Tragédia mais que anunciada talvez
Resultado de displicência e omissão
Incautos jovens vítimas da sordidez,
Bazófia, oportunismo e transgressão.
Uma festa universitária descontraída
Todos comemorando a vida e a paz
O fogo lambeu, mas não havia saída
A boate Kiss, uma arapuca mendaz.
Salve-se quem puder nessa confusão
Via-se tumulto, correria, muita fumaça
Ímpios seguranças a todos dizem não
Tentam obstar a saída daquela massa.
Inefável matadouro tornou-se o evento
Mais de duzentas almas jazem no chão
Assassinato claríssimo, cem por cento
Só que autoridades ciência não se dão.
Depois surge uma tardia e falha justiça
Assoberbada, sequer a que veio ela diz
Beirando ao descaso, não entra na liça
Oblitera resultado, nada pronuncia o juiz.
Agora já decorrem uns dois anos vazios
Tais trâmites morosos, inexplicáveis são
Enquanto famílias guardam os calafrios
Kiss, reduto de extermínio na escuridão.
Insinua-se que próceres em compadrios
Se conluiam pra obstar uma condenação
Sabedores que o tempo os tornará pios.