Seja agora. Eu já não posso sem você. Todos os dias eu engulo uma lua
sentindo seus seios em minhas mãos e um buraco na memória faz vertigem e enjoo
no meu estômago. Eu não quero discutir
política, Barthes, eu também sofro desse cansaço de um mundo estúpido, entupido
de palavras sem pensamento. Eu quero o silêncio de água do teu sexo, tua raiva
me rasgando a roupa. Sem você eu não sei chorar. Eu não fumo, não bebo. As
flores estão chegando e setembro é o mês que te veste. Vem nua para nosso
pequeno inferno de amar. Esses bares todos da cidade de São Paulo só esperam
nosso encontro escandaloso. Não há traição, tampouco namoro, os filmes desse
semestre são estúpidos e burgueses e meus livros velhos estão inflamados de
poesia com teu nome, não demora não, é fácil enlouquecer sem amor. Eu ajeitei
minha cama e corrigi minha sintaxe para não reprimir teus instintos, vem com
esses olhos chorosos que me devoram antes de tua boca. Entre teu choro e minha raiva,
meus dentes e tua língua, vem fazer verbo do que é substância, seja com essa
linguagem obscura que nossas palavras não alcançam nem alimentam.
O meu armário guarda suas revistas e aquele álbum do Noel nunca mais
tocou, os sachês de chá apodreceram esperando tua sede e eu guardei a forma de
pudim.
Eu comprei xícaras com seu tom de vermelho e engravidei três vezes
durante sua ausência, sem você sou menos gente. É desesperador o barulho do
relógio sem o teu sorriso ao entardecer, sem o teu corpo nu junto ao fogão me
fazendo café, seus reclames das notícias de jornal e sua impaciência com meus
carinhos.
Me deixa cuidar do teu corpo com
a mesma devoção com que guardei teus traços nas minhas mãos e teu gosto na
minha boca. Fica, é simples, vem para o espanto vadio do meu querer ajustado às
curvas de meus desejos entre dedos e língua, sintagmas. Manoel de Barros me
nina com suas formigas de corações líquidos, Bandeira me oferece café e putas
bonitas para namorar, os bares se abrem para minhas mentiras moles, mas teus
braços, teus braços onde estão? Todo colo nu, agora é calçada de concreto, e eu
não durmo, eu anoiteço te querendo numa tara sem satisfação, numa fome cuspida
em gestos cambaleantes engendrando mais rostos que sentimentos nos meus
sábados.
O amor apodrece dentro de uma gaveta que é tua, uma gaveta fechada há
cinco anos.
Já faz um tempo que, SEMPRE que te leio, no último ponto final, revela-se um silêncio pesado, pesado. Engulo uma saliva grossa e um sorriso cúmplice.
ResponderExcluirVocê anda escrevendo escandalosamente BEM, minha amiga. Parabéns!!!!
Obrigada, Si.Estou com saudade de você.
ResponderExcluirUm xero.