terça-feira, 30 de outubro de 2012

Bom senso

Toda a insanidade
Capto com apreço,
Nunca com maldade
Pois ela eu desejo.

Porque a aula de filosofia hoje foi meio insana, principalmente com ideias inatas e pensamentos notáveis.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Ramalhos


Não é que eu esteja correndo de você
Não é que eu esteja correndo do mundo,
Estou mesmo é escorrendo,
Escorrendo para o profundo;

O profundo abismo de mim
E lá tudo é tão bonito,
O tempo não passa
Não perco o equilíbrio;

Tropeçando novamente
Na mesma pedra da outra vez,
Rachando a face
E manchando de vermelho a tez;

E eu estou escorrendo para algo bom
Livrando-me das impurezas,
Uma pedra nova
Outra natureza.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Adorável transparência conectiva


      As coisas são mais simples do que parecem, mas existem tantas camadas envolvendo as pessoas e os seus sentimentos que não conseguimos nos aprofundar. É como uma cebola, quando mais descascamos, mais lágrimas soltamos.
      Não é a questão do quanto você vai sofrer para conhecer alguém de verdade, mas o quanto aquela pessoa pode tirar suas próprias camadas. Vale a pena ser transparente com quem merece, existem pessoas que simplesmente são assim. Se encaixam em você sem ter que falar nada.
      A transparência existe nesta conexão.
      Sim, eu acredito em conexões.
      Eu tenho conexões.
      Poucas.
      Adoráveis. 

