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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Folhas no cimento


                       
            Se olhar pela janela me lembrasse dele, fechava os olhos. Se o cheiro do mar me lembrasse dele, prendia respiração. Se doce de abóbora me lembrasse dele, não ousaria degustá-lo novamente. Tudo isso não me lembrava de James, mas sim as pálidas ruas de Nova Orleans, as músicas de Louis Armstrong que costumávamos escutar, o sorvete de caramelo que ele comprava para mim todas as sextas depois da aula de piano. Nunca mais consegui ir aquela sorveteria, é como se ele ainda estivesse sentado na cadeira azul, olhando todos aqueles sabores e decidindo em qual mergulhar profundamente. Ele me ofereceu um sorvete, e tudo aconteceu, era como mágica. E todas as vezes que espreitávamos a porta do quarto de seu pai, para escutar as melodias do jazz, embriagavam-me como o sorvete de caramelo. Repetíamos as músicas no piano, cantávamos em uma desafinação conjunta, e eu não me importava.
            Aprendi que os troncos das árvores têm histórias, e no final de semana íamos ao parque escutá-las. Abraçávamos uma árvore e ficávamos nos entreolhando, mas no final não eram as árvores que tinham histórias, mas nós que estávamos fazendo a nossa.
            Ás vezes nós ríamos sozinhos, sentados no meio fio olhando os carros. Pensávamos que éramos felizes assim, e que as pessoas, presas nos seus carros, não conseguiam aproveitar o de melhor fora deles. Perdiam muito tempo indo e vindo de lugares desnecessários, dirigiam até padarias que ficava na esquina de suas casas. Preguiça ou costume, perderam a habilidade de apreciar as pequenas coisas. Um dia, James veio correndo até mim com uma folha enorme na mão:
            “- Fernanda, Fernanda! Olhe esta folha!
              - E o que tem?
              - Não vê? Está cheia de cimento?
              - E o que uma folha com cimento tem de tão especial? – E ele me levou até a calçada que havia cimento ainda úmido, e eu vi exatamente a forma da folha desenhada no cimento.
              - As árvores podem morrer, as folhas podem ser levadas pelo vento, tudo isso é natureza, mas esta folha nunca será esquecida.”
            E eu olho aquela folha guardada na minha gaveta do criado mudo, todos os dias desde que ele se foi. Eu imagino o baque do carro, ele estendido no chão, sem mim. Ferido por uma pessoa desatenta aos detalhes, que perdeu habilidade de viver no nosso mundo, que dirigem para chegar a lugar nenhum. Ela chegou ao meu amigo, e ele não teve nem a chance de se despedir de mim, ou de lutar por mais um sorvete de caramelo, por uma nota de jazz. O baque foi tão forte que ele permaneceu imóvel.
            Eu não o vi no chão, não o vi no enterro, só nas minhas lembranças. Foi uma sexta-feira, ele me levou à sorveteria e comprou um sorvete de pistache, dizia que precisávamos ver o mundo mais verde, mais cor de pistache. Dizia que mudar é bom, mas que permanecer gostos é essencial. O sorvete caiu na minha camisa, ele riu. Eu o sujei, manchou a camisa dele. Prometemos ir à escola na segunda-feira com a camisa manchada, só para mostrar que o pistache tem o seu lugar no mundo, e nas nossas camisas. Nós nunca chegamos a ir à escola, tudo aconteceu no sábado.
            Dizem que a morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos que atravessam o mar e permanecem vivos uns nos outros. O James permanece vivo em mim na música, no sorvete, nas árvores, na calçada, nas folhas de outono, na minha camisa manchada. Eu permaneço machada de pistache, marcada na calçada, porque ele foi essencial na minha vida. Eu mudei de gostos, mudei de casa, mudei de opinião, mas mantive o que era bom. James era bom, e eu o mantive na minha memória. As árvores podem morrer, as folhas podem ser levadas pelo vento, tudo isso é natureza, mas o meu amigo nunca será esquecido.


Pauta para Bloínquês, 127ª edição conto/história, tema: negrito. 

P.S.: Imagem do site JB Studio Arte, do meu pai.

Avaliação Detalhada: Primeiramente, amei muito as alusões ao jazz. O jazz dá uma elegância imensurável no texto. E os detalhes, os pequenos momentos de felicidade que as personagens vivenciaram deram uma identidade ao texto. Não é uma história aleatória, é uma história com situações marcantes, memórias. A perda de um grande amor nos dói o coração e dilacera a alma, é tal sentimento que eu quis trazer na frase-tema, mas com uma visão otimista. E você cumpriu com propriedade a proposta. Um maravilhoso conto, sem dúvidas.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Vagos alheamentos


