podem estes ter tido sobre a sua obra e a sua obra sobre estes? Existem outras obras que não chegaram até ao conhecimento público? Porque é que não chegaram? E o contexto onde a obra está actualmente é o mesmo para o qual ela foi produzida?
Enfim, uma série de perguntas que uma simples análise da obra ou obras de um artista não ajuda a responder, só a investigação documental, o estudo das fontes, a pesquisa exaustiva podem dar alguma luz sobre as mesmas. E é aqui que cabe aos investigadores, historiadores e historiadores da arte, entre outros, trabalharem em equipa, partilhando conhecimento e criando o “corpus documental” que em último caso irá beneficiar toda a comunidade, pois trata-se de conhecer melhor e preservar o nosso património artístico e histórico.



Palácio do Duque de Lafões
Continuando com o que já fiz com alguns posts anteriores, vou divulgar aqui notícias históricas sobre arte e património dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, em particular as Colecções de Arte das grandes casas particulares, temática talvez menos conhecida pela dificuldade em aceder quer às colecções ainda existentes, quer a inventários e outros documentos que nos permitam atestar a sua história.
Neste primeiro post divulgo uma breve notícia sobre o leilão do acervo da Galeria do Palácio Lafões, ao Grilo, sucedido em 1866. É interessante verificar a elevada dimensão do mesmo, 225 quadros, e ainda a diversidade de autores:

«LEILÃO DE QUADROS A OLEO, ANTIGOS
PELO JUIZO DE DIREITO E ORPHANOLOGICO DA VARA ESCRIVÃO COIMBRA
14 NA QUINTA FEIRA, 1 DO PROXIMO MEZ DE MARÇO, e dias seguintes, ás onze horas, no palácio da ex. ma casa ducal de Lafões (ao Grillo, próximo do Beato] se procederá á venda em leilão judicial de toda a antiga galeria pertencente á mesma. ex.ma casa de Lafões, e a cuja venda ora se procede em virtude do inventário da fallecida ex.ma sr.a D. Maria Carlota de Bragança; compondo-se a dita galeria de 225 quadros, sendo alguns dos seguintes auctores: Wan Dyck, Rubens, Baseano, Tintureto, Mignard, Carracci, Luccas Jeordani, Dominichino, Fravisane, André del Sarto, Giaccomo Brandi, Carlos Lorraine, e de muitos outros auctores, das escolas italiana, hollandeza e hespanhola.
O catálogo dos ditos quadros póde-se ver no inventario, do cartório do escrivão Coimbra, no tribunal da Boa. Hora, no escriptorio na rua dos Fanqueiros n. 235, 1.º andar, e no mesmo local aonde está a galeria no palácio do Grilo».
(Diário de Lisboa. Folha Official do Governo Portuguez, 23-2-1866)


O Palácio dos Duques de Lafões, ao Grilo, cujo risco, da segunda metade do século XVIII, se atribui a Eugénio dos Santos, ainda hoje é conhecido pelo excelente programa pictórico, nele se destacando, na chamada Sala da Academia, as pinturas murais de Cirilo Volkmar Machado.

Finalizando é preciso ter atenção que pode acontecer que nem todas as obras do referido espólio fossem quadros originais, sendo possível que alguns fossem cópias, as quais eram bem comuns no século XVII e XVIII, em especial de obras dos grandes mestres, contudo, pelo anúncio que publicamos, vimos que no período barroco, à semelhança da Casa Real, também noutras casas da nobreza vamos encontrar significativo património artístico ao nível da pintura.

RUI M. MENDES
Monte de Caparica, 13 de Maio de 2013

Imagens:

Bibliografia:
Reynaldo dos SANTOS – Oito Séculos de Arte Portuguesa. História e Espírito, Lisboa : Empresa Nacional de Publicidade, 1963-1965.
José Sarmento de MATOS – "Grilo, Palácio do", in Dicionário da Arte Barroca em Portugal, Lisboa : Editorial Presença, 1989.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Guilherme Weingarten, mestre serralheiro (1759)