sábado, 13 de outubro de 2012

Portais de giz


A primeira vez que vim aqui, do pouco que me lembro, foi reconfortante. Eu era gélida e pálida, sem vida e poucas cores no meu rosto e na palheta de cores da minha vida. Eu bati na porta, o jardim bem cuidado chamou-me atenção com suas grandes rosas azuis, eu nunca tinha visto rosas azuis criadas naturalmente. Ele abriu a porta, seus imensos olhos azuis, da mesma tonalidade das rosas. Não sorri, não me mexi, não sei por que havia batido na porta, apenas senti que deveria.
        Ele sorriu e estendeu a mão, já era idosa assim como o seu rosto, o bigode branco e espesso escondia algo nele, assim como o seu cabelo penteado com o maior cuidado para o lado esquerdo, e os cachos no final. Subimos a escada e ele abriu uma porta e me deu um giz, sorriu mais uma vez e a fechou. Eu apaguei.
        Acordei no dia seguinte no meu quarto, o velho quarto pálido de todos os anos, mas lá estava o giz do dia anterior, sobre a escrivaninha. Simplesmente pus na mochila e me fui para a escola, já era tarde naquela manhã de inverno.
        Enquanto caminhava avistei novamente a casa, parei, mirei o relógio e andei em direção à casa. Bati na porta e recuei. Ninguém apareceu, repeti a ação umas duas ou três vezes, até me cansar e perceber a quão atrasada eu estava. A ação repetiu-se mais quatro, cinco vezes naquela semana, sem resposta.
        Desenhei um círculo no chão do quarto, afastado da cama e da escrivaninha, conseguia deitar sobre ele, abrir os braços e até fazer um anjo de neve de madeira. Um anjo tão branco, uma madeira tão escura, bela comparação do que eu era. O rosto não escondia a quão branca eu era e os olhos e cabelos escuros, cores de pinheiro se sobressaíam, era como a neve sobre a madeira. Desenhei alguns flocos no círculo, eram irregulares, parecidos com o que eu havia visto nestes anos de neve. Eles pareceram frios, molhados, reais, e quando os toquei percebi que se desfaziam em pequenas poças de água. A madeira estava molhada e talvez até um pouco mais funda, as poças foram caindo e caindo, como se passassem para o primeiro andar, mas eu não via buracos. Eram aprofundamentos na madeira, com as bordas escuras, cheias de água. Toquei uma delas e eram tão cristalinas. Aumentaram e aumentaram até o círculo se transformar em um pequeno lago no meu quarto. O fundo era escuro e eu não conseguia ver a pureza da água, mas o simples toque já revelava o quanto ele era gélida e perfeita. Olhei para a porta, e para a janela, vi a neve retendo-se no peitoril. Olhei para o lago e imergir, sem pensar no que estava do outro lado, se existisse.
        Como se fosse negro, como se fosse bruma, como se fosse a morte. Sensações que me levavam a querer sumir do mundo, dos pensamentos. Estava naquela pequena imensidão e sentia que nunca acabaria. Emergi, estava cega, via um clarão e nada mais. Tudo parecia ter desaparecido. Abria os braços e não encontrava a borda, não havia fundo, eu estava cansada. Nadei para qualquer lugar, para qualquer direção. Não me dei com a borda, apenas mais água, mais líquida entre as minhas mãos que faziam movimentos iguais. Os braços iam se cansando, minha alma caía, e eu me deixava levar pelo fluxo, até a hora que parei de nadar.
        Despertei na grama, o cheiro de terra molhada, a pele espetada por algo tão fresco como orvalhos na grama verde. Ouvia o barulho da água, a mesma água onde eu me encontrava antes. Folhas umedecidas cobriam os meus olhos, e eu sentia algo macio, suave. Preenchia os meus olhos, aliviava a minha dor.
        - Melhor?
        Levantei-me rápido e tirei as folhas do meu rosto, abri os olhos. Apenas um clarão. Abri os braços e tentei apalpar alguma pessoa, encontrar quem havia feito a pergunta.
        - Não, não. Você tirou curativo. Errado, muito errado. Terei que começar novamente. Por que vocês nunca ficam quietos?
        - Quem é você?
        - Eu me chamo Luter, agora se deite novamente para eu começar todo o trabalho, sua desastrada.
        - Por que eu não consigo enxergar? Onde está você? – Eu perguntava, balançando as minhas mãos histericamente.
        - Se não parar com esse comportamento estapafúrdio a sua pessoa voltará para a água de onde te tirei.
        - Você me salvou? E o que eram aquelas folhas no meu rosto?
        - Folhas de aveleira com pétalas de edelwaiss amassadas. Muito bom para fazer a visão voltar, mas demora um tempo enorme para isso. – Ele enfatizou o enorme tempo. – Buscar mais folhas, sim, buscarei mais. Não saia deste lugar.
        E eu pensava que lugar era aquele. Esperei, deitei na grama e fechei os olhos, não pude dormir, eram tantas coisas passando pela minha cabeça, onde eu estava naquele momento. Dormindo, em outro mundo ou do outro lado do meu?
        Luter voltou com as folhas e fez outro curativo, amarrou parte de uma folha de bananeira que circundava minha cabeça, fazendo que o curativo se mantivesse preso. Ele bocejou algumas vezes, e só depois vim a perceber que ele repetia demasiadamente este ato.
        - Por que está sempre bocejando?
        - Eu não sou muito do dia, gosto mais da noite, momentos de crepúsculo onde posso comer sossegado e pensar sobre a vida. Só que é meu dever cuidar do lago, o mesmo lago que te salvei e que está bem na sua frente, lamento por você não poder admirá-lo. Com isso perco muitos dias de sono, e acabo por não dormir o suficiente.
        - Você poderia passar sua tarefa para outra pessoa.
        - Jamais! – Ele gritou. – Cuido deste lago desde que nasci! Meu bisavô cuidou, meu avô cuidou, minha mãe cuidou e comigo não seria diferente, oras pois.
        - Sim, eu entendo, é um dever hereditário, mas você não perde mais dias de vida com isso?
        - Entenda uma coisa, pequena desastrada, o que perco acabo ganhando de outro modo, ou em outro momento. No dia que não me ouvir bocejar, pode ter a certeza de que este lugar foi engolido pelo lago e que nada, jamais, voltará a ser a mesma coisa.
        - Bem lembrado, onde eu estou?
        - Perdeu o caminho de casa? Posso te emprestar uma bússola. Não há de me fazer muita falta.
        - Não, eu lembro que estava no meu quarto e mergulhei em uma poça de água no chão, acordei aqui.
        - Isso é comum, não se preocupe. Muitas pessoas aparecem por aqui vindas de quartos, praças, teatros. Gizes foram espalhados pelo mundo afora, onde você conseguiu o seu?
        - Foi um homem idoso, que mora perto da minha casa.
        - Oh sim, deixe-me explicar: poucos gizes existem, eles são raros e como sabe, eles se desgastam com o uso. Eles criam portas para este lugar, mas muitas pessoas não sabem como usá-los. Já vi de tudo por aqui, crianças que desenharam na parede, alunos com uma professora que explicou a matéria no quadro negro, meninas que desenharam no muro o nome de seus amados com um grande coração. Se a ponta de uma linha se junta à outra ponta dela mesma, uma porta de abre. Se for grande o suficiente você poderá entrar e ver o que tem do outro lado. Só que poucos conseguem ver, poucos conseguem esperar o tempo necessário para o curativo fazer efeito. E eles se vão, tiram os curativos, gritam, fazem perguntas demais. E a mais frequente é como achar o jeito de voltar. Como não tenho permissão para fincar alguém no chão, digo a saída e os deixo ir.
        - E só existe o lago como entrada?
        - Não, há mais entradas, na floresta, nas montanhas, nas árvores. Não em todas, claro, mas cada uma tem o seu guardião.
        Ele continuou contando-me coisas maravilhosas, que ás vezes me espantava, e outras me faziam rir. Mesmo com a venda nos olhos eu podia ver que aquele lugar era bom, sentia isso em cada gota do meu ser. Eu estava realmente longe de casa, e feliz por isso, tudo era muito sem cor por lá.
        Não me lembro de como voltei, ou o que realmente passei lá. Apenas acordei no chão de madeira do meu quarto, o círculo ainda desenhado, minha memória afetada. Eu acordei diferente, sentia-me mais viva e mais disposta a encarar o mundo. Não era mais tão gélida, meu coração estava aquecido. Eu estava feliz por dentro, mesmo não sabendo as razões.
Lembrava-me de Luter e de nossa primeira conversa, mas todo o resto se apagou da minha memória. Conto aqui o que aconteceu de início para que vocês saibam da minha experiência, porque tenho esperança que alguém tenha passado pela mesma coisa, ou por algo parecido. Tenho esperança que alguém tenho ido para esta outra terra, tenha falado com Luter ou com qualquer outra pessoa.
        Peço, do mais fundo do lago que me levou até lá, digam-me que não enlouqueci e que há um jeito de voltar. A casa que a princípio bati na porta não está mais lá, mas sim um campo deserto. Não tenho mais daquele giz, e sei que as possibilidades de encontrá-lo são remotas.
        Minha única esperança é que alguém se lembre, porque nem eu tenho mais certeza se Luter era uma pessoa ou uma lontra.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Ênfases verdadeiras