        “Não sei por quantas vezes eu chorei por você estar longe, por não poder tocar a sua pele macia e chamar-te para a cama. Já perdi as contas quantas vezes eu me peguei chorando no banheiro, trancado, sufocando-me nas minhas lágrimas, para ver se morria logo. A sua ausência aos poucos me corrói, a saudade deixa um gosto amargo na minha boca, e eu já não posso viver sem você.
        Não sei se nestas viagens malucas suas, você encontrou alguém novo, para se distrair ou formar o que chamamos de família. Não sei se devo confiar na minha insegurança ou na minha insanidade, já que nenhuma delas me dá o equilíbrio que preciso. Eu preciso de você.
        É claro como a água o quanto eu te amo, mas você parece não corresponder quando está distante. Não sei quanto já gastei com selos, e se as cartas chegaram aos seus destinos, mas você nunca se importou em respondê-las, ou simplesmente escrever uma para mim, por livre e espontânea vontade. Isso me deixa triste, faz com que eu me sinta rejeitado.
        Ás vezes eu ando pela casa a noite pensando em você, em como cada canto tem uma lembrança, cada foto tem uma história. Lembro-me do dia em que nos conhecemos, foi tudo tão inesperado. Estava chovendo, meu cabelo mais molhado do que nunca, e eu já não enxergava mais a rua, apenas as luzes dos faróis dos carros. Você parou e me ofereceu uma carona, quem diria que eu me apaixonaria por você. Seus olhos, seu cabelo, sua boca, tudo me encantou neste perfeito encaixe da natureza.
        Aqui estou eu novamente com lágrimas nos olhos, não consigo me conter quando penso em você. Eu não consigo mais manter esta distância, eu preciso que você esteja comigo aqui, que não passe meses no exterior fazendo sabe lá o que. Eu preciso do seu corpo, da sua alma, do seu amor.
        Não sei se me arrependerei de escrever esta carta, mas eu estou indo. Estou deixando tudo para trás, assim como você fez comigo. Eu não posso mais suportar isto. Talvez você ache esta carta no meio da sua papelada, ou talvez no lixo, eu ainda não decidi onde pô-la.
        Eu te amo mais do que tudo, mas não posso pedir que venha atrás de mim, eu não tenho mais forças.
                                                                                
                                                                                                Saudades,
                                                                                                                      Craig.”

        E eu me fui, voltei para o meu apartamento e me tranquei lá, as lágrimas escorrendo, meu rosto vermelho. Eu o amava mais que tudo, e aquilo doía, aquilo me consumia. Uma ligação, duas ligações, três ligações. Era hoje que o Daniel voltava da viagem, eu não sabia se ele já havia lido a carta, ou se estava apenas me procurando. Quatro ligações. Tapei os ouvidos, gritei. Cinco ligações. Meu coração palpitava mais que nunca. O telefone parou e eu adormeci.
        Seis ligações. Acordei desesperado e atendi. O som da sua voz mudou tudo.
        - Craig? Craig? Você está aí? Eu estou indo...
        Desliguei o telefone, não aguentaria nem mais um minuto, nem um segundo longe dele. Desci as escadas e peguei um táxi. Sete ligações. Será que ele já havia chegado em casa? Mais meia hora no trânsito. Oito ligações, nove ligações. Ele chegou em casa.
        O elevador do edifício nunca demorou tanto para chegar ao quinto andar. Abri a porta do apartamento, os pés mal tocando o chão, cheguei perto da porta do escritório. O telefone vibrou no meu bolso. Dez ligações. Daniel com a carta em uma das mãos e o celular na outra. Ele pôs as duas mãos na cabeça e soltou um soluço alto, ele estava desabando.
        - Não, não, não! – Ele gritava com as mãos na cabeça.
        - Eu não sabia se você já tinha chegado.
        Ele me olhou, parecia estar com ódio de mim. Levantou-se da cadeira, caminhou ate a porta e parou. Encarou-me, jogou a cabeça em meu ombro, os braços em volta de mim e as lágrimas na minha camisa.
        - Nunca mais faça isso.
        - Eu não posso mais, eu não posso.
        - Não! Nunca existiu outro alguém, nunca. Eu te amo tanto, não faça isso. – Passou a mão no meu cabelo. – Eu saio, eu me demito, eu faço qualquer coisa.
        - Qualquer coisa?
        - Qualquer... – Ele me olhou com os olhos aflitos.
        - Beije-me.
        E a carta ficou no passado.


Pauta para Bloínquês, 118ª edição visual, tema: foto.

2° lugar aqui.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Ofuscação eterna


Quando me sento à janela
O vento bate em meus cabelos,
O negro percorre o meu rosto
E as sensações me dão medo,

Eu tenho medo do novo
Tenho medo do que não possa ver
Este turbilhão de sensações
E o culpado é você,

Ando querendo parar com isso,
Ando querendo sentir isso,
Ando confusa
Ando confundindo,

E por que não ser cega?
Não enxergar as desavenças da vida
Sentir cada coisa onde está
E cada coisa em seu devido lugar?

É melhor misturar
Embaralhar tudo de uma vez,
Porque se o amor é cego,
É melhor andar de mãos dadas com você.