No barroco é normal falar-se da obra importante de arquitectos, pintores, escultores, e entalhadores, estucadores, e mestres organeiros, no entanto é mais raro falar-se de outros mestres que também deixaram a sua marca quer técnica quer artística, é o caso dos mestres serralheiros ou ferreiros, que em Portugal e em diversas obras contribuíram para a qualidade técnica e artística de algumas importantes obras de engenharia ou ainda de elementos decorativos.
A utilização do ferro como elemento construtivo ou decorativo, na primeira metade do século XVIII em Portugal verificava-se sobretudo nos grandes portões de acesso às quintas nobres ou de algumas casas religiosas, nos balcões das casas nobres e claro em algumas cruzes e cruzeiros, no entanto a sua utilização aumentou sobretudo em grandes obras de engenharia, como no caso do Aqueduto das Águas Livres e também como elemento decorativo, tornando-se neste particular, e sobretudo a partir da reconstrução pombalina, como um elemento importante para quebrar a monotonia das fachadas dos edifícios.

Nas três escrituras que sumariamos abaixo registam-se três obras contratadas ao mestre ferreiro e serralheiro alemão Guilherme Weingarten.

Weingarten, de quem não temos elementos biográficos, além de que tinha "fábrica" na praia de Santos, seria provavelmente um dos vários artífices que aportaram em Lisboa, por ocasião do enorme esforço de reconstrução de Lisboa e arredores, depois do terramoto de 1755.
Além das obras registadas nas escrituras abaixo referidas, sabemos que participou na feitura de grades do Torreão oriental da Alfândega na Praça do Comércio em 1776, sob orientação do arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos, e cujo pagamento aquele reclamava à Junta do Comércio em 1778, e que lhe foram pagos em 1781 no valor de 1:890$400 réis.
Pela mesma altura um outro mestre serralheiro alemão João Abram Hirsch reclamava à Junta do Comércio uma série de peças por pagar feitas para a inauguração da estátua equestre, como foram 49 pez de ferro lavrados para se porem as lanternas dos nichos da arcadas, palmos de ferro e mais pertenças para as Armas e Figuras do Arco Triunfal, e ainda 4 braços com suas Cruzes e Esfera para o novo Pelourinho.

(Portão do Ministério das Finanças fronteiro à Estação Sul e Sueste)

Weingarten foi também, de acordo com Gustavo de Matos Sequeira, mestre ferreiro e serralheiro da Congregação Patriarcal, tendo feito quase toda a obra de ferro da nova Patriarcal, incluindo gradeamentos, fechaduras lavradas, argolões, etc.. Foi ele também o autor e executor do projecto para a Casa Forte da Calcetaria, destinada ao Tesouro Patriarcal, pelo valor de 4:114$200 réis. Sucedeu-lhe neste cargo Matias José de Medeiros.

ÉVORA
1758
Notas de Maio do T. Manuel António de Brito
«Contrato e Obrigação = o Arcebispo de Évora com Guilherme Weingarten, ferreiro alemão = sobre obras de grades de ferro na Sé de Évora».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.119, f.75)
1759
Notas de Julho do T. João Ferreira da Silva
«Contrato e Obrigação = D. Fr. Miguel de Souza, Religioso de Santo Agostinho, Arcebispo de Évora com Guilherme Weingarten, alemão = sobre obra de grades de ferro para a Capela do Santo Lenho da Seé da dita Cidade a preço de 520 rs o arrátel; e recebeo o dito Guilherme 400$000 réis à conta do que importar; e por ele ficou fiador e principal pagador Manuel Jozé da Silva, morador ao Pombal da Cotovia».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.120, f.83)


(Grades da Capela de São Manços ou das Relíquias, Capela colateral da Sé Catedral de Évora. Estas grades (do século XVIII) foram inicialmente concebidas para a boca da capela-mor). (*)

CASCAIS
1759
Notas de Junho do T. Manuel Inácio da Silva Pimenta
«Contrato e Obrigação = a Junta Geral do Comércio por Ordem de sua Magestade com o mestre pedreiro Jacinto Izidoro de Sousa = sobre a obra do Farol que manda fazer no sítio de Nossa Senhora da Guia junto a Cascaes».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.120, f.154v)
Notas de Dezembro do T. Manuel Inácio da Silva Pimenta
«Contrato e Obrigação = a Junta Geral do Comércio com Guilherme Weingarten, serralheiro alemão = para fazer hua lanterna para a Torre do Farol no sítio de Nossa Senhora da Guia junto a Cascaes; e finda a dita Obra se lhe pagará pelos preços que vão ajustados de arrates de ferro, latão e cobre e não dando finda dentro de 5 meses pagará as penas que vão estabelecidas».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.120, f.297)
Mandado reconstruir na sequência do Alvará de 1 de Fevereiro de 1758, achava-se concluído em 1761.

