Meu avô paterno era fã de
Apparício Torelly, o Barão de Itararé (jornalista e humorista gaúcho, 1895
-1971) e de João Bergman, o Jotabê (cronista gaúcho, 1922 -1960), mas tinha
muito medo do Leonel Brizola (político gaúcho que foi governador do Rio Grande
do Sul na década de 1960 e do Rio de Janeiro na década de 1980, nascido em 1922
e falecido em 2004 – se continuar desse jeito, daqui a pouco isso aqui deixa de
ser crônica para se transformar em enciclopédia... talvez valha a pena, vai que
enciclopedista ganhe mais do que cronista... preciso investigar).
Dele, herdei o gosto por
apreciar o humor inteligente dos dois escritores, mas felizmente não herdei os
temores relativos ao político histórico, e é na sequência que explico o porquê
(“o porquê”, tudo junto e com circunflexo, como tem de ser, viram? Só não me
perguntem por que, porque daí isso vai se transformar em gramática e nos
distanciaremos da crônica, sem que ninguém saiba por quê. Mas vai que gramático
ganhe mais do que cronista... preciso investigar).
Pois passei boa parte da infância
em Ijuí, lá na década de 1970, ouvindo meu avô sempre manifestar temores ao se
referir, em suas conversas com “gente grande”, a Leonel Brizola. E eu, do alto
da minha ingenuidade infantil, não entendia a razão daquilo. Mas, observador
que era já desde as fraldas, fui crescendo e detectando ao redor, entre alguns
adultos que orbitavam nossas relações, a existência de outros tementes a
Brizola. E eu não entendia o porquê (certinho, de novo).
Mas daí, cresci, decidi ser
jornalista e comecei a incrementar meu uso do “por quê?”, separado e com
circunflexo, no fim da frase. “Por que você tem medo do Brizola?”, perguntava
eu, separado e sem acento, pois no início da frase (e agora virou aula de
Português, pois vai que professor ganhe mais do que... não, pior é que acho que
não...). E aí, ninguém sabia responder o porquê. O tal do medo do Brizola não
tinha explicação. Era apenas a repetição desinformada, o eco impensado de um
senso comum, que ninguém sabia justificar.
Aquilo, para mim, não servia e
segue não servindo. Preciso estar convicto, pleno de informações e de
argumentos, para justificar meus temores ou minhas crenças. Afinal, cronistas,
jornalistas, gramáticos, enciclopedistas, professores e cidadãos de todos os
tipos não podem ser maria-vai-com-as-outras. E vocês sabem muito bem por quê.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de agosto de 2015)marcos