Pauta para Bloínquês. 81ª edição poesia. Tema: Por que o amor é cego?

domingo, 25 de março de 2012

Suplícios divinos


            
            Nunca pensei em como morreria, se seria de velhice, de amor ou de amargura. Esperava ser uma morte rápida, não uma morte estúpida. Eu corria pelo jardim, livre. As gotas geladas do chafariz caíam sobre mim, sobre o meu vestido carmim, e eu não me importava. Eles estavam fazendo a coisa mais horrível comigo, obrigar-me-iam a me casar com um maluco, com um insano, com alguém que eu não amava. Aquele era o meu único e último momento livre, antes deles me amarrarem a um marido amargo. Nunca pensei que morreria pelas mãos de um padre, pelas mãos de um casamento.
            Nita me olhava pela janela, ela sentia mais ódio de mim do que o próprio demônio, e tudo aquilo era diversão para ela. Santa prima que achavam ser assim, mas era um tormento, um estorvo, uma maldição caída sobre mim, para punir-me de pecados que nunca cometi.
            O dia da minha condenação, o dia do meu casamento. Pela fresta da cortina avistava Sir. Herman com toda a longitude, vestido com o seu paletó francês, desembarcado na noite passada. Os convidados esperando, todos em seus lugares, e as cortinas me protegendo de um pesadelo. Apenas Oliver parecia se importar, procurava-me por entre as pessoas, estava aflito. Fechei os meus olhos e pedi por um milagre, o único que já havia requisitado. Oliver surgiu por trás de mim, abraçou-me, com seu cheiro inebriante e seus cabelos ruivos, acolheu-me nos seus braços quentes, e eu já não me sentia tão perdida.
            - Oliver...
            - Lílian, você tem que ir, já estão preocupados.
            - Oliver, eu não posso.
            - Quem dera eu pudesse te tirar daqui...
            Eu o olhei, pude ver a sua alma clamando por isso, pude ver a minha alma desesperada nos seus olhos. Corri para fora da igreja, o vestido branco arrastando no chão, Oliver paralisado na porta e uma grande ponte à minha frente. Não pensei muito, pulei. Senti o corpo pesado, alguém me puxando, trazendo-me à vida.
            Meus olhos se abriram, estávamos na rua de pedras, ao lado da ponte, todos vestidos a rigor. Ainda era o dia do meu casamento, e eu não tinha morrido. Triste peça o destino havia pregado em mim, nem a morte me queria por perto. Sir. Herman me olhava estaticamente, Oliver mexia nos meus cabelos e seus olhos estavam aflitos.
            - Eu estou grávida!
            Coragem. Coragem foi a palavra que melhor definiu o que eu senti. Minha mãe teve uma recaída, meu pai um ataque, e Nita só me olhava, aplaudindo o teatro.
            - Não creio que Sir. Herman se aproximou de minha pequena filha! – Meu pai já se atracava com o meu noivo.
            - Estou grávida do Oliver.
            E todos me encararam. Oliver nunca tinha nem me beijado, eu era virgem de corpo e alma, mas precisava mentir. Ele me pegou no colo e confirmou a história.
            - Eu a levarei comigo.
            - De maneira alguma. – Meu pai gritava.
            - Ela precisa descansar, precisa respirar, falaremos disso mais tarde.
            E ele me carregou até a sua casa, não fomos seguidos ou coisa parecida. Meus pais já não me queriam mais perto, havia estragado os planos de ser rica com Sir. Herman. Oliver me pôs na cama.
            - Por quê? – Ele questionou.
            E eu o beijei. Ele me abraçou forte, enquanto eu o prendia. Os corpos se fundiam, e a sensação de nada era tomada por um calor. A sua mão afogava-se no meu cabelo negro despenteado, o beijo se tornava poesia. Os lábios não se separavam, as mãos prendiam-se aos corpos, a saliva era só uma, o sabor de fruta madura perdurava, e eu tremulava contra ele enquanto tudo se adocicava.
 Eles descobririam aquela mentira em poucos dias, mas eu e Oliver já estávamos longe, muito longe de nossa pequena vila. Resolvemos seguir estrada à fora, esquecer o passado e viver o futuro.
Nunca pensei em como morreria, se seria de velhice, de amor ou de amargura, mas tinha certeza que seria com Oliver ao meu lado.

Pauta para Bloínquês, 111° edição conto/história. Tema: frase em negrito.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Caroável amigo

   Nem tudo na vida é muito certo, principalmente se tratando de amor. Existem aquelas tais paixões platônicas, que pelo menos comigo, aconteciam todo ano com o garoto mais bonito da turma. Mas não ano passado; com os meus catorze anos nas veias eu gostei de um menino mais velho, de um menino tímido, de um menino comprometido. Sabe-se que eu não sou lá uma conquistadora, então me encolhi na minha concha para não sair mais, não para aquele menino.
     Mas como já disse que tudo não é certo, eu voltei a me apaixonar por ele, e com quinze anos eu já havia aprendido a ser tão cara-de-pau quanto a minha melhor amiga. Sim, ele se tornou meu amigo, como tantos outros, e eu estava feliz por ele estar ali, perto de mim, dividindo o mesmo grupo.
     "E o amor, onde se encaixa?", eu gritava para mim mesma. E em meados dos meus quinze anos, eu me declarei, eu o agarrei, eu simplesmente deixei fluir tudo o que estava preso em mim, tudo o que eu havia guardado por tanto tempo.
     Ele é a minha alegria de acordar todos os dias cedo, de demorar uma eternidade para ir à escola, mas do mesmo jeito chegar abraçando todos. Ele me faz rir, faz-me sentir bem, consegue tirar de mim histórias que eu não repetia a mim mesma. E ao mesmo tempo se afasta, deixa aquele gosto de saudade apertada no peito, fica frio e depois esquenta.
     Nós somos problemáticos, e como todos os meros mortais, gostamos do puxa-empurra da vida. Somos maleáveis, somos amargos, somos caroáveis, somos duas pessoas que se gostam, mas não se rendem um ao outro.
     Sim, ele é especial, mas não pode saber disso. Ou melhor, pode sim, mas nunca terá a certeza que isso é para sempre. A distância nos faz querer mais, a saudade esquenta os nossos peitos, os beijos doces não são o pão de cada dia, mas a bomba de chocolate da sexta-feira.
     E nesse ritmo nós vamos vivendo, ele vai continuar me segurando, e eu continuarei abraçando-o. Nem todos sabem, muitos desconfiam, mas a certeza que eu tenho é que o sentimento é especial, e eu não posso pará-lo, eu não quero.
Pauta para Bloínquês, 97ª edição opinativa. Tema: Quando conheci você...