(Farol da Guia, foto Bing Maps)


(*) Esta imagem foi publicada no Inventário Artístico de Portugal, Concelho de Évora, vol. II, Lisboa, A.N.B.A., 1966, est.121 (2). Autor David Freitas | Data Fotografia 1966 ant. - | Legenda Grade de ferro da Capela das Relíquias | Cota DFT6039 - Propriedade Arquivo Fotográfico CME. Cit. http://viverevora.blogspot.com/2011/03/evora-perdida-no-tempo-grade-de-ferro.html)

RUI M. MENDES
Caparica, 5 de Julho de 2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A Capela de S. Domingos do Cutelo, nas Terras do Bouro (1731)


No Cartório do Distribuidor de Lisboa, registamos no Livro de 1731, entre as notas do Tabelião João Rodrigues dos Santos, ao mês de Janeiro, uma Escritura de Doação com o seguinte sumário:


«Doação = Domingos Pereira Viana para se fazer hua Capela em hu lugar da freguesia de São Mamede de Cibonis».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.095, f.207)
 
Pesquisando outros elementos sobre este Domingos Pereira Viana, verificamos que ele parece nas Memórias paroquiais de Cibões, como fundador de uma Capella na aldeia de Cutelo. Neste caso como se pode verificar o termo Capella é mais do que um lugar de culto, é sobretudo um vínculo ou legado pio com obrigação de Missas rezadas por um Capelão, como aliás regista o pároco de Cibões em 1758:
«Tem no Lugar de Cottelo huma Cappella da Invocação de Sam Domingos, que instituiu há dez annos o Brazileyro Domingos Pereira Vianna feita e hedificada à sua custa à qual por fábrica em dinheiros, que tem em Lisboa em padroens Reais, e nella poz hum Capellão a quaer dá cada anno setenta mil Reis por dizer cada Semana por Sua Alma coatro Missas entrando as dos dias Santos, e dar Escolla aos Rapazes da freguezia, e dando-lhe papel para elle aprenderem, e dar-lhes Cartilhas, e dando mais elle instituidor vinte mil Réis ao administrador com Obrigação de lhe fazer huma festa em dia de Sam Domingos, para o que lhe deixou em cada anno oito mil Reis».

Pela descrição apresentada verifica-se que este Domingos Pereira Viana, apelidado de Brazileyro, seria alguém que tendo ganho fortuna nas partes do Brasil legou uma parte dos seus bens para um instituto pio a favor da sua terra, que além de uma Ermida com Missa regular, incluía a providência de uma Escola. Trata-se de facto de um legado notável.

Situada na freguesia de Cibões, concelho de Terras de Bouro, Cutelo é hoje em dia uma das aldeias típicas que faz parte das Aldeias de Portugal. Tem seis casas de alojamento turístico.
Ex-libris do conjunto das “aldeias da saudade” do Alto Cávado, nela existe uma unidade de Turismo de Aldeia na Casa de São Domingos, propriedade municipal.
No centro da Aldeia encontramos a referida Capela ou Ermida de S. Domingos (ver foto abaixo) simples mas bela, e foi então mandada edificar por iniciativa do referido Domingos Pereira Viana a partir de 1731.

RUI M. MENDES
Lisboa, 29 de Junho de 2011


ANEXO: Foto da Capela de S. Domingos do Cutelo, em Cibões, Terras de Bouro


Casa ou Convento da Granja, Boticas (1742)

No Cartório do Distribuidor de Lisboa, registamos no Livro de 1742, entre as notas do Tabelião António da Silva Freire, ao mês de Março, uma Escritura de Dote para a fábrica e guizamento de uma Ermida, com o seguinte sumário:

«Dote = o Pe. Domingos dos Santos a hua Hermida que intenta erigir da invocação de St.ª Bárbara e N.ª Sr.ª da Conceição no lugar de Granja, tr.º de Monte Alegre».

