Ide-vos os dois embora e não volteis a atormentar-me...
pensou referindo-se à voz de comando do seu sexto sentido, à sua voz e ao que o Major das SS acabava de lhe dizer, após se afastar dele emproado. As suas palavras deixaram-no sem fala. Viu-o partir, tão rápido como chegara. Francisco deixou-se ficar encostado às placas do transito exangue, Quieto, muito quieto a digerir o que ouviu, a pensar sobretudo na vida; na sua triste vida. Assim ficou quedo, quase sem respirar, tentando perceber o sentido da sua vida e compreender. Compreender quem iria entender aquilo... qual o verdadeiro o alcance do que ouvira momentos antes; como decifrar todo aquele enigma em que se via envolvido. "Não pode ser...". Seria louco? Deixar-se envolver assim sem mais nem menos naquela maldita guerra nojenta. "Acha que o Cônsul Sousa Mendes lhes salvará a Pele? "Mesmo o senhor só sairá daqui quando, e eu o permitir...
Teria que agir com normalidade, esconder o denosto a humilhação de ter que colaborar com aquela gente. Pegou na cigarreira e preparou um cigarro, enrolando vezes sem conta com a ponta dos dedos, lentamente levou o cigarro à boca e lambeu a ponta do papel com a língua, e ficou a olhar para ele sem o acender, batendo com ele levemente na caixa metálica cromada, para apertar o tabaco. Pequenas pancadinhas enquanto ia pensando na sua vida e nas vidas que passaram a estar a seu encargo. Enorme fardo lhe fora colocado nas costas. Quem lhe mandou ficar ali em Paris, “ agora aguenta e resistes ou...”
Respirou fundo e acendeu-o por fim,