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Escudos e sentimentos



Sentado do outro lado da sala
Você não se movimenta
Não fala
Não me encara,

Continua frio
Sem ação
Em um imenso vazio
Parece não ter coração,

Essa distância que me mata
Um pouco a cada dia
Nessa sala pacata,
Que ironia,

Gostaria de levantar
Caminhar até você
Dizer que quero te amar
Até você se cansar,

Pedir para nunca extenuar
Continuar sempre no meu mundo
Nunca tentar me ludibriar
E me amar a cada segundo,

Acabe com essa distância
Ofereça a sua mão
Com toda a elegância
Nessa efusão,

E diga adeus a tudo
E caminhe comigo para o paraíso,
Pegue o seu escudo
E o resto cabe ao improviso.


Pauta para Bloínquês, 73ª edição poemas. Tema: Distância.



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Piquenique no parque



      Eu nunca quis que nenhum dos meus relacionamentos acabasse, mas eu penso que é impossível duas pessoas tão diferentes continuarem juntas. Não sou madura o suficiente para entender isso, pelo menos acho, não desejo descobrir no futuro que o que eu sabia era verdade, quero algo bonito e verdadeiro. Isso acontece com o meu namorado também, estamos juntos à cinco meses e nos vemos, no máximo, duas vezes por semana. Eu afirmo que não precisamos ficar juntos todo o tempo, pois este é o grande problema, toda essa 'chicletice' com os namorados. Eu penso que temos que ter o nosso espaço, e quando bate a saudade de alguém, nós marcamos e nos vemos. Ele nunca reclamou, eu sempre achei que estava tudo bem. Até o dia em que ele falou:
      - Fernanda, eu estou cansado.
      - Cansado de quê?
      - De nos vermos tão pouco. Eu sinto a sua falta.
      - E eu também, mas não estamos a matando agora?
      - Sim, mas então você vai embora e o buraco no meu peito se abre novamente.
      Sim, ele reclamou muito depois disso, ficamos discutindo o que era melhor, usando os argumentos que tínhamos: a minha razão e os sentimentos dele. Não precisávamos mudar, eu tinha o meu espaço e gostava dele. Ele pediu um tempo, disse que não suportava tudo isso, e que talvez precisasse de alguém mais próximo, mais carinhoso. Não suporto que me coloquem defeitos, mesmo que não seja diretamente. Tento ser uma pessoa boa, mas quanto aos meus sentimentos, quero que eles serão priorizados pela pessoa que estiver comigo. Se ele não tem capacidade para fazer isso, que procure alguém que necessite de um apoio.
      - Você só pensa em si mesmo!
      - E você? Desde quando você me telefonou para dizer que queria me ver? Eu sempre tomei as atitudes. - Ele gritou.
      - Eu não sentia tanto a sua falta assim!
      - Então você não tem sentimentos, e é por isso que eu não quero ficar mais com você!
      Ele jogou na minha cara que eu era uma pessoa vazia, gelada, sozinha. Não o vi mais, permaneci só em minha solidão por mais de dois meses, e finalmente eu sentia o que ele chamava de saudades. É um grande aperto no coração, quando nós não sabemos se a outra pessoa está pensando em você; nós queremos vê-las, mas não sabemos se é possível. Não queria sentir, queria apenas esquecê-lo, mas isso era muito difícil para mim naquele momento. Saí. Levantei da cama e fui dar uma volta pelo Parque Laje, onde nós nos conhecemos. É um parque lindo, calmo e que me proporcionava a sensação de paz. Não foi a sensação que tive no momento, mas sim a saudade batendo constantemente no meu peito quando o vi sentado, sobre uma toalha vermelha com uma cesta de piquenine. Não acreditei, nós fazíamos piquenique naquele lugar, e agora ele estava com outra pessoa, fazendo o que eu mais gostava. Quando ele me viu dando meia volta, gritou meu nome sem pensar, não sei se talvez se arrependeu.
      - Fernanda?
      - Oi Bruno, eu não pensei que estaria aqui.
      - Eu ainda gosto de piqueniques.
      - Quem é a sortuda? - Não queria que a última palavra saísse, mas foi mais forte do que eu.
      - Ninguém. - Disse assustado. - Estou sozinho.
      - Que ideia é essa de fazer um piquenique sozinho? Donde é que já se viu? - Minha voz ficou um pouco mais trêmula.
      - Isso me lembra você.
      E com a saudade batendo na porta, apertando a campainha e gritando muito alto, eu falei:
      - Sinto saudades sua.
      - O quê? - Ela não acreditou, óbvio.
      - Sinto sua falta, da sua voz, do seu carinho, de tudo.
      - Fernanda, eu também, mas não posso mais aguentar aquela situação, de ficar dias longe de você, e só eu sentir alguma coisa.
      - Eu sinto algo agora, sinto-me diferente.
      - Então, por que nós não tentamos novamente?
      - E acabar com essa distância entre nós dois?
      - Por que não? Claro que você terá que ceder um pouco mais.
      - Você tem sanduíche de peito de peru?
      - Sim. - Respondeu em um tom de pergunta.
      - Então me dê, que eu sento do seu lado e a gente acaba com essa distância.
      - Para sempre?
      - Veremos senhor do piquenique.