(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.103, f.140)

Trata-se da Capela da Casa do Morgado dos Rodrigues dos Santos, na freguesia de Santa Maria da Granja, hoje concelho de Boticas, e que também aparece designada por Convento da Granja.
Localizada no centro de Granja na Casa funcionou desde 1898 até 1908, um colégio para meninas, a cargo das Irmãs Doroteias vindas de Beça. Talvez por isso a Casa também é conhecida por Convento da Granja. Este monumento encontra se hoje em mau estado de conservação, o que pela sua riqueza arquitectónica e a sua importância histórica para a freguesia e para o concelho justificam a sua urgente recuperação.

Dela falava o pároco de Granja nas suas Memórias Paroquiais de 1758:
«13 – Tem huma Irmida com a Invocaçam da Senhora da Conceiçam e Santa Barbora, que fica no fim do povo po poente que he do Reverendo Domingos dos Santos Abade de S. Pedro de Geres Covello, como sua elle administrador, nam sei que para ella haja renda alguma; só que elle a paramenta».

A Escritura acima referida esclarece que a Ermida (e possivelmente a própria casa) foram edificadas a partir de 1742 pelo Padre Domingos dos Santos, que em 1758 era Abade de S. Pedro de Covelo do Gerês.

Ao pesquisar por mais elementos sobre esta Capela ou Ermida encontrei as fotos abaixo que o Sr. Vítor Ribeiro amavelmente cedeu para este blogue. Nelas constatamos dois factos, o magnífico trabalho de cantaria em granito típico de um certo barroco do norte de Portugal, e o lastimável estado de conservação do imóvel, a merecer certamente uma melhor atenção por parte das autoridades locais e nacionais.

RUI M. MENDES
29 de Junho de 2011

ANEXO:
Fotografias da Ermida e Casa ou Convento da Granja
publicadas originalmente em
© 2009, Vítor Ribeiro



terça-feira, 28 de junho de 2011

D. Pascoal Caetano Oldovini, mestre organeiro (act. 1742-1785)


(Assinatura de Pascoal Caetano Oldovini, foto:


No Cartório do Distribuidor de Lisboa, registamos no Livro de 1742 entre as notas do Tabelião Manuel António de Brito, uma Escritura de Contrato e Obrigação para a obra órgão para o Convento de S. Francisco de Évora, com o seguinte sumário:
1742
Notas de Janeiro do T. Manuel António de Brito
«Contrato e Obrigação = D. Fr. José Maria da Fonseca e Évora, Bispo do Porto com D. Pascoal Caetano = para obra do órgão para o Convento de S. Francisco de Évora».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.103, f.069)



(Órgão da Capela-mor da Igreja do Convento de São Francisco de Évora)

Localizado na capela-mor, no lado do Evangelho, em posição proeminente, apresentava uma localização pouco comum em edifícios monacais, onde se localizava maioritariamente no coro-alto do lado da Epístola.

Ana Paula Figueiredo, autora de um artigo sobre este órgão em 2002, refere que a primeira notícia relativa a este instrumento datava de 1754-55, altura em que se procede ao conserto do órgão por 32$380 réis, sendo desmontado e afinando em 1763 por 24$000 réis, nunca se mencionando os organeiros responsáveis. Foi ainda de novo restaurado em 1860 por José Ricali e em 1997 por António Simões.
Ana Paula Figueiredo registava então as grandes semelhanças com o órgão da capela-mor da Sé de Évora, cuja autoria estava documentada e atribuída a Pascoal Caetano Oldovini, atribuindo também a este mestre organeiro a autoria do órgão da capela-mor de S. Francisco de Évora.


Verificamos por este registo que esta atribuição foi correcta tratando-se este mestre organeiro o autor dos dois órgãos.

Esta escritura regista assim dois factos curiosos:
D. Pascoal Caetano Oldovini (c. 1720 + 25.4.1785), filho de José Oldovini e Ana Maria, mestre organeiro genovês, que teve oficina em Évora, e foi responsável no séc. XVIII por diversos órgãos em Igrejas (*) na região do Alentejo entre c. 1742 e 1785 (**), regista aqui provavelmente uma das suas primeiras obras em Portugal, e o facto de a escritura ter sido feita em Lisboa pode indiciar que este tinha acabado de chegar a Lisboa, e que por via desta obra se vem a estabelecer em Évora, já que a sua produção conhecida está centrada sobretudo no eixo Évora-Elvas-Portalegre.

