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29 abril 2007

99


( foto by Rogério Castro )

Serra do Cipó
ROGERIO SANTOS

a vegetação rupestre
ganha força na intempérie
um grito na face da pedra
no sopro constante do vento

um sabor de gabiroba
no gosto da chuva que verte
beijando esses poros perenes
formando pequenas piscinas

o ciclo da vida é inscrito
parindo um jardim de bromélias
prá floração de catavento
as cascatas são artérias

27 abril 2007

98


( foto by: Paulo Rodrigues )

Tomada
ROGERIO SANTOS

sobre as janelas
um ponto de vista
:vida em movimento
quadro em mutação

17 março 2007

92



Dança de Outono
ROGERIO SANTOS

por entre as paredes soturnas
dos prédios da Avenida Paulista
o som do vento passeia sorrateiro

pelo leito desse cânion urbano
onde vidas deslizam feito água
ninguém se dá conta dos passos

é o outono que pede licença
bate à porta da margem direita
e reinicia seus rituais de dança

na blusa fina da elegante menina
a piscadela derradeira
dita o ritmo da música no salão

a chuva que castiga a cidade
no final do mês de março
carrega de lágrimas o verão

07 março 2007

89


( No detalhe - Gabriel, o mais belo poema de Solange Firmino )

Casa
ROGERIO SANTOS

casa
é
um
mundo
de
onde
se
parte
para
se
fazer
do
mundo
uma
casa

16 fevereiro 2007

85


Globeleza
ROGERIO SANTOS

soterrado no sofá
bebericando uma cerveja
o homem globalizado
vai brincar seu carnaval

15 fevereiro 2007

84


ficção
líria porto

adoro o mar
seu balanceio
as suas ondas

vejo as colinas
invento em minas
o mar que sonho

vem numa concha
molha meu olho
depois se esconde

quisera um dia
morar no mar
ser uma ilha

levar comigo
a minha serra
no tombadilho

Tábua de outra maré
ROGERIO SANTOS
(para Líria Porto)

quem diz que Minas
não tem o mar
não vai além

o velho Aziz
pai do lugar
nos disse bem

da geografia
desses confins
um grito forro

ecoa firme
por entre os verdes
mares de morros

e vez por outra
esse clamor
tão absorto

encontra cais
pela poesia
de Líria Porto

10 janeiro 2007

79



Ciranda Caravela
ROGERIO SANTOS

O mundo é um grande Portugal
Seja gigante ou pontual
Mando um abraço-brasil
( Quica aqui )
Quica qui, quica ali, colá

Seja soldado ou general
Admirável almirante
Navegador contumaz
Somos filhos da língua nau

O mundo é um grande Portugal
Quem vem costurar meridianos ?
Ter hemisférios paralelos como cais
E um sorriso por litoral ?

Pra quem tá mal, Macau
Prá quem não sorri, Dili
Prá quem se benze, Bissau
Prá quem alua, Luanda

Prá quem tá puto, Maputo
Prá quem não crê, São Tomé
Prá quem tá na boa, Lisboa
Prá quem entra na gandaia, Praia

Desoriente saudade espalhada
Nos quatro cantos desse mundo
Soprando um fado na proa da alma
Como um beijo na Índia, em Goa

07 janeiro 2007

78


( foto: Rogerio Santos )

Hipotenusa
Texto: Rogerio Santos


lanço um olhar retilíneo sobre o horizonte de casas um quadro de altivez financiada num prédio de periferia estou acima não se constata outra coisa canta um cego rabequeiro “o sertão já virou mar” e sou deus e sou nenhum contemplo as luzes paulistanas imagino confins pontilhados na loucura surreal densidade demográfica um ponto nas reticências nas entrelinhas da frase que não se acaba em Penha-Lapa parágrafo e letra maiúscula mas deixa perguntas no ar muito mais que nono andar nego cio na solidão no pensamento negocio em linha reta sobre vidas e vigas no céu da terra prometida

30 novembro 2006

72



(Atrelado e inspirado no "Koan" do Pituco)
ESPELHO DE FRENTE PRO ESPELHO

O QUE REFLETE?
REFLETE O QUÊ?
ESPELHO DE FRENTE PRO ESPELHO
( Tony Pituco Freitas )

Reflexão
ROGERIO SANTOS

Os olhos do pobre refletem o medo
Os olhos do rico, pardieiro
Os olhos da puta refletem desejo
Os olhos de quem paga, desapego
Os olhos do menino refletem desespero
Os olhos de quem passa, apelo
Os olhos do padre refletem bueiro
Os olhos de quem peca, dinheiro