Pauta para Bloínquês, 93ª edição musical. Tema:E acabar com essa distância entre nós dois?

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Veja-te como te vejo

        Você se menospreza
        Por ela não te enxergar
        Mas ela apenas não sente
        O que eu tento te explicar

        A conquista se encontra
        Nos pequenos detalhes
        Mas ela não percebe
        Sua vivacidade

        Quando toca o violão
        E a letra sai dos lábios
        Enchem os meus ouvidos
        E o peito fica apertado

        Quando fica acordado
        Para falar comigo
        Perde horas de sono
        Só pra ouvir os meus risos

        Quando nota os meus olhos
        E eles estão vermelhos
        Deixa tudo de lado
        Para ouvir meus apelos

        E quando você escreve
        Chega a ser magnífico
        Passo os olhos nas linhas
        E me sinto no livro

        Gosta das mesmas músicas
        E dos mesmos refrões
        Matamos várias aulas
        Para ouvir Legião

        Então me diz agora
        Por que ela não te vê?
        Ela não vê os detalhes
        Que eu já vejo em você.

Pauta para Bloínquês, 58ª edição poesias. Tema: Detalhes.

domingo, 22 de maio de 2011

Obscuridade dos sonhos


          Aviso logo de cara sobre os sonhos,
          Nem ouse se agarrar nesta abertura,
          Divinamente guardada pelos demônios,
          Saboreando a ausência de censura.

          Eles povoarão sua límpida mente,
          Simularão ludíbrios em dimensões,
          Retiradas da sua alma inocente,
          Sem se preocuparem com as restrições.

          Não se mova, não imagine, não respire,
          Eles reúnem todas as suas fraquezas,
          Formam pesadelos e trazem a tristeza,
          Não se importando com a manhã seguinte.

          Mas tudo isso não é nada além de um sonho,
          Quando o sol nascer, serão apenas lembranças,
          Dos sentimentos criados pela esperança,
          De ser algo suficientemente cômico.


P.S:Quadra em versos alexandrinos. Se você não sabe o que é, clique aqui, e depois aqui.
Pauta para Bloínquês, 41ª edição poemas. Tema: Sonhos.

terça-feira, 8 de março de 2011

Jornal cafeinado


          Eu estava um café, distraído com o meu jornal, tentando arrumar as palavras para a minha nova coluna. Neste momento ouvi gritos e acusações, mas estava muito concentrado para prestar atenção. Baixei o jornal quando vi uma mancha de café escorrendo sobre a coluna de Júlio Alves, minha feição não era uma das melhores. Mirei na mulher com a maquiagem borrada, muito bem vestida, estava com um vestido vermelho até os joelhos, com um decote que chamou a minha atenção. O homem estava de smoking e muito sério, não olhava diretamente para a mulher, e ela se mexia muito, principalmente com as mãos, explicando algum acaso.
          O homem fingia-se distraído, mas ouvia o que ela dizia. Podia-se perceber pelo jeito com que as mãos suadas se secavam na calça, os dedos se estalavam e a cabeça mudava de posição conforme o tom da voz da mulher. Só comecei a prestar atenção na briga quando pingou algumas gotas de café na minha calça e eu amassei o jornal, rascunhando algumas palavras na folha de papel. Eles estavam brigando porque o homem havia convidado a irmã dela para dançar, não percebendo a diferença.
          - Vocês são gêmeas! – Gritava ele.
          - Você está casado comigo há três anos e não sabe a diferença?
          Além de convidar, ele havia a beijado e dito palavras carinhosas, sem se dar conta de que não era a sua esposa. Ela chorava muito, e dizia que queria o divórcio, e ele, desesperado, afirmava ter sido uma pequena confusão por ter bebido a mais. Eu, que nada conhecia do amor, que dedicava cada segundo do meu dia ao trabalho de escreve colunas para jornais, levantei-me daquela cadeira e pus minha opinião em pauta.
          - Não vêem o que está na frente de vocês? Estão casados há três e por uma briga boba vão se separar? A sua irmã devia ter vergonha do que fez, pois pelo o que ouvi, foi ela que o convidou para dançar. E se ele veio atrás de você, é porque ele te ama. Eu não sou um sábio, mas a verdade é que eu já vi muitas histórias de amor nos jornais, algumas trágicas e outras felizes. Não deixem que esse jornal acabe molhado de café e amassado na lixeira.
          E os olhos antes fuziladores, acalmaram-se e se transformaram em um abraço eufórico e sincero em mim. Eles se beijaram e o homem secou as lágrimas manchadas do rosto dela. Eu ganhei uma história para minha coluna, e eles ganharam a vida de volta.