D. Fr. José Maria da Fonseca e Évora (1690-1752), Bispo do Porto (1741-1752), natural da região de Évora, que fora Mestre em Artes na Universidade de Évora e Doutor em Cânones na de Coimbra, e que tendo vestido o hábito franciscano no Convento de Ara-Coeli, em Roma aí viveu durante 28 anos onde desempenhou uma carreira notável, regressava então a Portugal a convite de D. João V para ocupar a cátedra portucalense. O patrocínio desta obra num dos principais conventos franciscanos da sua região, representa um importante legado cultural à sua terra natal, numa época em que estava em trânsito de Roma para o Porto.

 
(D. Fr. José Maria da Fonseca e Évora, foto:

Trata-se de um registo interessante em diversas vertentes, a principal das quais é o patronato artístico pelas autoridades e principais figuras eclesiásticas, muito comum no período de D. João V e de que a acção de D. Tomás de Almeida, 1.º Cardeal Patriarca de Lisboa, terá sido apenas uma das faces mais visíveis.

Posteriormente em 1769, no Cartório do Distribuidor de Lisboa, regista-se no Livro desse ano entre as notas do Tabelião Agostinho de Sousa Pereira, uma nova Escritura de Contrato para a obra do órgão para a Igreja Matriz da vila do Crato, com o seguinte sumário:
1769
Notas de Janeiro do T. Agostinho de Sousa Pereira
«Contrato = o Sr. Infante D. Pedro com D. Paschoal Caetano, para este fazer um órgão flautado para a Igreja Matriz da vila do Crato, debaixo de várias condições sobre a formalidade dele e pelo preço e ajustado de 270$000 réis que logo no princípio o dito organeiro há-de receber a parcela de 70$000 réis e no meio da obra 100$000 réis e outro no fim ».
(DGARQ-ADL, Cartório do Distribuidor, L.130, f.101)

RUI M. MENDES
Revisão: Lisboa, 3 de Julho de 2011

Fontes:
FIGUEIREDO, Ana Paula, "O Órgão da Igreja", IN Monumentos, N.º 17: Igreja e Convento de São Francisco de Évora, 2002.
JANEIRO, João Paulo, "Pascoal Caetano Oldovini: A actividade de um organeiro genovês no Sul de Portugal, no século XVIII", IN Organi Liguri, vol. I, Génova, 2004.

Revisão 9 de Janeiro de 2013
Sobre Pascual Caetano Oldovini veja-se também:
ALMADA, Victorino d’ – “O órgão da Sé”, in Correio Elvense, n.º768, 8.ºano, 10 de Abril de 1897, p. 2.
BORGES, Artur Goulart de Melo – Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Elvas (antiga Sé), Évora, DRCA, 2005 (relatório interno entregue ao então IPPAR), pp. 10-11, 13, 15, 20-21, 26-27; idem, “A Igreja de Nossa Senhora da Assunção, antiga Sé de Elvas”, in Monumentos, Revista Semestral do Património Construído e da Reabilitação Urbana, n.º 28, Lisboa, IHRU, Dezembro de 2008, pp. 107-111.
CABEÇAS, Mário Alexandre Henriques Zacarias – A transfiguração barroca de um espaço arquitectónico: a obra setecentista na Sé de Elvas, Vol. 1, 2012, pp. 16-17, 20, 164-166, pub. http://repositorio.ul.pt/handle/10451/6789

