AFINAL
I
"SOB SUA LUZ PARECE NUNCA TER
HAVIDO OUTRO TEMPO SENÃO ESTE,
ESPIRAL EXTREMA.TUDO ESTREMECE:
DEZEMBRO SOLETRO CONTRA O MURO
DE UM CIMENTO FRESCO.
QUE SE ME SEQUE A LÍNGUA QUANDO
NÃO PUDER SENTIR A CIGARRA QUE ZUNE
ENTRE OS DENTES QUANDO DIGO DEZEMBRO,
DEZEMBRO REPITO, E COMO NOUTROS
DEZEMBROS OUTROS HOMENS PEDIRAM
A TYRME, O MATADOR DE GIGANTES,
A KALI, MÃE DIVINA, AO ESPÍRITO
DE NING-NING, PEÇO A DEZEMBRO:
II
LEMBRE-SE DE MIM, QUANDO EXTINGUIR-SE
TODA JUVENTUDE DE MEUS ANOS;
ESTEJA PRESENTE QUANDO NAS DESPEDIDAS
RESTAR APENAS A DOR À PORTA DE CASA;
QUANDO A CANÇÃO EMUDECER, EMPALIDECER
A LUZ E ATÉ UM GRÃO DE LENTILHA FOR
UM PESO
LEMBRE-SE-UMA SÍLABA AO MENOS-
DE MIM; E QUANDO EU MORRER ,
CASO HAJA QUEM CHORE POR ISSO,
FIQUE AO LADO DELE, COMO AGORA
AO PÉ DE MIM, NOS DIAS DE LÁGRIMAS,
NOS DIAS DE FACA E DE DESTRUIÇÃO,
NO DIA EM QUE TODAS AS ÁRVORES
CAÍREM E A TEIA DE CORRENTES VIER
MAIS ALTA QUE MEUS GOLPES, RECORDA-SE
DE QUANDO BEBEMOS JUNTOS
NAS CIDADES E EMBRIAGADOS SONHAMOS,
SOBRE O ASFALTO A ERVA DA ESTEPE.
III
ACÚMULO DE NÚMEROS APRESSADOS
QUE O VENTO EMBARALHA NUM CALENDÁRIO
SEM FIM OU SENTIDO, TUDO DESÁGUA
NO PRESSÁGIO DE QUE SOMOS TODOS
NÃO MAIS QUE LEMBRANÇAS
DE DEZEMBRO, UMA ESPÉCIE DE SEMENTE,
SIM, QUE O TEMPO PLANTA E COLHE E MÓI
E TORRA E COME, DEZEMBROS
DE DEZEMBRO. DEZEMBRO É,
AFINAL, O NOSSO NOME."