Pauta para Bloínquês, 57º edição conto/história. Tema: Frase em negrito.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Insana

          Quando disseram para mim que eu era insana
          Gargalhei até lágrimas escorrem pelas minhas bochechas,
          Pensei ser só uma brincadeira
          E não dei muita importância.

          Com o passar dos anos
          Descobri que eu era louca,
          Que a tênue linha que eu guardava com tanta segurança
          Foi cortada com uma adaga vermelha.

          Suja do sangue de quem um dia eu matei
          E larguei ao relento,
          Não pense que foi uma morte rápida,
          Fiz questão que fosse dolorida, sofrida e inquietante.

          E pelo barulho da noite
          Não consigo mais dormir,
          Estou sufocada com tantas mentiras,
          E a adaga está cravada no meu peito.

          E quando penso que não há dor maior do que ser insana
          A adaga se desfaz,
          Ele, com todo o seu ar
          Retira-a de mim.

          E a quem feri e com seu sangue manchei a adaga,
          Agora vem a mim com todos os sentimentos reconstruídos,
          Os mesmos que matei há alguns anos,
          Tornando-me louca.

          Não me arrependo de nada,
          Dos dias que passei manchada,
          Mas acredito que a minha loucura,
          Seja a mais rara.

Pauta para Bloínquês, 23º edição poesia. Tema: loucura.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Consolo Sincero


Seu olhar era de desespero, foi a primeira coisa que notei ao vê-la entrando no bar arfando. Quando ousei levantar ela tocou em meu braço e pediu uma bebida, eu fiz o mesmo. Ela começou a falar com muita dificuldade depois de engolir uma taça inteira de uma vez só.
-Eu não sei como te falar isso, é tão duro.
-Não se preocupe, respire um pouco e depois fale.
-Eu transei com o Chase!
Eu fiquei paralisada, não tinha reação, meu rosto deveria estar com uma expressão bem engraçada. Logo fiz minha cara de reprovação, não tinha porque ela transar com o Chase, não havia motivo, ou talvez houvesse.
-Por que você fez isso?
-Eu estava bêbada e não sabia muito bem o que estava fazendo. Ele foi tão carinhoso e depois tão gentil que eu me deixei levar, desculpe-me Casey!
-Você não tem que se desculpar comigo, você tem que ir se desculpar com o seu lindo namorado que me pediu ajuda ontem para comprar uma aliança de noivado para você. É com ele, não comigo.
-Ele me pedirá em casamento? – Gaguejou ao perguntar.
-Claro! Ele é doido por você desde o Ensino Médio.
-O que eu faço? – Ela se levantou e me abraçou, estava tão angustiada que eu podia sentir.
-Diga a ele que foi uma despedida de solteira, ele te perdoará.
Suas lágrimas desceram e eu pude ouvir sua risada lacrimosa, eu sorri e garanti que tudo terminaria bem, e esta era a mais pura verdade.

Pauta para Bloínquês, 2ª edição. Tema: Sequência acima.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Os dias mais felizes

Ele me perguntou qual fora o momento mais feliz da minha vida. Eu sorri sem entender e dei as costas, ele insistiu na pergunta. Eu sabia que ele não iria embora, então contei:
-O dia mais feliz da minha vida foi aquele que eu não parava de sorrir, eu estava repleta de energia positiva e ninguém conseguiria me por para baixo. Foi o dia em que eu não tive medo de ser quem eu sou, o dia em que eu não fingi ser outra pessoa para agradar alguém próximo. Esse dia eu pude respirar o ar e senti que meus pulmões explodiriam de tanta pureza, pude beijar todas as pessoas que conhecia e deixar um sorriso em cada rosto, pude jogar-me no chão e sentir o frio entrando pela minha pele sem medo. Foi neste dia em que beijei o meu primeiro namorado.
Ele pegou a minha mão e contou o dia mais feliz da vida dele:
-O dia mais feliz da minha vida foi aquele em que eu gritei para a escola toda o que eu pensava, o dia em que eu subi no palco e falei o que pensava de cada um, disse o que estava engasgado. Senti-me aliviado de não fingir para as pessoas que eu gostava delas, talvez por interesse ou pelo destino, que me pôs no caminho do infeliz. Neste dia eu pude dizer que tinha razão e sentir que eu estava certo, que ninguém tinha o direito de dizer o contrário, pois eu não mudaria nada! Foi neste dia em que comecei a escrever e dizer nas palavras o que penso das coisas ao meu redor, das estranhas pessoas com seus olhares fuziladores tentando entrar na sua mente. Nestas pequenas palavras que juntas, formam uma muralha de frases que são tão forte que mudam opiniões e conceitos. Os meus foram mudados e eu continuo a tentar mudar o mundo, não mudar o que as pessoas são, mas o que pensam sobre determinados assuntos.
Então eu percebi que na mais simples ação, como a de pegar a mão do seu namorado, ou na mais complexa, como mudar conceitos e juntar as pessoas, tudo está relacionado. Somos humanos e não vamos mudar sozinhos, sempre estamos em grupos, com as mesmas opiniões e significados para coisas mortas. Foram aqueles pequenos minutos que mudaram o meu conceito de ver as pessoas, e assim ele continua mudando. Surpreendo-me quando, com o meu próprio texto, eu mudo as minhas opiniões. Escrever é mais do que juntar palavras e formar significados, é se conhecer melhor a cada parágrafo, e apenas alguém que conhecer o real significado da escrita sabe por sentimento e se sentir feliz com cada frase. Nada vai me fazer mudar de idéia, estou certa disso.