Revisão 4 de Agosto de 2014 (**)
Fontes sobre Pascoal Caetano Oldovino (como também se escrevia o seu nome): 
1752 – Igreja da Misericórdia de Montemor-o-Novo. Veja-se a revista Almansor, Ed. 1, Biblioteca Municipal de Montemor-o-Novo, 1983, p. 56.
1762 – «OLDONI (Pascoal Caetano). Construtor de órgãos italiano do séc. XVIII. Em 1762 construiu o grande órgão da Sé de Elvas». Vide Grande enciclopédia portuguesa e brasileira, Vol. XIX, p. 273; Guia de Portugal: 2.º vol. Estremadura, Alentejo, Algarve, Biblioteca Nacional de Lisboa, 1924, p. 442.
1764 – «O órgão portátil para o coro da igreja da Misericórdia de Évora foi encomendado a Pascoal Caetano Odolvino, em 1764, na condição de reproduzir "o que havia feito para o coro do Convento de Nossa Senhora do Carmo desta cidade". No ano seguinte, em reunião de mesa, os irmãos da Misericórdia decidem mandar pintar o novo órgão "com os filetes dourados, de cor de lápis-lazúli". (Arquivo da Misericórdia de Évora, Livro das Lembranças, 1764-1776, n.º 29, fls. 16 e 39)», pub. Arquivo Distrital de Évora in https://www.facebook.com/arquivodistritalevora/posts/714088058651667. Referido já em JANEIRO, João Paulo, "Pascoal Caetano Oldovini: A actividade de um organeiro genovês no Sul de Portugal, no século XVIII", IN Organi Liguri, vol. I, Génova, 2004.
1769 – «CRATO — Matriz — Órgão barroco com base no Flautado de 16 pés construído em 1769, cujas características denotam influência da escola italiana. A sua autoria é atribuída a Pascoal Caetano Oldovini». Cf. VALENÇA, Manuel, O órgão na história e na arte, Braga, Editorial Franciscana, 1987, p. 103. Atribuição inicial agora confirmada pela fonte publicada neste post.
1771 – «Em Fevereiro de 1771, encontramos os primeiros sintomas de melhoria. A Mesa (da Misericórdia de Borba) decidiu chamar o mestre italiano Pascoale Oldovino para elaborar um órgão novo. A escolha recaiu neste profissional por ser, como afirma a documentação, o mais perito desta Província», cf. SCMBRB\B\01\Lv 041, fl. 242v, João Miguel Ferreira Antunes Simões, História da Santa Casa da Misericórdia de Borba, Borba, Santa Casa da Misericórdia de Borba, 2006, p. 179, pub. https://www.academia.edu/1784651/Historia_da_Santa_Casa_da_Misericordia_de_Borba
1772 – feitura do órgão da Igreja Paroquial de Arronches por Pascoal Caetano Oldovino, pub. http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=6570
1774 – Diogo José, escultor eborense, em Junho de 1774 emprestou a D. Pascoal Oldovino a quantia de 100 000 rs, cf. ADE, FN, Évora, Liv. 1438, fl. 93 v.-94, apud Fundação Eugénio de Almeida, Inventário Artístico da Arquidiocese de Évora, Newsletter, n.º 3, pub. http://www.inventarioaevora.com.pt/newsletter/03/index.html.
(1762) e S. Francisco de Évora (1743), e nas Sés de Évora (1758) e Portalegre (s. XVIII), pub. http://antoniosimoes.no.sapo.pt/organeiro/obras.html


(*) No site http://www.apao.web.pt/organeiros/passado/oldovini.htm encontramos uma lista de obras conhecidas deste mestre organeiro, que transcrevo abaixo, corrigindo com as indicações e bibliografia acima.

(**) Agradecemos o Dr. João Paulo Janeiro que amavelmente nos cedeu uma cópia integral do seu trabalho, do qual apenas possuímos, em 2011, uma cópia parcial, pelo que aqui fazemos referência aos órgãos da autoria de Oldovini identificados no referido trabalho.

Lista de obras de órgãos atribuídos ao mestre D. Pascoal Caetano Oldovini (Oldoni, Oldovino ou Olduvini):
1742-43 – Convento de S. Francisco em Évora
1743 – Igreja Matriz de Reguengos
1744 – Convento do Carmo em Évora
1752 – Igreja da Misericórdia de Montemor-o-Novo
1755 – Monchique (desconhece-se qual o órgão) (**)
1755 – Coro Alto da Igreja de S. João Baptista de Moura (**)
1758 – Capela-mor da Sé de Évora
1760 – Igreja do Convento da Graça, em Vila Viçosa (**)
1762 – Sé de Elvas
1762 – Convento de S. Francisco em Évora (pequeno órgão de armário) (**)
1762 – Igreja do Convento das Mercês, em Évora
1764 – Coro da Igreja da Misericórdia de Évora (**)
1767 – Sé de Faro (reparação) (**)
1769 – Igreja Matriz do Crato
1771 – Igreja da Misericórdia de Borba
1772 – Igreja Matriz de Arronches
1772 – Igreja Matriz de Alvito
1777 – Colégio dos Santos Reis Magos, em Vila Viçosa (**)

Sem data:
? – Igreja Matriz de Nisa
? – Igreja Matriz de Cano, Sousel
? – Igreja do Convento do Espinheiro, em Évora
? – Sé de Portalegre