Ela corria sem parar no jardim, com os braços abertos no meio das
flores. Grandes flores eram aqueles girassóis abertos, amarelos como o
sol, sorriam para ela cada vez que eram tocados pelas pequenas mãos.
Então, ela parou, sentiu algo diferente, um arrepio pelo corpo, olhou as
suas mãos e gritou. Saiu batendo nas flores, assustada, caiu na grama
verde e encarou novamente as suas mãos, a mancha vermelha não estava
mais lá.
Enquanto atravessava a pequena ponte que dava para a casa
na fazenda, sentiu, novamente algo estranho, mirou sua camisa e se pôs a
batê-la inúmeras vezes, até a sua mãe chegar para acalmá-la.
- O que foi, Sofia?
- Um bicho, um bicho vermelho, mamãe.
- Uma joaninha? - Disse com o animalzinho na palma de sua mão.
- Eu não quero ficar perto dela, não quero. - Dizia Sofia, com as mãos cobrindo os olhos.
Ela
correu para dentro de casa e se jogou na cama, chorando. Tinha muito
medo das joaninhas, não entendia que elas a temiam mais que Sofia à
elas. E com as lágrimas derramadas no travesseiro, ela adormeceu.
Sentada
no banco de madeira, brincava com as margaridas por perto. Assuntos não
faltavam, sobre bonecas, família, casa e comida. Até que a joaninha se
intrometeu na história. Pousou na maior das margaridas, e ali parada
ficou.
- Sai daí, vermelhinha. - Brigava sem lembrar o nome certo. - Pare de incomodar a minha amiga.
E
a joaninha continuava parada, intacta. E por pura coragem, Sofia bateu
na margarida, espantando a joaninha e a si mesma. Saiu balbuciando do
banco, com as mãos agitadas no ar, tropeçou em uma pedra e caiu no meio
das margaridas. Petrificada ela ficou, olhou para os lados, viu a
brancura que a cercava e se acalmou. Fechou os olhos e adormeceu.
Abriu
os olhos, ainda parada, banhada pelo calor do sol que se despedia de
mais um dia. Sem se mexer, encarou o vermelho que a cobria. Centenas de
joaninhas cobriam o seu corpo, passeavam pelos braços, descansavam nas
suas melenas. Ela não gritou, não se movimentou, nem piscou. Tanto fugiu
das joaninhas, e tanto que elas a procuravam. Não era tão mal,
sentia-se amada, protegida, até encantada.
Muitas pessoas são como
Sofia e as joaninhas, correm até das menores coisas, por medo,
insegurança, por ser algo novo. Escondem-se, gritam e até brigam. Então,
chega o momento inadiável, e o que você mais teme te cobre, encara-te.
Não tenho medo de tentar, não tenha medo de experimentar, porque
joaninhas podem ser assustadoras, mas ao mesmo tempo, encantadoras e
essenciais.