Pauta para Bloínquês, 40ª edição. Tema: Frase em itálico.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

O último pôr-do-sol


Penso que estou muito longe de ser entendida.
O barulho dos meus passos não se cessa,   
À medida que peço pelo silêncio.   

Os pesares que atormentam minha alma   
Não se comparam aos seus.   
Então, pego-me novamente tocando em seu nome.   

O vazio que preenche,   
O paradoxo que alimenta esperanças,   
Os olhos que se cerram esperando o pôr-do-sol.   

E quando o brilho me cega,   
Já não vejo mais a bela paisagem,   
E a luz da minha dúvida   
Enfraquece-se à medida com que eu ouço meus passos nas pedras da calçada.   

E o barulho me acompanha,   
Detestável, sem significado e propósito real,   
Apenas um distúrbio para os meus pensamentos.   

Sinto a ardência nas minhas narinas,   
O perfume suave que o vento carrega   
Com as ondas batendo nos meus calcanhares.   

Chuto e levanto a água,   
Não tenho mais paciência,   
Estou pensando em você.   

E é pela vista que agora já vejo,   
Sobre uma árvore que escalei,   
E penso em você ao olhar para o pequeno pedaço que ainda resta do sol.   

Não fico triste desta vez,   
Mesmo com as dúvidas que carrego.   
As dúvidas da sua partida.   

Foi realmente necessário?   
Tinha que me deixar?   
E o sol tão grandioso ao se pôr nas águas, acalma-me para os meus pensamentos.   

Você se foi, mas continua comigo,   
E você está em algum lugar melhor.   

Volto a escutar o insuportável barulho das pedras,   
E os meus pés ainda não tocam o chão,   
Percebo que não estou sozinha.   

E por motivos mais reais,   
Desço do meu refúgio e volto às pedras,   
E com o barulho que já não me incomoda mais, penso que a morte chega para todos.   

Viverei até o dia em meus olhos se cerrarão e nunca mais se abrirão,   
E lamentarei o dia em que não poderei ver a luz que cega a minha visão. 

Pauta para Bloínquês, 8ª edição. Tema: pôr-do-sol.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Eu só quero chocolate...


...só quero chocolate, não adianta vir com guaraná pra mim, é chocolate que eu quero beber. (Marisa Monte-Chocolate)

Foto para Bloínquês, 14ª edição fotográfica. Tema: Guloseimas.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Arthur Hastings

Londres, 12 de junho de 1986.

            Querido Hastings,

   Desde que nos encontramos no trem em direção a Londres, não me esqueço do seu rosto. Pálido, meio assustado eu sei, mas muito expressivo quanto a minha atitude naquele momento. As palavras que soltei ao vento pela janela do trem no banco ao seu lado foram apenas para chamar sua atenção; e eu a consegui.
   A noite que passamos juntos, depois o vinho branco chileno e suas histórias como detetive me fascinara. Ainda me recordo de seus lábios, movendo-se com extrema rapidez e delicadeza, com as palavras bem colocadas sobre um assassinato no campo de golfe.
   Nossos beijos bem dados entre os goles do vinho são inesquecíveis. Todas as vezes que passo a mão sobre a minha coxa, alvo de mordidas escandalosas, sinto um fervor prazeroso. Estou escrevendo sobre essas linhas com a mão trêmula só de pensar em você. Não imagina o estrago que me causou ao convidar-me para uma noite.
   Eu penso se você ainda se recorda de mim. Penso se você rola na cama a pensar nos movimentos sensuais que fizemos no chão do quarto, o vinho derramado no tapete e os gritos alarmantes que ecoavam pelas paredes. Você me possuiu como ninguém.
   Querido, se você recebeu esta carta, escreva-me. Conte-me mais sobre os seus curiosos casos de detetive, suas jornadas em busca de pistas e as sensações captadas durante suas viagens. Eu quero ser informada sobre tudo, desejo ser entretida com fatos reveladores vindos de você.
   Desejo profundamente sua presença. Meus pensamentos não seguem mais uma diretriz, eles só querem você. Desejo seu calor, suas mãos, seus lábios percorrendo cada linha do meu corpo.
   Meu amor, eu te espero. Não necessito de nada além de você. Quero o teu amor, quero você comigo e todos os momentos que passamos juntos. Estou agora de olhos fechados, sentido o seu beijo de despedida ao me deixar partir naquele trem. Eu sei que aquela não foi a nossa última vez. Por favor, responda a minha carta, eu te imploro.

                                                   Beijos carinhosos,
                                                                        Cinderela.



Pauta para Bloínquês, 3ª edição. Tema: Sedução.

Lulu e as flores do meu jardim




Fotografia para Bloínquês, 13ª edição fotográfica. Tema: Flores
Fotografia para OPEP, edição câmera em ação. Tema:Animais de estimação.