Os olhos da moça refletem veneno
Os olhos do sacana, tempero
Os olhos da desgraça refletem desprezo
Os olhos do preconceito, guerreiro
Os olhos do cantor refletem apreço
Os olhos da platéia, recomeço
Os olhos do pai refletem tormento
Os olhos do filho, desalento

30 outubro 2006

67



Feira Livre
ROGERIO SANTOS

nas cores da feira
a vida encandeia
no verde abacate
limão espinafre
amarelo mamão
lima-da-pérsia
vermelho tomate
caqui coração

lugar aconchegante
para olhar jabuticaba
tão denso de sonho
azulado sorriso
a morar indeciso
no papel da maça

pastel e garapa
entoam cântico:
tchiiiiiiiiiiiiiiiii
tátátátátátátá


sinfônico desejo
ter a fome saciada
por meio arco-íris

17 outubro 2006

64



Nação Piratininga
ROGERIO SANTOS
Tem Pirituba, Piqueri, tem Itaquá
Tem Jaguaré, tem Jaguara e Jaraguá
Tem Tremembé, Tucuruvi, tem Curuçá
Tem Sapopemba e Paranapiacaba.

Tem Mandaqui, Itaquera, Jaçanã
Tem Itaim, Cangaíba e Butantã
Tem Jabaquara, tem Moema e Sacomã
Ibirapuera, Tatuapé, Mairiporã
Carapicuíba, Itupeva e Barueri
Tem Utinga, tem Itu, Itapevi
Tem Cabreúva, Jarinu, Jacareí
Tem Taubaté, Itatiba, Tatuí
Tem Bertioga, Ubatuba e Caraguá
Tem Peruíbe, tem Iguape e Mongaguá
Itanhaém, Picinguaba e Itariri
Tem Icapara, Maranduba e Guarujá

Com Tietê, Tamanduateí e Cabuçu
Pirajuçara, Itororó, Baquirivu
Jurubatuba, Aricanduva e Pacaembú
Tem Cambuci, Ipiranga, Anhangabaú

06 outubro 2006

63


Seis e pouco
LETRA:ROGERIO SANTOS
MÚSICA: TONY "PITUCO" FREITAS

OUÇA AQUI

seis e pouco da manhã
de um dia normal
o rádio-relógio
dispara o sinal
semínimamente

paulistano
sabe bem
do que estou falando
punhal sonoro
atingindo o sonho
pelas costas

seis e pouco da manhã
desse dia comum
reclamando minutos
roubados de sono
traço planos
(de)cadentes
e sibílo decassílabo

depois do café
"Inês é morta"
voando solto
pela aorta

29 setembro 2006

62


Soul da Cidade
LETRA: ROGERIO SANTOS
MÚSICA: TONY "PITUCO" FREITAS
Ouça Aqui

Bicho, sou da cidade!
Sou mais um na correria
Sempre feliz
Sempre insatisfeito
Desequilibrado
Entre chuva e sol
Entre o necessário
E o essencial

Sou flex-power
Álcool, estricnina
Sinvastatina
Chopp, omeprazol
Soul da cidade bicho !

Bicho, sou da cidade!
Num feriado
É sempre carnaval
Acordo as três
Para fugir do trânsito
Então me jogo
Para o litoral
Chego à praia bem cedinho
Antes que se acabe
Todo cantinho
Para o guarda-sol
Copertone, caipirinha
Caladril e coisa e tal
Soul da cidade, bicho!

Soul da cidade
Ô bicho, eu sou da cidade
Da cidade de São Paulo

11 setembro 2006

58



Estação da Luz
ROGERIO SANTOS

todos os dias
na estação da luz
num sobe e desce
um mar de gente
se traduz

na mesma ânsia
de andar
um passo a mais
de ir em frente
prá chegar
noutro lugar

por esse ciclo
de caminho
demarcado
no mesmo horário
o mesmo som
de ladainha

tampouco importa
em que estação
chega esse homem
pelos trilhos dessa vida
como gado confinado
no suor pelo tijolo
da subconstrução

só busca a luz
da primavera
na estação

só busca a luz
da primavera
na estação

02 setembro 2006

57



Carro Anfíbio
Letra:ROGERIO SANTOS
Música: TONY "PITUCO" FREITAS

Todo ano, no verão
A estória se repete
Na primeira chuva forte
São Paulo vira uma enchente

São pobres perdendo casas
Avenidas alagadas
Meninos nadando em poças
Dezenas de cenas ingratas

Aí nosso bom prefeito
Interrompe seu rodízio
E todo bom cidadão
Vai andar de carro anfíbio

Um esperto tecnocrata
Tem brilhante solução
Fazer desassoreamento
Construir um piscinão

E nem bem começam as obras
Surrupiam um milhão
E vão entupir os bueiros
Numa próxima eleição

Se o lixo é sempre o mesmo
Os insetos sem asinhas
Passeiam de helicóptero
Apreciando a tardinha

" O barquinho vai...
a tardinha cai..."

