As nossas cicatrizes têm o poder de nos recordar que o passado foi real, mas é difícil dizer se aprendemos a lição. Também é difícil dizer qual foi o erro que cometemos para sermos punidos, e sim, sempre culpamos os outros por nossas ações, algumas pensadas e outras simplesmente realizadas. Mas não é difícil dizer –para si mesmo- quando está errado.
É pelo medo que nos consome que não conseguimos impor a nossa culpa, mas é pela impunidade que realizamos tudo o que nos arrependemos. A impunidade é a mãe de todos os crimes, quando sabemos que não seremos punidos, realizamos ações que temos a clareza que serão ruins.
Quando atestamos a inocência, na maioria das vezes, é porque temos medo de ser punidos. Vemos a violência sendo praticada em todo o lugar e a razão para tudo isso nunca foi muito bem desenvolvida em uma tese. Então eu vou dizer: a violência é sempre praticada quando pensamos que tudo ficará no escuro, não temos medo de machucar o outro, pois o que ele pode fazer? Tudo o que é praticado aos olhos dos outros é apenas esquecido pelos espectadores, ninguém quer ser testemunha, correr riscos. É por isso que a violência cresce cada vez mais, ninguém tem mais a coragem de denunciar, e eu posso dizer que nem eu; quantas vezes fiquei com medo de acontecer alguma coisa comigo ou com a minha família. Prezamos o nosso bem estar -e em um ângulo isto está certo-, mas o bem estar do outro que está sendo violentado está reprimindo-se.
Restam-se pegadas estranhas nas ruas, sapatos vazios e a sombra do medo, o grito que escoa pelos becos e fazem todos fecharem os seus olhos. Temos medo de dizer: isso não acontece só com o outro, você pode morrer! E não escondemos a palavra que tanto nos aterroriza: “morrer”. Os mais corajosos, que não tem medo da morte, quando se vêem face a face com ela, rendem-se.
Não pensamos quantos sapatos vazios foram deixados pelas ruas da impunidade, quantas sombras ainda vagarão por este mundo cometendo atrocidades com almas inocentes, e outra culpadas. Não deveríamos desejar o mal a ninguém, não deveríamos sentir a vingança correndo pelos nossos pulsos, não deveríamos ter seguido o conselho da cobra para comer a fruta proibida.
Nossos erros vêm de muito longe, e pensamos que eles não podem ser concertados, e estamos certos. As almas que foram tomadas não podem voltar aos seus corpos, as lágrimas derramadas pelas famílias não podem retroceder. Nós temos escolhas, e aqueles que acreditam no contrário estão escolhendo, possuímos a escolha de não escolher, a escolha de ignorar, a escolha de seguir em frente e a escolha de mudar. Enfim, depois de todas as ruas estarem limpas com a chuva que caiu, eu pergunto: qual é a sua escolha?
Pauta para OUAT, edição. Tema: frase em negrito.