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domingo, 18 de julho de 2010

Meu coração é o mesmo

   Os tempos mudaram, principalmente para mim. Em alguns dias eu mudarei de casa, mobilharei o meu quarto e deixarei lembranças para trás. Talvez, essa transição, me transforme em uma pessoa melhor do que eu sou agora.
   É difícil se desfazer de objetos antigos com valores muito significativos, sair da casa onde morei meus catorze anos vividos. É difícil dizer adeus para a visão do meu quarto e o vento que sempre me deu inspiração.
   Eu quero chorar, eu não quero me despedir do meu passado assim, eu quero continuar onde estou. Posso ter ares de mudança, parecer que sou uma pessoa que adora coisas novas; mas todos nós tememos o que não conhecemos.
   O meu maior medo não é o de ir embora, é que eu perca a minha sensibilidade de escrita. A minha casa sempre foi o meu refúgio, onde eu tinha inspiração e que minhas melhores ideias eram aperfeiçoadas.
   Talvez eu chore em algumas noites, mas eu sei que é tempo de recomeçar, de refazer e reavaliar. Quando o meu coração já estiver na metade do caminho eu vou me lembrar de tudo o que passei na minha casa. Então eu virei a ela para respirar o vento da minha inspiração e lembrarei: as coisas mudam, e não é só porque elas mudaram que você tem que ser diferente.




Pauta para Bloínquês, 25ª edição. Tema: Frase em negrito.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um dia, elas não verão o céu


   Ás vezes eu paro para observar o comportamento das pessoas. Tento decodificar seus pensamentos os quais tenho certeza que são totalmente diferentes dos meus. Ás vezes me pego olhando o nada, o que me acalma.
   As luzes estão tão longe que nem ofuscam a minha visão, e eu ainda posso ver o céu. Céu esse, que não possuiu estrelas; pelo simples fato das luzes –as mesmas tão longe do meu alcance- ofuscarem os seus brilhos.
   Eu me sinto privilegiada por poder contemplar a visão da cidade, mas me sinto totalmente perdida sabendo que um dia nada disso existirá. Um dia as pessoas brigarão pelas coisas mais simples da vida, cometerão injustiças pelo seu próprio bem e destruirão bens em comum para sobreviver.
   Os prédios crescerão, as ruas ficarão estreitas, os carros disputarão espaço entre as minúsculas calçadas. As pessoas roubarão com mais normalidade, o índice de morte sobre poluição será a notícia dos jornais e o lixo consumirá toda a beleza que um dia existiu.
   As luzes se apagarão, e esta cidade virará ruínas. As estrelas brilharão, mas não haverá uma só alma para vê-las sorrindo. Talvez elas se sintam sós, talvez não. Talvez elas percebam que para brilhar foi necessário o extermínio da raça humana.
   E agora percebo, que a culpa não será delas; será só nossa. Aos poucos, nos mataremos por coisas banais, e logo depois por riquezas. O mundo ficará pequeno para tantas pessoas e os prédios tomarão conta do espaço.
   Antes de tudo acabar, já passando do ponto de equilíbrio e no final da geração; as poucas almas que sobreviverão serão esmagadas pela sua consciência, ao passar pelas estreitas ruas e só ver janelas vazias.
   Nas ruas não se verá mais a luz do sol, das janelas dos prédios não se verão às pessoas, do alto dos edifícios não se verão mais as estrelas. Um dia, nós não veremos mais o céu.

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P.S.: Eu acho que este foi o melhor texto que já escrevi, e sim, eu acho que a população vai crescer desenfreadamente e um dia, não haverá espaço para todos. Tive uma reflexão com o meu pai, onde há 44 anos só havia mato em Duque de Caxias. Hoje, cada vez mais prédios são construídos e não haverá ruas suficientes para todos os carros. O que eu quero dizer é que um dia -e ele não está muito longe- as pessoas não vão conseguir sair de casa e nem conviver consigo mesmas.

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Pauta para Bloínquês, 23ª edição. Tema: Foto do Texto.
Pauta para Sílaba Tônica, 5ª edição tema da semana. Tema: O futuro do planeta.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

11ª Dimensão


   Eu vejo o meu reflexo na poça d’água formada pela chuva fina que caiu hoje de manhã. Penso em como deixei você escapar pelas minhas mãos, não fiz nada além de assistir a sua morte.
   A cada passo que dou minhas pernas tremem, talvez pelo frio ou pelo medo. Talvez esteja enlouquecendo por ver você a cada vez que olho para o escuro.
   Essa distância que nos separa me faz querer morrer para te encontrar. Eu deveria ter sumido, voltado para as minhas origens, mas você me fez querer ficar neste mundo.
   Eu era um anjo, um que caiu do céu para te ter, e depois desta prova de amor você desapareceu. Quando te encontrei, você estava caído, se afogando no seu próprio sangue. Não sei se morro ou se vivo, porque a vida me parou no instante que te encontrei.
   Eu chorei muito, lágrimas que antes eu não poderia derramar. Quis voar, voltar para o céu, mas eu não tinha mais asas. Então me lembrei de tudo o que você me disse nos seus sonhos.
   Eu sinto a sua falta todos os dias, mas sei que não estou sozinha. Quando as lembranças vão de encontro aos meus pensamentos, eu apenas repito a última frase que você me disse: “A vida não acaba quando se morre, ela apenas começa longe da realidade; e a sua realidade está muito longe da minha, novamente.”

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Pauta para Bloínquês, edição. Tema: Frase em negrito.
Pauta para OUAT, edição. Tema: Frase em itálico.



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