10 agosto 2006

52


( Musicado em 17/08/06 )
Ouça aqui na voz do Pituco

Torresmo na Madruga
LETRA: ROGERIO SANTOS
MÚSICA: TONY "PITUCO" FREITAS

Andando em Santa Cecília
Entre
os bordéis e a Santa Casa
Deu coceira na virilha
Só de lembrar onde estava

O metrô tava fechado
E caminhar até a República
Pra pegar o Morro Grande
Desviando dessa fauna?

Madrugada paulistana
Nevoeiro de outono
A fome que me abraçava
Aumentava o abandono

Lembrei do pernil do Estadão
Perto da Maria Paula
Mas era dura a missão
E meu dinheiro não dava

Lembrei do Café São Paulo
Onde às vezes encho a lata
Discutindo futebol
Com amigos de bravata

Mas essa é uma outra estória
E o Café tava encerrado
Mas por sorte ou por azar
Havia o boteco ao lado

Esse sempre nos salvara
Nas madrugadas perdidas
Quando o Café nos faltava
O velho "pé-sujo" acudia

Ali eu era de casa
Ali eu pagava fiado
Com ágio de trinta por cento
Mas era super bem tratado

Arrisquei um torresminho
Da mesma velha vitrine
Onde passou alguns dias
Aguardando o corajoso

Depois da pinga de trinta
E de trocar o meu chequinho
Acordei na enfermaria
Glicosando meu venoso

17 julho 2006

47




Corpo Cidade
ROGERIO SANTOS

a casa
é o coração
da gente
a rua
a primeira
artéria

depois tem
a avenida
e o refluxo
que agita
a vida
na colméia

os olhares
e os cílios
toldos
varandas
sacadas
secretas

o bairro
é o pulmão
os arrabaldes
são rins
fígado
e traquéia

o centro
é o cérebro
a zona industrial
estômago
e a comercial
sistema nervoso
e cefaleia

o corpo
se move
e avança
no espaço
cotidiano
de pura
matéria

12 julho 2006

44


( poema sobre foto de João Kaarah )

Frente Fria
ROGERIO SANTOS

um avião risca o céu
rumo ao norte
entre olhares incapazes
de ler seu rastro

na luz crepuscular
círrus e saudade
tempo de mudança
estrondo e nebulosidade

quem parte
rompe o hemisfério
de horizontes findos

quem fica
parte à metade
cúmulus-nimbus


04 julho 2006

41



Mundinho
Rogerio Santos

fui menino de rua
não desses que vejo hoje
daqueles que se divertiam
com brincadeiras vadias

esconde-esconde, pega-pega
queimada, pipa e balão
tratorzinho-de-lata-de-óleo
futebol nos campinhos de chão

formava fila na escola
cantava o hino nacional
o da bandeira também
ao ser hasteada no mastro

canoa dos anos setenta
plena e cruel ditadura
tristeza, medo e tortura
nos braços da guerra-fria

fui menino de rua
daqueles que se divertiam
com brincadeiras vadias:
- era feliz e não sabia

23 junho 2006

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Conversa Ribeira
Música: ANDRÉA DOS GUIMARÃES
Letra: ROGERIO SANTOS

A melodia ecoa
trina o pássaro
tem cheiro de café
e bolo de fubá

Menino vem prá cá
é hora de banhar
arruma esse terreiro
que a noite vai chegar

O sino badalou
é hora de respeito
pensar na mãe do amor
no rumo desse vento

Na luz desse suor
que inunda o meu leito
mistura o sal do amor
com força de tormento

O cheiro no quintal
na chuva que bateu
na terra que molhou
o dia amanheceu

Menino vem prá cá
é hora de acordar
arruma tua cama
arranja esse bambá

O sino badalou
há missa na capela
rezar pro meu amor
voltar com alimento

Partiu na lua nova
no rumo desse vento
a lágrima derrama
na terra, o meu lamento

O cheiro no quintal
que hoje anda vazio
carrega o bem-me-quer
é pó no sal do amor