                Fiz uma coisa errada, sé é que posso chamá-la assim, pois para mim não passou de uma tentação irremediável. Contaram-me uma história para entender que os fatos não correspondem aos atos, e que eu não poderia repetir aquilo.
                Contaram-me das verrugas nos dedos quando apontamos às estrelas, dos sapos que viram príncipes, dos mamíferos que põem ovos. Citaram frases bonitas, de efeito, com ênfase nas maiores palavras: sistematicamente, sentencioso, interminável.
Eu sistematicamente sentei no meu lugar de costume na sala de aula, em alguns minutos o menino sentencioso se aproximou. Eu me levantei e o beijei, um beijo interminável.
Na verdade era eu que repetia as frases bonitas, porque eles só me falavam de ornitorrincos. Não queriam falar de sentimentos, queriam reprimi-los.
Eu não podia repetir aquilo, mas assim como sapos serão sapos, meus beijos estão reservados a um príncipe de verdade.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pupilas


Eu não preciso abrir meus olhos para te reconhecer, pois há um encontro de almas, não de pupilas dilatadas. Mesmo que elas estejam assim todo o tempo.

domingo, 7 de outubro de 2012

Os mesmos olhos caídos

E o que eu não entendo
E o que eu sinto,
Não posso expressar
Claramente.

Cla-ra-men-te.
Eles me vigiam
Tomam conta
Dos sentimentos.

Sen-ti-men-tos.
São eles reais?
São eles
Insignificantes?

In-sig-ni-fi-can-tes.
Meus olhos,
Nos teus olhos
Caídos.

Ca-í-dos.
Continuam caindo,
Fazendo-me cair
De mim.

Mim.
E o que eu não entendo
Não fica pra mim,
Fica escondido.

Escondido lá fora.

