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quarta-feira, 3 de junho de 2015

A cachorrada brasileira

Você sabe quantos brasileiros nós somos? Na década de 1970, todos sabíamos na ponta da língua que éramos 90 milhões em ação, pra frente Brasil, porque esse era um verso do hino da Copa do Mundo que nos levou ao tricampeonato mundial de futebol na Copa do México, um dos eventos históricos mais significativos e importantes de nosso país, como bem se sabe. De lá para cá, ganhamos outras Copas, perdemos outras, o país cresceu e a população não parou mais de crescer junto, até chegar aos atuais 204 milhões, conforme dados atualizados do site do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que tem entre suas principais funções ficar contando quantos brasileiros nós somos.
Eu, que gosto dessa coisa de estatísticas e rankings e listas e quetais, fico hipnotizado pelo placarzinho eletrônico que figura ali na abertura do site oficial do IBGE (http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/), mostrando a evolução em tempo real da população brasileira. Conforme as projeções do Instituto, nasce um novo brasileirinho em algum lugar do país, entre o Oiapoque e o Chuí, a cada 19 segundos. E é batata: você crava o olho no placar e a cada 19 segundos o último número atualiza. Ontem pela manhã, quando de minha última olhadela para escrever esta que os amigos agora leem, éramos 204.333.851 brasileiros. Mas crescendo, crescendo, crescendo sem parar...
O legal é que agora o IBGE, que há décadas já é craque em contar as gentes em nosso país, resolveu ampliar o espectro de suas pesquisas e já tem até condições de revelar quantos cachorros e gatos brasileiros existem nesse nosso continental país. Sim, é verdade, a notícia veio a público ontem: somos 204 milhões de pessoas no Brasil, acompanhados por uma população de 52 milhões de cães e 22 milhões de gatos. Dados oficiais do IBGE! E tem mais: 44,3% dos lares brasileiros possuem pelo menos um cãozinho de estimação e os gatos são os bichinhos existentes em 17,7% dos lares. Ah, o Paraná é o estado com o maior percentual de residências com cães.

Muito interessante. Fico agora na expectativa das novas ampliações do leque de pesquisas do IBGE, ajudando a entendermos melhor a formação das populações brasileiras. Depois das gentes, dos cães e dos gatos, será que saberemos quantos gatunos existem do Oiapoque ao Chuí? Mãos à obra, IBGE!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de junho de 2015)

terça-feira, 24 de março de 2015

Haja nuvens

Precisamos ser mais humildes em relação à importância que conferimos a nós mesmos enquanto seres individuais e enquanto espécie. Humildade significa consciência a respeito do nosso real valor e significado perante a existência, e maior consciência representa libertação interior, tolerância e mais capacitação para aprimorar a convivência com nossos iguais. A humildade pode ser o mais eficaz instrumento de promoção da cidadania de que a civilização humana já dispôs.
Nós, seres humanos, temos tendência a cultivar uma autoimagem estratosfericamente positiva a respeito de nós mesmos. Achamo-nos os donos do pedaço e cremos ser plausível a crença de que somos imortais ou qualquer outra coisa semelhante que a providência providencialmente providenciou para nós.
Alta autoestima, claro, não faz mal a ninguém. Porém, prepotência crônica pode levar à autodestruição. Segundo estimativas feitas pelo Population Reference Bureau, uma agência americana especializada em pesquisas sobre questões populacionais, desde o surgimento da raça humana até os dias de hoje, já viveram cerca de 107 bilhões de pessoas sobre a Terra. Somados à atual população vivente de 7 bilhões, chegamos ao número de 114 bilhões de seres humanos já produzidos no planeta. É gente, hein?
E cabe tudo isso no céu, pergunto eu? 107 bilhões de pessoas se acotovelando lá entre as nuvens, engarrafando, sujando e tumultuando o paraíso? Sem falar que, desses 107 bilhões de seres, quantos deles deixaram algum sinal relativo à sua passagem pela vida? A mais absoluta maioria (99,999999%, talvez) nasceu, viveu, sofreu, sonhou e morreu sem imprimir nenhuma marca na História. Seus corpos viraram pó e sua lembrança virou fumaça. Dá no que pensar, não é mesmo?

Para mim, isso tudo funciona como um bálsamo. Ciente de minha insignificância e de minha inegociável finitude, procuro aproveitar o milagre que me foi concedido e viver uma vida o mais plena possível, valorizando-a ao máximo e também a de meus semelhantes, companheiros de inexplicável aventura, respeitando-os de forma cidadã. Deveria bastar essa percepção para que o mundo fosse um lugar mais agradável e tolerante para vivermos essa tão curta, única e instigante experiência que é a vida.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de março de 2015)