--

      Toda vez eu volto nos teus olhos, porque eles me seguram. Apertam meu peito, e eu permaneço os fitando. E o que eu não entendo não fica para mim, e os meus sentimentos não ficam para mim. Não ficam para os outros, não ficam para o dono destes olhos. Ficam escondidos em páginas secretas. E as frases se repetem tanto que já cansei de escrevê-las, mas continuo, porque eu simplesmente não entendo.

sábado, 6 de outubro de 2012

Violência interior


      A violência está inserida no homem, desde os primórdios da Terra que a usamos para tudo. Os homens caçavam, guerreavam por fêmeas, comida e abrigo. Tudo isso, nossa evolução, parte do ponto que os mais fortes sobrevivem, e isso com a violência que se tem para eliminar o resto.
      Desde pequenos somos obrigados a nos moldar aos padrões da sociedade (é aí que eu penso que cada lugar tem as suas leis e que as pessoas agem conforme o imposto). As crianças fazem tudo o que querem, pois é da natureza delas. Elas correm, brigam, gritam, jogam coisas no chão, conhecem o exterior em que vivem. São os pais que impõem limites, limites sobre alimentação, jogos, até a própria convivência com outras crianças. Elas aprendem quando deve chorar para conseguir algo, como devem agir para serem aceitas, e toda a violência existente dentro delas se reprime ao longo do tempo.
      Estas crescem de uma maneira mais reprimida ainda, primeiramente com as responsabilidades de um adolescente, toda a pressão nesta passagem de criança para a fase adulta. É nesta época que a rebelião toma conta de nós, de todos, cada um de uma maneira diferente.
      Nós temos que extravasar tudo aquilo que guardamos por tanto tempo, agradando as outras pessoas. Alguns se isolam, escrevem, brigam com os amigos. Outros se tornam góticos, ouvem músicas fúnebres, rejeitam os seus pais. Tem aqueles que recorrem ao rock, descobrem o seu lado dark. E tem aqueles que preferem guardar isso para si, são estes os perigosos, que podem vir a explodir mais tarde e causar grande estrago na sociedade, ou na vida de algumas pessoas.
      Então todos tem violência lá no fundo? Sim. Todos conseguem acabar com ela? Impossível.
      Você pode perceber o quanto as pessoas são levadas quando assistem lutas de boxe, por exemplo. Elas pagam para ver sangue, elas precisam disto. Tem aqueles que recorrem ao futebol, precisam se focar em uma bola, jogar tudo isso para vencer. Pense nas mulheres, quando ocorre uma briga, mesmo que simples, talvez elas a comprem. Vale a pena para elas um pouco de agitação (para nós), porque nós somos as mais reprimidas na sociedade quando se trata de respeito e boas maneiras de convivência.
      Todos nós buscamos um meio de conciliar isso, não ficaria bem lutar por uma vaga de emprego com lanças, por um tênis com facas, ou até por uma vaga no Cefet com cavalos e espadas.
      Mas há aqueles que não arrumaram um jeito de liberar toda a adrenalina, carregam-na consigo (e talvez alguns traumas de criança, quem sabe), são estas pessoas as perigosas, que podem planejam atos de loucura, insanidade. Tudo isso afetou as suas mentes, a sua capacidade de esconder toda a fúria que permaneceu tanto tempo na calada de seu ser.
      E as pessoas que nascem pobres, lá no morro, com má índole? Eles não extravasaram sua violência? Sim, mas desde de criança eles não foram devidamente moldados, eles aprenderam como jogar isso para o mundo de uma forma muito ruim. E eles utilizam disso para ganhar dinheiro, mas tudo tem o seu preço. Focaremos em um assaltante. Ele pode roubar, mas todos têm consciência, e este ato de liberação pode acarretar nele mais angústia, dúvidas, ou até mesmo nada disso. Ele pode se sentir muito feliz com isso, mas dentro dele ainda existem resquícios, que podem ser liberados nas drogas, para abafar tudo.
      E os assassinos? Eles têm a violência interna, que pode ser acompanhada de um trauma infantil, ou até não. Mas eles não roubam nem nada, preferem matar, se sentem melhores com isso.
      E os suicidas? Estes não escolheram outro caminho além de acabar com a angústia nos seus peitos.
      E os loucos? Não se sabe o que passa em suas mentes, mas penso que tais distúrbios acabem por revelar lados obscuros do ser, ou então nenhum lado, e eles ficam maníacos ou indiferentes.
      No final das contas todos temos uma violência interna, e diferentes maneiras de liberá-la. Tudo isso depende da família em que vivemos, do modo que fomos criados e com as pessoas que convivemos durante o nosso amadurecimento.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Grimaldi

O mundo acima
Não é mais bonito,
É menos crítico.

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O homem está acorrentado,
O dia ensolarado
O sol quadrado.

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Quando fico com medo,
Eu corro.

Quando fico apreensiva,
Eu paro.

Quando fico confusa,
Eu me escondo.

Quando fico perplexa,
Eu me calo.